Prólogo: Além Das Memórias

 Certa manhã, na vila dos Seirei no Tami...

Na casa onde Miharu morava junto com Latifa e as outras, Miharu dormia sozinha em seu quarto. No entanto, pela expressão em seu rosto, ela parecia estar tendo um pesadelo.

"—, Haru-kun?!", um instante depois, ela soltou um grito frenético e moveu as mãos como se fosse abraçar alguém, mas a pessoa que ela estava tentando abraçar não estava lá.

...O que eu estava fazendo? Miharu voltou ofegante aos seus sentidos e olhou ao redor do quarto, confirmando onde ela estava. Era um quarto familiar — o quarto em que ela dormia todos os dias desde que chegou à vila.

Eu estava... sonhando?

Isso mesmo... foi um sonho. Ela se lembra de ter visto um sonho. Um sonho muito triste...

.... Eu não consigo me lembrar. Miharu franziu a testa em frustração. Foi um sonho extremamente importante, não foi? Alguém estava com dor.... É por isso que Miharu tentou tão desesperadamente abraçar a pessoa no sonho. Ela sabia que não poderia ser separada dele, porque, se fosse, essa pessoa iria para algum lugar distante.

"Eu preciso lembrar...", estimulada por uma vaga compulsão, Miharu tentou desesperadamente se lembrar do sonho que teve momentos atrás. Ainda não era tarde para lembrar de algo. Ainda deve haver algo lá, em algum lugar...

"... Haruto-...san?", no fundo da mente de Miharu, a imagem tênue de Rio segurando uma espada por trás ressurgiu. Rio estava observando algo com uma expressão extremamente severa no sonho. Ele olhou para alguém, antes de brandir sua espada sobre ele... talvez.

Mas pensando melhor, Miharu não disse o nome de uma pessoa diferente quando ela acordou? O apelido do menino com quem ela sempre estava quando era pequena...

"Haru-... kun?", Miharu sussurrou suavemente. O apelido do seu amigo de infância, Amakawa Haruto...

Foi um sonho... sobre o Haru-kun? Miharu franziu a testa tristemente com a dúvida que sentia. Então, de repente, ela se lembrou de seu passado com Haruto e cerrou o punho em torno da camisola.

Naquela época, Miharu pensava que era natural estar com o Haruto. Era um fato que ela cresceria com o Haruto, e aqueles dias que eles passavam juntos continuariam para sempre naturalmente. Ela tinha sete anos quando soube que não era para ser assim — nove anos atrás. Era por isso que Miharu conseguia se lembrar daqueles dias que ela passou com o Haruto tão claramente, era como se eles tivessem acontecido apenas ontem. Porque Miharu gostava do Haruto — porque Miharu amava o Haruto, ela estava arrasada por estar separada de uma pessoa tão importante. Era tão doloroso que ela nunca esqueceria.

Ela ainda se lembrava da promessa que eles fizeram quando se separaram também. Não havia poder obrigatório por trás disso — uma promessa fugaz entre duas crianças. Os sentimentos dela agora podiam ser diferentes de amor, mas mesmo assim, aquela promessa ainda era algo sagrado para ela.

É por isso que Miharu ocasionalmente se lembra do Haruto, mesmo ela tendo crescido. Embora ela ficasse muito triste por Aki não ter nada além de preconceito em relação ao Haruto, cada vez que Miharu se lembrava dele, ela sentia um calor em seu peito que a ajudava, como se ele estivesse ao lado dela.

Ela se perguntava como o Haruto havia crescido. Ele ainda se lembrava da promessa como ela? Se ele lembrasse, e eles se reunissem como prometeram, o que fariam? Miharu pensava nessas coisas toda vez que se lembrava do Haruto.

A resposta era sempre a mesma: era possível que ela se apaixonasse pelo Haruto mais uma vez. Seria uma coisa maravilhosa se isso acontecesse, ela pensava. Mas recentemente, sempre que Miharu se lembrava do Haruto, ela sentia seu peito apertando de dor. E ela sabia o motivo: tudo começou depois que ela começou a viver neste mundo com o Haruto .

Haruto e Haruto. Seus nomes idênticos podem ser parte disso, mas Miharu ocasionalmente se pegava tendo uma sensação de déjà vu enquanto passava os dias morando com ele. Ela começou a sobrepor os dois — Haruto e Amakawa Haruto.

Miharu não era muito boa em interagir com o sexo oposto para começar. Ela estava bem com o mais novo, Masato, desde que ele ainda era uma criança, mas às vezes ficava em um incômodo silêncio perto do meio-irmão mais velho de Aki, Takahisa. Era por isso que o único menino da mesma idade com quem Miharu podia passar o tempo sem qualquer objeção era o Haruto, com quem ela havia crescido desde muito jovem.

Até que ela veio a este mundo e conheceu o Haruto, isto é...

Por alguma razão, desde o momento em que conheceu o Haruto neste mundo, ela nunca se sentiu nervosa perto dele. Isso fez do Haruto uma das poucas pessoas com quem Miharu podia interagir sem se sentir particularmente desconfortável. Se ela não contasse o Haruto de sua infância, então ele poderia ter sido o primeiro.

A razão pela qual ela se sentia tão confortável perto dele era porque a sensação que Haruto e Amakawa Haruto emanavam era semelhante. Ela não era capaz de explicar em detalhes, mas a sensação de tranquilidade quando eles estavam juntos era a mesma. Miharu começou a perceber isso conforme passava mais tempo com o Haruto, e antes que percebesse, ela estava sobrepondo Haruto com Amakawa Haruto.

No entanto, ela não achava que isso fosse necessariamente uma coisa boa, já que era rude comparar alguém com outra pessoa assim. Era um sentimento que Miharu tinha escondido em seu coração... até que ouviu de Oufia e Alma a história de quando o Rio visitou a vila pela primeira vez.

De acordo com Oufia e Alma, Rio havia murmurado "Mii-chan" quando ele estava inconsciente em uma cela. Era o apelido pelo qual Haruto uma vez chamou Miharu. Claro, pode ter sido uma coincidência, e pode não ter havido nada por trás de sua conversa durante o sono; para não mencionar o fato de que o Haruto havia dito anteriormente que ele morreu como um estudante universitário. Mesmo assim, Miharu não pôde evitar a semente de suspeita crescendo dentro dela. Era possível que a vida anterior do Haruto fosse como Amakawa Haruto.

Não pode ser, Miharu disse para si mesma, mas a suspeita permaneceu.

Só consigo me lembrar vagamente, mas a pessoa no meu sonho parecia o Haruto-san.... Os instintos de Miharu diziam a ela que o sonho era sobre Amakawa Haruto. Como se insistisse que os dois homens eram o mesmo.

"Então...", Miharu sussurrou baixinho.

"No fim, Haruto-san é o Haru-kun...?", sua voz ansiosa ecoou suavemente no quarto silencioso.


Comentários