Capítulo 6: Para a Capital Mais Uma Vez
Vários dias se passaram desde que Rio e os outros voltaram para a aldeia.
Os comércios tinham ido bem, os bolsos dos aldeões estavam cheios, e todos tinham sorrisos em seus rostos. Agora, finalmente era hora do festival da colheita, onde eles rezariam por colheitas abundantes no próximo ano.
Ainda era metade do dia, mas os homens se reuniram na praça da aldeia para começar a beber. As mulheres que se orgulhavam de suas habilidades culinárias prepararam um banquete na sala de reuniões e na cozinha de suas casas; elas usaram assistentes para levar os pratos para a praça da aldeia, e as crianças da aldeia estavam comendo tudo com entusiasmo.
Quanto ao Rio, ele tinha usado a cozinha da chefe da aldeia para fazer a maior parte de suas receitas especiais, e estava no meio da preparação de um banquete com Ruri e Sayo. Ele estava fazendo torta de carne, torta de maçã, e o protótipo de kamutan que ele havia prometido a Sayo.
Como ninguém na aldeia sabia como fazer o macarrão para o kamutan, e torta de carne e torta de maçã não eram pratos que eram comidos no Reino karasuki para começar, Rio assumiu a liderança com a ajuda de Ruri e Sayo. Naturalmente, o macarrão para o kamutan era todo caseiro, e tinha sido preparado com dois dias de antecedência. Duas panelas enormes foram colocadas sobre o forno, uma com sopa shoyu e outra com sopa de miso fervendo por dentro.
"Wow — cheira muito bem. Nós realmente vamos ser capazes de comer kamutan..." Ruri cheirou o aroma que saía da panela com uma expressão feliz.
"Eu só fiz isso algumas vezes, então eu sou uma espécie de amador. Pode ser um método diferente comparado com a forma como é feito na capital... A sopa também foi feita experimentalmente, então também não tenho muita confiança no gosto dele.", disse Rio um pouco preocupado.
"Está tudo bem! Tenho certeza que todos pedirão para repetir. Pelo que eu provei, a sopa parece deliciosa."
"Isso mesmo — eles definitivamente vão querer que você faça isso de novo. Ou melhor, eles vão querer fazer eles mesmos!"
Ruri e Sayo falaram com convicção.
"É preciso muito esforço e ingredientes, mas você está certa. Eu quero fazer de novo.... No entanto, pode ser que eu nunca mais seja capaz de fazer a mesma sopa de novo...", Rio assentiu com um sorriso feliz. Ele não sabia se ainda estaria na aldeia por volta dessa época no seguinte ano, mas esperava ser capaz de fazer kamutan novamente como um grupo de três.
Depois de deixar a sopa ferver por pouco menos de uma hora, os três levaram o macarrão pré-preparado e as tortas juntos para a praça. Quando os aldeões descobriram que Rio tinha feito kamutan, se aglomeraram ao redor dele.
Ele reaqueceu a sopa em um fogão improvisado feito com artes espirituais em um canto da praça, e ferveu o macarrão. Quando os aldeões provaram o kamutan completo, todos gritaram "É delicioso!", um após o outro.
Rio olhou para o rosto de todos e decidiu que valia a pena todo o seu trabalho duro. Suas feições se enrugaram alegremente. A torta de carne e a torta de maçã também foram um grande sucesso.
Em pouco tempo, Rio e as garotas se juntaram ao banquete, saboreando a comida e a bebida enquanto assistiam as pessoas cantarem e dançarem alegremente no centro da praça. Era uma calorosa reunião que estava constantemente cheia de risadas.
No entanto, quando o final da tarde se aproximava...
... Hm?
Rio de repente tirou a pedra espiritual do bolso. Uma fórmula mágica havia aparecido na superfície da pedra, e estava emitindo uma forte luz e calor.
Esta pedra espiritual era o núcleo da barreira de detecção de intrusos que Rio havia modificado para cobrir toda a aldeia após o incidente de Gon. Ele normalmente a desativava durante o dia, quando os aldeões passavam com tanta frequência, mas ele a deixou ativa apenas por precaução durante o banquete.
Quem poderia ser? Um viajante, um comerciante, um convidado.... Está vindo do lado leste. Rio de repente se levantou, ignorando todos os moradores que festejavam.
A pedra espiritual emitiu uma luz mais forte na direção do intruso, então ele silenciosamente seguiu nessa direção. Em seu caminho, ele murmurou a magia "Discharge" e recuperou sua espada e bainha de dentro do Armazenamento Espaço-Tempo. Depois de se afastar da praça da aldeia por alguns minutos, ele chegou aos campos que se espalhavam pelo lado leste da aldeia e encontrou uma dúzia de homens e mulheres envoltos em trajes de viagem. Ele não conseguiu detectar nenhuma hostilidade, mas todos estavam totalmente equipados e não mostraram sinais de fraquezas. Eles pareciam ser praticantes experientes de artes marciais.
"Vocês necessitam de algo desta aldeia?" Rio cautelosamente perguntou ao grupo desconhecido.
Quando o grupo avistou Rio com a espada na mão, eles mostraram leves sinais de cautela, mas o homem e a mulher, ambos de meia-idade e que os liderava, estavam olhando para Rio com uma expressão um pouco diferente.
".... Meu nome é Saga Gouki. Perdoe-me, mas posso perguntar seu nome? Você poderia ser talvez Rio-sama?" O homem na liderança se apresentou como Gouki, antes de pedir o nome de Rio.
Assim que Rio ouviu o nome da família Saga, ele imediatamente lembrou de Hayate, com quem havia se familiarizado recentemente. Talvez seja o pai dele, foi o que Rio pensou.
"Isso mesmo... Você poderia ser talvez o pai de Hayate-dono?" Rio respondeu.
"Então é você, Rio-sama! É uma honra estar em sua grande presença."
Superado pela emoção, Gouki se ajoelhou no local. Não, não apenas Gouki — os outros ao seu redor também se ajoelharam diante de Rio ao mesmo tempo, não demostrando nenhuma preocupação com o estado de suas roupas.
"D-Desculpa?" Incapaz de compreender a situação, Rio ficou surpreso. "E~tto, nós nunca nos encontramos antes, certo...? Você me confundiu com outra pessoa? Se vocês pudessem se levantar primeiro, eu agradeceria..." ele disse depois de um instante.
"Não há erro. Rio-sama, minha esposa Kayoko aqui ao meu lado e eu, uma vez servimos graciosamente sua mãe: Karasuki Ayame.", disse Gouki, balançando a cabeça inflexívelmente.
"Karasuki... Ayame?" Ouvir o nome da mãe junto com o nome da família fez Rio congelar.
"Sua surpresa é muito compreensível, mas sua mãe era realmente realeza no Reino Karasuki. Eu vim visitá-lo nesta ocasião depois de receber uma carta de Yuba-dono... a mãe do meu amigo próximo, Zen."
As palavras que saíram da boca de Gouki eram fatos que eram surpreendetemente chocantes. Independentemente de ele acreditar ou não, o pensamento racional de Rio havia parado completamente.
".... Por enquanto, permitam-me guiá-los até a casa da chefe da aldeia. Então, eu vou buscar Yuba-san, e você pode me contar sua história desde o início. Assim está bem? Por favor, levantem-se.", de alguma forma Rio conseguiu dizer.
Mesmo que ninguém estivesse por perto por causa do banquete, os campos não eram o lugar certo para esta conversa, e ele precisava de um tempo para se acalmar.
"Eu entendo. Então, por favor, desculpe nossa intrusão." Gouki e os outros assentiram e solenemente ficaram de pé.
"Por favor, venham por aqui." Com um pequeno suspiro, Rio começou a guiá-los. O grupo de Gouki o seguiu de uma maneira quase reverente.
Depois de guiá-los até a casa da chefe da aldeia, Rio foi até a praça às pressas e encontrou Yuba conversando com os outros aldeões. Ele sussurrou em seu ouvido, explicando a situação. Apesar de sua surpresa, Yuba imediatamente entendeu, e sorriu.
".... Entendo. Tudo bem — vamos, Rio.", ela gentilmente disse a ele.
Os dois imediatamente foram para a casa de Yuba. Eles mal trocaram palavras no caminho, mas quando a casa entrou em vista, Yuba de repente abriu a boca.
"... Rio, não importa o quê, você sempre será meu neto. Nada pode mudar isso. Pelo menos, é nisso que acredito. Pode parecer repentino, mas eu queria lhe dizer isso agora."
"Yuba-san... Sim, eu sinto o mesmo." Rio sentiu que as palavras de Gouki mais cedo, tinham sido mais ou menos a verdade.
"Obrigada. Vamos entrar?" Yuba perguntou com um sorriso um pouco feliz, antes de entrar na casa.
◇◇◇
Na sala de estar da casa da chefe da aldeia, Rio, Yuba, Gouki e Kayoko, sua esposa, estavam de frente um para o outro. Os atendentes que Gouki trouxe estavam guardando o local para garantir que ninguém ouvisse sua conversa.
Gouki e Kayoko ajoelharam-se, lado a lado.
"Rio-sama, por favor, aceite nossas sinceras desculpas por causar este choque inesperado em você do nada.", disseram eles, curvando-se profundamente.
"Não, não há necessidade de se desculpar por isso..." Rio balançou a cabeça, um pouco confuso.
"Gouki-dono, posso assumir que a sua presença aqui significa que você obteve as permissões apropriadas?" Yuba perguntou a Gouki em nome de Rio.
"Certamente. Não estamos aqui por nossa própria vontade, mas sob a ordem de Sua Majestade." Gouki acenou com a cabeça firmemente.
"Entendo. Então, por favor, conte-lhe tudo."
Yuba parecia aliviada — a verdade poderia finalmente ser revelada. Era a mesma sensação como se um mal tivesse sido derrotado.
"Claro — é por isso que estamos aqui. Suas Majestades desejam estender sua gratidão e desculpas a Yuba-dono por todo o sofrimento que você deve ter suportado até agora."
"Estou honrada." Yuba baixou a cabeça com gratidão.
"Bem...", Gouki assentiu para Yuba. "... Agora, Rio-sama. Posso contar a história do que aconteceu com Ayame-sama e Zen, meu grande amigo?", ele perguntou a Rio.
"... Sim. Por favor." Rio olhou para Gouki e concordou.
Então, Gouki calmamente começou a falar.
"A história começa há 12 anos..., mas primeiro, deixe-me contar sobre a relação entre mim e Zen — seu pai. Yuba-dono pode informá-lo sobre qualquer coisa que aconteceu antes disso, no entanto..." Gouki disse, olhando para Yuba.
"Zen era uma criança estranha, mas ele era gentil e inteligente, no entanto. Na época estávamos em guerra com nosso vizinho, o Reino Rokuren, então todas as aldeias estavam passando por tempos difíceis. Como segundo filho, Zen decidiu partir e reduzir o número de bocas para alimentar, e saiu um dia para voluntariamente se alistar como soldado." Yuba falou de Zen antes de Gouki se familiarizar com ele, com um sorriso um tanto nostálgico.
"Zen tinha um talento natural para qualquer coisa relacionada com artes espirituais e artes militares. Além disso, era o meio de um período de guerra, como Yuba-dono disse. Ele começou como um mero soldado, mas logo se distinguiu e realizou feitos dignos da atenção de Sua Majestade. E assim, Sua Majestade concedeu-lhe o posto de guerreiro. Foi quando eu conheci Zen."
Era tradição no Reino Karasuki que guerreiros recém-nomeados enfrentassem seus antecessores. Nesse caso, foi Gouki quem lutou com Zen. Embora Gouki fosse muito mais jovem na época, ele era um dos principais guerreiros em termos de habilidade no reino. E ainda assim, apesar de Zen ser autodidata, Gouki lutou para sair por cima na batalha.
"Foi apenas um duelo de demonstração, mas não havia muitos adversários que pudessem fazer meu coração saltar como Zen fez. Suas habilidades eram verdadeiras. Foi por isso que o recomendei fortemente como guarda-costas da família real. Como você já sabe, aquele membro da família real era a Princesa Ayame."
"Mãe... Minha mãe era da realeza..." Rio murmurou, ainda não tendo processado a realidade desse fato.
"Ayame-sama não estava numa posição para a sucessão ao trono, mas ela era reconhecida mesmo nos reinos vizinhos como a beleza de Karasuki.", disse Gouki com um sorriso agradável em seu rosto.
"Meu Senhor, isso é desrespeitoso.", Kayoko murmurou com uma voz fria, tendo mantido seu silêncio ao lado de Gouki o tempo todo.
"C-Certo. De qualquer forma, foi assim que Zen se tornou guarda-costas de Ayame-sama." Gouki mudou de assunto com pressa.
Embora Zen não tivesse falhas em termos de sua proeza militarista, o fato de ele ser um mero aldeão causou alguns protestos.
"Havia muitos que não queriam deixar a proteção da realeza para um plebeu que estava ascendendo no mundo. Habilidades à parte, ele carecia de educação e status social. Dito isso, Ayame-sama também tinha Kayoko e eu como seus guardas, então fomos capazes de lhe ensinar toda a educação necessária. Mais importante, Ayame-sama havia gostado dele..."
Zen havia tomado a posição de guarda-costas de Ayame sem qualquer problema.
"Se me permite dizer, para alguém como Ayame-sama, que teve uma educação protegida, Zen era uma personificação do mundo exterior. Ela perguntava a Zen tudo sobre como era a vida dele na aldeia."
Ayame se viu atraída por Zen em pouco tempo. Qualquer um olhando podia ver o que havia acontecido com facilidade. Da mesma forma, Zen também se viu atraído por Ayame com o passar do tempo.
Dito isto, Ayame ainda era uma princesa, e embora Zen tivesse sido promovido a um guerreiro, ele ainda era um ex-agricultor. Por causa disso, a distância entre seus status era muito grande, e Zen optou por esconder seus sentimentos.
"Na verdade, Ayame-sama visitou secretamente a aldeia várias vezes. Zen tentou desesperadamente impedi-la, insistindo que não havia nada para ver em sua aldeia, mas Ayame-sama se recusou a ceder. Estávamos todos sem saber o que fazer."
"Então... Algo assim aconteceu..." Rio disse, ouvindo atentamente o início da relação de seus pais.
Enquanto isso, Gouki estava rindo alegremente com as memórias que ele havia evocado. Então, de repente, ele recuperou sua expressão séria.
"Foi quando o Reino Rokuren surgiu com um tratado de paz durante uma trégua na guerra."
Tratados de paz não eram ocorrências particularmente raras; na verdade, vários já haviam sido formados durante os longos anos de guerra entre os reinos Karasuki e Rokuren. Os dois reinos tinham uma longa história um com o outro; o Reino Rokuren tinha incitado a guerra, mas desnecessariamente prolongar uma guerra era indesejável para a economia do reino e não se sairia bem com os cidadãos. Foi isso que levou o Reino Karasuki a aceitar o tratado de paz.
E assim, para celebrar o tratado e reprimir a agitação civil, um grande festival foi realizado na capital de Karasuki, com o príncipe de Rokuren participando como embaixador. A cerimônia em si progrediu pacificamente, e o tratado foi formado sem problemas. Tudo o que restava era o príncipe de Rokuren voltar para casa, e um período temporário de paz começaria.
No entanto, na noite de seu retorno, um incidente ocorreu: alguém tentou sequestrar Ayame enquanto ela estava dormindo. No entanto, Zen estava protegendo Ayame das sombras, e foi capaz de prender o perpetrador antes que ele conseguisse.
Foi revelado que o sequestrador era um atendente do príncipe Rokuren.
Zen imediatamente tentou fazê-lo explicar por que ele estava colocando o tratado de paz que tinha acabado de ser estabelecido em risco, mas o criminoso usou uma arma secreta que tinha sido preparada com antecedência para se matar primeiro. Depois disso, o castelo imediatamente irrompeu de atividade, apesar de ser no meio da noite. Uma reunião de emergência foi realizada entre os líderes de Karasuki e o embaixador de Rokuren. O Reino karasuki solicitou uma explicação dos eventos na referida reunião, mas o príncipe Rokuren se recusou a obedecer, e em vez disso reagiu com indignação, afirmando que seu atendente havia sido sequestrado e morto.
Do ponto de vista do Reino Karasuki, foi o lado Rokuren que tentou o sequestro, o criminoso estava morto, e o guarda-costas — Zen — foi o único na cena do crime. Além disso, Ayame estava dormindo em seu quarto. Ainda assim, não havia provas suficientes para acusar o Reino Rokuren.
Enquanto isso, o lado Rokuren também estava sem provas, mas o príncipe usou o fato de que seu atendente estava morto como um meio de insistir teimosamente que sua confiança foi traída. As negociações entre as duas partes foram inevitavelmente amargadas, e não houve escolha a não ser quebrar o recém-formado tratado de paz.
"O Reino Rokuren estabeleceu condições adicionais: a execução de Zen, e um casamento político entre o príncipe Rokuren e a princesa Ayame. Com isso, eles perdoariam a morte do atendente, e manteriam seu lado do tratado de paz. Mesmo lembrar disso agora, ainda faz meu sangue ferver.", disse Gouki, com o corpo tremendo de raiva.
Se tudo era realmente como Gouki havia dito, então as exigências de Rokuren eram completamente descaradas e sem vergonha. Rio franziu as sobrancelhas sem perceber. Ele só podia formar suas próprias suposições sobre o contexto político da época a partir das palavras de Gouki, mas aparentemente, havia rumores de como o sociável príncipe Rokuren era cruel e galanteador. Se alguém assim se casasse com Ayame em um casamento político.... Bem, não era um pensamento positivo.
De qualquer forma, embora as demandas do lado Rokuren soavam completamente ridículas, fazia parte da diplomacia considerar até mesmo as exigências mais ridículas seriamente. Além disso, o Reino Rokuren distorceu a verdade sobre o tratado de paz sendo arruinado e a espalhou pelas ruas, manipulando as emoções dos cidadãos e da sociedade como um todo. Os cidadãos da capital ficaram ansiosos, o que rapidamente se deteriorou em descontentamento, e até resultou em alguns protestos. Mesmo dentro do castelo real de Karasuki, havia uma quantidade significativa de nobres da corte que se opunham à guerra. A autoridade do rei pode ter sido capaz de suprimir esse descontentamento, mas havia sido apenas na superfície. O Reino Karasuki havia perdido a primeira jogada, e agora estava encurralado em uma posição desvantajosa.
"Dito isso, não havia garantia de que o Reino Rokuren se acalmasse, mesmo se aceitássemos seus termos. Ao mesmo tempo, revogar o tratado de paz que tinha acabado de ser estabelecido e retomar a guerra, teria feito a agitação civil atingir níveis explosivos, arruinando a moral do reino. Tivemos que fazer um movimento para mudar o rumo das coisas em uma situação tão desesperadora. Foi por isso que Sua Majestade fingiu concordar com as exigências para ganhar tempo. No final, ele deu a ordem para Zen tomar Ayame-sama e fugir do reino."
Embora não muito, eles foram capazes de ganhar tempo dentro do país desta maneira. Enquanto isso, o rei e vários de seus principais vassalos elaboraram um plano secreto para executar.
"Sua Majestade selecionou o melhor dos melhores para formar uma pequena tropa de guerreiros que agiriam em segredo, e os enviou para o Reino Rokuren. Então, ele fez um anúncio oficial de que Zen tinha tomado Ayame-sama e fugido."
Claro, o príncipe de Rokuren ficou enfurecido com isso. "Vocês brincaram com o homem errado!", ele disse ao retornar ao seu reino e orgulhosamente declarou guerra.
Ao mesmo tempo, o descontentamento dentro do país foi direcionado para Zen e Ayame por fugirem. Era simplesmente muito irresponsável da parte deles. Não havia escolha a não ser capturá-los e fazê-los assumir a responsabilidade por suas ações.
No entanto, as faíscas da guerra já estavam acesas. As partes opositoras dentro do Reino Karasuki relutantemente concordaram em mobilizar seus exércitos e começaram seu avanço no Reino Rokuren. Em resposta ao movimento do exército de Karasuki, o grande exército do Reino Rokuren também foi mobilizado. Então, os dois exércitos se encontraram na fronteira do reino em um impasse.
Foi nesse tempo que o esquadrão de elite de alguns poucos guerreiros selecionados de Karasuki fez seu movimento, dentre os quais Gouki estava incluído. Eles lançaram um ataque surpresa às tropas amontoadas do exército Rokuren por trás; seu objetivo era tomar a cabeça dos oficiais superiores.
O esquadrão de elite consistia de guerreiros com a maior lealdade à família real. Todos eles tinham acumulado grande hostilidade em relação ao Reino Rokuren devido toda a situação. Assim, seu destemido ataque começou enquanto a moral das tropas estava no auge.
Os guerreiros invadiram o coração do campo inimigo em pouco tempo, e tomaram as cabeças dos generais inimigos enquanto estavam no meio de uma reunião, uma por uma. Além disso, capturaram o príncipe Rokuren, que estava entre eles. Como resultado, a primeira batalha foi vencida com apenas um ataque surpresa — foi uma vitória historicamente bem-sucedida.
"O exército Rokuren dispersou-se e fugiu depois que perderam seu príncipe e alguns de seus generais, o que elevou a moral de nossas tropas mais alto do que jamais havia sido... Foi quase como se a oposição à guerra tivesse sido uma mentira. Então, nosso exército avançou antes que o exército Rokuren pudesse se recompor, e nós garantimos várias bases importantes em sucessão. Assim, o Reino Rokuren rapidamente se rendeu." Gouki falou sobre a situação naquela época com uma expressão agradável.
Como Rokuren foi quem se rendeu, eles entraram no status de ser um reino derrotado. Em vez de um tratado de paz, Karasuki foi capaz de estabelecer condições vantajosas para si mesmo como o reino vitorioso. Com tantas dessas condições forçadas unilateralmente do outro lado, Karasuki prosperou. O descontentamento dos cidadãos foi dispersado em pouco tempo.
"No entanto, embora o resultado possa ter sido uma vitória esmagadora, o fato é que cruzamos uma ponte perigosa. Os eventos que levaram ao início da guerra foram cheios de enganos e mentiras, e se nós guerreiros tivéssemos cometido algum erro, a guerra poderia ter sido a favor deles. Mais do que tudo, o fato de Sua Majestade ordenar que Zen e Ayame-sama fugissem era simplesmente muito prejudicial. Os dois foram oficialmente tratados como criminosos por fugirem juntos voluntariamente e causar o início da guerra."
E assim, os dois perderam seu lugar na região de Yagumo. Ao mesmo tempo, a barreira social entre Zen e Ayame também havia sido removida. Isso foi irônico.
"Na época, Sua Majestade estava ciente de que a Ayame-sama havia se apaixonado por Zen, e que Zen sentia o mesmo em relação à Ayame-sama. No entanto, não havia como os dois ficarem juntos se Zen permanecesse como guarda-costas de Ayame-sama. Embora eles possam ter sido capazes de rejeitar as exigências do príncipe Rokuren para um novo brinquedo, ela inevitavelmente acabaria em um casamento político com um parceiro indesejável. E assim, Sua Majestade decidiu que preferia confiar-lhe a Zen. Como resultado, Sua Majestade sempre foi atormentada com apreensão sobre se essa foi ou não a escolha correta..."
Após a guerra, o rei de Karasuki enviou uma lista de procurados para reinos vizinhos com os nomes de Zen e Ayame. Além disso, para esconder completamente a verdade, ele colocou uma ordem de mordaça sobre os poucos que estavam envolvidos na situação. Apenas Yuba foi informada por causa de seu status como mãe de Zen, mas ela também foi proibida de falar. Foi por isso que ela não pôde dizer a verdade ao Rio.
"Também temos arrependimentos persistentes. Kayoko e eu sempre nos culpamos por não podermos acompanhar Ayame-sama..." Gouki disse com uma expressão vergonhosa.
Gouki e Kayoko já estavam casados na época, e Kayoko estava carregando Hayate em seu ventre. Simplesmente não era viável para ela suportar a dura vida de estar fugindo enquanto estava grávida.
Além disso, com a permanência de Gouki e Kayoko, as circunstâncias fariam a fuga de Zen e Ayame parecer muito mais autêntica.
E ainda assim, os dois eram guarda-costas de Ayame. Claro, eles não se arrependiam de ter dado à luz a Hayate, mas a questão de se eles deveriam ter forçado a si mesmos a ir junto com Ayame sempre permaneceu no ar.
"Mas então, outro dia, recebi uma carta de Yuba-dono que me informou da presença de Rio-sama, e que ele tinha vindo de uma terra distante em busca de pistas sobre seus pais."
Se a notícia tivesse vindo de mais alguém, Gouki poderia não ter acreditado neles, mas quem havia retransmitido a informação era avó de Rio; suas palavras tinham um nível muito mais alto de autenticidade. Foi por isso que Gouki levou junto Kayoko para buscar uma decisão do rei. Ele lhes deu a responsabilidade de revelar a verdade se Rio fosse realmente filho de Ayame.
"Fiquei emocionado no momento em que coloquei meus olhos sobre você, Rio-sama. Os traços de Ayame-sama e de Zen são muito aparentes em suas feições. Foi assim que eu tive certeza — não havia erro em você ser filho de Ayame-sama."
Rio pessoalmente sentiu que era um pouco precipitado ele pensar dessa forma, mas talvez simplesmente significasse que ele era muito parecido com Ayame. Zen, também. Ele não conseguia se lembrar do rosto de Zen, mas mesmo quando ele tentava relembrar sua infância, havia memórias do rosto de Ayame que ele ainda não conseguia juntar.
"Suas Majestades, o rei e a rainha — em outras palavras, os pais de Ayame-sama — desejam se encontrar com você. Rio-sama, poderia por favor considerar viajar para a capital comigo?"
"Os dois... querem me conhecer...?!"
A outra parte eram as pessoas que deveriam ser os avós maternos de Rio, mas honestamente não parecia muito real — ele nem conhecia seus rostos, afinal. Mas, como eram os pais de Ayame, ele sentiu o desejo de conhecê-los.
E de qualquer forma, ele não achava que eles desistiriam tão facilmente se os rejeitasse agora.
Rio respirou fundo para se acalmar. "Eu entendo.", ele concordou com uma voz um pouco rígida.
Um sorriso de alívio se iluminou no rosto de Gouki.
"Muito obrigado por sua aceitação. Peço desculpas profundamente pelo curto prazo, mas espero partir desta aldeia amanhã cedo. Vamos garantir sua segurança na viagem."
E assim, Rio seguiu em direção à capital mais uma vez.
◇◇◇
Vários dias depois que Rio partiu da aldeia, ele visitou o castelo real do Reino Karasuki. Ao acompanhar Gouki e Kayoko, ele foi capaz de passar pela entrada sem ser questionado, e então foi levado para uma sala particular. Lá, um casal mais velho de meia-idade estava esperando: eles eram o rei, Karasuki Homura, e a rainha, Karasuki Shizuku.
"O-Ooh, você deve ser Rio... realmente, eu posso ver traços de Ayame.", disse Homura com a voz trêmula enquanto ficava de pé, com os olhos fixos no rosto de Rio. Enquanto isso, Shizuku estava olhando para o rosto de Rio com uma expressão comovida.
Suas Majestades, o Rei Homura e a Rainha Shizuku... A rainha realmente se parece com a mamãe.
Rio olhou para os dois aturdido. Eles deixaram uma impressão muito mais amigável do que ele esperava, tendo imaginado que tipo de pessoas eram até aquele momento.
".... É uma honra conhecê-los, Vossa Majestade, rei Homura, e Vossa Majestade, rainha Shizuku. Meu nome é Rio. Estou extremamente encantado por receber uma audiência com seu semblante nesta ocasião.", se apresentou Rio com cortesia, depois de se olharem por alguns segundos. Então, Homura deu uma risada tensa.
"Estou simplesmente conhecendo meu adorável neto. Não há necessidade dessa forma de etiqueta e fala, e não há necessidade de ser tão tenso."
"Isso mesmo. Você é nosso neto."
O casal real falou com um tom suave.
"Com seu perdão, então... farei o meu melhor." Rio assentiu meio desajeitado.
"Parece que vamos precisar aprofundar nossas relações familiares primeiro. Ambos parecemos confusos. Vamos trocar palavras sobre isso primeiro, está bem?"
"Sim, há muita coisa que eu gostaria de lhe dizer, e tanto que eu gostaria de perguntar. Embora nosso tempo seja limitado, vamos conversar sobre o máximo que pudermos."
Os lábios de Homura se curvaram em um sorriso, enquanto Shizuku sorriu elegantemente.
"Agora, devemos nos sentar primeiro?"
"Sim, com licença." Rio se sentou.
"Oh, Rio. Estou tão feliz em conhecê-lo. Você realmente é idêntico a Ayame.", disse Shizuku de uma maneira claramente animada. Seu olhar estava fixo no rosto de Rio enquanto ela observava todos os traços dele e a aura que eram semelhantes às de Ayame.
"Eu pessoalmente sinto que você é idêntica à minha mãe...", Rio confessou timidamente.
"Oh, realmente?" Shizuku inclinou a cabeça curiosamente.
"Sim. Se minha mãe estivesse aqui agora, eu a confundiria com a irmã dela."
"Oh? Oh, céus. Ara~, que vergonha... mesmo eu já sendo uma avó." As bochechas de Shizuku ficaram vermelhas de vergonha.
Embora ela estivesse sendo humilde, sua aparência era verdadeiramente jovem. Como mãe de Ayame, ela deveria ter uma idade média alta, mas poderia passar por alguém no auge de sua vida.
Depois disso, eles começaram a conversar juntos, fechando a distância entre eles. A variedade de expressões de Shizuku era vibrante, e ela facilmente ria com as histórias de Rio.
Então, depois que eles conversaram por vários minutos...
"Shizuku... Sinto que já faz um tempo desde que vi você rir de uma maneira tão despreocupada.", disse Homura, vendo o sorriso elegante florescendo no rosto de Shizuku.
"Ara~, não diga isso. Isso significaria que estive sorrindo de uma maneira falsa esse tempo todo.", disse Shizuku, fazendo um beicinho fofo.
"Oh não, minha querida. Perdoe-me — essa não era minha intenção.", Homura se desculpou com pressa.
Com isso, Shizuku sorriu feliz. "Você parece estar se divertindo mais do que o normal também, rei Homura.", disse ela.
"Isso... é provavelmente porque Rio está aqui."
"Sim, tem razão."
Homura e Shizuku compartilharam um sorriso um com o outro, então indiferentemente trocaram um olhar com um pequeno aceno.
"Ei, Rio. Poderia nos contar sobre Ayame e Zen?" Shizuku de repente perguntou.
Eles estavam conversando para aprofundar seu relacionamento até agora, mas a intenção desta pergunta era claramente diferente. Homura e Shizuku queriam saber sobre as consequências do que tinha acontecido com os dois que eles expulsaram de seu reino. Não era simplesmente uma pergunta feita por curiosidade.
".... Para começar com a conclusão, ambos já faleceram.", disse Rio em tom levemente moderado.
".... Já fomos informados disso. No entanto..."
"Gostaríamos de saber mais, como a razão pela qual eles morreram, ou como viveram.", Shizuku hesitou em dizer suas palavras, então Homura expressou sua pergunta em voz alta resolutamente. Seus olhos estavam fixos nos de Rio com convicção.
".... Meu pai faleceu quando eu era muito jovem para lembrar de qualquer coisa, então temo que só tenho lembranças do meu tempo com minha mãe. Se estiver tudo bem para vocês..."
"É assim... Então, poderia nos contar o que você lembra de sua vida?"
".... Eu entendo."
Rio respirou fundo e assentiu lentamente. Então, ele começou a falar sobre a morte de seu pai da maneira que havia sido transmitida a ele por sua mãe, bem como suas memórias com Ayame. Os detalhes eram bem semelhantes ao que ele havia dito a Yuba antes — que Zen estava trabalhando como um aventureiro que um dia errou no trabalho e morreu, deixando Rio e Ayame vivendo sozinhos até o Rio completar cinco anos de idade.
"Minha mãe era uma pessoa gentil que estava sempre sorrindo. É por isso que eu pensei que era natural ser apenas nós dois quando eu era criança. Ela nunca me mostrou qualquer tristeza pela morte do meu pai.", disse Rio em relação à personalidade de Ayame.
"Não éramos, de forma alguma, ricos. Mas enquanto ele estava vivo, meu pai ganhou muito dinheiro para nós, então fomos capazes de sobreviver sem a necessidade de minha mãe trabalhar. Nossos vizinhos olhariam para nós com preconceito apenas por ter cabelos de cor diferentes, mas aqueles dias estavam cheios de felicidade. No entanto, minha vida com minha mãe não durou muito tempo. Quando eu tinha cinco anos, minha mãe.... Ela faleceu." Incapaz de determinar até onde ele deveria contar, Rio hesitou em continuar.
"Quando você tinha cinco anos... Como você viveu a partir de então?" Shizuku perguntou com medo.
Rio se preparou para o caso de eles perguntarem sobre o motivo da morte de sua mãe, então ele relaxou de alívio. Aparentemente, o fato de ter perdido os pais aos cinco anos teve um impacto muito mais forte.
".... Depois que me tornei um órfão eu passei a viver na parte mais pobre da cidade." Rio disse casualmente, com um leve sorriso amargo.
"Oh..." Shizuku parecia que começaria a chorar a qualquer momento. Homura tinha os olhos fechados enquanto cerrava os punhos com força.
"Mas só vivi dessa maneira até os sete anos de idade." Rio disse com um pequeno encolher de ombros.
"E... Como você viveu a partir dos sete anos?" Homura perguntou.
"Eu salvei uma pessoa importante do reino por acaso, e recebi a matrícula em um instituto de educação gerenciado pelo reino como recompensa."
"Oh? Um instituto educacional.... Temos tais instituições neste reino também, mas apenas nobres da corte e certas famílias militares são permitidas a entrada. Era diferente nesse reino?"
"Não, não havia diferença. Todos ao meu redor eram o que você chamaria de um nobre da corte ou realeza naquele reino."
".... Então você deve ter sofrido muito." Homura imediatamente adivinhou que Rio havia sido submetido a muita discriminação com base em seu status social.
"Não, é verdade que a hostilidade contra mim era alta, mas havia alguém lá que me tratou gentilmente também. Graças a ela, posso dizer com orgulho que meus dias foram divertidos.", disse Rio com um sorriso gentil. Foi tudo graças à Celia.
Mas isso não foi suficiente para apaziguar as emoções de Homura e Shizuku, pois eles continuaram a evitar contato visual com ele. Gouki e Kayoko, que estavam ouvindo silenciosamente do lado, também tinham expressões de dor em seus rostos.
"A partir daí, frequentei a academia até os 12 anos, antes de partir para esta terra."
"Eu tinha ouvido que havia reinos distantes a oeste, mas... você fez bem em chegar aqui ileso. Graças a isso, conseguimos conhecê-lo." Homura baixou a cabeça profundamente em uma demonstração excessiva de gratidão para Rio. Sabendo que o rei não estava em uma posição onde ele deveria estar facilmente baixando a cabeça para os outros, a gratidão de Homura ressoou bastante dentro de Rio.
"Quando eu era pequeno, minha mãe me falava muito sobre vocês, e me prometeu que um dia me traria para esta terra. Ela não foi capaz de cumprir essa promessa, mas eu sempre quis viajar para cá. No mínimo, eu queria fazer um túmulo para eles em sua cidade natal."
"Ayame prometeu tal coisa a você..." Homura mordeu o lábio. A expressão dele era uma mistura de felicidade, arrependimento e vergonha.
O som do choro de Shizuku ecoou pela sala, enquanto Homura fechou os olhos e ficou calado. O silêncio continuou por um tempo.
Então, depois de algum tempo, Homura respirou fundo e depois fez a pergunta que Rio menos queria ouvir.
"... Rio. Poderia nos contar como Ayame morreu?"
".... Devo adverti-los que pode ser difícil de ouvir. Mesmo assim, ainda desejam saber de qualquer maneira?" Rio perguntou, questionando a quantidade de resolução por trás de Homura e os outros. A história certamente seria repugnante de ouvir.
"Precisamos saber o que aconteceu... O que aconteceu em seus últimos momentos. E, se for preciso..."
Aceitaremos toda a nossa culpa — o rosto de Homura escureceu com essa implicação.
"Eu sinto muito... Sei que deve ser cruel pedir que fale a verdade, mas simplesmente não podemos suportar permanecer na escuridão.", concordou Shizuku, sem levantar a cabeça.
Os dois falaram em um tom calmo, cheio de suas fortes determinação e vontade.
"Bem..." Rio fechou os olhos como se estivesse pensando sobre algo, antes de respirar fundo.
"Minha mãe... foi assassinada. Bem diante dos meus olhos.", disse ele sem rodeios.
"...", embora eles esperavam algo desse tipo, Homura e os outros ainda estavam visivelmente chocados.
"A pessoa que assassinou minha mãe, foi um homem chamado Lucius."
Rio não prestou atenção neles e começou a recordar o que tinha acontecido na época. Foi isso o que eles desejaram, afinal.
Durante os cinco anos após a morte de Zen, Ayame alugou uma modesta casa na capital do reino de Bertram e havia criado Rio lá. Felizmente, havia dinheiro suficiente para permitir que ela criasse Rio sozinha, desde que não gastassem extravagantemente. No entanto, o fardo sobre ela era maior do que o esperado, e ela não podia nem se dar ao luxo de tirar os olhos de Rio por um momento para fazer uma pequena compra. Em tempos como esse, um aventureiro chamado Lucius ajudaria Ayame. Ayame havia conhecido Lucius quando Zen ainda estava vivo.
Naquela época, Ayame havia deixado de ser aventureira quando ficou grávida. Zen continuou na indústria aventureira sozinho por um tempo, mas desde um dia em particular, ele começou a completar missões junto com Lucius.
Zen tinha as habilidades, mas ainda era um forasteiro em uma terra estranha. Lucius o chamou enquanto ele ainda estava se acostumando com o reino, e o ajudou de várias maneiras. Por causa disso, Zen levou Lucius para casa e o apresentou a Ayame. Foi assim que Ayame entrou em contato com ele pela primeira vez.
Então, quando Zen morreu pouco depois do nascimento de Rio, Lucius apoiou Ayame de inúmeras formas, enquanto ela se dedicava a criar o filho. Por exemplo, ele ia às compras no lugar de Ayame, os visitava com vários presentes, ou brincava com o pequeno Rio.
Na época, nem Ayame nem Rio duvidavam que Lucius era uma pessoa amigável e gentil; desde que ele era um aventureiro, seus olhos eram afiados, e havia alguma forma de intensidade por trás deles. No entanto, seus traços faciais eram refinados, e sua personalidade era atenciosa e sociável, como a de um cavalheiro.
Tudo havia sido uma atuação.
Um dia, enquanto Ayame tinha saído em uma missão no bairro, ela disse para Rio: "Eu voltarei logo, então não saia de casa se alguém que você não conhece vier." Então, ela deixou seu filho de cinco anos em casa sozinho.
Logo após Ayame sair, Lucius visitou a casa. Rio tinha seguido as palavras de Ayame no início e fingiu que ninguém estava em casa.
"Rio — você está aí, não é? Sou eu, Lucius. Eu me encontrei com Ayame lá fora e ela me disse para vir cuidar de você. Você poderia abrir a porta para mim?", disse uma voz do outro lado da porta. Assim que percebeu que era Lucius, Rio imediatamente abriu a porta. Rio conhecia Lucius muito bem, então confiava plenamente nele.
No entanto, Lucius havia se transformado em um homem cruel e de coração frio, como se fosse uma pessoa completamente diferente.
"Gah..." Lucius entrou na casa e chutou Rio no abdômen.
O impacto repentino em seu estômago fez o pequeno corpo de Rio voar; ele tinha visto um vislumbre do pé de Lucius fazendo contato com seu estômago, mas não conseguia entender por que Lucius faria tal coisa.
"Por.… que...?" Rio rolou no chão, arquejando.
"Hahaha. Escuta, Rio. Neste mundo, às vezes existem lobos em pele de cordeiro. Eles adoram trair a confiança das pessoas e espalhar malícia. Demônios como eu adoram isso mais do que tudo. Eles até fingiriam ser boas pessoas para fazer isso. É por isso que você não deve confiar nas pessoas tão facilmente, você entende?"
Lucius agarrou a cabeça de Rio e olhou para o rosto dele. "Agora você ficou mais sábio.", acrescentou, e curvou os lábios em um alegre sorriso. Um brilho de loucura podia ser visto em seus olhos.
"Você sabe qual é a coisa favorita de um demônio, Rio?"
"..."
Rio observava com olhos temerosos, e sua cabeça ainda agarrada pela mão de Lucius.
"Demônios... Quando vêem coisas que as pessoas acham preciosas ou bonitas, querem quebrá-las e arruiná-las ao ponto de não retornarem. O rosto de um humano traído por alguém de sua confiança é especialmente delicioso." Lucius continuava falando, mas Rio não conseguia entender suas palavras.
"Mas... Sabe, na sua pouca idade, você não entenderia nada do que estou dizendo, não é? É por isso que não é tão gratificante destruir pirralhos como você, e eu realmente não gosto disso.", disse ele com um suspiro.
"Na verdade, eu posso apimentar as coisas com você, no entanto. Com Ayame — que te valoriza mais do que tudo — como prato principal."
Mais uma vez, Rio não conseguia entender nada do que Lucius dizia. Tudo o que ele sabia era que tinha medo do homem. Mas não era apenas medo — pequenos brotos de ódio também estavam tentando florescer dentro de seu peito. Isso fez com que Rio encarasse Lucius com um sentimento indescritível.
".... Oh? Então você pode fazer uma boa expressão também." Os olhos de Lucius se abriram com interesse enquanto ele sorria. Ele chutou o corpo de Rio e o rolou de cara para cima, antes de pisar em seu estômago e pressioná-lo contra o chão.
"Guh..." Um grito de dor saiu da boca de Rio.
"Bem, ter você lamentando e chorando apenas estragaria o momento. Vamos silenciá-lo antes que Ayame chegue em casa, certo? Não se preocupe, não vai doer. É só uma pequena droga.... Uma que paralisa seu corpo e faz sua mente gradualmente ficar nebulosa. Se Ayame chegar em casa mais cedo, você pode até estar acordado para ver o último ato dela."
Lucius agarrou Rio pelos cabelos e levantou seu rosto, então colocou a mão no bolso e tirou uma pequena garrafa de metal que ele enfiou na boca de Rio. Incapaz de cuspir, Rio engoliu a substância desconhecida. Logo depois disso, um calor ardente surgiu dentro de seu estômago, e consumiu seu corpo pouco a pouco. Sua respiração ficou superficial, e ele não conseguia encontrar forças em suas extremidades.
Foi quando a porta se abriu. Ela abriu um pouco mais rápido do que o normal, provavelmente por causa de como estava destrancada.
Era Ayame.
"Bem-vinda ao lar, Ayame! Você chegou cedo.", Lucius a chamou casualmente, com Rio ainda sob os pés. Rio estava ofegando de dor, e o rosto corado de febre.
"O-O que você está fazendo, Lucius-san?" Ayame congelou onde estava, conseguindo falar com uma voz aguda uma vez que ela processou a situação.
"Haha. Não é óbvio...?" Lucius sorriu com alegria enquanto falava com Ayame.
Neste ponto, a consciência de Rio já havia desaparecido, e ele não conseguia entender as palavras que eles trocavam. Uma neblina havia caído sobre sua visão, mas ele ainda tinha uma vaga sensação de consciência restando. Ele permaneceu naquele estado por tanto tempo, que parecia que nunca iria acabar. A única coisa que foi gravada vividamente em sua memória foi a visão nebulosa de Lucius abusando de Ayame.
No final, porém, Rio teve a vaga sensação de que Ayame o abraçava. Embora ele não pudesse ter certeza se era um sonho ou realidade, Ayame sorriu para ele gentilmente com lágrimas nos olhos.
Provavelmente foi real. Era nisso que ele queria acreditar.
Mas, atrás de Ayame, Lucius estava de pé com sua espada na mão. Ele fez contato visual com Rio e curvou os lábios em um sorriso repulsivo.
Essa era a última coisa que Rio lembrava. Quando acordou, Rio havia sido jogado em um beco dos fundos da capital. Suas roupas estavam manchadas com o sangue de alguém, mas Rio se recusou a aceitar a realidade e vagou pela capital aturdido, procurando por sua casa. Ele não fazia ideia de quanto tempo caminhou, mas acabou encontrando a casa velha que eles estavam alugando. No entanto, a porta da casa havia sido trancada.
Rio encontrou um vizinho que ele reconheceu um pouco e perguntou o paradeiro de sua mãe, o vizinho ficou com nojo dele, e disse que ela estava morta. A casa era uma casa desocupada agora.
Depois disso, Rio viveu nas ruas das favelas durante dois anos até se matricular na Academia Real, tudo isso enquanto carregava um ódio por Lucius em seu peito, todo esse tempo.
"... E foi isso que aconteceu.", declarou Rio, com um olhar severo.
Com isso, ele havia revelado todo o seu passado sombrio — um que ele nunca tinha contado a ninguém antes. Todos na sala — Homura, Shizuku, Gouki e Kayoko — estavam trêmulos. As emoções brotando em seus peitos podiam ter sido raiva, ou tristeza, ou talvez outra coisa. Rio olhou para Homura e os outros com um pouco de arrependimento, perguntando se ele realmente deveria ter dito a verdade.
"Rio, você deve ter muito ressentimento em relação a nós, por fazer Ayame sofrer tal coisa..." Homura murmurou suavemente em uma voz que suprimia suas emoções.
"Sim, eu tenho—", Rio disse sem rodeios, sem nenhuma hesitação.
"..."
Homura e os outros ficaram muito abalados. Eles estavam preparados para serem amaldiçoados, mas as palavras francas de Rio os apunhalou profundamente em seus corações.
"— é o que alguém mais poderia dizer se estivesse na mesma situação que eu. No entanto, não sinto nenhum ressentimento particular em relação a vocês.", acrescentou Rio com um sorriso amargo.
Homura e os outros olharam para Rio com expressões perplexas.
"Eu sinto muito. Não queria surpreendê-lo assim. Mas... todo mundo está entendendo muito mal algo aqui. Por favor, não sintam qualquer culpa equivocada, ou pensem em si mesmos como malfeitores."
".... Por que você diz isso?" Homura perguntou com uma voz rouca.
"Fui criado amorosamente pela minha mãe, e a observei da perspectiva mais próxima possível. É por isso que eu sei: minha mãe não odiava vocês. Na verdade, acredito que ela se sentiu grata por poder se casar com meu pai. É por isso que não seria certo eu odiar vocês.", disse Rio, recordando as boas memórias que viveu com sua mãe.
"Então, é assim..." Cabisbaixos, Homura e os outros tremeram mais uma vez. Eles não podiam suportar os sentimentos de remorso e constrangimento.
Culpa equivocada, pensar em si mesmos como os malfeitores.... As palavras de Rio haviam acertado em cheio. O que Rio tinha dito agora os apunhalou mais profundamente em seus corações do que quando disse que se ressentia com eles. Eles perceberam exatamente como estavam impotentes.
"Mas, Rio. Deixe-me perguntar uma coisa: o que você acha deste Lucius, o homem que matou Ayame? Você pode perdoá-lo?"
"Não, eu não posso perdoá-lo, definitivamente, nunca. Recentemente, percebi que havia coisas neste mundo que são absolutamente imperdoáveis." Rio balançou a cabeça enquanto suprimia suas emoções.
"Então, você busca vingança?"
"Não estou pensando em viver apenas por vingança, já que não sei onde ele está, ou mesmo se ainda está vivo. No entanto, se eu encontrar esse homem algum dia, então com minhas próprias mãos eu vou.…"
".... Entendo. Eu sou um rei, afinal de contas; Vi inúmeros humanos repulsivos até agora. É por isso que eu posso entender as emoções que você carrega, e não vou negá-las. Mas, se você quiser seguir o caminho da vingança, há uma coisa que devo dizer primeiro.", disse Homura, estreitando os olhos como se quisesse ver a determinação de Rio.
"O que é?" Rio enfrentou o olhar de Homura de frente.
"Vingança não é justiça. Os mortos podem não desejar vingança, e a vingança só dará origem a uma nova vingança. Consequentemente, o caminho para a vingança só leva ao inferno. Mesmo que queira voltar atrás, não será capaz. Você entende isso, certo?"
"Sim, estou ciente."
"Você ainda pode voltar agora. Você ainda vai matá-lo, sabendo disso?"
".... Sim, foi isso que eu decidi. Não vou mais desviar meus olhos da realidade. Da malícia das pessoas, das minhas próprias fraquezas. É por isso que eu estou disposto a sujar essas mãos, se necessário." Rio afirmou sua própria vontade claramente, com uma expressão determinada.
Homura olhou nos olhos de Rio cuidadosamente; seus olhos cor de caramelo não mostraram sinais de ilusão ou loucura. Eles eram os olhos de alguém que sabia que não havia moral absoluta neste mundo, mas tinha escolhido manter sua própria moral de qualquer maneira. Era por isso que ele não estava disposto a recorrer a qualquer meio possível para sua vingança, e ele não incorreria na inimizade de ninguém por sua própria razão egoísta.
Homura suspirou com resignação.
".... Entendo. Nesse caso, eu não vou impedi-lo de buscar vingança."
Se Rio tivesse perdido de vista seu caminho, Homura teria dado alguns conselhos, como seu avô, para levá-lo de volta a um caminho menos doloroso. No entanto, não tinha sentido fazer isso com Rio como ele estava agora. Por sua experiência como um rei que viveu uma vida longa, Homura podia entender que as emoções humanas não eram tão frágeis que poderiam ser apagadas com algumas palavras idealistas.
".... No entanto, como seu avô, quero saber se você tem força para realizar essa sua vontade. Você consideraria enfrentar Gouki?"
".... Você deseja que eu lute com Gouki-dono?" Rio ficou surpreso e inclinou a cabeça, diante da proposta repentina de Homura.
"Perdoe-me — eu aturdi você com minha súbita insolência. São simplesmente as ações intrometidas dos idosos..."
"Não é isso. Eu só não entendi completamente o ponto de tal ação..."
"É sobre Lucius. Pelo que nos disse agora, ele parece bem habilidoso. Com uma personalidade tão repulsiva quanto a dele, eu não duvidaria que a morte de Zen também pudesse ser atribuída a ele. Você não concorda?"
"... Sim. Eu considerei isso como uma possibilidade."
"Dito isso, eu conhecia Zen muito bem. No mínimo, ele não era do tipo que você poderia facilmente ganhar vantagem em uma luta. Não é isso mesmo, Gouki?" Homura disse, olhando para ele.
Gouki assentiu silenciosamente, antes de oferecer sua própria opinião sobre o assunto.
"Sim, a maioria dos ataques furtivos não seria capaz de funcionar em um homem como ele. Se aquele homem abominável realmente matou Zen com as próprias mãos, então por mais relutante que eu esteja em admitir, acredito que ele deve ser muito poderoso."
"E assim são as coisas. Você deve ter pelo menos a força de Zen ou maior se quiser confrontar Lucius. E, mesmo que ele não tenha matado Zen, a força é inestimável para uma jornada como a sua, não é?" Homura perguntou.
"Sim.", Rio disse assentindo.
"Nesse sentido, Gouki já foi igualado com Zen, e agora tem muitos anos de experiência militar adquiridos. Ele é um guerreiro veterano inigualável não apenas no Reino Karasuki, mas também nos reinos vizinhos. Não há ninguém neste reino mais forte do que este homem que possa testar suas verdadeiras habilidades. Que tal — você gostaria de lutar com ele?" Em outras palavras, Homura queria treinar Rio.
No campo de batalha, ele tinha o apelido de "Kishin Gouki" — o número de oponentes fortes que ele havia derrotado era imensurável. Sob a tutela de Gouki, seu neto seria capaz de ganhar experiência valiosa, pensou Homura. Por trás de suas palavras havia um vislumbre da extrema confiança que ele tinha em Gouki.
"Eu não ousaria pedir tal coisa. Mas, se Gouki-dono tiver a gentileza de me ensinar, então eu aceitarei com prazer." Rio assentiu com um valente sorriso.
"É isso? Então posso deixar o Rio com você, Gouki?", Homura perguntou.
"Claro. Aceitar este dever seria uma honra." Gouki assentiu com muita emoção por trás da ação.
"Então, deixarei para você. ... Agora, Rio. Perdoe-me, mas eu vim aqui hoje usando o tempo entre meus deveres oficiais. Teremos que encerrar as coisas por enquanto. Por favor, sinta-se em casa sob os cuidados da residência de Gouki. Não se esqueça de lutar com ele."
Considerando o passado de Ayame, a identidade de Rio não era para ser revelada sob nenhuma circunstância, então ninguém deveria saber desse encontro secreto. Se o encontro tivesse continuado por muito tempo, o tempo não usado em seus horários poderia ser questionado pelos servos, então eles atingiram seu limite de tempo.
Assim, o encontro havia chegado ao fim por hoje.
"Rio, você poderia vir aqui por um momento?" Shizuku levantou-se e de repente chamou-o.
".... Sim, claro." Rio assentiu com a cabeça, hesitantemente se aproximando de Shizuku. Então, ela gentilmente o abraçou.
"Você cresceu tão maravilhosamente, por sua própria conta. Bem feito chegando até aqui. Muito obrigada." Enterrando seu rosto no corpo um pouco maior do Rio, Shizuku foi às lágrimas.
Rio ficou levemente rígido ao ser abraçado do nada, mas ele logo derreteu sob o calor de Shizuku. De alguma forma, o fazendo lembrar de Ayame.
"Não... Sou eu quem está feliz em poder conhecer vocês dois." Rio timidamente abraçou Shizuku de volta.
"Sim..." Com um sorriso fugaz, Shizuku olhou de perto para o rosto de Rio.
A expressão que Rio podia ver no rosto de Shizuku à distância não era de uma realeza, mas de uma avó amorosa, embora sua aparência exterior fosse ligeiramente jovem para uma avó. Homura olhou para os dois com uma expressão cheia de amor familiar.
"Bem, vamos indo, Shizuku."
"Tudo bem..." Ao chamado de Homura, Shizuku relutantemente deixou a sala.
"Por favor, Rio-sama — permita-me liderar o caminho." Depois que o rei e a rainha saíram, Gouki falou calmamente.
"Sim, por favor."
◇◇◇
Após o encontro, Rio deixou o castelo real e seguiu para a propriedade da família Saga.
A residência da família Saga estava localizada em uma cidade militar próxima ao coração da capital, onde as ruas eram tranquilas e uma atmosfera serena pairava no ar. Todas as residências da área estavam cercadas por muros e não havia muita vegetação entre elas, assim as robustas, mas maravilhosas mansões, estavam todas bem alinhadas.
"É por aqui."
Quanto à residência Saga, mesmo entre os outros edifícios da cidade militar, a mansão era particularmente esplêndida. Os materiais utilizados foram madeira e argamassa, com algumas seções pintadas de vermelho carmesim. Rio passou pelo portão da propriedade enquanto admirava sua aparência. Quando os dois que o guiavam entraram no jardim, a voz de uma jovem garota ecoou.
"Pai! Mãe! Bem-vindo a casa!"
Uma fofa garotinha por volta dos dez anos de idade apareceu. Ela usava um uniforme de artes marciais e hakama, com uma única espada de madeira agarrada em sua mão. Seus olhos eram como belas pedras preciosas, suas feições faciais eram definidas, e sua pele branca era lisa como porcelana. Cada característica era da melhor qualidade, tornando-a a imagem da inocência. Além disso, seu cabelo preto-azeviche, parecido com seda, estendia-se pelas costas, roçando-se em suas roupas para tocar uma bela melodia.
... Hm?
Rio congelou no meio do caminho quando viu a garota. Ele sentiu como se tivesse visto a garota em algum lugar antes... E muito recentemente, ainda.
Uma mulher apareceu atrás da garota.
"Meu senhor, minha senhora... Bem-vindos ao lar. Essa pessoa será um convi— " A mulher cumprimentou respeitosamente, mas quando viu o rosto de Rio ficou instantaneamente rígida.
Quando Rio viu o rosto da mulher, sua sensação de déjà vu de repente fez sentido. As duas que apareceram eram as pessoas que ele havia encontrado enquanto andava pela capital outro dia: a garota que quase havia sido sequestrada, e sua guarda-costas. Ele ficou surpreso com a reviravolta inesperada do destino de vê-las aqui.
"Que desrespeitoso, Aoi!" Gouki repreendeu a mulher que congelou ao ver Rio.
"P-Por favor, me perdoe!" Aoi empalideceu e rapidamente abaixou a cabeça.
"... Meu Senhor, deve haver algum tipo de razão para isso. Aoi, diga o que pensa." Kayoko solicitou uma explicação dela, rapidamente percebendo as reações que Rio e Aoi tiveram. Ela suspeitava que eles possivelmente tinham se encontrado anteriormente.
"U-Umm, essa pessoa foi quem salvou Komomo-sama.", Aoi revelou o motivo nervosamente.
"Me salvou?" Komomo, a menina supracitada, inclinou a cabeça curiosamente. Dito isso, era compreensível que ela não se lembrasse de nada, já que estava inconsciente durante o incidente do sequestro.
"Outro dia, encontrei essa menina sendo atacada por alguns malfeitores..." Rio confessou, com um pouco de culpa.
"O-Ooh?! Então é isso! Que tremenda coincidência!" Os olhos de Gouki se arregalaram quando ele entendeu.
"Naquele momento, eu escolhi sair antes que as coisas se tornassem muito problemáticas, então é natural que ela esteja surpresa. Por favor, não a repreenda.", disse Rio para ajudar Aoi.
"H-Hmm. Se é assim, então... somos extremamente gratos, e estamos eternamente em dívida com você. Aoi, ofereça sua gratidão também." Gouki olhou para Aoi, que baixou a cabeça para Rio.
"S-Sinto muito pela grosseria que mostrei mais cedo! Gostaria de oferecer minha extrema gratidão por sua generosa consideração. Muito obrigada!" Aoi expressou suas desculpas e gratidão com uma quantidade quase excessiva de cortesia. A julgar pela forma como Gouki interagiu com Rio, ela havia julgado que ele era uma pessoa de um escalão bastante alto e que deveria ser respeitado.
"N-Não, está tudo bem... Eu não fiz nada de especial, afinal." Rio balançou a cabeça com um sorriso tenso.
Por alguma razão, ele sempre se sentia extremamente desconfortável quando as pessoas o tratavam com um excesso de respeito. Ele deixou cair um pouco os ombros, resignando-se a ser desgastado por este tipo de tratamento durante sua estadia.
"Um... eu posso?" Komomo se aproximou de Rio timidamente.
"Hm? O que seria?"
"É um prazer conhecê-lo. Meu nome é Saga Komomo — muito obrigada por me salvar daqueles malfeitores no outro dia.", disse Komomo educadamente, abaixando a cabeça para Rio.
"Obrigado pela cortesia. Meu nome é Rio. Você se machucou em tudo aquilo?" Rio respondeu com um leve sorriso.
"Não. Graças a você, eu sou a imagem perfeita da saúde!" Komomo riu inocentemente enquanto levantava o punho.
"Isso é ótimo de ouvir."
" Rio-...dono, muito obrigado por salvar minha filha. Eu gostaria de agradecer a você do fundo do meu coração também."
A breve pausa antes do honorífico “dono" foi provavelmente devido à resistência que Gouki tinha dentro de si mesmo. Eles haviam decido no caminho que Rio seria tratado como um hóspede regular durante sua estadia na mansão, mas colocar isso em prática era mais fácil dizer do que fazer. A atitude de Gouki e Kayoko em relação ao Rio até agora tinha sido mais parecida com a de um convidado muitíssimo valioso, do que de um convidado regular.
"Não foi nada. Gouki-dono tem uma filha muito fofa."
"Estou honrado pelo elogio. .... Se me permite perguntar, Rio-dono. O que você gostaria de fazer sobre o duelo de prática? Os preparativos podem ser feitos imediatamente, se assim desejar." Gouki agradeceu alegremente a Rio, antes de seguir para avaliar o interesse de Rio sobre o duelo.
"Está bem. Então.... Posso lhe pedir para fazer os preparativos agora?" Rio assentiu com um sorriso. Ele também estava bastante ansioso pela luta.
Embora não tivesse faltado parceiros de treino para ele durante seu tempo com os Seirei no Tami, ele tinha treinado principalmente sozinho desde que chegou à região de Yagumo, por isso estava bastante faminto por uma batalha simulada com alguém que era realmente poderoso.
"Pai, você vai ter uma disputa?" A expressão de Komomo se iluminou dramaticamente com a menção de um duelo de prática.
"De fato, é uma disputa. Hayate está nos campos de treinamento?"
"Sim! Eu estava treinando lá alguns momentos atrás."
"Entendo. Então, você pode vir e observar também. Certamente haverá algo a ganhar hoje. Agora, Rio-dono — por favor, siga-me. Este é o caminho para os campos de treinamento."
Assim, Rio, Gouki, Kayoko, Komomo e Aoi seguiram para os campos de treinamento.
O grupo chegou ao local e avistaram Hayate silenciosamente balançando sua espada de madeira. Os campos de treinamento eram ao ar livre, ostentando uma área de terra bastante ampla. No canto da área havia um edifício parecido com um dojo.
Hayate viu Gouki e Kayoko e sorriu brilhantemente.
"Ooh. Pai, mãe, bem-vindos de vol— Espera, Rio-dono?!" Quando notou Rio atrás deles, ele soltou uma voz muito mais frenética.
"Bom dia, Hayate-dono. Eu diria 'há quanto tempo', mas não faz tanto tempo assim." Rio o cumprimentou, sorrindo ironicamente por sua reação.
"D-De fato. Mas por que você está aqui, Rio-dono?"
"Rio-dono ficará em nossa casa como convidado. Agora teremos um duelo de prática juntos, então você deve observar também. Preparem as espadas de madeira." Gouki afastou a perplexidade de Hayate com uma explicação imparcial.
"S-Sim, senhor!" Hayate concordou em pânico e foi buscar as espadas de madeira para usar em uma batalha de prática. Depois disso, o restante dos preparativos foi concluído num piscar de olhos, e Rio e Gouki seguravam uma espada de madeira na mão enquanto se encaravam no centro dos campos de treinamento. Kayoko, que atuaria como árbitro, se aproximou dos dois.
"Em nosso reino, é um costume os guerreiros determinarem o nível de perigo antes de um duelo de prática: desde uma situação de combate real, até algo menos nocivo. Sob qual tipo de acordo vocês gostariam de lutar?", perguntou ela.
"Gouki-dono, qual nível você prefere?" Rio perguntou.
"Vou deixar a decisão para você, Rio-dono." Gouki cedeu a decisão a Rio.
"Nesse caso, eu gostaria de uma luta que se assemelhe a um combate real." Rio solicitou sem hesitar.
Em resposta, os lábios de Gouki formaram um sorriso que ele não conseguiu conter. A expressão de Kayoko também se contraiu com um leve sorriso.
Hayate tinha um olhar estranhamente perturbado em seu rosto, enquanto Komomo estava olhando para Rio com admiração em seus olhos. No caso de Aoi, ela estava observando Rio com ansiedade e preocupação.
Cada um deles tinha uma expressão visivelmente diferente.
".... Entendido. Então, resumindo: qualquer coisa menos matar está permitida. Podemos curar uma boa quantidade de lesões com artes espirituais, então, por favor, não se contenham. Está bem?" Kayoko olhou para Rio para confirmar.
"Não tenho objeções.", disse Rio sem sinal de medo.
"Então, ambas as partes — afastem-se e tomem suas posições."
Com as palavras de Kayoko, Rio e Gouki caminharam uma distância apropriada, em direções opostas um do outro. Eles se familiarizaram com o agarre nas espadas de madeira e assumiram suas posturas.
"Comecem!"
Kayoko sinalizou o início do duelo.
Imediatamente depois, Rio avançou como se tivesse se teletransportado através do espaço, fechando a distância entre ele e Gouki em um instante e oscilando sua espada.
"?!"
Gouki ficou surpreso com a forma como Rio apareceu de repente diante de seus olhos, mas saltou para a frente sem hesitação. Ele percebeu que se tentasse recuar descuidadamente, isso só o faria ficar ainda mais para trás no início de sua luta. Em um movimento tudo ou nada, ele tomou uma postura defensiva e correu para a frente, evitando a espada de Rio enquanto tentava deslizar ao alcance do peito do adversário.
Rio se abaixou e tentou acertar um golpe com o joelho, aproveitando a postura inclinada de Gouki. No entanto, uma vez que ele percebeu que a empunhadura da espada de Gouki estava sendo apontado para seu joelho, Rio imediatamente recuou.
Ambas as partes se distanciaram e retomaram suas posições iniciais, ajustando suas posturas enquanto examinavam um ao outro.
Hmm.... Eu fui praticamente incapaz de prever seus movimentos. Talvez se deva ao fato de que teve que crescer tão rápido, mas ele tem uma habilidade incrível para uma idade tão jovem. Um suor frio percorreu a espinha de Gouki enquanto sua boca formava um ousado sorriso.
Normalmente, para um humano mover seu corpo, ele precisa colocar força em seu físico e permitir o acúmulo de movimentos excessivos. No entanto, quando se trata de artistas marciais experientes, eles têm bons olhos para ver através de excessos como esses e tomar a vantagem. Eles também têm a técnica adquirida para relaxar suas próprias ações, evitando assim serem lidos por seu oponente.
Através do curto intercâmbio de agora, Gouki havia determinado que Rio era um lutador experiente.
A essa velocidade, não devo deixar que a distância entre nós aumente descuidadamente. Manter a distância só vai me fazer ficar para trás... E no momento em que eu perca o foco será o momento em que serei caçado...
Com isso em mente, Gouki se aproximou de Rio o mais perto que pôde. Ele imaginou que a essa curta distância, Rio não seria capaz de usar sua velocidade sobre-humana para evitar uma colisão... e ele não estava errado.
Na vila dos Seirei no Tami, Rio aprendeu durante seus estudos de artes espirituais a acelerar seu corpo vigorosamente usando artes espirituais de vento sem movimentos excessivos, bem como a capacidade de combinar isso com técnicas para relaxar seus movimentos e pegar seu oponente com a guarda baixa. No entanto, o incoveniente desta técnica de movimento era que a aceleração dele era muito rápida e não permitia manobrabilidade, o que significa que seu uso era limitado quando seu oponente estava próximo demais. Por causa disso, ele só podia mostrar seu verdadeiro poder quando lutava em campos largos onde ele poderia se mover livremente.
Ele está fechando a distância entre nós.... Acho que isso é de se esperar de alguém tão experiente em batalha. Ele provavelmente me esmagaria no momento em que eu tentasse recuar e ampliar a distância novamente. Se esse é o caso...
Rio admirou como Gouki imediatamente neutralizou sua velocidade — como se esperava daquele que eles chamam de Kishin, ele pensou. Mas, no momento seguinte, ele relaxou sua força e entrou no espaço de Gouki. Gouki imediatamente reagiu oscilando sua espada, mas Rio facilmente parou o golpe. Suas respectivas espadas de madeira entraram em contato com ferocidade, causando um barulho estridente, que ecoou por todo o campo de treinamento.
Os dois estavam de repente no espaço um do outro, trocando golpes rápidos demais para o olho seguir. Ambos estavam atacando enquanto ocultavam qualquer sinal de ataque, e ambos pareciam ver através do outro. Após a intensa troca de movimentos ofensivos e defensivos, que continuou por vários momentos, as pontas das duas espadas atingiram o chão como se o atravessasse.
"Que temível. E pensar que você tem tais habilidades numa idade tão jovem... você realmente superou Zen e eu quando tínhamos sua idade. E, você nem mesmo chegou à sua idade dourada em termos de corpo e experiência também..." Gouki parou de se mover e sorriu.
"A única coisa que nunca parei de fazer foi treinar."
"Estou em problemas..." Gouki disse enquanto oscilava sua espada de madeira em Rio mais uma vez. No entanto, Rio girou seu corpo e lançou um corte no lado de Gouki, evitando seu corte enquanto soltava seu próprio ataque. Gouki puxou sua espada de volta imediatamente, parando o golpe de Rio. Suas espadas colidiram ferozmente mais uma vez enquanto os dois se lançavam um contra o outro em sua luta acirrada.
"... Com certeza não parece ser assim."
"Lutas que fazem meu coração dançar assim não acontecem com muita frequência. E ter Rio-dono como o adversário torna tudo isso ainda mais revigorante."
Enquanto falava, Gouki retirou languidamente seu corpo e imediatamente avançou com força, liberando três golpes consecutivos mais rápido do que se poderia detectar visivelmente.
E ainda assim, Rio lidou com esses ataques habilmente.
Gouki praticou com a espada por anos — não, décadas. Suas investidas bem agora estavam embaladas com os frutos de seu trabalho e habilidades, e foi por isso que Rio pensou que Gouki era inconfundivelmente o mais forte de todos aqueles com quem ele havia lutado até agora. Como um humano, suas habilidades físicas poderiam ser inferiores aos bestiais e anões, mesmo quando aprimorados pelas artes espirituais, mas suas técnicas de batalha os superavam em muito.
"Zen era um homem com um talento inato para as artes da batalha, mas vejo que o talento foi herdado por você completamente. Não, você pode até ter mais do que ele.", disse Gouki, lançando um ataque de duas estocadas que foi ainda mais afiado do que os três ataques consecutivos anteriores.
Rio esperou o momento em que a segunda estocada estava totalmente estendida para repelir a espada de Gouki, fazendo Gouki perder um pouco o equilíbrio. Rio aproveitou a chance para atacar, lançando um chute giratório em seu torso. Gouki tentou se proteger imediatamente com o braço esquerdo, mas seu corpo inteiro foi mandado voando.
Kuh, usando artes de espadas e artes marciais juntas... esplêndido. O dano que Gouki recebeu não foi de forma alguma leve, mas sua expressão era alegre.
Hayate e Aoi assistiram a visão de Gouki sendo lançado para longe em um estupefato silêncio. Até mesmo a calma Kayoko arregalou os olhos por um instante.
Komomo era a única com olhos brilhantes; cheios de reverência e adoração, como se fosse para não perder um único momento de tal batalha de alto nível que se desenrolava diante dela.
Gouki aproveitou a energia cinética ao ser chutado para ampliar a distância entre ele e Rio sem pensar duas vezes. No entanto, Rio se moveu como o vento, e se aproximou de Gouki em um instante.
Sem outra escolha, Gouki respondeu ao desafio de Rio. Ele mal conseguiu lidar com os ataques consecutivos de Rio, claramente passando a estar na defesiva.
"Eu não posso acreditar... Pai..." Hayate ficou horrorizado com a ideia de Gouki perder.
Ele não podia acreditar que Gouki, que estava invicto até agora, estava aparentemente do lado perdedor. E para um garoto mais jovem que o próprio Hayate, nada menos. Porém, isso era o que estava sendo mostrado diante de seus olhos. Gouki ainda não tinha lançado um único golpe notável contra o Rio, enquanto o Rio já tinha lançado vários contra Gouki.
Não.... Se estivessem usando espadas reais, Gouki já estaria incapacitado.
Contra o estilo de luta de Gouki, que era focado em sua espada, Rio usou como seu estilo uma mistura em constante mudança entre artes de espadas e artes marciais. Além de conscientizar seu oponente que seu estilo estava focado demais na espada, ele lançou ataques vis e agonizantes sem aviso.
Gouki estava apenas bloqueando os golpes fatais com sua habilidade e experiência, assim, poucos bons ataques o acertaram. As pernas de Gouki estavam tremendo levemente; era a evidência do dano acumulado. No entanto, ele não mostrou nenhum sinal de hesitação. Ele suportou tudo com pura força de vontade e espírito de luta, relutante em deixar uma luta tão maravilhosa terminar tão facilmente.
"Hahaha! Isso de fato é emocionante!" Gouki gritou com um sorriso descarado. Então, ele propositalmente ampliou a distância com Rio, cuja velocidade superava a sua, e suavemente preparou sua espada sem hesitação.
A essência está convergindo em torno de sua espada...
Rio imediatamente notou que Gouki estava tentando usar algum tipo de habilidade. Ele poderia avançar e diminuir a distância, mas isso seria um movimento arriscado quando ele não sabia que habilidade seu oponente estava usando.
"P-Pai, não me diga que você vai usar aquilo...?!" Hayate gritou do lado do campo de treinamento. Ele parecia ter em mente que habilidade Gouki estava prestes a liberar, bem como o poder por trás da habilidade também.
Rio não mostrou nenhum sinal de medo, no entanto. Ele elevou sua própria essência como se penssasse em encarar de frente a habilidade que Gouki estava prestes a lançar, e observou atentamente.
"Estilo Saga, Primeira Lâmina, Air Slash!"
Gouki oscilou sua espada em linha reta, e um corte horizontal gigante no ar veio voando em direção ao Rio. Era uma lâmina de vento que tinha sido infundida com essência através das artes espirituais.
Ao contrário da magia, as artes espirituais não requeriam nome ou que um feitiço fosse recitado, então não era realmente necessário dar um nome a cada habilidade. No entanto, como as artes espirituais eram técnicas milagrosas que colocavam a própria vontade e imaginação na essência ou odo para se comunicar com a mana e assim provocar fenômenos diferentes, o raciocínio de nomear habilidades para fortalecer a imaginação e a vontade era bem útil. E era ainda mais eficaz quando se tratava de um espadachim tão experiente quanto Gouki, que havia encontrado tanto sua postura ideal quanto um forte espírito para oscilar sua espada em um único golpe decisivo através de seu treinamento diário.
Na verdade, a lâmina de vento que ele tinha lançado era extremamente poderosa. Contra humanos normais, teria sido capaz de dilacerar e dizimar várias pessoas ao mesmo tempo.
Rio imediatamente detectou o poder por trás do ataque e desistiu de recebê-lo com sua espada de madeira. No entanto, ele não fez nenhum movimento para evadi-lo, decidindo aceitar o desafio diretamente. Ele manipulou a essência que havia liberado de seu corpo e a reuniu em sua mão direita antes de movê-la como se fosse uma gadanha. Logo depois, uma parede de água semelhante a um tsunami apareceu diante dos olhos de Rio, colidindo com a lâmina de vento.
Um som explosivo ecoou por todo o campo de treinamento enquanto o vento e a água se espalhavam pelos arredores.
"Gah, o que foi...?!"
Com sua visão prejudicada pela água, Gouki estreitou um pouco os olhos. Rio usou essa abertura para se mover ao redor dele e atacar pelo lado, empurrando a espada de madeira e a detendo bem diante da garganta de Gouki.
"Isso é o suficiente! A vitória deste duelo vai para Rio-dono.", disse Kayoko, a árbitra, sem um instante de atraso.
".... É minha derrota." Gouki deixou a força ser drenada de seu corpo enquanto aceitava sua derrota.
"Muito obrigado." Rio baixou sua espada e fez uma reverência.
"Minha nossa. Criando um volume tão grande de água num instante e em um ambiente que quase não tem umidade.... Estou admirado, de fato. Parece que Rio-dono tem um talento excepcional para as artes espirituais também." Gouki elogiou Rio sem se conter.
"P-Pai! Usar aquele último ataque não foi exagerar demais?" A voz de Hayate o chamou. Ele estava parado ao lado de Aoi em choque até agora, mas seus pensamentos finalmente se recuperaram o suficiente para objetar sobre o último ataque.
"Rio-dono deveria ser capaz de lidar com isso. Só usei essa habilidade secreta porque acreditava nele. Ele acabou bem, não foi?" Gouki balançou a cabeça com um sorriso irônico, mas Hayate se recusou a aceitar isso.
"Você só está falando em retrospectiva! Se isso tivesse feito contato direto, Rio-dono teria morrido!"
"Hayate. Isso é rude da sua parte, percebe? Há algumas coisas que só podem ser entendidas enfrentando-o assim. Pessoalmente, eu sabia que o ataque não iria alcançá-lo."
"É-É verdade que Rio-dono possui uma força anormal..."
"Gouki-dono só lançou essa habilidade porque acreditava que eu poderia lidar com ela." Rio falou em apoio a Gouki com um sorriso tenso.
"M-Mas, Rio-dono..."
"Talvez fosse uma questão diferente se ele a tivesse usado para me pegar de surpresa no meio da batalha, mas foi lançada de frente como um desafio direto para mim. Além disso, fui eu quem desejou uma luta igual com um combate real. Eu estava mais do que preparado para os riscos."
"Isso é.…" Não havia muitos humanos que pudessem lidar com esse ataque, mesmo que soubessem que ele estava por vir. Não seria estranho para a maioria das pessoas se encolher de medo simplesmente ao receber o vigor de Gouki de frente. E ver através desse ataque cortante e selecionar um meio de escapar além disso... Hayate definitivamente não gostaria de experimentar.
Mas, na realidade, Rio não parecia agitado depois de receber o ataque, então Hayate não podia objetar mais.
"Assim são as coisas, Hayate. Bom, na verdade eu pensei que ele iria esquivar..." Gouki assentiu com uma expressão triunfante, mas ele murmurou a última metade de suas palavras tão fracamente, que mal eram audíveis. Ele olhou para Kayoko e percebeu que estava recebendo um olhar frio.
Bem, talvez eu tenha ficado um pouco empolgado demais, ele pensou consigo mesmo com um suor frio.
Não importa o quão próximo de um combate real seu duelo possa ter sido, ainda não era uma boa ideia lançar um ataque letal contra um oponente que deveria ser respeitado. Kayoko definitivamente lhe daria uma leve bronca sobre isso mais tarde.
".... No entanto, isso não muda o fato de que eu usei uma habilidade perigosa. Rio-dono, por favor, aceite minhas desculpas." Gouki abaixou a cabeça profundamente para Rio com pesar.
"Não, está tudo bem. Eu fui capaz de testemunhar uma habilidade magnífica." Rio balançou a cabeça agradavelmente. Era uma habilidade que só tinha sido lançada porque ambos sentiram as habilidades um do outro e acreditavam que não iria acertar. Na verdade, Rio achou isso uma honra.
"U-Umm!" A voz de Komomo de repente os interrompeu. Todos os presentes afixaram seus olhares sobre ela.
"Por favor, lute comigo também!" Seus grandes olhos brilhantemente reluziam quando ela desafiou Rio para um duelo.
"E~tto..." O pedido repentino pegou Rio de surpresa, deixando-o sem palavras.
"Hahaha! Komomo tende a ser atraída por pessoas fortes. Ela deve ter ficado incapaz de se conter depois de ver a luta de Rio-dono bem agora." Gouki gargalhou enquanto comentava sobre a personalidade de Komomo.
"Sim! Essa luta de agora foi maravilhosa! Eu nunca vi ninguém derrotar meu pai antes!" Komomo concordou com um sorriso inocente.
"Então, por favor!" Ela disse, abaixando a cabeça com entusiasmo.
".... Entendido. Tudo bem por mim.", Rio concordou com um sorriso, impressionado com a atitude sincera de Komomo.
"Rio-dono, obrigado por concordar com o pedido da minha filha. Komomo, Rio-dono é uma pessoa com habilidades muito acima das suas. Considere isso como uma chance de poder treinar com um oponente muito mais habilidoso."
"Sim! Muito obrigada!"
Komomo assentiu energicamente, agradecendo ao Rio.
"Então, primeiro, permitam-me limpar a água espalhada por toda parte."
Rio criou um redemoinho usando artes de água e puxou toda a água espalhada no chão em sua direção. Depois, ele levemente moveu a mão, e o guiou para uma esquina do campo de treinamento. Acabou em meros segundos, mas todos, com exceção de Rio, observaram a cena se desenrolar com os olhos arregalados.
"Produzindo tal quantidade de água instantaneamente... Rio-dono deve ser um incrível praticante de artes espirituais da água. Nunca tinha visto uma arte espiritual de água tão esplêndida em meus muitos anos de vida.", disse Gouki surpreso.
"Não é algo tão incrível assim..." Rio balançou a cabeça, tentando evitar o tema. Baseado nas reações de Gouki e dos outros, ele imaginou que suas ações eram de um grau ligeiramente avançado.
Só para constar, esse nível de artes espirituais era brincadeira de criança para a alta elfa Oufia, e os outros usuários de artes espirituais de água na vila eram capazes de usá-la facilmente também. Mas como o povo espiritual tinha uma aptidão muito maior para as artes espirituais em comparação com os humanos, era difícil fazer uma comparação com o Rio.
"Então, Komomo-san. Devemos começar?" Rio seguiu para o centro do campo de treinamento rapidamente, antes que pudesse ser perseguido com quaisquer perguntas problemáticas.
"Sim!" Komomo estava ansiosa para enfrentar Rio, seguindo atrás dele com entusiasmo.
Com isso, a atenção de todos os outros foi atraída para a luta prestes a começar. Komomo estava no centro dos campos de treinamento com uma expressão valente. Ela respirou fundo para se acalmar, antes de agarrar sua espada de madeira com ambas as mãos, segurando-a ao nível dos olhos. Rio se surpreendeu, admirando como a aura de Komomo mudou completamente.
O duelo de prática começou logo depois. Embora houvesse uma clara lacuna em suas habilidades, a luta se desenvolveu de uma forma em que Rio ajudou Komomo a praticar suas habilidades.
"Esse foi um péssimo movimento. Você deveria ter aumentado a distância entre nós e recuperado o seu equilíbrio primeiro." Rio permitiu que Komomo o atacasse, mas sempre que partes de seus movimentos fossem ruins, ele tomaria vantagem disso agressivamente e a atingiria onde mais doía.
Houve várias vezes em que o duelo teria sido decidido em circunstâncias normais, mas a luta continuou até Komomo ficar satisfeita com o quanto ela tinha balançado sua espada. Assim, Komomo começou a se mover enquanto pensava onde ela tinha errado.
"Hah, hah..."
Depois de trocarem suficientes golpes, sentaram-se no chão enquanto ofegavam para respirar. A expressão de Komomo estava extremamente satisfeita; ela havia sido capaz de ganhar experiência que nunca teria sido capaz de obter normalmente, quando treinava com sua família, por isso, estava cheia de felicidade do fundo de seu coração. A visão radiante de Rio a fez sentir como se pudesse chegar mais alto e se tornar mais forte. Komomo só podia olhar para seu rosto, fascinada.
◇◇◇
No dia seguinte após o duelo com Gouki, Rio voltou ao castelo real do Reino Karasuki mais uma vez para se encontrar secretamente com Homura e Shizuku.
"Eu ouvi as notícias... Então, você venceu Gouki, ao que parece. 'Esplêndido' é tudo o que posso dizer."
A primeira coisa que Homura disse ao abrir a boca foi um grande elogio para Rio. Ele tinha ouvido falar do resultado do duelo de prática por Gouki antes do encontro secreto, mas nunca tinha imaginado que Gouki, alguém conhecido como Kishin, perderia. Homura havia pensado que era algum tipo de piada no início, mas ele sabia que Gouki não era o tipo de pessoa que faria piadas assim.
Definitivamente levou um tempo para aceitar a verdade, mas Homura conseguiu recuperar a maior parte de sua compostura no tempo antes do encontro.
Enquanto isso, Shizuku elogiou Rio com um sorriso deslumbrante.
"Você é incrível, Rio. Até mesmo derrotou Gouki!"
Ao contrário de Homura, cujo elogio estava misturado com perplexidade, Shizuku estava genuinamente feliz pela vitória de Rio.
"Muito obrigado." Rio baixou a cabeça timidamente.
"Eu estava pensando em deixar você treinando sob a tutela de Gouki por um tempo, mas parece que minha preocupação foi desnecessária...", disse Homura, com um traço de tristeza em seu sorriso.
Ele tinha a intenção de fazer Rio ser treinado por Gouki, afinal. Dessa forma, teria sido inevitável para Rio viver na capital e aumentar a frequência de suas reuniões secretas... ou assim ele silenciosamente esperava. Embora soubesse que eles tinham que se abster do contato excessivo com Rio por causa das várias circunstâncias que os impediam de revelar a identidade dele, seu desejo de vê-lo era muito mais forte.
Então, conhecendo ou não os sentimentos de Homura, Rio falou.
"Não, eu fui capaz de ganhar uma experiência valiosa. Não há muitas oportunidades de lutar com alguém como Gouki-dono. Obrigado por sua consideração." Rio ofereceu sinceras palavras de gratidão a Homura.
"Isso é certo. Então, é o mais importante..., mas, Rio. Ocasinonalmente é o bastante. Até você partir desta terra, você poderia vir novamente para este castelo e conversar com a gente de vez em quando?" Homura perguntou. Shizuku observou Rio, ansiosa por sua resposta.
"Isso é... É claro. Se estiver tudo bem para vocês." Ao receber os olhares cálidos de seus avós, Rio assentiu timidamente.
".... Entendo. Obrigado." Homura disse com gratidão e abaixou a cabeça para Rio.
"Por favor, não há necessidade de baixar a cabeça." Rio tentou pará-lo, em pânico.
"Não... Você está desperdiçando seu precioso tempo seguindo nossos pedidos egoístas. Não causamos nada mais que problemas e dificuldades para você. Quando penso dessa forma, me faz sentir mais envergonhado..."
"Esse não é o caso. Se eu não quisesse encontrar vocês dois, teria rejeitado sua proposta de vir aqui desde o início. Eu vim aqui por minha própria vontade.", disse Rio, em resposta às doloridas palavras de Homura.
Seja Yuba, Homura ou Shizuku, não havia dúvida de que todos eles eram pessoas importantes para Zen e Ayame. Por isso Rio também queria ser próximo deles. Ele queria ouvir histórias de seus pais que ele não sabia.
"Rio..." Shizuku murmurou o nome de Rio com grande emoção.
"Então, devemos aprofundar essa relação ainda mais..." Homura sorriu.
Depois disso, Rio e seus avós conversaram sobre muitas coisas. Os tópicos de conversa se concentraram em torno do que eles tinham em comum: ou seja, histórias encantadoras de Zen e Ayame. Episódios a respeito deles pareciam ser o compromisso mais adequado entre as duas partes.
Embora os três continuavam sua agradável conversa com expressões satisfeitas, seu tempo juntos era limitado. Homura e Shizuku também tinham deveres a atender neste dia, e Rio tinha que voltar para a aldeia amanhã. Mesmo tendo feito uma promessa de se encontrar novamente em uma data posterior, tudo o que havia sido decidido era que Gouki visitaria a aldeia quando fosse a hora certa, sem uma data definitiva decidida. Portanto, eles não sabiam quando se encontrariam novamente, então qualquer coisa que quisessem dizer, eles tinham que dizer aqui e agora.
"Não há muito tempo restando, mas há mais alguma coisa que você queria ouvir?" Homura perguntou para Rio.
".... Tenho uma prima na aldeia em que estou vivendo agora. Eu teria permissão para revelar minha origem para essa garota?"
Claro, a prima a quem ele se referia era Ruri. Como Rio considerava Ruri outro membro precioso de sua família, ele não queria deixá-la ser a única a ficar de fora desse ciclo.
"Hmm. Se ela puder aderir estritamente à confidencialidade, então não seria um problema. Vou confiar em seu julgamento sobre isto." Homura levemente fez uma demonstração de consideração antes de prontamente permitir. Isso era o quanto ele confiava em Rio.
"Muito obrigado.", disse Rio com um sorriso.
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