Capítulo 3: O Tumulto
Vários meses se passaram desde que Rio começou sua estadia na aldeia. A temporada de colheita do arroz tinha acabado de começar, e era a época mais movimentada do ano inteiro. Nesta época do ano, até mesmo os caçadores — que normalmente iam caçar pela manhã — ajudavam nos campos.
Claro, Rio não foi exceção.
No momento, ele estava movendo sua enxada com todas as forças enquanto arava o campo. A monotonia da atividade fez com que calos se desenvolvessem em ambas as mãos. Eles haviam surgido em áreas diferentes daquelas que apareceram quando ele usou sua espada. No entanto, em sua vida como Amakawa Haruto, ele ajudou na fazenda de sua família durante todo o ensino fundamental e médio, então Rio estava acostumado com as ações necessárias para arar os campos de arroz. Os agricultores da aldeia estavam admirados com ele.
Um leve sentimento de tristeza ocasionalmente passava por ele ao pensar em seu pai e avós, mas enquanto ele continuava a trabalhar, se sentia estranhamente em paz.
Então, depois que o trabalho progrediu além de um certo ponto...
"Ei, é hora de um descanso! O almoço está servido — todos reúnam-se!" Ruri gritou bem alto para que todos os trabalhadores parassem.
Os aldeões geralmente comiam duas refeições por dia — uma de manhã e outra à noite — mas em oportunidades como esta, toda a aldeia se reunia para almoçar juntos. Trabalhar a manhã toda naturalmente faria com que eles sentissem fome, então todos os homens foram por unanimidade em direção à praça da aldeia, onde a comida estava sendo distribuída.
"Aqui está sua sopa de miso e conserva de legumes. Você pode pegar até dois onigiri por pessoa. Além disso, o Rio forneceu o sal, então todos certifiquem-se de agradecê-lo!" Ruri informou os moradores que estavam alinhados para receber a comida enquanto ela arrumava as mesas. Todas as mulheres e homens da família tinham sorrisos agradáveis enquanto agradeciam a Rio, que estava por perto.
"Ei. Vocês todos certifiquem-se de agradecer ao Rio também." Os homens mais jovens tentaram levar a comida melancólica e silenciosamente, mas Ruri fez beicinho e os repreendeu. Sayo, que estava arrumando a mesa ao lado de Ruri, assentiu concordando.
Os garotos estalaram suas línguas e murmuraram uma palavra de agradecimento a Rio, então se afastaram às pressas e se reuniram em um grupo entre si e encheram seus estômagos com os onigiris. Seus olhos se abriram de surpresa com o sabor quando perceberam o quão generosamente o sal foi usado.
"Bem... Acho que é melhor do que no passado. Eles podem pelo menos dizer obrigado, agora. Desculpe, Rio." Ruri suspirou exasperada e se desculpou com um sorriso amargo enquanto olhava para Rio ao seu lado. Ele não estava se movendo para se juntar aos rebanhos de pessoas, mas estava esperando até que as multidões se dispersassem.
"Está tudo bem.", disse Rio, balançando brevemente a cabeça.
"Ok, devemos comer também antes que esfrie. Todo mundo está esperando também.", sugeriu Ruri.
A uma pequena distância, um grupo de garotas estava chamando por Ruri.
"Ok. Então eu vou— "
"U-Uum! Rio-sama, gostaria de comer conosco? Você não estaria se intrometendo!"
Rio estava olhando ao redor e pensando em se juntar a um grupo de idosos e casais mais velhos, quando Sayo o parou um pouco agitada.
"Boa ideia — estou faminta. Vamos nos apressar.", concordou Ruri, e rapidamente se moveu em direção ao grupo de garotas. Rio estava apreensivo por ser o único homem em um grupo de jovens da aldeia, temendo que ele fosse antagonizado ainda mais pelos homens mais jovens da aldeia. No entanto, Sayo estava humildemente esperando ao seu lado para irem juntos, então ele não podia abordar a ideia de comer com mais ninguém nesta situação.
No entanto, aldeões mais velhos e casados, como Dora e Ume, estavam sentados ao lado das garotas, então Rio reconsiderou seus pensamentos e decidiu que não havia necessidade de se preocupar.
"Tudo bem. Vamos, Sayo-san."
"Ok!" Sayo assentiu alegremente.
Rio começou a caminhar em direção onde as garotas estavam com Sayo seguindo atrás dele.
Enquanto isso, Ruri já tinha alcançado os outros, e chamou Rio em tom de brincadeira. "Depressa, vocês dois!", disse ela e as outras garotas se juntaram.
"Isso mesmo — já estamos cansadas de esperar!"
"Não é justo Sayo monopolizar Rio-sama só para ela!"
E assim por diante. Elas começaram a se aglomerar em volta de Rio e falar ruidosamente.
"Olá a todos. Vocês não começaram a comer ainda?" Rio perguntou, percebendo que as garotas ainda não tinham tocado na própria comida.
"Estávamos esperando vocês. Não podemos deixar que Sayo monopolize Rio-sama só para ela, afinal.", disse uma garota inteligente, lançando em Sayo um olhar brincalhão.
"Entendo. Me desculpo por ter deixado vocês esperando, então. Por favor, permitam que eu me junte a vocês." Rio fez uma reverência e se sentou em um lugar vazio.
"E-Eu não estou monopolizando ele! Só achei que a comida ficaria melhor se comessemos todos juntos, então estava esperando por Rio-sama... hum..."
Sayo congelou em choque por um momento, mas o constrangimento acabou aumentando e fez com que ela refutasse com o rosto vermelho.
"Eu sei, eu sei. Basicamente, Sayo queria comer com o Rio-sama dela, não importa o quê. Entendi." A garota que estava provocando Sayo assentiu com uma compreensão simulada.
"N-Não! Não é nada disso! .... Ah, não, não é isso... não é que eu não queira comer com Rio-sama..." Sayo negou reflexivamente, mas tentou apressadamente retomar suas palavras e se explicar para o Rio.
"Está tudo bem. Eu entendo." Sem saber como reagir, Rio simplesmente forçou um sorriso no rosto.
Enquanto isso, as garotas estavam observando a disposição agitada de Sayo com sorrisos satisfeitos.
"Vamos meninas. Peguem leve com ela. Sayo-chan está quase no limite.", disse Ruri às garotas, exasperadamente.
Sayo olhou para todas as garotas com um olhar ressentido em seus olhos marejados. No entanto, apesar de seu olhar, ela parecia mais com um animal pequeno e encurralado, então não houve impacto por trás de sua expressão. Pelo contrário, só fez com que outros se sentissem mais protetores com ela.
Foi quase adorável o suficiente para fazer todos quererem provocá-la ainda mais...
"Ok. Bem, ela não é a única que quer almoçar com Rio-sama. Todas nós queremos.", a garota alegre que estava provocando Sayo disse inocentemente. As outras garotas assentiram de acordo.
"Obrigado... Fico feliz em ouvir isso. Mas posso pedir que vocês parem de me chamar de 'Rio-sama'? Não estou em nenhuma posição superior que mereça esse título, então isso me faz sentir um pouco estranho.", disse Rio com um sorriso tímido.
"Eeeh? Mas 'Rio-sama' meio que emite essa aura de alta classe."
"Sim, sim. É como se você tivesse sido criado de forma diferente em comparação com os outros homens nesta aldeia."
"Não é mesmo? Assim que você menciona 'Rio-sama' para eles, eles ficam mal-humorados. Que brutos."
"É difícil pensar neles como homens também."
"Ahaha, nem os compare! Rio-sama não merece essa desonra."
"Você tem razão. Sinto muito, Rio-sama."
E assim por diante — as garotas continuaram a conversar com energia e ruidosamente. A conversa passou de um tópico para o outro, até que esqueceram completamente de provocar Sayo e sobre o pedido de Rio. Parecia que ele teria que suportar ser chamado de "Rio-sama" por um pouco mais de tempo. Seus ombros caíram.
No entanto, Rio também não era o mais indicado para falar, já que as garotas disseram várias vezes que ele não precisava falar tão educadamente perto delas. Talvez isso tivesse nivelado o campo de jogo.
Um pouco mais longe de Rio e as garotas, Dora e Ume estavam sentados juntos tomando chá, depois de terem terminado suas refeições. Ambos estavam sorrindo agradavelmente, observando Rio e as garotas barulhentas conversando animadamente entre si.
"Hahaha, como esperado da boa aparência do Rio. É como olhar para o meu antigo eu."
"Você está dizendo que o Rio é como o seu antigo eu? Não se iluda." Ume rejeitou terminantemente a declaração de Dora.
"Ei, vamos. O que te faz dizer isso? Estou sendo completamente sério aqui."
"Eu absolutamente não lembro de ter me casado com um homem tão maravilhoso. É rude até mesmo considerar comparar o Rio com você. Que piada, estou certa?"
"Que— Ei! O que você está dizendo para o seu próprio marido?!"
"Você é completamente o oposto, tanto na aparência quanto na personalidade, e não estava nem perto de ser tão maduro quando era jovem. Eu diria que você não era muito diferente dos meninos que estão com ciúmes do Rio agora. Transbordando de força bruta, mas sem conhecimento de como caçar adequadamente."
"Geh... Você continua falando. Bem, ele tem viajado o mundo desde jovem, afinal. Ele deve ter passado por algumas dificuldades. Admito que posso não ter sido tão talentoso como ele quando era jovem..." Incapaz de refutar as palavras de Ume, Dora engoliu suas palavras relutantemente.
"Então você percebe isso! Ah, mas agora que você mencionou, havia outro homem na nossa aldeia que era como o Rio também — e não era você, é claro." Ume disse, olhando para o céu à distância.
"Huh? Desde quando havia alguém em nossa aldeia.... Ah, aquele cara, huh?" Dora estava prestes a negar que havia outro homem semelhante, quando de repente pareceu se lembrar de algo. Sua expressão tornou-se levemente desagradável, mas nostálgica ao mesmo tempo.
"Mesmo nunca podendo ganhar contra ele, você estava queimando com um senso de rivalidade. Assim como Shin faz agora." Ume começou a rir.
"Cale-se. Você também foi rejeitada por aquele cara. Ele disse que estava deixando a aldeia para se tornar um soldado."
"Todas as garotas da minha idade se declararam para ele na época. Nenhuma delas conseguiu, é claro."
"Imaginei. Ele não era do tipo que se contentava com uma mulher de uma aldeia do interior como esta.", disse Dora, assentindo com um sorriso radiante.
"Oh? Parece que você tem uma opinião bem alta do Zen, afinal."
"Hmph. Cale a boca."
"Me pergunto o que ele está fazendo agora... Você acha que ele já tem algum filho?"
"Quem sabe. Se ele tiver..." Dora balançou a cabeça com tristeza, e mordeu a língua com uma sensação de desconforto.
"Se ele tiver?" Ume o instigou a continuar com um olhar duvidoso.
".... Se ele tiver, então o garoto provavelmente estaria perto da idade dos jovens nesta aldeia. Isso, ou mais jovem. De qualquer forma, aquele homem não vai voltar. Não adianta pensar nisso.", respondeu Dora abruptamente.
"Bem, suponho que você está certo." Ume assentiu, um pouco triste.
◇◇◇
Uma semana depois, quando a agitação das colheitas da aldeia finalmente terminou...
Rio estava voltando para casa depois de terminar seu trabalho do dia quando se encontrou com Yuba na estrada, pouco antes do pôr do sol.
"Ah, Rio. No momento perfeito. Há algo que queria pedir a você. Vamos discutir isso enquanto caminhamos para casa.", disse Yuba uma vez que eles estavam a uma distância em que podiam conversar, levando-os a retomar sua jornada para casa juntos.
"Então, o que você queria discutir?" Rio falou primeiro.
"Certo..." Yuba assentiu, antes de começar a falar. "Sempre que a temporada de colheita de arroz chega ao fim, o reino envia um oficial de impostos. Uma vez que chegam aqui, eles decidem oficialmente a quantidade de arroz a pagar pelo imposto anual das terras e nós distribuímos o restante entre nossos suprimentos de comida. Tudo o que sobra é levado para a capital para ser vendido. Você já sabe tudo isso, não é?"
"Sim, me disseram sobre isso."
"Bom, isso simplifica as coisas. Estamos no meio de decidir quem estará na equipe de transporte, e eu estava pensando em pedir para você escoltá-los, já que você tem experiência viajando sozinho. É raro que algo aconteça, mas não posso dizer com certeza que não será perigoso. Você estaria disposto a aceitar a tarefa?" Yuba perguntou com cautela.
"Claro, não há nenhum problema. Ficaria feliz em ajudar.", Rio imediatamente concordou assentindo.
"Isso seria uma grande ajuda. Desculpe por incomodá-lo." Yuba sorriu amplamente, aliviada de suas ansiedades.
"Não é grande coisa. Algo assim não é nenhum incômodo." Rio sorriu levemente, dando um pequeno encolher de ombros.
"Graças a você, a vida nesta aldeia ficou muito melhor. Todos os aldeões são muito gratos a você. Você nos ensinou como criar ferramentas úteis e usar novas técnicas em nossa agricultura. Nesse ritmo, a colheita do próximo ano será enorme, então você realmente tem sido uma grande ajuda."
"Eu não acho que nada mudou tão dramaticamente, mas suas taxas de colheita devem estabilizar mais do que antes." O canto da boca de Rio se curvou em um pequeno sorriso.
"Estou ansiosa por isso." Yuba sorriu agradavelmente.
Então, enquanto se aproximavam da casa da chefe da aldeia...
"Retire o que disse, imbecil!", alguém gritou bem alto. Estava vindo da direção da casa.
Rio e Yuba se entreolharam.
"É uma briga?" Yuba murmurou desconfiada.
"Vou ver o que está acontecendo." Rio se preparou para correr primeiro até a casa da chefe.
"Espere, eu vou também." Yuba chamou Rio de trás, seguindo-o em um ritmo mais rápido do que o normal. Assim, os dois rapidamente seguiram a estrada em direção à casa da chefe da aldeia.
◇◇◇
Momentos antes de Yuba e Rio chegarem à casa, do lado de fora, dois grupos de homens estavam se encarando. Um grupo era composto pelos jovens da aldeia — incluindo Shin — enquanto o outro era um grupo de jovens que Rio não conhecia.
Os jovens da aldeia estavam ganhando em termos de números, mas o lado oposto tinha uma pessoa que era particularmente grande; ele parecia ser bastante formidável numa luta com os punhos. Além disso, escondidas atrás dos jovens da aldeia — como se estivessem sendo protegidas por eles — estavam várias garotas da aldeia (incluindo Sayo e Ruri) em roupas leves.
Era possível que elas estivessem a caminho da casa de banho ao lado da casa da chefe da aldeia, ou tivessem acabado de sair.
"Quem diabos você pensa que é, Gon, andando por aí como se fosse o dono deste lugar?! Até teve a coragem de marchar direto para a casa de banho.", disse Shin, olhando odiosamente para o gigante chamado Gon.
"Huh? Vim visitar a chefe da aldeia como convidado. Tinha uma cabana que eu não reconhecia quando cheguei, então fui investigá-la. Desde quando vocês têm uma casa de banho? Mas, eu entendo, então foi por isso..."
Entendendo a situação, Gon dirigiu um olhar lascivo para as garotas em suas roupas leves. Os homens ao seu redor também tinham seus olhares fixos sobre as garotas, enquanto sorriam assustadoramente.
"Não olhe para elas com seus olhos nojentos!" Shin gritou.
"Por que não? Não está machucando ninguém. Quem se importa se a gente olhar — ou sua mulher está entre elas?" Gon riu condescendentemente.
"Minha irmã está!"
"Oh? Você tem uma irmã? Qual delas?" Gon inspecionou o grupo de garotas de perto. O corpo de Sayo tremeu com medo.
" Sayo-chan, se esconda atrás de mim.", Ruri sussurrou, escondendo Sayo atrás dela, mas Gon parecia já ter visto claramente ela.
"Ela ainda é uma pirralha, mas é uma coisa bonita, não é? Por que você não nos apresenta, querido cunhado?", disse ele, sorrindo.
"Foda-se!" Shin se enfureceu, partindo para golpear Gon.
"Espera, Shin! Não faça isso!" Ruri correu com pressa, agarrando seu braço para pará-lo.
"M-Me solte, Ruri! Esse idiota não vai parar até que eu ensine uma lição a ele!"
"Você não pode deixar que ele provoque você tão facilmente! Seria um grande problema se você o batesse por algo tão pequeno assim! Não importa o quão podre ele seja, ele ainda é filho do chefe de outra aldeia. Você não quer causar nenhum problema a Sayo-chan, certo?!"
"Guh..." Shin cedeu fracamente, com seu rosto corado de frustração.
Gon soltou um suspiro decepcionado e tentou provocá-lo ainda mais. "Ah, você não tem que se conter só porque eu sou filho do chefe de outra aldeia, sabe?"
Shin, no entanto, manteve a cabeça baixa e ficou firme.
"Tch, covarde." Gon estalou a língua, sem graça. Ele fixou sua atenção de Shin para Ruri. "Bem, tanto faz. Ruri, você se tornou uma beleza e tanto... eu quase não reconheci você."
"Sim, certo. Então, o que você queria com a nossa aldeia?" Ruri perguntou, facilmente ignorando as palavras de Gon.
"Me deixe ficar na sua casa. Estávamos a caminho da capital para vender os produtos da nossa aldeia quando nosso transporte de carga quebrou. Vai levar todo o dia de amanhã para repará-lo."
"Eu entendo querer reparar sua carruagem quebrada, mas por que você precisa ficar em nossa casa para fazer isso?"
"Porque eu sou um convidado da sua aldeia, e o filho do chefe de outra aldeia? Espero uma recepção apropriada."
"Então nós vamos emprestar para você uma das nossas cabanas de hóspedes, para que você possa ficar lá. Infelizmente, não temos nenhum quarto vago em nossa casa para emprestar a você." Ruri balançou a cabeça bruscamente e recusou as exigências de Gon.
"Ei, vamos. Você não deve tratar o seu potencial futuro marido tão friamente, sabia?"
"... H-Huh? Não diga besteiras tão ridículas! Que nojo!" Ruri se manteve firme, mas as palavras de Gon fizeram seu corpo tremer.
"Oi, Ruri?! O que ele quis dizer? Você vai se casar com esse bastardo?!" Shin perguntou a ela em pânico.
"Eu não tenho ideia do que ele está dizendo! Por que eu me casaria com alguém assim?" Ruri respondeu, como se fosse sua primeira vez ouvindo isso.
"Você não sabia? O único herdeiro da chefe da sua aldeia agora é Ruri. O que significa... de acordo com a tradição, Ruri será a próxima chefe da aldeia. Mas já que você tem que se casar e governar a aldeia com seu marido, você não pode ficar solteira como a chefe da aldeia. É por isso que estou me oferecendo como marido da Ruri.", disse Gon descaradamente, sem nenhum traço de vergonha.
"Isso é besteira! Você não pode simplesmente decidir isso sozinho!" Shin, que estava fora da linha de fogo por um tempo, foi incapaz de ouvir mais as declarações excessivas de Gon e gritou em voz alta.
"Eu não estou decidindo, estou oferecendo. E deveria ser minha liberdade me oferecer, certo? Estranhos como você não têm o direito de protestar."
"Como membro da aldeia, eu não vou permitir!" Shin gritou, e os garotos ao seu redor estiveram de acordo.
"Isso mesmo!"
"Hah? Nenhum de vocês tem direito sobre Ruri. O que é isso, ciúme coletivo? Que bando de maricas." Gon soltou um suspiro, zombando deles.
"Retire o que disse, imbecil!" Incapaz de suportar mais, Shin deu um soco em Gon.
"Vamos seguir Shin!", os outros garotos gritaram, respirando duramente através de seus narizes. Eles também perderam a paciência.
"Ah, esperem, todos vocês! Shin! Pare aí mesmo!" Ruri tentou detê-los, mas sua voz não chegou mais aos seus ouvidos.
"Ha! Agora está finalmente ficando interessante. Venham para cima: vou mostrar o quanto eu sou mais poderoso!"
"Cale a boca, seu bastardo!" Sem ser afetado por sua diferença de estatura — ele era pelo menos 20 centímetros mais baixo em altura — Shin partiu em frente. Seu punho estava em rota de colisão com o rosto de Gon, mas Gon facilmente agarrou o soco que se aproximava. Ele olhou para Shin com uma expressão de surpresa.
"Oi. Você usa artes espirituais, não é? É o melhor que você pode fazer depois se fortalecer?" Gon não parecia estar sentindo qualquer resistência do punho.
"O-O que diabos você disse?!" Shin se enfureceu ainda mais e colocou mais força em seu punho capturado, mas seu braço nem se moveu, apesar do fato de que ele estava usando artes espirituais para fortalecer seu corpo.
"Nem vale a pena lutar com você.", Gon murmurou baixinho, estendendo sua outra mão para simplesmente agarrar Shin pelo pescoço. Ele então levantou o corpo de Shin no ar como se não pesasse nada.
"O que— Guh... Gah...!" Shin lutou com dor. Ele tentou afastar o braço de Gon dele, mas não conseguiu nem mesmo fazê-lo se mover.
"O-Onii-chan! P-Pare! Pare com isso, por favor!" Ver o irmão com dor fez Sayo se aproximar em pânico. Sua voz estava chorosa e seu corpo estava tremendo ligeiramente. Quando seus olhos se encontraram com os de Gon, ela timidamente dirigiu seu olhar para baixo para evitar contato visual.
"Ah? Bem, se você absolutamente insiste, então eu não seria contra mantê-lo assim, suponho..." Satisfeito consigo mesmo, Gon bufou pelo nariz e olhou para ela triunfantemente.
"Já basta! O que vocês estão fazendo?!" A voz de Yuba de repente ecoou pelo lugar; ela tinha finalmente chegado depois de ouvir a comoção, com Rio ao seu lado. Gon estalou a língua silenciosamente e olhou para Yuba.
"Ei. Já faz um tempo, velha Yuba. Desculpe pela comoção — estávamos apenas discutindo quando esse cara aqui de repente tentou me socar.", respondeu ele, olhando para Shin, que ainda estava suspenso pelo pescoço.
"Se você sente muito, então solte-o. Eu não me importo se você é filho de outro chefe — mais brigas na minha aldeia e eu vou fazer você sair. Sem ouvir qualquer desculpa.", disse Yuba sem rodeios, lançando um olhar afiado em Gon.
".... Tudo bem, tudo bem. Eu não estava interessado em fracotes insignificantes como ele de qualquer maneira." Gon soltou o pescoço de Shin.
"Cof, cof... Ugh..." O corpo de Shin desabou, dobrando-se em um ataque de tosse.
"Você está bem, Onii-chan?"
Sayo apoiou o corpo de Shin em pânico. Ela colocou as mãos em volta de sua garganta e lançou uma arte espiritual curativa para aliviar a dor. Alguns segundos depois, Shin foi capaz de respirar normalmente de novo.
"S-Seu bastardo..." ele olhou para Gon.
"Ha! Você precisa da sua preciosa irmãzinha para protegê-lo? Que patético.", Gon zombou triunfante.
"Parem com isso, vocês dois! Shin, saia daqui e esfrie a cabeça.", repreendeu Yuba.
"Guh..." Shin conteve suas palavras e abaixou a cabeça em frustração. Sayo apoiou seu irmão pelo ombro e o ajudou a ficar de pé.
"V-Vamos, Onii-chan."
"Eu vou ajudá-la, Sayo-chan." Ruri se aproximou deles e ajudou Sayo a apoiar o corpo de seu irmão do outro lado.
Depois que Shin se retirou, Yuba falou com Gon, tentando resolver a situação em questão.
"Então, por que você veio aqui hoje? Não me diga que veio apenas para arrumar brigas."
"Estávamos a caminho da capital para vender os produtos da nossa aldeia e decidimos passar por aqui, já que nosso transporte de carga puxado por cavalos infelizmente quebrou. Eu vim visitar você, a chefe, para pedir permissão para ficar na aldeia enquanto isso."
"E como isso acabou causando uma briga?"
".... Aquela nova cabana ali despertou meu interesse. Quando a gente se aproximou, os rapazes da sua aldeia apareceram e gritaram conosco. E.… depois acabou nisso.", respondeu Gon, encolhendo os ombros.
"Obaa-chan, nós estávamos tomando banho nesse momento. Uma das garotas notou que eles estavam se aproximando da casa de banho e gritou..." Ruri explicou.
"Entendo. Então Gon e os outros foram confundidos com bisbilhoteiros e rufiões." Yuba assentiu com entendimento.
Gon negou a acusação sem demora. "Só para você saber, não sabíamos que a cabana era para tomar banho. Eu só estava curioso pela impressionante cabana que não estava aqui da última vez."
"Bem, eu vou aceitar o fato de que você não sabia para o que a cabana era. No entanto, isso não justifica o fato de que você invadiu a propriedade de outra pessoa para conduzir sua própria investigação, sem ser convidado." Yuba analisou a situação com calma.
Rio concordou com Yuba. Vendo que não havia necessidade de interferir, ele estava assistindo silenciosamente dos bastidores.
"Tch. Bem, eu acho que essa parte foi minha culpa."
Gon expressou remorso com um estalo de sua língua. Ele parecia achar o controle de Yuba sobre a situação difícil de lidar, mas ele não estava disposto a aceitá-lo de braços cruzados.
"Sabe...", ele começou. "Esses caras provavelmente estavam tentando espiar o banho das mulheres de verdade, você não acha? Por que mais eles teriam nos encontrado tão convenientemente na frente da casa da chefe? Estou certo, Shin?" Ele colocou os olhos no grupo de Shin com um sorriso.
"Q-Quê?! N-Não! Só viemos correndo porque ouvimos que o grupo de Gon tinha aparecido na aldeia e estavam indo para a casa da chefe! E Sayo disse que ela ia tomar banho!" Shin negou a acusação em pânico; ele parecia ter se recuperado o suficiente para falar, pelo menos. Os outros garotos também se expressaram de acordo depois que seu choque passou.
Yuba soltou um suspiro cansado.
"Tudo bem, eu entendo agora. Há mais alguma coisa que alguém gostaria de acrescentar?" Ela perguntou a todos os presentes.
Ninguém falou.
"Então, este assunto termina aqui. Gon, me desculpo pelo mal-entendido de Shin que fez com que a situação ficasse fora de controle. No entanto, suas ações foram muito precipitadas e violentas. Eu vou permitir que fiquem em uma cabana de hóspedes nos arredores da aldeia, mas estão proibidos de sair desnecessariamente. Entendido?" Yuba deu seu veredito em um tom que não permitia mais objeções.
"Bem, que seja. Nos vemos, velha Yuba."
Gon deu um suspiro exagerado e começou a ir embora, com seu grupo de seguidores correndo atrás dele. Eles seguiram em direção a estrada por onde Rio e Yuba tinha acabado de chegar.
Hm? Havia alguém assim na aldeia antes?
Enquanto caminhava, Gon notou que havia alguém desconhecido ao lado de Yuba — Rio. Ele estreitou os olhos e inspecionou o rosto do garoto. Rio retribuiu com um olhar frio, observando para ver se Gon tentaria começar outra coisa.
Hmph. Com um rosto refinado como esse, ele provavelmente é outro afeminado. Não gosto do olhar dele.
Vendo a maneira como Rio o encarava sem hesitar fez Gon franzir a testa ligeiramente. Mas sua expressão imediatamente mudou para um sorriso perverso, como se ele subitamente tivesse uma ideia fantástica.
Gon estava caminhando em linha reta, mas de repente desviou de sua rota original. Ele fingiu descuido enquanto caminhava e trombou em Rio no último minuto. Seus ombros colidiram entre si.
"Oops, descul—?!"
Gon, que excedia Rio em altura e peso, recuou como se tivesse chocado com uma parede. O impacto inesperado o fez tropeçar para recuperar o equilíbrio, e ele arregalou os olhos em choque total.
"V-Você está bem, Aniki? O que aconteceu?" Um dos homens andando atrás de Gon perguntou com surpresa em seus olhos. Ele não pôde ver o que tinha acontecido por trás.
"Uh? Ah..." Gon ainda estava um pouco atordoado. Ele olhou entre seu corpo e o do Rio em comparação, incapaz de compreender o que havia ocorrido.
"Vejo que seus músculos estão bem tonificados, mas parece que sua longa jornada o deixou cansado. O sol estará se pondo em breve; posso sugerir que você se retire para seu alojamento e descanse?" Rio disse eloquentemente, dando um sorriso insincero, sem nenhuma emoção por trás dele.
"... Tch. Vamos lá, todos vocês."
Gon parecia sentir que havia algo estranho sobre Rio, mas se convenceu de que era apenas sua imaginação. Assim era o quão confiante ele estava sobre sua própria força física.
Com seus seguidores o seguindo, Gon partiu para valer desta vez.
Uma vez que o grupo deles estava completamente fora de vista, os jovens garotos e garotas da aldeia imediatamente relaxaram toda a tensão de uma vez, e soltaram um coletivo suspiro de alívio.
"Minha nossa. Todo esse tumulto desnecessário...", Yuba suspirou de exasperação.
"O-Obaa-chan. Shin e os outros estavam apenas tentando nos proteger. Então, não os culpe muito, certo?" Ruri tentou defendê-los com pressa.
"Eu sei disso, é claro. Imagino que quem causou a comoção foi provavelmente aquela criança selvagem. Depois que seus pais desistiram dele, ele nunca recebeu nenhuma disciplina adequada, e só usa sua astúcia para se sair bem, então ele é um grande encrenqueiro. Dito isso, esses meninos também foram culpados por serem provocados tão facilmente." Yuba olhou para Shin e os outros.
"Ugh..."
Depois de ser impulsivo o suficiente para dar o primeiro golpe, sem mencionar ter sido derrotado em cima disso, Shin e os outros estavam se sentindo culpados e incapazes de refutar a Yuba.
"Por enquanto, eu quero que cada um de vocês volte para casa sem mais confusão. Eu os proibi de sair, mas não abaixem a guarda. Informem aos outros da sua vizinhaça também. E certifiquem-se imediatamente de me avisar se algo incomum ocorrer.", instruiu Yuba, fazendo todos trocarem olhares antes de concordarem timidamente.
Depois de um tempo, as garotas voltaram para a casa de banho para terminar de se trocar, e depois voltaram. Com seus preparativos completos, todos começaram a se mover e voltar para casa.
No entanto, duas pessoas permaneceram congeladas onde estavam. Foram Shin e Sayo. Sayo ainda parecia assustada após os eventos de antes, pois seu corpo ainda estava levemente tremendo.
"Qual é o problema? Vocês dois devem ir para casa também.", disse Yuba.
".... Ei, Baa-chan. Eu tenho um pedido. Poderia deixar Sayo ficar em sua casa hoje à noite? Como sabe, somos só nós morando em nossa casa, e eu fiz papel de bobo mais cedo. Nossa casa não é tão longe de onde esses caras estão hospedados, então ela provavelmente está se sentindo ansiosa também, então... ela se sentiria melhor se ficasse com Ruri e Baa-chan e.… ele... eu acho." Shin franziu a testa em constrangimento enquanto inclinava a cabeça para Yuba. Ele deu uma olhada em Rio por um segundo, mas imediatamente desviou os olhos novamente.
Yuba parecia estar impressionada com isso, tanto que seus olhos se abriram ligeiramente.
"Oh? O que é isto? É estranho ver uma atitude tão admirável vindo de você, mesmo que seja pelo bem de Sayo. Será que ser agredido se tornou uma boa lição para você?" Ela riu sinceramente de Shin.
"C-Cale a boca! Fiquei muito zangado antes e causei alguns problemas, mas não é isso! Você vai deixá-la ficar ou o quê?" Shin objetou, ficando todo vermelho.
"Claro, eu não me importo. Você está certo, afinal. Sayo, fique em nossa casa esta noite." Yuba deu sua permissão e olhou para Sayo, que ainda estava com muito medo.
"Huh? Ah.... Está mesmo tudo bem?" Sayo perguntou atordoada.
"Está bem. A julgar pelo seu estado, você estaria muito assustada para dormir sozinha de qualquer maneira. Durma com Ruri esta noite. .... Ah, ou você quer dormir com o Rio em vez disso?" Yuba perguntou descaradamente e assentiu com um sorriso irônico.
".... E-Estou bem! Eu vou dormir com Ruri-san!" Sayo corou, balançando a cabeça furiosamente. Ela parecia um pouco mais com o seu eu habitual.
"Mesmo? Então, tudo bem. Quanto a você, Shin — você pode ficar aqui esta noite também. Gon pode estar guardando rancor contra você em particular."
"Eu... Bem, então. Obrigado." Shin hesitou por um momento, mas assentiu obedientemente no final.
"Ok, vamos precisar de mais dois pratos para o jantar de hoje à noite! Então, vamos começar a cozinhar?" Yuba disse, tentando alegrar o clima, antes de entrar em casa em alto astral.
"Certo. Vamos lá, pessoal.", disse Ruri, olhando para os outros três.
"Eu vou ajudar a cozinhar o arroz!" Sayo ofereceu avidamente.
"Eu tenho alguns assuntos a resolver primeiro, então por favor, voltem sem mim.", disse Rio, expressando sua intenção de ficar do lado de fora.
"Huh? Assuntos?" Ruri perguntou confusa.
"Eu gostaria de estabelecer algumas medidas de segurança, apenas por precaução."
"Hmm? Então, uuh... por favor?"
"Sim, deixe comigo."
Ruri não parecia entender, mas Rio lhe deu um sorriso torcido e assentiu.
"Ok, então. Não queremos ficar no seu caminho, portanto vamos primeiro. Você também, Shin."
".... Sim."
Shin parecia querer dizer algo mais a Rio, mas se afastou hesitantemente com o chamado de Ruri.
◇◇◇
Naquela noite, enquanto os aldeões estavam jantando, Gon e seus seguidores estavam bebendo na cabana que havia sido emprestada a eles. Espalhados no chão diante deles estava o jantar, juntamente com vários acompanhamentos preservados; era tudo insípido, sem tempero algum.
"Com certeza é chato por aqui, Aniki. Nada de interessante, assim como nossa aldeia.", disse um homem de baixa estatura enquanto servia uma bebida para Gon.
"Bem, a operação começa amanhã à meia-noite. Temos que ficar quietos até lá, especialmente porque agora temos uma boa razão para ficar aqui dentro." Gon engoliu o álcool que lhe foi servido com um sorriso.
"Haha. Você é incrível, Aniki. Causando uma comoção no início e se escondendo depois, aqueles idiotas vão baixar a guarda. É completamente perverso.", disse o pequeno homem sentado ao lado de Gon.
"Bem, é tudo para que eu possa ter meu momento com Ruri, afinal."
"Haha! Ruri é uma beleza, mas eu acho que a irmã mais nova de Shin parecia uma grande captura também."
"Ora, ora! Vejo que você é um hedonista, não é? Bem, o rosto dela não era ruim, e o fato de ser a irmã mais nova daquele bastardo deixa tudo ainda melhor. Suponho que ela seria uma boa segunda prioridade depois de Ruri." Gon esculpiu um sorriso em seu rosto.
"Deixe eu ter um gostinho dela também, Aniki."
"Claro — se você estiver bem com as minhas sobras."
"Tudo bem!" Assim que Gon deu sua permissão, seus seguidores aplaudiram vigorosamente.
Todos os homens presentes eram considerados questionáveis na aldeia de onde vieram. O grupo consistia de segundo filho ou inferior — aqueles que nunca herdariam os negócios da família — que se uniram para "seguir a batida de seus próprios tambores". À frente do grupo estava seu líder, Gon.
Gon era filho do chefe da aldeia, mas como os outros, ele era um segundo filho e tinha sido criado como um sobressalente desde a infância. No entanto, Gon foi incapaz de sentar-se calmamente e aceitar seu papel como um humano secundário como os outros.
Talvez tenha sido devido à sua educação, ou talvez porque ele ainda foi criado com amor como filho de um chefe da aldeia, mas sua personalidade se desenvolveu em uma inteligente e mimada enquanto ele crescia.
O corpo de Gon era bem construído, tinha uma quantidade considerável de força física, e tinha o talento para as artes espirituais. Sua especialidade eram as artes espirituais para melhorar capacidades físicas e aprimoramento físico do corpo — a pior combinação possível. Desde que ele tinha dez anos, nenhum dos aldeões adultos poderia enfrentá-lo, o que fez outros tratarem Gon como um pária.
Agora, ele tinha 18 anos. Em algum momento ao longo do caminho, Gon começou a reunir segundo filhos como ele ao seu lado, estabelecendo seu próprio poder na aldeia. Ultimamente, sua influência na aldeia tinha crescido tanto que nem mesmo o chefe da aldeia poderia tocá-lo. Mesmo quando ele causava problemas, era difícil puni-lo.
Em circunstâncias normais, não havia como um grupo de vândalos como Gon ser selecionado para o esquadrão comercial que vai para a capital; no entanto, os aldeões eram incapazes de recusar as exigências da gangue de Gon, permitindo-lhes o papel de escoltar as mercadorias. Eles nem tinham notado o que a gangue estava tramando secretamente por suas costas...
Recentemente, os aldeões estavam tentando persuadir a gangue de Gon a se juntar ao exército do reino, mas Gon sabia que eles estavam apenas tentando expulsá-los diplomaticamente da aldeia. Por causa disso, Gon elaborou um plano para eles partirem em seus próprios termos.
No entanto, o mundo não era tão fácil de viver para que eles pudessem deixar espontaneamente sua aldeia com nada além de seu grupo. Eles precisavam garantir seu destino de realocação com antecedência, juntamente com comida, roupas e abrigo.
Foi quando a vila de Yuba chamou a atenção de Gon. Se ele se tornasse marido de Ruri, então ele se tornaria um legítimo chefe de aldeia.
A aldeia de Yuba era vizinha da aldeia de Gon, permitindo que interagissem com bastante frequência, então Gon sabia que Ruri era a única herdeira de Yuba. Foi realmente uma oportunidade única na vida que havia caído em seu colo.
Mais importante, a aparência de Ruri era do agrado de Gon.
No entanto, ficou claro que se ele seguisse normalmente com seu plano, Ruri o rejeitaria. O fato de Gon ter decidido tentar uma abordagem mais "rigorosa" sem hesitação, mostrou o quão torcido ele realmente era.
"Tivemos todo esse trabalho de quebrar a carruagem também. É melhor tomar nosso tempo o reparando amanhã." Gon sorriu de alegria ao pensar sobre amanhã à noite.
◇◇◇
A manhã seguinte chegou sem incidentes, apesar do fato de que uma companhia indesejada havia chegado no dia anterior. Até agora, Gon e sua gangue mantiveram sua promessa, evitando contato com os aldeões e focando nos reparos de sua carruagem. Desde que esse era o caso, os aldeões expulsaram Gon do primeiro plano de suas mentes.
Embora tivessem passado o auge da temporada de colheita, ainda havia muito trabalho para todos os aldeões fazerem; eles tinham que começar a preparar grandes quantidades de alimentos para serem preservados para o inverno e também alguns produtos para serem levados à capital. Por causa disso, os aldeões estavam movendo-se enérgicamente desde o início da manhã. Quando havia passado o meio-dia, eles tinham esquecido completamente sua cautela com o grupo de Gon. Quando o sol lentamente começou a se pôr, eles encerraram seu trabalho do dia e foram para casa.
Rio terminou o trabalho que lhe foi atribuído muito cedo hoje também, então ele voltou para casa antes de qualquer outra pessoa. Yuba já estava em casa, então os dois decidiram descansar por um tempo antes de fazer o jantar. Então, assim que o chá foi servido, alguém bateu na porta da frente.
"Yuba-sama está em casa?", chamaram.
"Vou ver quem é."
"Obrigada."
Rio apressadamente levantou-se depois de pedir para Yuba ficar sentada e seguiu em direção à porta da frente. Ele abriu a porta e viu Ume parada ali.
"Boa tarde, Ume-san. Posso ajudá-la?"
"Rio. Hayate-sama chegou, então estou aqui para informar Yuba-sama." Ume deve ter corrido, já que estava um pouco sem fôlego.
"Eu ouvi. Vou encontrá-lo imediatamente — ele já está no armazém?" Yuba perguntou.
"Sim, junto com seus subordinados. Eu disse para ele se sentir em casa nas cabanas de hóspedes disponíveis."
"Entendo. Bom trabalho, Ume." Yuba assentiu satisfeita. Ela calçou seus sapatos propícios para caminhar em áreas externas, onde o chão era de barro, e se moveu para sair de casa, mas parou e se girou para falar com Rio.
"Ah, é mesmo. Rio — desculpe pedir isso a você, mas poderia adicionar mais cinco a seis porções para o jantar de hoje? Provavelmente teremos algumas pessoas se juntando a nós para uma refeição hoje à noite. Posso chamar uma das garotas da aldeia para ajudar.", pediu Yuba.
"Eu entendo... Deixe comigo. Seria melhor se a refeição fosse um pouco mais extravagante? Se assim for, eu posso ir e caçar algo agora..."
"Ooh, posso pedir isso a você? Isso seria ótimo — obrigada. Se não tiver ingredientes suficientes sinta-se livre de ir até a horta." Yuba sorriu alegremente, agradecendo a Rio por sua disposição em ajudar.
Então, com Rio a vendo partir, ela saiu em um ritmo acelerado, enquanto Rio rapidamente limpou o conjunto de chá e seguiu para a montanha caçar. Como estava com pouco tempo, ele decidiu usar as artes espirituais que geralmente se absteve de usar quando caçava.
Rio correu até o pé da montanha e alçou vôo com suas artes espirituais de vento, chegando aos campos de caça num piscar de olhos. Se os aldeões tivessem testemunhado isso, seus olhos teriam crescido do tamanho de um pires, e suas mandíbulas cairiam no chão.
Depois de avistar um pássaro Renou voando, com sua visão melhorada, Rio se aproximou por cima dele e o decapitou com um único golpe de sua espada. Pegando o corpo pelas pernas, ele foi drenando o sangue enquanto pairava no ar.
Um já foi.
Os pássaros Renou eram criaturas cautelosas que normalmente não se moviam em bandos, mas eram muito mais fáceis de caçar no ar quando sua guarda estava baixa. Com isso em mente, Rio imediatamente avistou sua seguinte presa voando um pouco longe de sua localização atual, e rapidamente partiu atrás dela.
Sua caçada continuou a progredir suavemente depois disso, e ele foi capaz de terminar tudo — incluída a limpeza — antes do sol se pôr completamente.
◇◇◇
Depois de terminar os reparos da carruagem mais cedo, a gangue de Gon estava bebendo na cabana que havia sido emprestada a eles antes mesmo do sol se pôr.
De repente, a porta da cabana se abriu. Todos os olhares na sala foram dirigidos à porta para ver um garoto na adolescência parado ali, ofegante.
"Hah... Hah..."
"Oh, o que houve? A carruagem já foi reparada?" Um Gon completamente bêbado perguntou.
O garoto era um subordinado da gangue de Gon e era frequentemente usado para executar recados para eles, já que era o mais jovem do grupo. Ele tinha sido encarregado da supervisão dos aldeões reparando a carruagem e ajudando em nome de Gon.
"Ah, Aniki! Isso é ruim! O oficial de impostos está aqui na aldeia!" O garoto gritou, fazendo com que os homens ao redor de Gon se agitassem ruidosamente.
Os oficiais de impostos eram funcionários especiais do governo. Eles eram enviados pela capital durante a época de colheita para cada aldeia para recolher impostos com base na quantidade de cultivos que foram colhidos. Era uma posição oficial que era dada apenas às pessoas mais confiáveis do reino, e aqueles que assumiam o papel eram mestres em artes literárias e militares. Eram necessários cálculos para a realização de inspeções de colheita, e os oficiais tinham que ter a força para proteger o imposto recolhido de vários perigos na estrada. Mas, o mais importante, eles tinham que ser pessoas que não abusariam de seus privilégios.
".... E daí?" Gon perguntou com uma voz firme. Ele parecia estar irritado pelo humor da festa deles ter sido arruinado.
"N-Não, é só que, o oficial de impostos não vai ficar na casa da chefe da aldeia? Nem nós podemos enfrentar um oficial do reino. Talvez devêssemos adiar o plano do Aniki...", o garoto respondeu com uma voz aguda.
"Isso não importa.", Gon respondeu infeliz e levou um copo cheio de álcool para a boca.
Os outros homens trocaram olhares.
"Mas Aniki, dizem que os oficiais de impostos são bem fortes, não é? Teve uma vez que um cara suprimiu a revolta de uma aldeia inteira sozinho.", disse um dos homens hesitante.
"Oh? Você está me chamando de fraco?" Gon olhou para ele.
"Não, claro que não!" O homem balançou a cabeça um pouco agitado.
"Além disso, vamos seguir para lá quando todos estiverem dormindo. Já que estamos falando da velha Yuba, provavelmente vai ter álcool envolvido. Mesmo que seja um oficial de impostos, guerreiro, ou apenas um camponês, uma vez que eles estão bêbados e dormindo, vão ficar indefesos."
"Bem, isso é verdade... A-Acho que você está certo." Dominados pela autoconfiança de Gon, os homens recuperaram seus nervos.
"Obviamente. Não é diferente do que fizemos antes. Assim que nossa tentativa de rastejamento noturno for bem-sucedida, Ruri desistirá e aceitará seu destino. Se ela protestar, vamos ameaçá-la. Na verdade, se quiséssemos ter certeza de que tudo aconteça sem problemas, poderíamos sequestrá-la e trazê-la com a gente. Isso pode tornar as coisas mais fáceis também, não é?" Gon disse com um sorriso lascivo.
Guiados por suas palavras, os outros homens soltaram seus risos sinistros.
◇◇◇
Rio correu para casa depois de sua caçada, mas ninguém mais tinha voltado ainda, então ele decidiu lavar o cheiro de sangue de seu corpo primeiro.
O prato principal hoje à noite seria Renou; depois de se lavar e ponderar sobre várias combinações de pratos para o menu, Rio foi em direção à cozinha e finalmente começou a trabalhar preparando ingredientes. Em pouco tempo, um aroma sedutor flutuou pela sala de estar.
Foi quando Yuba chegou em casa, acompanhada por um grupo de homens, Ruri e Sayo. A entrada da frente imediatamente se tornou mais animada.
"Bem-vindos de volta.", Rio disse para Yuba e os outros, da cozinha, que estava localizada no lado direito do piso de barro.
"Estamos de volta. O cheiro está especialmente bom hoje." Yuba sorriu amplamente para o Rio, devolvendo sua saudação.
"Verdade, o cheiro está ótimo! O que você está cozinhando, Rio?"
"Deixe-me ajudá-lo, Rio-sama!"
Ruri e Sayo correram para para ajudar na cozinha.
"De fato, este é um aroma maravilhoso... Yuba-dono, aquele garoto sempre foi um membro desta aldeia?" Um jovem cavalheiro perguntou, espiando a cozinha com piso de barro e olhando para Rio enquanto falava.
"Esse é o Rio, filho de um velho conhecido meu. Ele está hospedado em nossa aldeia agora.", disse Yuba. Rio deixou o fogão para Ruri e Sayo por um momento, enquanto saía do piso de barro para cumprimentar os convidados.
"Boa noite. Meu nome é Rio — prazer em conhecê-lo."
"Olá. Meu nome é Saga Hayate, e eu sou o oficial de impostos que visita esta aldeia. Atrás de mim estão meus assessores. É um prazer conhecê-lo."
"O mesmo aqui."
Rio e o cavalheiro chamado Hayate trocaram seus cumprimentoss. Apesar das duras feições de Hayate, ele era um jovem agradável com uma aura refrescante ao seu redor. Ele tinha uma esplêndida lâmina reta de um único gume em sua cintura e usava uma roupa semelhante a uma roupa samurai bem projetada.
Em termos de idade, ele parecia ser alguns anos mais velho que Rio.
Só para constar, era costume na região de Yagumo nomear-se a partir do nome da sua família primeiro, fazendo de "Saga" seu sobrenome e "Hayate" seu primeiro nome.
Rio e Hayate se curvaram um para o outro, cada um examinando o centro de gravidade e postura do outro. Eles secretamente determinaram que o outro não era uma pessoa comum.
"Bem, não vamos ficar parados aqui. Pessoal, por favor, venham até a sala e sentem-se. O jantar estará pronto em breve." Yuba entrou na sala e pediu para o grupo de Hayate a seguir.
"Obrigado. Aceitaremos com gratidão sua oferta." Hayate inclinou-se profundamente e removeu seu calçado antes de entrar na sala de estar.
"Por agora, voltarei para a cozinha. Por favor desculpe-me, Yuba-san."
"Sim, não se preocupe." Yuba assentiu ao ouvir a deixa de Rio. Ao mesmo tempo, Ruri saiu da cozinha para a sala de estar.
"Aqui está, pessoal. Obrigada por seu trabalho duro hoje." Ruri sorriu de uma maneira amigável enquanto servia chá para Hayate e os outros.
"C-Certo. Muito obrigado, Ruri-dono." A atitude rígida de Hayate de antes mudou completamente enquanto agradecia Ruri; havia um estranho constrangimento em seus movimentos. Ele nem tentou fazer contato visual com Ruri, aparentemente se sentindo tímido. Rio observou, e a mudança em Hayate o pegou de surpresa.
"Ruri, você pode ficar aqui e fazer companhia a todos.", disse Yuba, deixando Ruri encarregada de dar aos visitantes uma recepção calorosa. Ruri tinha uma personalidade brilhante e amigável, então ela era perfeita para o trabalho. Yuba também teve que permanecer com os visitantes, o que naturalmente deixou a cozinha para Rio e Sayo.
Rio voltou à cozinha para terminar as receitas, e virou-se para Sayo.
"Desculpe por fazer você ajudar tanto, Sayo-san. Shin-san vai estar bem com a refeição dele hoje?", perguntou ele com um olhar culpado.
"Sim. Onii-chan vai jantar na casa de Dora-san e Ume-san hoje à noite. Acontece com frequência quando visitantes importantes vêm, então por favor, não se preocupe.", disse Sayo alegremente, balançando a cabeça.
"Aconteceu algo bom?" Rio perguntou sobre o bom humor de Sayo.
"Huh? Por que você pergunta?"
"É só que você parece feliz."
Sayo inclinou a cabeça, um pouco confusa, antes de perceber o "porquê".
".... Ah!", ela sorriu timidamente, antes de hesitantemente perguntar a Rio: ".... É tão óbvio assim?"
"É sim!" Rio assentiu, fazendo Sayo ficar vermelha.
"Umm, é um segredo."
"Entendo... Então eu não vou bisbilhotar mais que isso." Os lábios de Rio formaram um brilhante sorriso. Se Sayo estava feliz, ele também estava feliz.
"... Ok." Uma expressão conflitante passou pelo rosto de Sayo por um momento, mas ela assentiu em acordo.
"Tenho certeza que todos já estão com fome, então vamos nos apressar com os preparativos."
Sayo assentiu com a sugestão de Rio.
"Está bem. Mas... eu meio que quero aproveitar esse tempo cozinhando juntos também.", ela murmurou baixinho.
Rio já tinha se afastado, então, ele não ouviu a última metade da sentença.
◇◇◇
Menos de uma hora depois, toda a comida estava pronta, e a mesa foi posta para o jantar.
"Esta é uma refeição bastante extravagante. Eu não esperava ser tratado com seu precioso estoque de carne... E essa também não é carne preservada. Deve ter sido exaustivo preparar o suficiente para tantas pessoas. Você tem meus sinceros agradecimentos." Hayate ficou surpreso ao ver todos os pratos que estavam na mesa.
Como um oficial de impostos viajando por muitas aldeias diferentes, ele tinha sido tratado com numerosas refeições na casa de cada chefe da aldeia, mas raramente serviam carne tão generosamente assim. Seus assessores estavam todos zumbindo alegremente também.
"Rio é um caçador excelente. Ele é realmente multi-talentoso, e tem sido uma grande ajuda em nossa aldeia." Ruri elogiou Rio com orgulho.
"Oh? Então Rio-dono não só preparou a comida, mas também caçou a carne? Embora meu grupo pode caçar, quando se trata de cozinhar, o máximo que podemos fazer é assar a carne e preparar alimentos simples de fogueira. Ser capaz de fazer tudo isso tão jovem é muito impressionante." Hayate elogiou Rio com admiração junto à Ruri. Os "alimentos de fogueira" que ele falou eram os suprimentos de alimentos que eles usavam durante suas operações de campo.
"Viajei sozinho por algum tempo, então peguei a habilidade naturalmente. Eu estive responsável do prato principal, mas Sayo-san fez todos os outros pratos. Por favor, comam antes que esfriem.", disse Rio, olhando para Sayo, levando todos os assessores masculinos a se animarem.
"Ooh, a comida de uma mulher!"
Sayo abaixou a cabeça em constrangimento. Rio sorriu ironicamente, e Hayate repreendeu seus assessores com vergonha.
"Acalmem-se, todos vocês. Bom, vamos começar a comer imediatamente. Vocês têm minha mais profunda gratidão por sua excepcional hospitalidade." Hayate limpou a garganta e sentou-se de forma reta.
Yuba tomou isso como um sinal. "Então, vamos comer.", disse ela, e todos começaram a refeição.
"Se eu puder perguntar, Rio-dono, que tipo de carne leva esse prato? Posso dizer que é a carne de algum tipo de ave, só não estou familiarizado com o cheiro. Mas o aroma é muito apetitoso, devo dizer.", perguntou Hayate, pegando uma fatia da carne entre seus pauzinhos e aproximando-a do nariz para cheirar.
"Essa receita é uma que eu adquiri durante minhas viagens por países estrangeiros, que envolvia assar a carne com ervas. O aroma um tanto único é característico dessa receita, mas o ingrediente principal é o pássaro Renou."
"Entendo... pássaro Renou, hm? Ah, isso é de fato... como devo descrever isso... delicioso!"
Hayate engoliu a baba e colocou a fatia de carne em sua boca. No instante em que ele a mordeu, o sabor suculento da carne — com seu tempero perfeitamente complementado — explodiu em sua boca, fazendo seus olhos arregalarem.
Vendo sua reação, os assessores pegaram a carne grelhada com ervas às pressas, murmurando em uníssono devido ao delicioso sabor em suas línguas. Eles devoraram o arroz junto com a carne.
"Como você criou um sabor tão maravilhoso?" Hayate perguntou com grande interesse.
"O tempero principal é sal e pimenta, mas também usei algumas ervas especiais e óleo que não são nativos dessa área para sabor. O ingrediente secreto é um pouco de mel.", explicou Rio.
"Ooh, você usou pimenta? Um ingrediente tão valioso.... Esteve realmente bem usar todos esses ingredientes que não são nativos do nosso reino?" Hayate perguntou surpreso, com um pouco de remorso.
"Está tudo bem. Seria inútil guardá-los para sempre, de qualquer maneira. Decidi usá-los quando soube que um convidado importante estava visitando a aldeia."
O sal era colhido em certos reinos com climas temperados nas regiões de Yagumo e Strahl, por isso, embora fosse caro, não era impossível obter. Embora Rio tivesse todos os ingredientes que ele poderia querer preservados no Armazenamento Espaço-Tempo, não foi tolo o bastante para revelar isso abertamente, então inventou uma mentira que era adequada para a situação.
Bem, essa não foi a única razão. Se ele pudesse usar essa oportunidade para ganhar o favor de seus convidados, poderia beneficiar a aldeia se algo acontecesse no futuro. Parecia que tudo estava indo exatamente como Rio havia planejado, já que Hayate parecia estar revisando sua avaliação de Rio de forma positiva.
"Umm, a pimenta é um ingrediente caro?" Ruri perguntou, ainda insegura do valor do item.
"Bem, não é grande coisa nas áreas onde é produzida, mas não é barato comprar em nosso reino. A última vez que vi nos mercados da capital, foi por dez vezes o preço do sal.", respondeu Hayate, pensativo.
"Huh?!".
"Fweh?!"
Os olhos de Ruri e Sayo se abriram em choque. Embora Yuba não fez nenhum barulho, seus olhos se arregalaram um pouco também.
Rio havia usado pimenta nos pratos que preparava para Yuba e Ruri várias vezes antes, mas ele nunca havia revelado o valor do tempero. Não era o tipo de item que os aldeões teriam interesse durante suas vidas, então era natural que Ruri e os outros não soubessem de seu valor.
"Rio, você tem usado algo tão caro com a gente esse tempo todo?! Você deveria ter dito isso!" Ruri gritou em choque, perplexa.
".... E~tto, eu não disse que tinha muito menos pimenta do que sal?"
"V-Você pode ter mencionado isso, mas nunca disse que era tão caro! Ugh..."
"Hm, eu comprei em uma das áreas de produção, então não foi tão caro."
"M-Mesmo assim. Se era um item tão valioso, você poderia ter guardado para si mesmo..."
"Eu disse que não havia sentido em guardá-la para sempre, não foi? Não se preocupe com isso, realmente. Vamos lá, vamos jantar antes que esfrie." Rio balançou a cabeça com um sorriso irônico.
Assim, eles se resolveram e retomaram a refeição. Eventualmente, a bebida especial da aldeia foi servida, transformando a cena em uma animada comoção. Quando Rio e Sayo prepararam alguns acompanhamentos para as bebidas, os assessores já estavam corados pelo álcool.
"Vocês todos vão sentir isso amanhã se beberem demais agora.", disse Hayate, seu superior, com um suspiro.
"Haha — nós sabemos, Hayate-sama.", os assessores responderam com uma risada tensa.
No momento, a conversa foi dividida entre Yuba e os assessores em um grupo, e Rio, Ruri, Sayo e Hayate em outro grupo.
"Você não vai beber nem mesmo um copo, Hayate-dono?" Rio perguntou.
"Não é que eu não queira, é simplesmente que eu tento me abster de beber quando estou em um trabalho.", respondeu Hayate estoicamente.
"Entendo.", respondeu Rio com admiração.
"Ruri-dono e Sayo-dono à parte, por que você não está bebendo também Rio-dono? Não há necessidade de se conter só porque estamos aqui." Hayate fez a mesma pergunta a Rio.
"Eu tenho meu treinamento diário para fazer depois disso, então estou praticando auto-restrição por hoje."
"Oh, então você estuda alguma forma de artes marciais. Imaginei que seria algo assim ao ver sua postura."
"Sim. É apenas um passatempo, no entanto."
"Hahaha. Não precisa ser modesto sobre isso. Você viajou pelo mundo em uma idade tão jovem — tenho certeza de que possui uma habilidade considerável. Pode me contar algumas histórias de suas viagens? Raramente tenho a chance de deixar o reino e viajar para outro lugar.", disse Hayate com uma risada suave.
"Pode não ser muito interessante para você.", avisou Rio com antecedência, assentindo.
Hayate seguiu em frente e começou a questionar Rio sobre sua jornada. Ruri e Sayo ouviam atentamente a maior parte, ocasionalmente interrompendo com suas próprias perguntas para Rio. Ele respondeu às perguntas revelando apenas o que lhe era, mas ele eventualmente, eles perguntaram sobre a terra natal de seus pais, a qual ele nomeou como o Reino Karasuki.
"Então, seus pais nasceram neste país. Sendo assim, é possível que você tenha sido nomeado em homenagem à pessoa que apareceu nas lendas do nosso reino." Hayate assentiu em compreensão.
"Aah, você quer dizer a lenda do Herói Ryo? Isso traz de volta algumas memórias. Meu pai costumava me contar sobre isso.", disse Ruri nostalgicamente, a história em questão imediatamente veio à mente dela.
"É uma história famosa?" Rio inclinou a cabeça e perguntou para Sayo, que estava sentada ao lado dele.
"Sim. Todos os aldeões a ouvem quando são crianças." Sayo assentiu.
"Que tipo de lenda é?"
"Deixe-me ver. Se bem me lembro..." Hayate começou a contar a história.
Era uma vez, há mais de mil anos (antes da formação do Reino Karasuki), seres malignos corriam desenfreados por toda a terra, ameaçando a subsistência das pessoas. Eles devastaram a terra, deixando um enorme rastro de morte e desespero por onde passavam. Foi quando o herói, que as pessoas mais tarde chamariam de Ryo, apareceu.
Ryo era uma pessoa forte, gentil e excepcional. Ele foi capaz de enfrentar e derrotar sozinho os seres malignos contra os quais as pessoas da época eram impotentes. Ele compartilhava sua comida com qualquer um à beira de morrer de fome, e curava os graves ferimentos de qualquer um num piscar de olhos.
Foi dito que ele também ensinava artes espirituais para o povo da região de Yagumo, quando quase não havia usuários.
Pessoas de todos os lugares se reuniram nestas terras para confiar em Ryo. Eles o colocaram num pedestal como seu herói, e era apenas uma questão de tempo até que um novo reino fosse estabelecido ao seu redor.
No entanto, Ryo era apenas um homem, e havia um limite para o que ele poderia fazer sozinho.
Não importa quantos seres malignos derrotasse, eles continuavam a aparecer do nada. Ao mesmo tempo, surgiram surtos de cidadãos em situação de pobreza que ouviram os rumores, buscando sua salvação. Apesar disso, Ryo continuou lutando sem descanso, e continuou a agir como um salvador sem pausa. Ele continuou protegendo sem descanso. Por ele ser tão forte e tão gentil, ele sozinho continuou sendo o herói perfeito para o povo.
Não importa o quanto ele sofreu, Ryo manteve a imagem de um herói completamente impecável... até o momento em que houve baixas em massa.
Um dia, Ryo declarou que tinha localizado o lugar de onde os seres malignos estavam surgindo. Seu plano era ir até lá imediatamente para eliminá-los, porém ninguém mais era capaz de ficar de pé e lutar ao lado dele. Assim, acompanhado por apenas um companheiro de viagem, Ryo partiu para o lugar de onde os seres malignos se originavam, deixando o povo para trás esperarando seu retorno.
Foi quando a tragédia ocorreu.
Enquanto Ryo estava fora, hordas de seres malignos emboscaram os humanos com força total. Aqueles que enfrentaram os seres malignos o fizeram com seus exércitos, mas sem Ryo lutando ao lado deles, seu número de mortos só continuou a subir cada vez mais. Quando Ryo voltou, as terras estavam completamente devastadas pela guerra que eclodiu em sua ausência.
Ryo usou sua poderosa força para aniquilar os seres malignos em um instante, mas assim que a guerra acabou, alguém falou.
Porque?
Por que não veio nos salvar antes?
Por que nos deixou aqui para morrer?
Embora Ryo tenha se desculpado por chegar tarde, alguém mais insistiu:
Os mortos não voltarão.
Os mortos não descansarão em paz só porque você se desculpou.
Claro, não é como se nunca tivéssemos nenhuma baixa até agora...
No entanto, nunca houve uma única batalha que tenha causado tantas mortes como esta, e as expectativas das pessoas tinham sido traídas. O descontentamento que havia se acumulado durante a guerra entre o povo cresceu como uma massa coletiva, e explodiu de uma só vez.
Mesmo havendo alguns dentro dessa massa que tentavam acalmar os outros, não havia como a voz de poucos ser ouvida na multidão tumultuada.
Ryo não cumpriu seu dever como herói — o povo o viu culpado desse pecado — mas ele abaixou a cabeça diante deles e aceitou suas críticas de olhos fechados.
Como resultado, Ryo declarou-se inadequado para o título de rei, e renunciou ao trono.
A nova dinastia começou pouco depois — o antecedente do atual Reino Karasuki.
A vida continuou pacificamente daí em diante, sem mais ataques dos seres malignos. Uma vez que um longo período de tempo passou sem conflitos, as pessoas finalmente perceberam que Ryo tinha destruído as origens dos seres malignos, precisamente como ele disse que faria.
Assim, as pessoas começaram a ponderar alto em memória. Onde Ryo pode estar neste momento? Eles se perguntavam, mas a essa altura, Ryo já havia desaparecido da terra.
"A ameaça de seres malignos atacando esta terra diminuiu, mas eles ainda existem. Devo eliminar os perigos que restam.", disse ele a algumas pessoas antes de deixar o reino.
O rei anunciou publicamente a verdade ao povo: uma admissão de que eles haviam cometido um crime imperdoável ao afastar Ryo, o que levou as pessoas a refletir.
Depois de passado algum tempo, eles começaram a contar sobre as lendas de Ryo, passando suas histórias de uma geração para outra. Eles reconheceram suas falhas, e rezaram para que um dia seu herói retornasse.
Uma vez que Hayate terminou sua história, soltou um pequeno suspiro.
"Eu não sei se este conto popular realmente aconteceu ou não. Nem sei se esse Ryo realmente existiu. No entanto, acredito que é uma história que deve ser transmitida. Há muito que pode ser aprendido com ela.", disse ele.
"Eu sempre senti pena do rei naquela história e chorei por ele quando eu era pequena. Ainda me faz sentir um pouco triste, mesmo agora.", murmurou Ruri com um sorriso abandonado.
"Acho que chorei na primeira vez que ouvi também..." acrescentou Sayo. "Mas o Herói Ryo da história parece encantador."
"O nome dele é muito parecido com o do Rio, afinal.", brincou Ruri.
"E-Essa não é a razão!" Sayo disse, corando.
"Ahaha...", Ruri riu. "Mas, se os pais do Rio realmente o nomearam com base nessa história, eu me pergunto que tipo de significado eles queriam deixar para trás. Eles queriam que ele se tornasse alguém como Ryo?" Ruri disse, ponderando para si mesma.
".... Quem sabe?" Rio disse com um suave, e um tanto carinhoso sorriso.
Os quatro continuaram a conversar por mais um tempo.
"Aqui está, Hayate-sama. Por favor, tome um pouco de chá." Ruri serviu um pouco de chá e ofereceu a Hayate ao lado dela.
"Ah, certo. Obrigado.", quando o corpo de Ruri se aproximou dele, Hayate ofereceu sua gratidão. Ele tomou um gole do chá antes de expressar sua forte impressão do sabor. "É delicioso."
"Você não precisa exagerar. É apenas um produto barato que os aldeões bebem."
"Não, isso não é verdade em absoluto. Ruri-dono serviu este chá. Um chá comum nem pode se comparar."
"Ahaha. Você me lisonjeia." Ruri percebeu as palavras de Hayate como um elogio, e riu com diversão.
Que pessoa fascinante. Rio pensou enquanto observava os dois com um sorriso.
Embora Hayate pudesse ser um pouco brusco e desajeitado, era uma pessoa honesta e genuína. Ele era o herdeiro de 18 anos de uma das famílias de artes marciais avançadas do reino. Apesar de usar o manto de sua linhagem familiar, ele nunca usou sua posição para dominar os outros. Normalmente, ele se portava com dignidade, mas quando se tratava de Ruri, suas reações pareciam um pouco inocentes e ingênuas. A impressão de Rio sobre Hayate era bastante favorável.
Por outro lado, Ruri já era uma garota em idade de casar e muito apreciada por vários dos jovens aldeões. Mesmo como seu primo, Rio a achava encantadora. Ele esperava que ela se casasse com alguém que não tivesse nenhuma reputação fora da aldeia, mas a própria Ruri nunca tocou nesse assunto, e, portanto, não parecia interessada.
Junto veio Hayate — um jovem com um futuro altamente promissor, que já parecia ter se apaixonado por Ruri. Claro, embora a decisão final do casamento dependesse, em última análise, dos dois, Hayate certamente não tinha deficiências como candidato para se tornar marido de Ruri.
Com esse pensamento, Rio despreocupadamente começou uma conversa com Sayo ao seu lado, na esperança de dar a Ruri e Hayate o espaço para falar um com o outro sozinhos. Sayo parecia estar pensando da mesma forma que Rio, aproveitando com entusiasmo a chance de conversar com ele.
Assim, o tempo passou num piscar de olhos.
"Se conversarmos por mais tempo do que isso, estaremos todos exaustos pela manhã. Vamos encerrar a festa agora.", sugeriu Hayate. Ele estava gostando muito de sua conversa com Ruri, mas ao mesmo tempo, sabia quando recuar.
"Sim, vamos. Sayo-chan, você deveria ficar aqui hoje à noite. Já é tarde, então você pode dormir comigo." Ruri disse, decidindo que seria melhor para Sayo; não havia necessidade de informar Shin, pois ele já sabia que havia uma chance de isso acontecer.
Eles rapidamente limparam tudo e se retiraram para suas camas, com exceção de Rio, que foi completar seu treinamento.
◇◇◇
Rio balançou sua espada sob a cobertura da noite no jardim da casa da chefe da aldeia. Sua respiração saía bruscamente, seu corpo emitia calor e um vapor branco subia de sua pele. Depois de balançar atentamente sua espada por vários minutos, ele respirou fundo e devolveu a espada à bainha.
"Ufa..."
Já era tarde da noite, então ele decidiu encerrar e imediatamente foi em direção à casa de banho nas proximidades. No entanto...
"Hm?" Rio congelou no local, sentindo uma presença oculta na escuridão.
Ele mudou o olhar para a direção da presença; ao mesmo tempo, manipulou o vento com suas artes espirituais, soprando uma brisa leve na mesma direção.
As artes espirituais relacionadas ao vento também eram boas para detectar essência, pois um usuário de artes espirituais do vento de alto nível era capaz de liberar o vento embutido com uma quantidade fraca de sua própria essência. Esta tática permite que o vento detecte a essência de qualquer coisa que ele toque.
Rio não pôde confirmar visualmente a figura de alguém devido à escuridão, mas pôde detectar a ligeira quantidade de essência proveniente do que provavelmente era uma pessoa andando pela estrada em frente à casa da chefe da aldeia.
Alguém está andando por aí a essa hora?
Já era tarde o bastante para a maioria dos aldeões estar dormindo, mas não o suficiente para dizer que não poderia haver ninguém lá fora neste momento.
Houve apenas a reação de uma essência, e seu dono estava ficando cada vez mais longe da casa da chefe da aldeia.
.... Bem, tanto faz.
Se não estava chegando mais perto, então não havia necessidade de prestar mais atenção. Rio pegou a toalha que deixou ao lado e enxugou seu suor.
Com o grupo de forasteiros de Gon hospedados na aldeia, ontem Rio havia secretamente colocado barreiras mágicas que poderiam detectar intrusos ao redor da casa de Yuba. Se alguém entrasse no terreno, ele saberia imediatamente. Especificamente, se um ser vivo com uma certa quantidade de essência cruzasse a barreira, a pedra espiritual sendo usada como fonte de essência para a barreira reagiria emitindo uma enorme quantidade de luz e calor. A eficácia da barreira poderia ser alternada à vontade, e a barreira não seria ativada se a pedra espiritual fosse levada para fora da barreira.
Como muitas pessoas sempre entravam e saíam durante o dia, Rio mantinha a barreira desligada durante o dia e ativava seu efeito à noite.
No momento, o núcleo de pedra espiritual da barreira estava em silêncio.
Depois que Rio lavou o suor do corpo e se limpou no banho, ele se retirou para o quarto e adormeceu.
◇◇◇
Não muito tempo depois de Rio adormecer, em uma pequena cabana nos arredores da aldeia...
"Vamos indo.", disse Gon em tom impaciente.
Cerca de uma hora atrás, ele enviou um de seus subordinados para vasculhar a casa da chefe da aldeia com antecedência. O subordinado relatou ter ouvido alguém no jardim, então eles esperaram de prontidão até agora.
Graças a isso, a inquietação estava reprimida dentro dele. Incapaz de suportar esses sentimentos precipitados por mais tempo, Gon se levantou e saiu da cabana com vários outros homens.
Embora sua visão tenha sido comprometida pela escuridão, eles em silêncio e com cuidado chegaram até a casa de Yuba. Nenhum aldeão estava acordado a esta hora da noite, fazendo o silêncio dominar o ar ao redor da aldeia.
Quando chegaram diante da casa da chefe da aldeia, com movimentos praticados, Gon deu a volta ao lado da casa e removeu a janela deslizante de madeira localizada ao lado de uma sala em particular. Ele tinha visitado a casa de Yuba inúmeras vezes antes enquanto acompanhava seus pais, então sabia onde o quarto de Ruri estava localizado. Ele também sabia que a porta deslizante era o ponto de entrada mais fácil.
A porta deslizante de madeira era apoiada por uma vara por dentro, mas essa vara não tinha efeito se toda a porta fosse removida, embora não houvesse nada que ele poderia fazer sobre o barulho moderadamente alto que isso causaria.
Gon entregou a porta deslizante removida para um de seus seguidores e rapidamente entrou na sala. Mal se passou um minuto desde que entraram na propriedade.
Hm? Há duas?
Ele congelou ao ver duas garotas dormindo em dois tapetes espalhados diante dele.
Tch. Por que tem duas delas? Ruri e... Quem é essa? Já vi esse rosto em algum— Ooh, é a irmã do Shin!
O inesperado giro dos acontecimentos fez Gon estalar a língua. Ele se aproximou das duas figuras para ver melhor seus rostos no escuro. Imediatamente identificou um deles como seu alvo, Ruri, e tardiamente percebeu que o outro era o rosto de Sayo. Um sorriso largo se espalhou pelo rosto de Gon.
"Mm... Tem alguém aí?" Ruri se mexeu ao lado de Sayo. Provavelmente tinha sido despertada pelos sons de antes, e a presença de alguém no quarto.
"Tch.", Gon estalou a língua novamente. Ele se inclinou sobre o corpo de Ruri e tapou a boca dela.
"Mmgh?"
Naturalmente, essa anomalia fez os olhos de Ruri se abrirem.
"Quieta. Se você fizer um barulho, vou fazer você se arrepender.", Gon ameaçou bem na cara de Ruri. Com essas palavras, ela percebeu quem era o intruso.
Gon.
"Mmm! Mm, mmrgh!" Não querendo ceder à demanda de Gon, Ruri começou a chutar e lutar.
"Ei, eu disse para não se mexe—", Gon tentou ameaçá-la ainda mais, mas desta vez, Sayo acordou.
"... Ruri-san? Huh? U-Uum, que—"
Merda— Com esse pensamento, no calor do momento, Gon lançou um soco ao lado do rosto preso de Ruri com grande força. Thump. Fez um barulho contundente que ecoou, fazendo os corpos de Ruri e Sayo se estremecerem completamente.
"Escutem!"
Gon falou com elas em um sussurro baixo, mas intimidador. Ele agarrou Ruri pelo colarinho e lançou o punho no rosto dela, parando momentos antes de fazer contato.
"Se você continuar atrapalhando, o próximo vai no seu rosto. Entendeu?", ele continuou.
Oprimida por sua intensidade, Ruri parou de resistir.
"Hmph.", Gon mostrou uma expressão satisfeita. "E isso vale para você também.", disse ele, agarrando Sayo pelo colarinho.
“A-Ah... Uh..."
"Me ouviram? Balancem a cabeça." A abordagem violenta deixou Sayo em lágrimas, enquanto Gon continuava a pressioná-las ameaçadoramente. Sayo quase assentiu com a cabeça dela, mas...
"O-O que— Você— Gah?!"
Os gritos de um dos seguidores de Gon podiam ser ouvidos do lado de fora da porta deslizante. Ao mesmo tempo, o som de algo pesado sendo jogado ecoou.
"O que está acontecendo, Rio-dono?! Que— Você aí, o que acha que está fazendo?!"
A voz de Hayate podia ser ouvida mais longe, o que significava que quem derrotou o seguidor de Gon agora provavelmente foi Rio. Ele tinha detectado uma anormalidade no núcleo da pedra espiritual da barreira mágica e veio correndo.
"Merda, temos que correr!", as vozes dos homens lá fora estavam dizendo. Tudo se tornou barulhento de uma só vez.
"Espere! Você não vai escapar!"
Hayate perseguiu o homem que tentava fugir.
"Porra, eles nos encontraram! Como— Gwah?!" Gon estava visivelmente irritado com a virada dos acontecimentos, quando uma luz deslumbrante brilhou na sala do lado de fora, fazendo tudo diante dele se transformar em um branco puro.
Rio cegou a visão de Gon, tendo estendido a mão esquerda e acendendo uma luz na sala com artes espirituais. Assim que viu Gon segurando Sayo pelo colarinho e as roupas desordenadas de Ruri, Rio perguntou a Gon com um tom completamente gelado:
"... O que você está fazendo?"
"Kuh, foda-se!" Gon apressadamente soltou seu agarre do colarinho de Sayo e correu em direção à porta do lado de fora. Ele pretendia derrubar Rio à força da frente da porta, mas...
"Gah! Hah?!"
Rio facilmente o mandou voando de volta, suas costas bateram no chão com um forte golpe. Ele nem teve tempo de se preparar para a aterrissagem, colocando uma enorme quantidade de pressão em seu peito e tirando o fôlego de seus pulmões.
".... Por que está correndo? Eu perguntei o que você estava fazendo. Responda-me."
O rosto de Rio estava completamente vazio de expressão quando ele olhou para Gon, que estava ofegante.
"Hah... Hah... Hh..."
"Qual é o problema? Responda-me. O que você estava tentando fazer?"
"Hahn... Hh..." Gon arquejou pela boca, desesperadamente buscando por oxigênio.
"Oi, se apresse e me responda. Você quer respirar, não é?" Rio agarrou Gon bruscamente pelo colarinho. Apertando o agarre em volta do pescoço, Rio intencionalmente tornou ainda mais difícil para Gon respirar.
"Hah... Ahh... rastejamento...noturno... para v-violar..."
Em uma tentativa desesperada de ser salvo, Gon falou sem pensar sobre o "rastejamento noturno" e sua intenção de "violar" as garotas. Sua voz era tão tensa, que era difícil distinguir os sons claramente, mas isso não importava. Rio sabia a resposta antes mesmo de perguntar.
"Oh, sério?" Ele balançou a cabeça de forma monótona, em seguida, golpeou o rosto de Gon com toda a sua força.
"Gah! Agh!" Gon gemeu de dor.
"... Ainda não acabei." O punho de Rio afundou no rosto de Gon de novo.
Ele não hesitou nem um momento; havia até mesmo alguma intenção assassina por trás de seu soco. Era difícil acreditar que essas eram as ações de alguém que uma vez sentiu uma certa relutância em matar alguém que tentou matá-lo primeiro. No momento em que Rio pôs os olhos na cena de Gon atacando Ruri e Sayo, sua cabeça foi preenchida com as memórias da última vez que ele viu sua mãe.
Ele nunca esqueceria isso.
A visão de Ayame sendo usada como um brinquedo por homens a fim de proteger seu impotente filho de 5 anos...
Antes que percebesse, Rio estava descarregando suas emoções em Gon, seu corpo se movia por vontade própria.
Não havia como conter o ódio sem fim que fluía dele. Algo havia rompido dentro dele — ele tinha perdido completamente a cabeça.
".... Ah, ah, ah..."
Gon implorou por sua vida através de pequenos arquejos, mas Rio não deixou de lançar seus socos nem por um segundo.
Ele não o deixaria cair inconsciente.
Ele não lhe daria uma morte fácil.
Ele nunca o perdoaria, não importa o quê.
Só depois de machucá-lo até os limites da dor que seu corpo poderia suportar, ele o mataria.
Essa era a única coisa na mente do Rio enquanto movia o punho com a quantidade certa de controle. Ele não podia ver mais nada ao seu redor, mas sua raiva que beirava a insanidade engoliu aqueles que assistiam.
O corpo de Ruri simplesmente tremia, enquanto Sayo chorava para que Rio parasse. Hayate permaneceu imóvel, atordoado.
"O que está acontecendo?" Despertados pela comoção, Yuba e os assessores de Hayate vieram correndo pela porta da frente com tochas na mão. Graças a isso, Hayate finalmente saiu de seu estupor.
"N-Não! Chega, Rio-dono! Ele vai morrer se você o bater mais!", disse ele em pânico, tentando parar Rio.
Ele vai morrer?
Claro que vai, Rio estava tentando matá-lo afinal. Estimulado pelas palavras de Hayate, Rio montou no corpo de Gon e se preparou para socá-lo ainda mais, mas Hayate agarrou o punho de Rio antes que fizesse contato. Ele olhou para Ruri e Sayo, que estavam assustadas.
"Espere, Rio-dono! Eu entendo como você se sente, mas você está assustando as garotas. Este homem receberá um castigo no devido tempo, mas devemos ouvir o testemunho dele também. Então, por favor. Você poderia parar?", ele implorou fortemente.
Rio finalmente recuperou a razão e olhou para as duas dentro do quarto. Seus olhos fizeram contato com os de Ruri, que imediatamente desviou o rosto, enquanto Sayo estava olhando para Rio com uma terrível tristeza em seus olhos. Foi quando Rio finalmente deixou seu punho cair.
Ainda assim, uma raiva indescritível continuou a girar dentro de seu peito. Ele não suportaria mais olhar para o rosto de Gon, caso contrário, realmente o mataria.
"Gah... Hah... Hah..."
Rio soltou a gola de Gon e bateu a parte de trás da cabeça dele contra o chão — com força. O rosto de Gon já estava tão inchado que ele não podia nem sentir mais dor pelo impacto. Sua respiração saía em suspiros irregulares e era difícil dizer se ele ainda estava consciente ou não.
Rio soltou um suspiro pesado, cheio de toda a sua irritação em relação a Gon; ele não sentiu nem um pingo de culpa olhando para o estado dele. Rio calmamente se perguntou se era uma pessoa de coração frio, como se ele fosse uma pessoa alheia observando a situação.
"Esse é... Gon?" Yuba se aproximou com medo, e usou a tocha em sua mão para iluminar a área do rosto de Gon.
"Sim. Foi pego em flagrante tentando abusar de Ruri-dono e Sayo-dono. Por favor, cuide delas."
Hayate deu uma breve explicação a Yuba antes de olhar para as garotas.
".... Eu entendo." Yuba assentiu com uma expressão solene e seguiu até as garotas dentro do quarto.
"Todos vocês, dividam-se. Um grupo irá apreender os cúmplices que foram nocauteados lá fora, enquanto o outro grupo seguirá para a cabana onde seus companheiros de viagem estão hospedados e investigará a situação por lá.", Hayate disse para seus assessores, que assentiram e rapidamente seguiram suas ordens.
Em seguida, Hayate começou a lançar uma arte espiritual curativa no rosto ferido de Gon. Ele convocou uma leve luz curativa em sua mão e a aproximou do rosto de Gon. O ritmo de recuperação era claramente lento, no entanto; Hayate talvez não se especialize em artes espirituais curativas, ou ele poderia estar enfraquecendo o efeito curativo de propósito. Rio era capaz de usar um nível muito mais forte de arte espiritual curativa, mas escolheu ficar ali e observar em silêncio.
Eventualmente, Gon recuperou-se até um certo ponto, e gemeu.
"Uh, uugh..."
"Ei, você está acordado?" Hayate perguntou.
"I-Is... Isso dói... dói muito... me... ajude..." Gon estava movendo a boca desesperadamente.
"... Hayate-dono. Permita-me lidar com a cura. Eu me especializo em artes espirituais curativas, então eu possa curá-lo, mas só até o ponto em que ele possa falar corretamente."
Ninguém sabia o que Rio estava pensando quando fez tal oferta a Hayate. Sem esperar a resposta de Hayate, ele se aproximou e colocou uma mão contra o rosto de Gon para lançar a arte espiritual.
"Oh... Isso é.…" Hayate murmurou, vendo o inchaço no rosto de Gon desaparecer.
Por um momento, ele temeu que Rio matasse Gon na hora, mas ver a cura sendo realizada exatamente como dito o fez dar ao Rio o benefício da dúvida. Cerca de dez segundos se passaram até que o rosto de Gon se recuperou o suficiente para ele abrir os olhos. Rio parou suas artes espirituais de cura e deu a Gon uma ordem direta.
"Ei, acorda. Você pode falar agora, certo?"
"E-Eek! Você!" Gon abriu os olhos inchados, apenas para ver o rosto de Rio e reagir em choque. Ele tentou reunir sua força e gritar, mas a dor fez seu rosto se contrair em uma careta apertada.
"Veja como você fala. Quem você acha que te curou? Quer que eu desfaça o que eu acabei de fazer?" Rio disse friamente, fazendo Gon engolir com medo puro. Sua hostilidade em relação ao Rio tinha se acalmado completamente e seu olhar vagou em busca de ajuda.
"Rio-dono..." Incapaz de encontrar os olhos de Gon, Hayate chamou o nome de Rio.
"Hayate-dono. Como isso vai ser tratado?" Rio perguntou com uma voz fria.
".... Embora não tenha sido bem-sucedida, uma tentativa de violação ainda é crime. Ele foi pego em flagrante, comigo, um oficial do governo, como testemunha. Ninguém reclamaria se ele fosse executado aqui e agora. Ou, você poderia pedir punição do reino, nesse caso ele seria condenado à pena de morte, ou forçado à escravidão penal. No entanto, ele tem laços com esta aldeia, então a decisão final cabe às partes afetadas ou a Yuba-dono.", respondeu Hayate, olhando para Ruri e Sayo.
"Compreendo..." Rio respondeu franzindo a testa, mas imediatamente assumiu a máscara sem emoções em seu rosto enquanto olhava para Gon com um olhar gelado.
"É assim que vai ser. Você vai se comportar até que tudo esteja resolvido, não vai?"
"Eek..." Gon tremeu assustado.
"Responda-me."
"E-Eu sei! Ah, q-quer dizer, eu entendo! Eu vou me comportar!" A leve irritação de Rio fez Gon responder com medo.
Parece que a hipnose está funcionando. Rio lançou um olhar examinador na direção de Gon.
Ele tinha lançado uma arte espiritual de hipnose em Gon enquanto o curava antes. Embora os efeitos das artes da hipnose não fossem permanentes, elas eram frequentemente usadas para fins imorais, de modo que a vila Seirei no Tami as tratava como artes proibidas, dependendo da intenção do uso e do assunto sugerido. Desta vez, a hipnose que Rio tinha lançado se inclinava para aquelas artes proibidas. Ele tinha plantado a sugestão de que Gon devia temê-lo.
Rio nunca tinha lançado nenhuma arte de hipnose até agora, mas ele não hesitou em usá-la em Gon. Mesmo que fosse contra sua própria moral, ele queria esmagar completamente a mente de Gon.
Gon já tinha levado uma surra severa pelas mãos de Rio, então os efeitos da hipnose agiram facilmente. Era até possível que os efeitos persistissem depois que a hipnose passasse.
O rosto de Rio torceu com uma expressão amarga enquanto desviava seu olhar para longe de Gon. Então, ele olhou em volta para todos e ofereceu algumas palavrsa de desculpas.
".... Por favor, aceitem minhas mais profundas desculpas por perder minha compostura tão terrivelmente. Deve ter sido bastante desagradável de ver, especialmente para Ruri-san e Sayo-san..."
"N-Não, não mesmo. Está tudo bem."
"M-Muito obrigada, Rio-sama!"
Ruri balançou a cabeça hesitantemente enquanto Sayo agradeceu a Rio com uma voz aguda.
".... Não, não fiz nada que mereça ser agradecido. Fiz algo que machucou vocês duas ainda mais do que já estavam."
"Está bem, Rio. Nós estamos bem, de verdade..." Ruri respondeu preocupada por causa da expressão arrependida no rosto de Rio. Ela realmente queria perguntar como ele estava, mas por alguma razão, sentiu como se não devesse.
"Desculpem, estou me sentindo um pouco cansado. Posso deixar o resto para vocês?" Rio desviou seu olhar de Ruri e Sayo com culpa, virando-se para Yuba e Hayate. Ele sentiu que não deveria permanecer no local por mais tempo.
"Claro, podemos conversar corretamente depois. Deixe isso conosco por enquanto. Obrigada." Yuba assentiu com um sorriso gentil. Hayate também olhou nos olhos de Rio e assentiu com força.
"... Muito Obrigado. Então, se me dão licença." Com essas palavras, Rio deu meia-volta e saiu do quarto.
"Ah..." Sayo estava prestes a seguir atrás de Rio quando a mão de Ruri a deteve. Seus ombros caíram enquanto ela se perguntava atordoada se estava realmente tudo bem deixar as coisas assim, mas Ruri simplesmente balançou a cabeça. Não havia como saber a resposta para isso.
Rio voltou para seu quarto e deitou em seu tapete de dormir, olhando para o teto. Seu rosto contorcia à beira das lágrimas enquanto refletia sobre si mesmo e quão vergonhosas foram suas ações.
Depois de se comportar tão violentamente — como se tivesse sido a vítima — e tornar a cena mais caótica, assustando Ruri e Sayo, ele foi o primeiro a fugir.
Ele provavelmente tinha uma imagem terrível agora, depois de terem acomodado suas necessidades. No final, ele provavelmente causou uma enorme quantidade de problemas.
"Que patético.", Rio murmurou para si mesmo, depois cerrou os dentes e chegou a uma decisão.
Amanhã seria o começo de um novo dia. Ele pode nunca voltar ao seu antigo eu, mas ele se esforçaria para fazer exatamente isso — do lado de fora, pelo menos. Dessa forma, eles seriam capazes de voltar para aqueles dias pacíficos mais uma vez.
Durante toda a noite, Rio permaneceu enrolado em seu futon, com o corpo tremendo por sua auto-aversão.
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