Capítulo 4: Explicando As Circunstâncias

 Miharu, Aki e Masato prenderam a respiração em uníssono depois que Rio entrou em sua casa de rocha.

A visão de uma espaçosa área de estar e de janta iluminada por artefatos mágicos saudou os três. No canto da sala havia uma escada que levava ao segundo andar.

"Por favor, sentem-se naquele sofá.", disse Rio, depois foi sozinho para a cozinha e preparou algumas bebidas e toalhas molhadas. Os convidados de Rio sentaram no sofá nervosamente e olharam maravilhados ao redor da sala.

"Aqui está — vocês devem estar com sede. Há mais se necessário, então não se contenham.", Rio entregou-lhes três canecas de metal cheias de chá gelado.

"M-Muito obrigada." Miharu aceitou a bebida com gratidão. Eles tinham caminhado por pastagens áridas com apenas uma pequena quantidade de comida e água racionada entre eles o tempo todo, então ter o problema da desidratação resolvido foi um grande alívio.

"Obrigado, Haruto-niichan! Eu estava com muita sede... Mais, por favor!" Masato disse, depois de engolir a bebida antes de imediatamente pedir outra com os olhos brilhantes.

".... Tenha um pouco de moderação. Mō~.", Aki murmurou para Masato com um olhar exasperado.

"Está bem. Ver alguém beber com tanto entusiasmo faz valer a pena. Mas seu estômago ficará frio se você beber muito rápido, então tome cuidado com isso. Ou, em vez disso, tem chá quente.", disse Rio com um sorriso, despejando chá gelado na caneca de Masato.

"Eu sinto muito. Meu irmão não tem boas maneiras.... Muito obrigada." Aki baixou a cabeça timidamente antes de levar a caneca aos lábios. Como os outros, ela também estava com sede e sua caneca logo foi esvaziada.

Sem um momento de espera, Rio voltou a encher sua caneca; Aki corou de vergonha e agradeceu novamente, dessa vez aproveitando o sabor.

Enquanto isso, Miharu observava Aki e Masato beberem avidamente o chá com um sorriso no rosto, antes de levar sua própria caneca à boca.

Depois que todos se saciaram e fizeram uma pausa, Rio olhou diretamente para Miharu, que estava sentada em frente a ele. "Podem me dizer por que vocês três estavam em um lugar como aquele?", ele perguntou.

Os três se entreolharam antes de Miharu responder em nome dos outros dois. "Na verdade, nem mesmo nós sabemos. De repente nos vimos parados em um campo sem nenhuma ideia do que estava acontecendo..."

"Entendo. Então isso significa que vocês não sabem onde estão, certo?"

"Sim, não temos ideia. Umm, onde exatamente estamos...?"

"A região de Strahl no continente de Yufillia. Se eu te dissesse que você estava em um campo perto da fronteira entre os reinos de Galark e Centostella.... Isso soa familiar?"

"S-São todos nomes dos quais nunca ouvi falar antes. Não estamos no Japão, estamos?", Miharu perguntou com todas as suas esperanças restantes, sua expressão estava escurecendo com preocupação.

"Infelizmente não.", Rio negou com a cabeça apologeticamente.

"E-Então onde estamos? Em algum lugar da Europa?", Aki perguntou impacientemente.

".... Tenho certeza de que você testemunhou todos os tipos de espetáculos ao longo de hoje. Realmente acredita que ainda está na Terra?"

"Isso é... E-Então onde você está dizendo que acabamos? E quem é você, afinal? Por que você pode falar japonês?", Aki perguntou, preocupada, em uma voz mais áspera. Ela não parecia querer enfrentar a realidade.

".... No mínimo, não é a Terra. O nome do lugar é como eu disse há pouco. Também, a razão pela qual eu posso falar japonês é.… provavelmente porque eu costumava ser japonês, talvez?", Rio encolheu os ombros ao responder com um sorriso amargo.

"Eh...?" Aki e os outros ficaram surpresos.

.... Os três não sabem nada... sobre este mundo, ou por que vieram para um mundo como este. São como eu, quando acordei nove anos atrás com minhas memórias da minha vida anterior. Não... eles estão ainda mais sem noção do que eu estava. Pelo menos eu tinha minhas memórias como Rio... Rio olhava Miharu, Aki e Masato com uma expressão triste.

"U-Umm, o que esse 'costumava ser japonês' quer dizer...?" Miharu perguntou a Rio timidamente.

"Quer dizer exatamente isso. Talvez se em vez disso eu chamasse de minha 'vida anterior'...? Vocês podem não acreditar em mim, mas eu tenho memórias de outra vida... A vida quando eu era um estudante universitário no Japão." Rio desviou o olhar desconfortavelmente enquanto respondia.

"E~tto..." Miharu, Aki e Masato estavam sem palavras, sem saber como responder a isso.

"De qualquer forma, eu não tenho nenhuma prova objetiva de ter vivido anteriormente no Japão, mas esse é o motivo pelo qual eu posso falar japonês, então eu agradeceria se pudessem aceitar isso como verdade. Mais importante, não querem saber o que aconteceu com vocês três?", Rio deu um sorriso vago antes de mudar rapidamente de assunto.

"E-Ei, Haruto-niichan. Isso significa que viemos para um mundo de fantasia RPG? É um mundo com espadas e magia, certo?", Masato perguntou avidamente.

"Eu nunca joguei esses tipos de jogos na minha vida anterior, então não tenho certeza, mas acredito que seja algo assim. Mas, ao contrário de um jogo, não existe botão de reset aqui.", Rio respondeu com um sorriso tenso.

"Estaríamos em apuros se você não tivesse aparecido, Haruto-niichan?", Masato perguntou suando frio.

".... Sim, vocês teriam sido feitos escravos nesse ritmo.", Rio disse a eles dura e bruscamente.

"I-Isso... Escravos...?" Aki murmurou atordoada.

Uma expressão de dor caiu sobre o rosto de Miharu, mas seu choque não foi tão grande quanto o de Aki.

"O que você quer dizer com 'escravos'?", Masato questionou em dúvida.

Aki olhou para Masato exasperada. "V-Você nem sabe disso?"

"E-Eu não. Sou ruim em linguagem e vocabulário. Você sabe o que é, Aki-neechan?", Masato perguntou carrancudo.

"C-Claro que sim. Um escravo é... Uhh... Umm..." Aki tentou explicar o conceito de escravidão, mas se viu sem palavras. Embora ela soubesse o significado geral da palavra, ela não conseguia explicá-lo muito bem.

Miharu tinha uma expressão conflituosa também.

"Simplificando, um escravo é alguém tratado como um objeto em vez de um humano.", Rio interrompeu.

".... Tratado como um objeto?" Masato inclinou a cabeça, não entendendo bem o conceito.

"Talvez você entendesse melhor se eu dissesse desta forma: é a compra e venda de pessoas, como animais. A pessoa vendida se torna propriedade da pessoa que a comprou, então ela tem que fazer o que o comprador diz."

"H-Hah?! Isso não é basicamente um animal de estimação?! E você está dizendo que isso quase aconteceu com a gente? Como eles poderiam fazer uma coisa dessas?!" Masato gritou de raiva, finalmente entendendo o significado.

"Cabelos pretos são incomuns, e você parece limpo e bem cuidado. Embora você não possa entender a linguagem aqui, está claro que você teve uma boa educação.... Então, eles provavelmente presumiram que você venderia por um preço bastante alto." Rio deu sua suposição em um tom sério.

Masato fez uma pausa para respirar. "...Como eles poderiam fazer uma coisa dessas?! E os compradores também .... Que horrível! O que há de tão bom em tratar pessoas assim? Não somos bonecos!", ele disse em uma voz aguda. Para alguém criado em uma sociedade moderna, a escravidão era uma violação perversa dos direitos humanos.

"Bem, os compradores têm seus próprios motivos para comprar. Divertido ou não, há quem simplesmente os compre porque é uma maneira conveniente de ter o trabalho feito...", disse Rio, preocupado.

Ele já havia jogado fora a moral que tinha como um japonês moderno e aceitou a necessidade de um sistema de escravidão em sua sociedade atual; foi por isso que a raiva de Masato em relação à escravidão não o mexeu realmente. Ao mesmo tempo, ele esperava que seus convidados não tivessem a mesma moral que a sua esvaída.

"O que há... com isso..." Incapaz de aceitar a verdade, mas vagamente ciente de que era inútil continuar lamentando sobre isso, Masato baixou a cabeça fracamente.

".... Vamos voltar ao assunto. Vocês três aceitaram a realidade de que vieram para um mundo diferente que não é a Terra?" Rio sorriu desamparadamente e focou seus olhos em Miharu, que estava sentada em frente a ele.

".... Sim.", Miharu assentiu seriamente. Havia muitos aspectos que não poderiam ser explicados de outra forma e, embora ela não quisesse aceitar, não tinha outra escolha.

"Naturalmente, vocês querem voltar para a Terra... certo?". Rio perguntou cuidadosamente.

Aki se levantou ansiosamente. "P-Podemos voltar ?!", ela perguntou.

"Acalme-se.", disse Rio, silenciando Aki. "Minha pergunta foi mal formulada — não sei se vocês podem ou não voltar, mas não acho que deveria ser impossível de conseguir..." Ele balançou a cabeça se desculpando.

"O-Oh. Sinto muito. Eu me precipitei...", Aki se desculpou sem jeito.

"Eu não sei por que vocês três estão aqui neste mundo. No entanto, o local que acredito que vocês chegaram primeiro quando vieram a este mundo tinha evidências de que a magia espaço-tempo foi usada — eu só fui capaz de notar a presença de vocês porque detectei esses traços de magia. É por isso que acredito que vocês três foram propositalmente invocados a este mundo.", explicou Rio.

"Magia espaço-tempo... você disse?" Miharu repetiu as palavras com as quais não estava familiarizada em questão.

"Sim. Neste mundo, existe uma técnica chamada magia. A magia não pode ser explicada pela ciência. Por exemplo, a casa que eu trouxe neste campo de grama foi armazenada por meio de magia espaço-tempo."

"Então foi isso..."

"Para usar magia, uma fórmula precisa ser desenhada e ter essência derramada nela. É um pouco difícil de explicar por meio de palavras, então vou mostrar para vocês um exemplo."

Como Rio explicou, ele pegou uma das penas que foi colocada sobre a mesa e começou a desenhar um padrão geométrico simples em algum papel. Miharu, Aki e Masato observaram curiosamente enquanto ele desenhava.

"Esta é uma fórmula bem básica. Quando eu coloco essência mágica nela..." Depois de terminar a fórmula alguns segundos depois, Rio colocou sua mão contra ela e liberou sua essência. A fórmula no papel absorveu a essência, fundindo-se com mana para causar um fenômeno que altera o mundo.

Imediatamente depois, uma bolha de água com alguns centímetros de diâmetro formou-se acima da fórmula. A bolha então seguiu as leis da gravidade e caiu, encharcando o papel em que a fórmula foi desenhada.

"Um fenômeno que alterou o mundo ocorreu e criou a água do nada. Essa foi magia elementar da água, mas combinando um infinito número de fórmulas possíveis, você pode controlar o fogo, criar gelo, produzir eletricidade e todos os tipos de outros fenômenos.", Rio deu a explicação mínima antes de demonstrar a eles; eles arregalaram os olhos em choque ao ver o papel encharcado.

"W-Wow! Isso é incrível, Haruto-niichan! Então isso é magia!", Masato foi o primeiro a recuperar os sentidos e gritar de empolgação.

"Cale a boca — você não precisa falar tão alto sobre isso.", disse Aki, sentada do outro lado de Miharu, expressando sua desaprovação com o barulho.

"Mas, Aki-neechan... você viu isso agora?! Água apareceu do nada. Isso é magia! Magia!", Masato ignorou a repreensão de Aki e inocentemente mostrou o quão feliz ele estava, o que era bastante aparente.

"Não é tão surpreendente em comparação com uma casa aparecendo no meio de um campo.", Aki disse mal-humorada.

Miharu observava os dois com um sorriso. "Certo. Como Aki-chan disse: isso não é grande coisa quando comparado a como eu fiz a casa de rocha aparecer do nada. Isso foi magia espaço-tempo. Estou certo que você pode pelo menos imaginar quão difícil é interferir no tempo e no espaço?"

"...Sim. Não há como alguém fazer isso normalmente.", Aki assentiu com uma ambígua descrença.

"Esse entendimento é praticamente o mesmo, até neste mundo, onde a magia está generalizada. Na verdade, a magia espaço-tempo é uma técnica que ainda não teve chance de ser implementada na prática. Há muita variação nos tipos e dificuldades da magia espaço-tempo, bem como exceções como aquela que mostrei a vocês.", disse Rio, enfatizando a dificuldade da magia espaço-tempo. Seu objetivo era deixar claro o quão anormal era que eles fossem invocados a este mundo dessa forma.

"O que você quer dizer com isso? Tudo o que você diz é tão confuso.... Eu realmente não entendo.", Masato inclinou a cabeça em confusão.

Rio simplificou suas palavras e deu um sorriso irônico.

"Eu acredito que vocês três foram invocados para este mundo através da magia espaço-tempo, mas recriar essa magia para mandá-los de volta para a Terra seria quase impossível usando o estado atual da magia neste mundo... Isso faz sentido?"

"Eu ainda não entendi. Está dizendo que fomos invocados com magia que ninguém neste mundo pode usar? Mesmo sendo uma magia que existe neste mundo?" As dúvidas de Masato eram bem justificadas.

"Muito do conhecimento sobre magia foi perdido na guerra dos deuses que ocorreu há mais de mil anos. A magia daquela época era muito mais avançada do que a que temos agora. Eu acredito que a magia espaço-tempo que trouxe vocês três a este mundo era daquela época.", Rio respondeu, sentindo-se impressionado com quão direta foi a pergunta de Masato.

"Uma guerra dos deuses... Entendo. Se é assim, então posso entender." Masato parecia animado com alguma coisa.

Aki suspirou. ".... Você gosta de coisas assim, afinal. Eu invejo o quão idiota você é.", ela murmurou baixinho, com sua voz sumindo no final. Embora não fosse difícil acreditar em tudo isso na Terra, aqui, seu cérebro estava finalmente se sentindo cansado.

Talvez devêssemos parar por aqui agora? As coisas mais complexas podem ser tratadas passo a passo posteriormente.

Rio percebeu com um sorriso irônico que a pessoa mais adaptável neste grupo poderia ser justamente o mais jovem, Masato.

"Por enquanto, é tudo o que tenho sobre a razão pela qual acho que vocês três foram trazidos a este mundo. Sem pistas óbvias, teremos que cavar mais para encontrar qualquer evidência sobre como vocês podem voltar à Terra. Vocês têm alguma pergunta?", ele perguntou, encerrando a discussão.

"... Umm, na verdade ... Pouco antes de virmos a este mundo, estávamos em um grupo de cinco. Você sabe se há vestígios dos outros dois por perto?" Aki perguntou hesitantemente.

"Eu não acho que havia qualquer outra perturbação de essência localizada na área, mas... se vocês estavam juntos, então os outros dois deveriam estar perto de vocês, certo?", Rio perguntou em contemplação.

"Sim. Estávamos nos encontrando depois da escola e ficamos parados conversando."

"Aconteceu algo anormal? Se a magia espaço-tempo fosse ativada, então teria parecido que o ar estava sendo distorcido."

"Onii-chan.… eu estava falando com meu irmão quando pareceu que ele de repente se distorceu, bem diante dos meus olhos.", Aki respondeu lentamente, pensando em suas memórias.

"Seu irmão..." Por um momento, o coração de Rio pulou uma batida pensando que ela estava falando sobre ele, mas imediatamente percebeu que eram filhos do novo casamento de sua mãe.

"Umm, eu estava falando com uma senpai chamada Satsuki-san quando ela pareceu se distorcer. Posso ter visto coisas, mas parecia que a distorção se aproximou a nossa volta também.", Miharu explicou, relembrando hesitantemente o que ela mesma testemunhou.

"... E aconteceu o mesmo com você, Aki-chan?"

"S-Sim. Foi apenas por um segundo, então eu não tinha certeza, mas foi como uma distorção que começou com meu irmão, cresceu e nos engoliu...?" Aki inclinou a cabeça.

Rio analisou suas descrições. Normalmente, o ponto de distorção começa no alvo da magia espaço-tempo. Com base no que as duas disseram, a magia foi ativada separadamente, com essa pessoa chamada Satsuki e o irmão de Aki-chan como o ponto de foco, ele pensou.

"Se for exatamente como Miharu-san testemunhou, então acredito que há uma alta chance de que aqueles dois também tenham sido invocados a este mundo através da magia espaço-tempo.", concluiu Rio.

A expressão de Aki iluminou-se imensamente. "D-De verdade?!"

"Provavelmente. No mínimo, aqueles dois foram provavelmente os invocados, enquanto vocês três foram arrastados no meio. A razão pela qual vocês foram separados dos outros dois pode ser porque as duas magias espaço-tempo interferiram uma com a outra a uma distância tão próxima e bagunçaram suas coordenadas de teletransporte, ou algo assim.", Rio respondeu, sua expressão estava escurecendo em contraste com a de Aki.

"M-Mas isso ainda significa que meu irmão está em algum lugar neste mundo, certo?"

Aki procurou a resposta que ela queria ouvir; estava claro que ela admirava muito o irmão. A maneira como ela implorou foi quase como se ela tivesse encontrado um raio de esperança em uma situação de desespero total.

".... Eu não posso ter certeza, mas a possibilidade está certamente aí.", Rio respondeu vagamente com um olhar preocupado.

Embora ele acreditasse que havia uma chance muito alta de que esse fosse o caso, contanto que ele não soubesse que tipo de magia espaço-tempo foi usado, ele não podia se dar ao luxo de dar a ela uma resposta confiante. Sem mencionar que Aki parecia ainda não ter percebido que só porque os outros dois foram invocados a este mundo não significava que eles estavam seguros.

No entanto, não havia necessidade de ele agitar mais suas preocupações. Afinal, eles primeiro tinham que se concentrar em resolver os problemas que estavam bem na frente deles.

"Eu sei que ainda há muitas coisas que vocês não entendem, mas por agora, vamos pensar em como vocês vão sobreviver a partir de agora. Vou ajudá-los o máximo que eu puder, então vocês podem deixar toda a alimentação e abrigo necessários por minha conta por enquanto e se concentrar em aprender a língua e o conhecimento deste mundo.", Rio mostrou o maior sorriso que pôde reunir.

"T-Tem certeza?", Miharu perguntou timidamente. Ela observou cuidadosamente o rosto de Rio.

Por mais otimista que ela tentasse ser, era impossível para eles viverem neste mundo sem conhecer a língua. Para sobreviver, eles tinham que contar com o Rio. Miharu tinha planejado pedir a ajuda dele ela mesma, mas estava mais do que ciente de quão descarada a proposta de cuidar de três estranhos era, então ela estava achando difícil abordar o assunto e trazê-lo à tona.

"Sim. Há uma condição que eu gostaria que vocês seguissem, no entanto, contanto que vocês respeitem isso...", Rio disse em um tom leve para evitar que eles se sentissem desconfiados.

"Uma condição?"

"Não precisam ficar nervosos com isso. É que eu sou um indivíduo um tanto peculiar, com minhas memórias da minha vida anterior e tudo mais. Vocês vão ver e ouvir muitos absurdos sobre mim enquanto vivemos juntos, e eu gostaria que vocês mantivessem tudo isso em segredo de estranhos, a menos que tenham minha permissão. Por exemplo, a existência desta casa. No entanto, se parecer que sua segurança será colocada em perigo, não me importarei se divulgarem qualquer informação. O que vocês acham?"

Miharu ficou bastante surpresa. "E-E~tto, isso é tudo? Você tem certeza? Você estaria cuidando de três pessoas."

Todo o fardo recairia sobre Rio desta forma, com praticamente nada pedido a Miharu, Aki e Masato. A proposta foi muito além de qualquer coisa que Miharu e os outros poderiam esperar, quando não tinham outra escolha a não ser depender de Rio. A unilateralidade da caridade de Rio fez com que um sentimento de vergonha pairasse sobre eles.

"Correto. Vocês prometem respeitar minha condição?"

"... S-Sim. Nós juramos. Farei tudo o que puder para retribuir essa dívida um dia, então, por favor estamos sob seus cuidados. Muito obrigada.", Miharu disse com uma expressão de dor, baixando a cabeça diante de Rio.

"P-Por favor." Ao lado dela, Aki e Masato seguiram seu exemplo e baixaram a cabeça também.

Rio negou com a cabeça. "Então, está decidido. Por favor, levantem suas cabeças. Tenho certeza que todos nós devemos estar com fome agora, certo? Vamos deixar os detalhes para depois e comer um pouco primeiro. Vou preparar agora — alguém tem algum pedido?", ele disse alegremente, querendo sair da atmosfera pesada.

"U-Umm, eu posso ajudar! Eu sei os favoritos dos outros dois e sou muito boa em cozinhar, então gostaria que você deixasse a cozinha comigo de agora em diante!", Miharu ofereceu sem perder o ritmo.

"Então, você poderia, por favor?" Rio perguntou hesitantemente.

"Sim, farei o meu melhor!" Miharu cerrou os punhos, animada com a motivação.

"Ah, então eu vou ajudar também!" Aki ofereceu, um pouco nervosa.

Masato a interrompeu. "P-Pare, Aki-neechan. Você não transformou o bife do hambúrguer em cinzas da última vez?"

"C-Cale a boca! Isso foi apenas uma coincidência. E de qualquer maneira, Onii-chan disse que estava delicioso.", Aki objetou com um beicinho.

"Sim, como não? De forma alguma aquilo não foi apenas adulação — Aniki só estava sendo educado.", Masato afirmou com firmeza e uma careta.

O fato de que Miharu não estava particularmente saltando em defesa de Aki mostrou que a comida de Aki era realmente terrível.

"Miharu-san e eu podemos lidar com a comida para quatro pessoas entre nós dois, eu acho. Vou precisar explicar como usar a cozinha também, então vocês dois podem ir tomar banho enquanto isso.", sugeriu Rio, esperando apaziguar os dois que discutiam ruidosamente um com o outro.

"Essa casa tem até banheiro?" Os olhos de Aki se arregalaram, impressionados. Ela tinha se preparado para acampar do lado de fora há pouco tempo, então ouvir que havia um banheiro deixou uma jovem de sua idade extremamente exaltada.

"Primeiro, você usa a ferramenta mágica... o artefato, como é chamado. Vou ter que explicar como usar o do banheiro primeiro, então sigam-me, todos." Assim, o grupo seguiu para o banheiro.

"Aqui estamos.", Rio abriu a porta que conduzia do vestiário para a área de banho e convidou Miharu, Aki e Masato para entrar.

"Com licença.", eles disseram, entrando hesitantemente no banheiro.

"Wow..." Aki murmurou surpresa e espantada sem pensar nas peculiares instalações.

O espírito lúdico de Rio como ex-japonês o levou a escolher um ladrilho caloroso na porta do vestiário, dando a ilusão de uma entrada de fontes termais. O interior real do banheiro foi instalado no que inegavelmente imitava o design de uma fonte termal.

O vestiário era espaçoso, mas o banheiro era ainda mais; mais da metade da sala era ocupada por um lavatório feito de pedra ladrilhada, enquanto a área restante era ocupada por uma esplêndida banheira de pedra que poderia facilmente caber vários adultos na água ao mesmo tempo.

Bicos mágicos que forneciam água potável constantemente foram colocados ao longo da superfície de pedra. Graças aos artefatos mágicos no meio da banheira de pedra, além da manutenção regular, não havia necessidade de trocar a água ou limpar o espaço com frequência.

A água da banheira de pedra estava límpida e um vapor branco dançava em sua superfície.

"Vocês podem tocar nas pedras redondas fixadas na área de lavagem quando estiverem lavando o cabelo e o corpo. Ela vai absorver a essência proporcional a quanto tempo você tocá-la e, em seguida, produzir água desse bico. A pedra da direita é para o bico mais alto, e a pedra da esquerda é para o bico mais baixo."

Rio se aproximou da parede da área de lavagem e mostrou os artefatos enquanto falava. À primeira vista, a quantidade de essência fluindo dos três era bastante substancial, então eles não teriam problemas em usá-la.

"P-Posso tocar?" Masato perguntou, cheio de curiosidade.

"Claro. A água sai muito rápido, então tome cuidado."

Com a permissão de Rio, Masato triunfantemente alcançou a pedra redonda com a fórmula gravada à esquerda. O bico de água inferior imediatamente começou a borbulhar com água.

"Wow! Isso é incrível!", Masato exclamou, repleto de pura excitação.

"Existem quatro tipos de sabão naqueles recipientes de metal ali. Começando pela direita, há shampoo, condicionador, hidratante para o rosto e hidratante corporal. As toalhas estão na prateleira do vestiário — fiquem à vontade para pegar uma para cada."

"O-Okay." Miharu e Aki assentiram timidamente. Elas não podiam deixar de se sentir confusas com o quão substanciais as instalações de banho eram.

"Então, é assim que se usa o banho. Quem quer entrar primeiro?", Rio perguntou. Aki e Masato se entreolharam.

"Eu vou primeiro!"

"Eu quero ir primeiro!"

Suas palavras se sobrepunham facilmente umas às outras.

◇◇◇

Depois de uma rodada intensa de pedra-papel-tesoura, foi decidido que Aki tomaria banho primeiro. Masato concordou em explorar o resto da casa para aliviar o tédio. Enquanto isso, Rio e Miharu trabalhariam juntos para preparar o jantar para todos.

Miharu colocou um avental que pegou emprestado do Rio por cima do uniforme, fazendo-a parecer muito doméstica e fofa. Rio ficou nervoso, o que era algo fora do personagem para ele.

"Ok, vamos começar a cozinhar?", ele perguntou com um sorriso desconfortável. Ele já havia explicado onde os utensílios de cozinha estavam colocados, onde eram armazenados os temperos, sobre os ingredientes no refrigerador e como usar os artefatos para fogo e água. Eles também haviam decidido por um menu japonês.

"Sim. Vou preparar a sopa de miso e a raíz de bardana picada, e também os pratos cozidos no vapor." Miharu assentiu com um sorriso despreocupado enquanto começava a preparar a sopa de miso primeiro. Seus movimentos não mostraram nenhum sinal de hesitação, deixando claro que ela estava acostumada a cozinhar.

.... Ela realmente é boa cozinhando.

Enquanto Rio se preparava para ferver o arroz, ele admirou os movimentos de Miharu, até mesmo cativado por eles. Diante dele estava uma Miharu que ele não conhecia. Era refrescante.

"U-Umm, há algo errado com a forma como estou cozinhando?" Miharu perguntou hesitante, percebendo o olhar de Rio.

Rio estremeceu. "N-Não, desculpe. Eu só fiquei impressionado com o quão bem você cozinha.", ele respondeu sem jeito.

"Ahaha, muito obrigada. É tudo graças à minha mãe. Ela me ensinou a cozinhar muitas coisas quando eu era pequena." Miharu sorriu com vergonha, mas nunca parou de mexer suas mãos ocupadas.

"Sua mãe... entendo."

Rio — não, Amakawa Haruto dentro do Rio — não fazia ideia que Miharu aprendeu a cozinhar com a mãe. Ela provavelmente começou a aprender depois que se distanciou de Haruto.

"Você cozinha com frequência, Haruto-san?" Miharu perguntou.
"Sim. Estou viajando sozinho, então é quase como um hobby para mim." Rio encolheu os ombros, Miharu sorriu com certo embaraço.
"Na verdade, nunca comi a comida preparada por um homem antes, então estou ansiosa por isso."
".... Eu não acho que você vai encontrar nada diferente na minha culinária, mas farei o meu melhor."
Rio estava um pouco — não, muito mais motivado do que o normal, mas ele não podia ficar eufórico para sempre, então ele dominou suas emoções.
Depois disso, os dois trabalharam juntos de uma forma estranhamente harmoniosa, sincronizando-se com eficiência enquanto cozinhavam. Ambos elogiaram as habilidades um do outro e responderam humildemente, testando o gosto e trocando opiniões e, em geral, passando um tempo pacífico juntos.
◇◇◇
Enquanto Rio e Miharu estavam começando a cozinhar, Aki estava afundando na água da banheira de pedra; olhando para o teto em transe, ela se lembrou dos vários eventos que ocorreram hoje.
Tantas coisas surpreendentes aconteceram. Eles vieram para um mundo que não era a Terra, se encontraram em uma situação desastrosa, finalmente tropeçaram em alguns estranhos — apenas para serem incapazes de se comunicar com eles — e quase foram feitos escravos. No entanto, eles foram imediatamente salvos por outro estranho, que concordou em abrigá-los e, assim, resultou em seu relaxamento em uma banheira.
Nós realmente devemos muito ao Haruto-san... Haruto-san... Haruto...
No fundo da mente de Aki, Haruto... o rosto de Rio veio à mente, eventualmente se transformando nas memórias dolorosas de outra pessoa, e sua expressão mudou para uma que era amarga e azeda.
Hmph... Haruto-san é diferente daquele cara, mas ele continua vindo à mente de qualquer maneira.
"Ele" era Amakawa Haruto — a pessoa que era o irmão mais velho de Aki.
Aki o odiava — não por uma razão lógica, mas emocional. Haruto e seu pai escolheram abandonar Aki e sua mãe, e Haruto era um mentiroso que não cumpria suas promessas.
No entanto, Aki amava sua mãe do fundo de seu coração, pois sua mãe a havia criado com muito cuidado. Após o divórcio, sua mãe deveria estar cheia de dor, mas ela não mostrou nenhuma fraqueza na frente de Aki e abnegadamente derramou todo seu amor em sua filha.
Os pais de Aki se divorciaram quando ela ainda tinha quatro anos, então ela só tinha vagas lembranças daquela época, mas se lembrava de ter vivido muito feliz até o divórcio. Agora que parou para pensar, Aki podia admitir: ela realmente amava sua família naquela época.
Em particular, ela amava seu irmão mais velho e era extremamente apegada a ele. Ela era igualmente apegada a Miharu, a garota mais velha que morava na casa ao lado.
Naquela época, ambos os pais na casa Amakawa trabalhavam em tempo integral, por isso muitas vezes os dois eram deixados aos cuidados da família de Miharu. Aki era constantemente cuidada por Haruto e Miharu. Ela estava sempre ao lado deles, por isso sabia melhor do que ninguém que Haruto e Miharu eram muito próximos e realmente combinavam um com o outro, na opinião dela.
Na época, os dois eram tão próximos que muitas vezes criavam espaços onde eram os únicos que existiam. Para Aki, no entanto, eles eram seu irmão e irmã mais velhos ideais. Quando os dois estavam felizes, Aki estava feliz também. O que a deixava mais feliz de tudo era quando os dois a adoravam.
Ser mimada por Haruto e Miharu tinha sido um privilégio especial limitado apenas a Aki, e ela era a única incondicionalmente permitida no espaço único que os dois criaram um para o outro.
Aki foi a única que recebeu tratamento especial pelos dois, fazendo com que ela se sentisse especial por sua vez. Isso a fez realmente feliz.
E então, Aki implorou a Haruto e Miharu, que os três ficassem sempre juntos, e os dois juraram manter Aki ao seu lado mesmo quando crescessem. Haruto prometeu não apenas proteger Miharu, mas Aki também. Apesar disso, foi como se ele tivesse mudado de ideia quando Haruto partiu com o homem que uma vez havia sido o pai de Aki.
"Mentiroso.", Aki murmurou involuntariamente, ecoando com o som da água borbulhando do bico.
A única que manteve a promessa e manteve Aki perto dela foi sua amada Miharu. Ela continuava a tratar Aki como sua própria preciosa irmãzinha, mesmo agora.
Esqueça.... Quem se importa com aquele cara. Eu não pensava nele há muito tempo... O rosto de Aki se contorceu horrivelmente com os sentimentos indescritíveis e complicados dentro dela. Ela balançou a cabeça.
Até agora, não havia nenhuma menção de Haruto em sua casa, então Aki nunca havia expressado seu ódio por Haruto na frente de sua família antes. O padrasto com quem sua mãe casou de novo à parte, seu meio-irmão mais velho Takahisa e o meio-irmão mais novo Masato provavelmente nem conheciam o nome de Haruto.
No entanto, havia uma pessoa que sabia do ódio de Aki por Haruto — Miharu. Uma vez, Aki mostrou muita raiva na frente de Miharu ao dizer que ela não se importava com alguém como Haruto.
Aki sabia que sua mãe a criou sozinha, que sua mãe secretamente sentia tanta dor por Haruto e seu pai, tanto que sua mãe chorava sozinha tarde da noite.... Por causa dessas coisas, Aki não conseguia perdoá-los. Antes que ela percebesse, ela os detestava.
Foi por isso que aconteceu, tantos anos atrás...
Um dia, Miharu mencionou Haruto enquanto se lembrava de algo, e Aki reagiu com rejeição. Na época, Miharu se desculpou com tristeza.
"Eu sinto muito.", ela disse. Desde então, Miharu nunca mais mencionou Haruto na frente de Aki
Hoje, ao ouvir o nome de Haruto, ela involuntariamente pensou em seu Haruto. Quando Aki acidentalmente mostrou uma atitude estranha na frente de Haruto e dos outros, Miharu chamou o nome de Aki como se tivesse visto através dela.
Desde que Aki deixou sua raiva por Haruto ser conhecida, Miharu continuou a tratá-la como uma irmã mais nova. No entanto, Aki se perguntou que tipo de sentimentos ela teria agora.
Aah, mō~! Eu nem quero pensar nele!
Quanto mais ela queria apagar seu passado, mais difícil era impedir que as memórias fluíssem assim que ela se lembrasse de algo. Splash! Aki se retorcia na banheira com vergonha.
Vamos pensar em outra coisa. Isso mesmo... Onii-chan. Eu devo pensar sobre Onii-chan. Satsuki-san também.
Aki decidiu pensar no irmão mais velho que não era Amakawa Haruto — Sendou Takahisa, bem como na senpai de Miharu e Takahisa, Sumeragi Satsuki.
Sendou Takahisa era uma criança do casamento anterior do padrasto de Aki e irmão mais velho de Masato. Ele estava completando dezesseis anos este ano — a mesma idade de Miharu. Através da conexão de Aki, ele foi apresentado a Miharu e se apaixonou por ela à primeira vista, e tem sentido isso fortemente por ela desde então. Ele podia ser um pouco inseguro às vezes, mas era sociável e gentil, talentoso tanto nos estudos quanto nos esportes, e bonito o suficiente para ser bastante popular com as garotas. Apenas alguns anos se passaram desde que sua mãe se casou novamente, mas Aki já estava orgulhosa de chamá-lo de irmão.
Sumeragi Satsuki era uma senpai dos tempos de escola de Miharu e Takahisa, e era a presidente do conselho estudantil do qual faziam parte. Miharu e Takahisa tinham acabado de entrar no colégio e se reunido com Satsuki na cerimônia de abertura antes de virem a este mundo, mas Aki a conhecia também.
Satsuki era a filha carismática do presidente de uma empresa famosa. Aki secretamente a admirava, vendo-a como uma super-humana perfeita sem nenhuma fraqueza em absoluto.
"Onii-chan, Satsuki-san... Espero que os dois estejam bem.", Aki murmurou preocupadamente.
Os dois eram muito mais confiáveis do que ela e Masato, mas quando ela recordou dos eventos que experimentou desde que veio a este mundo, não podia evitar se sentir excessivamente ansiosa. Especialmente quando considerou as partes em que seu irmão Takahisa era carente.
Quando ela pensava sobre isso com calma, era possível que eles tivessem se deparado com uma situação semelhante à dela. Quando o pior dos cenários passou por sua mente, a inquietação cresceu sem parar dentro dela.
No entanto, não havia nada que ela pudesse fazer a respeito. Ela nem seria capaz de viver neste mundo se não fosse por Haruto, então ela não poderia fazer um estardalhaço inutilmente por nada. Aki tinha visão suficiente para saber disso.
"Tudo o que posso fazer agora é aprender o máximo que puder para me ajustar a este mundo o mais rápido possível. Então, todos nós iremos para casa juntos, para onde mamãe e papai estão, na Terra.", Aki podia estar desviando os olhos da realidade da situação, mas era melhor do que fugir dela; isso foi o que ela disse a si mesma. Ela não tinha perdido as esperanças, pelo menos.
.... Eu me pergunto se Haruto-san já pensou em voltar para a Terra. Ele disse que era um estudante universitário em sua vida anterior... Isso é o que eles chamam de "renascimento"? Acho que tal coisa realmente existe...
Ela começou a pensar sobre o guardião que teria que cuidar dela em um futuro próximo. Havia algo efêmero nele, e ele tinha muitos lados desconhecidos de si mesmo cercados de mistério, mas ela definitivamente não achava que ele era uma pessoa má. Na verdade, ele era uma pessoa boa demais.
Sua personalidade era calma e educada, seu rosto era bonito e bem refinado e ele era muito confiável; ela não conseguia ver nenhuma falha nele até agora.
Ah... eu devo sair logo.
A cabeça de Aki começou a girar quando ela percebeu que estava ficando tonta de repente. Embora fosse em parte porque ela tinha ficado na água por muito tempo porque era tão bom, o fato de ela ter pensado tanto teve um papel importante nisso também.
Ela se levantou lentamente e colocou a mão contra a superfície de pedra enquanto apoiava seu corpo cambaleante. Assim que sua tontura diminuiu, Aki se dirigiu lentamente para o vestiário, onde o ar frio de dentro era bom.
Ela estava extremamente relutante em usar o mesmo par de roupas íntimas duas vezes, mas infelizmente não tinha uma muda de roupa interior, então ela aguentou e colocou um short infantil. Ela não usava sutiã por motivos relacionados ao seu crescimento, então ela vestiu uma camisola que era tão infantil quanto seu short.
"Hmph... Eu queria ser um pouco mais parecida com Miharu-oneechan.", Aki murmurou para si mesma enquanto tocava seu corpo plano; ela estava na idade em que admirava Miharu por sua estrutura delgada, mas feminina.
Assim que terminou de se trocar, ela voltou para a sala. Um cheiro delicioso estava flutuando por toda parte, e quando olhou medrosamente para a cozinha, ela encontrou Rio e Miharu intimamente fazendo o jantar juntos.
"..." Aki tentou chamar os dois, mas por algum motivo, suas palavras não saíram. Ela sentiu uma estranha sensação de déjà vu enquanto observava os dois em transe, mas balançou a cabeça da esquerda para a direita e afastou o pensamento.
"Terminou, Aki-chan? Você conseguiu relaxar um pouco?", Rio notou Aki e a chamou com uma voz amigável.
"Ah sim. Foi um banho muito bom. Obrigada por me deixar usá-lo primeiro.", Aki abaixou a cabeça hesitantemente.
"Fico feliz em ouvir isso. Pode dizer a Masato-kun que é a vez dele de entrar? Provavelmente ele está explorando alguma parte da casa."
"E-Explorando... eu entendo." Aki acenou com a cabeça, exasperada com a infantilidade de Masato.
"Além disso, há bebidas geladas naquela caixa que você pode levar quantas quiser. Os copos estão naquela prateleira ali, então sirva-se do que desejar."
"M-Muito obrigada. Você é tão atencioso com tudo...", Aki baixou a cabeça — Rio realmente não deixou nada a desejar.
Mais tarde, Aki encontrou Masato e lhe disse para ir tomar banho, depois se sentou no sofá da sala para tomar seu chá gelado.
Com certeza cheira bem.
Enquanto apreciava o aroma tropical do chá gelado e a sensação fria da caneca de metal, Aki distraidamente observou o que estava acontecendo na cozinha. Lá, Rio e Miharu estavam conversando sobre algo enquanto preparavam a comida.
Era um espaço onde apenas os dois existiam e, por algum motivo, parecia difícil se intrometer.
O que é isso que estou sentindo...?
Aki teve uma estranha sensação de déjà vu mais uma vez, mas não conseguiu identificar o motivo e foi tomada por um sentimento indescritível de irritação. Observar os dois agirem intimamente fez seu coração arder de dor.
Aki não sabia que a pessoa que quebrou sua promessa — a pessoa que ela odiava ilogicamente do fundo do coração — era a mesma pessoa que a salvou de sua crise anterior. Ela não sabia o que Rio estava sentindo agora, já que ele vivia neste momento com suas memórias da vida que ele levou como Amakawa Haruto, após a vida atual que ele havia passado.
Não apenas Aki, mas todos os outros nesta casa também. Ninguém sabia.
O destino era uma amante cruel.
◇◇◇
Masato terminou seu banho assim que o jantar estava pronto.
"O jantar está pronto. Venham aqui, vocês dois."
Rio convidou Aki e Masato para a mesa de jantar. A mesa estava forrada com arroz e acompanhamentos coloridos como sopa de miso, karaage , vegetais cozidos no vapor, raiz de bardana picada, verduras cozidas em molho de soja e salada.
"...Estilo japonês?", Aki congelou ao ver os pratos na mesa. Ela nunca imaginou que seria capaz de comer uma refeição japonesa em um mundo que não fosse a Terra.
"Whoa, isso parece delicioso!", Masato era o polo oposto de Aki, com seus olhos brilhando sem nenhuma dúvida em sua mente.
“Vamos comer. Sentem onde quiserem.", Rio solicitou. Todos seguiram para seus respectivos assentos de preferência. Como resultado, Rio se sentou ao lado de Miharu e Masato se sentou ao lado de Aki, os quatro frente a frente na mesa.
"Itadakimasu.", disseram todos juntos de forma espontânea, antes de começarem a comer.
"Delicioso! Você fez isso, Miharu-oneechan?" Masato alcançou o karaage sem hesitar. O frango frito fumegante se abriu e soltou os sucos da carne em sua boca, fazendo Masato sorrir com um largo sorriso.
Miharu balançou a cabeça. "Não, Haruto-san foi quem preparou esse."
"Wow, Haruto-niichan é incrível. Esses vegetais cozidos no vapor também estão deliciosos.", murmurou Masato, admirado.
"Miharu-san preparou os vegetais cozidos no vapor. Mesmo que você não tenha tido muito tempo para prepará-los, o sabor foi absorvido perfeitamente. Está muito gostoso.", elogiou Rio. Era a primeira vez que ele comia a comida caseira de Miharu, então Rio pegou seu prato primeiro sem hesitar.
"Muito obrigada." Miharu sorriu com vergonha.
A atmosfera pacífica permaneceu durante toda a refeição.
◇◇◇
Aki e Masato deviam estar mentalmente exaustos, pois foram imediatamente vencidos pelo sono assim que terminaram as refeições e conseguiram relaxar. Rio estava limpando os pratos com Miharu, mas parou para levar os dois para seus quartos e colocá-los na cama.
Depois disso, ele voltou imediatamente para terminar a limpeza. Depois de convencer uma relutante Miharu de que não se importava de tomar banho por último, ele se sentou no sofá da sala agora silenciosa.
Bebendo seu chá quente, Rio suspirou e revisou vagamente os eventos que aconteceram naquele dia.
Com certeza está quieto.... Quando está tão quieto assim, quase parece que tudo o que aconteceu hoje foi apenas um sonho.
Realmente era como um sonho — a garota que ele amava e a irmã mais nova de quem ele foi separado em sua vida anterior apareceram diante dele mais uma vez. No entanto, não foi de forma alguma um sonho — Rio definitivamente as encontrou neste mundo; especialmente Miharu, a quem ele queria ver de novo mais do que qualquer coisa. Até Aki, a irmã mais nova de Haruto, estava aqui.
No banheiro, além da porta do vestiário, estava a garota que ele tanto amava, tomando banho, sozinha.
Eles... confiam em mim? Ou estão simplesmente com a guarda baixa? Rio sorriu ironicamente.
Capturados por um homem cuja língua não entendiam, eles quase foram transformados em escravos.
Embora Rio não tivesse intenção de atacar Miharu, ela não tinha como saber disso com certeza. Ela não mostrou nenhum sinal externo de cautela em relação a Rio, mas talvez estivesse se sentindo desconfortável por dentro.
De qualquer forma, eles foram lançados em um mundo completamente desconhecido, do nada. Eu não ficaria surpreso se o estresse tivesse deixado algum deles se sentindo mentalmente instável.... Terei que preparar um ambiente onde eles possam relaxar, para aliviar o fardo em suas mentes...
Uma expressão triste apareceu no rosto de Rio, e ele o cobriu com a mão direita em tormento. As memórias de sua vida passada ressurgiram de repente.
.... Me pergunto se devo contar a eles a verdade.... Que eu tenho as memórias de Amakawa Haruto, Rio ponderou para si mesmo.
Embora estava claro como o dia que contar a eles só causaria confusão, Rio se perguntou se queria fazer isso para começar.
Afinal, Amakawa Haruto estava morto — foi por isso que Rio cultivou um senso de finalidade com seu eu anterior, apesar de sentir um forte e persistente apego de seu amor por Miharu. Isto é.… ele quase conseguiu deixar Haruto ir, até que Miharu apareceu diante dele — da mesma forma que a última vez que Haruto a viu.
Honestamente, não havia como negar que ele quase havia sucumbido às suas inclinações, que talvez a juventude ociosa que ele passou como Amakawa Haruto pudesse ser feita toda de novo.
Havia uma parte dele que sentiu felicidade em seu reencontro com Miharu, ansioso para passar um tempo juntos, mesmo que por um curto período.
No entanto, ao mesmo tempo era sufocante, porque Rio se considerava uma pessoa que nunca poderia voltar atrás. Ele não podia voltar atrás.
Ele havia dito adeus ao seu eu fraco, aquele que fugia de uma realidade dolorosa, na terra natal de seus pais. Ele havia decidido que iria sujar as próprias mãos, se necessário, e procurar alguém que talvez nem estivesse mais vivo. E se ele estivesse vivo, Rio o mataria.
Rio havia mudado. A ingenuidade de Amakawa Haruto se foi — na verdade, ele nem sabia mais se realmente era Amakawa Haruto. O fato de que ele tinha vagas memórias em sua mente era a única prova que ele tinha de que ainda era Haruto.
Hoje, ele matou alguém pela primeira vez em sua vida. Mesmo naquele exato momento, com a sensação de matar alguém e o calor de seu corpo ainda pairando sobre ele, ele não sentiu nenhum sentimento particular de culpa — provavelmente porque o homem que ele matou merecia.
Nesse ponto, o que ele poderia revelar sobre si mesmo para seus três convidados? Ele diria a Miharu que tinha as memórias de Amakawa Haruto, e então confessaria seu amor eterno por ela?
E se Miharu tivesse alguém que amava e, portanto, o rejeitasse? Ou, pior ainda — era possível que ela tirasse suas próprias conclusões, considerando a situação atual em que foram colocados.
Não é bom. Mesmo se eu contasse agora, Mii-cha... Não, Miharu-san e os outros só ficariam perturbados. Eu simplesmente decidi não colocar mais um fardo sobre eles, mas demorei muito para perceber o que devia ser óbvio. Acho que ainda não recuperei minha compostura... Rio suspirou envergonhado.
Ele não tinha ideia de por que a Miharu que desapareceu anos antes da morte de Amakawa Haruto apareceu neste mundo como uma estudante do ensino médio; ele estava bastante perplexo com isso, na verdade. Mas sabia qual era sua prioridade, agora e no futuro: ele tinha que proteger Miharu, Aki e Masato. Isso era certo.
Vou precisar ensiná-los o idioma e os costumes.... Parece que estarei constantemente com eles por um tempo. Minha viagem para ver Celia-sensei terá que ser adiada para mais tarde. Rio decidiu sentar e observar a situação por um tempo.
Só então, o som da porta do vestiário se abrindo ecoou na sala de estar. Rio direcionou seu olhar para o vestiário para ver Miharu, recém-saída do banho.
Miharu fechou a porta educadamente antes de olhar ao redor da sala. Ela ainda estava com o uniforme escolar, mas parecia estranhamente atraente depois de terminar o banho.
Quando Miharu pôs os olhos em Rio sentado no sofá, ela se aproximou dele com passos rápidos e abaixou a cabeça. "Ah, Haruto-san. Foi um ótimo banho.... Obrigada por me deixar usá-lo primeiro."
Os longos cabelos negros de Miharu, tão lustrosos que brilhavam como verniz, balançavam. Isso fez cócegas nas narinas de Rio com o cheiro do sabão. Rio sentiu seu coração pular no peito, então sacudiu a cabeça como se o rejeitasse como uma invenção de sua imaginação. "Não se preocupe com isso. Você tem um momento para conversar agora?"
"Sim. Eu queria falar com Haruto-san também...", Miharu assentiu com a cabeça hesitantemente.
"Aqui está, então." Rio despejou chá gelado em uma caneca vazia e ofereceu a Miharu.
Miharu estava com sede depois do banho, então levou a caneca à boca suavemente e sorriu feliz. "Obrigada... É delicioso."
Rio imediatamente encheu a caneca de Miharu com mais chá gelado. "Gostaria de ir às compras amanhã?", ele perguntou.
"Compras... você disse?", Miharu inclinou a cabeça, com a expressão em branco.
"Sim. Achei que poderíamos pegar algumas coisas necessárias para suas necessidades diárias... e... Bem, você não pode ficar com seu uniforme para sempre, então..." Rio disse, parecendo relutante em tocar no assunto.
"Sim, tem razão.", disse Miharu, assentindo desconfortavelmente a cabeça. Então, sua expressão mudou e ela engasgou.
"Ah... F-Foi estranho usar isso de novo afinal?! U-Umm, estou fedendo a suor ou algo assim?", ela perguntou envergonhada.
Agora que era capaz de refletir sobre isso, ela havia usado essa roupa enquanto estava preparando o jantar e, posteriormente o comeu. Ela também tinha caminhado sem parar com este uniforme durante todo o dia; temendo que o cheiro de seu suor tivesse se espalhado, ela cheirou seu uniforme em pânico para verificar.
Rio sacudiu a cabeça em choque. "N-Não, de jeito nenhum! Você cheira muito bem! Eu poderia respirar seu perfume para sempre." Em sua pressa para negar a declaração de Miharu, Rio falou de um jeito que poderia ter sido interpretado de forma errada.
"Eh...? Ah... E~tto, mu-muito... obrigada?" Miharu inclinou a cabeça; ela ficou bastante surpresa. Pelo menos, ela parecia interpretar o significado das palavras dele de uma forma positiva.
Rio tardiamente percebeu que havia feito uma observação que poderia ser mal interpretada e se corrigiu com pressa. "Ah, e-eu não quis dizer isso de uma forma estranha! Só quis dizer que não era um cheiro ruim. Eu sinto muito!", ele disse, e abaixou a cabeça.
"E-Está tudo bem, eu entendo. E-Eu também sinto muito." Miharu abaixou a cabeça agradecidamente de volta.
O ar entre eles ficou estranho e, por um tempo, suas expressões foram de um tipo envergonhado. Eles desviaram seus olhares, parecendo apologéticos.
Depois que o incomodo silêncio entre eles continuou por mais alguns segundos...
"...E então, eu estava pensando que seria um pouco difícil se mover por aí com todos nós, então estaria bem para Miharu-san fazer compras em nome dos outros dois também amanhã? Embora isso signifique que Aki-chan e Masato-kun teriam que ficar aqui sozinhos...", Rio disse em uma voz um pouco aguda, voltando à conversa descarrilada.
"S-Sim. Estará tudo bem." Miharu assentiu voluntariamente. Ela sabia que se os três tivessem seguido Rio para a cidade, seriam apenas um fardo com a sua falta de compreensão da língua.
"Então, vamos sair pela manhã, depois do café da manhã, então, por favor, escreva uma lista das coisas que vai precisar. Não há necessidade de se preocupar com dinheiro, então escreva tudo o que você puder pensar.", disse Rio, tentando encorajar Miharu a não mostrar restrições no que ela queria.
No entanto, a expressão de Miharu nublou-se apologeticamente.
"Umm... Não temos nada que valha algum dinheiro, mas eu juro... Um dia eu vou retribuí-lo por cuidar de nós assim. Muito obrigada. Se tiver algum trabalho doméstico ou tarefa que precise que eu faça, basta dizer.", disse ela, inclinando a cabeça profundamente para Rio.
"Não, não há necessidade de me retribuir dessa forma..." Rio coçou a cabeça, com a expressão preocupada. Se ele se colocasse no lugar de Miharu, poderia entender os sentimentos dela, mas só pensar sobre isso apenas o deixava em conflito.
"Não posso permitir isso." Miharu balançou a cabeça resolutamente. Ela parecia ter uma personalidade bastante justa e sincera.
".... Tudo bem. Então, pode fazer algumas das tarefas domésticas por aqui, e vai ficar tudo quite entre nós com isso. Eu também vou pagar uma mesada pelo seu trabalho.", Rio assentiu e sorriu fracamente.
"Muito obrigada. Vou trabalhar duro." A expressão de Miharu permanecia apologética.
"Sim, por favor. Também, há algo que eu tenho para lhe dar, Miharu-san. Isso...", Rio disse, tirando a pequena bolsa bem embalada com moedas de ouro.
"Umm... Isto é?" Miharu perguntou hesitante, espiando o brilho do ouro na abertura da bolsa.
"O dinheiro de compensação recebido do comerciante de escravos que tentou sequestrar você e os outros."
"Estas são moedas de ouro, certo? Parecem bem valiosas..."
"Bem, até certo ponto. Mas, ele quase arruinou suas vidas inteiras. Esse preço não é, de forma alguma, muito alto para ser considerado dinheiro de compensação. Miharu-san pode não ficar muito feliz em aceitar esse dinheiro, mas por favor, guarde-o para o caso de precisar como fundos de reserva um dia.", Rio disse lentamente para garantir que Miharu entendesse seu ponto.
".... Haruto-san não aceitaria esse dinheiro em vez disso? Nós que fomos resgatados por Haruto-san, então eu não poderia aceitar isso.", declarou Miharu após uma pausa para consideração, sem mostrar nenhum sinal de arrependimento diante de uma quantidade tão grande de dinheiro.
"Não, não. Esse é o dinheiro da compensação, então deve ir para as vítimas que sofreram o crime. É assim que funciona.", Rio sacudiu a cabeça, ligeiramente surpreso.
"Mas nós só estivemos recebendo a sua gentileza e não teremos nenhuma forma de usar o dinheiro por um tempo... Eu ficaria muito mais feliz se você o aceitasse em vez disso, Haruto-san.", enfatizou Miharu. Ela escolheu se ater aos seus princípios ao invés de receber o que estava sendo oferecido a ela. Sua vontade teimosa era claramente óbvia.
".... Então, podemos usar esse dinheiro amanhã para fazer compras e comprar as necessidades básicas de que vocês vão precisar em um futuro próximo." Rio tinha originalmente a intenção de emprestar as finanças de que precisavam, mas ele percebeu que poderia fazer um acordo em vez disso.
"Mas então isso não terminaria sendo dinheiro usado conosco de qualquer maneira...?"
"E é assim que deve ser, já que esse era o dinheiro de compensação que era para vocês.", afirmou Rio claramente.
"Está realmente bem?" Miharu perguntou.
"Realmente, está tudo bem.", Rio disse um pouco despreocupadamente.
Miharu ficou surpresa. "Está bem. Muito obrigada, Haruto-san." Ela o agradeceu — pela enésima vez naquele dia — com um sorriso.


Comentários

Wesley disse…
Triste esse Haruto estragando as memórios do Rio, maldito parasita, bem que poderia ser apagado kkkk