Capítulo 1: A Vida na Aldeia

 Na manhã seguinte...

O dia começou cedo para a aldeia. Rio acordou antes do nascer do sol e foi para a sala de estar da casa do chefe.

"Bom dia."

"Oya, você é bastante madrugador. Bom dia.", respondeu Yuba com surpresa. Ela já estava acordada, sentada em uma almofada na sala de estar depois de ter acendido a lareira.

"Eu estava pensando em ajudar os aldeões hoje com qualquer tarefa que possam ter! Mas primeiro, eu poderia ajudá-la a fazer o café da manhã de alguma forma?"

"Então é isso? Se você está oferecendo, então é mais do que bem-vindo a fazê-lo. Estou ansiosa por isso."

E assim, Rio e Yuba conversaram por um tempo. Até...

"Mrrgh... Bom dia, Obaa-chan.…"

Ruri apareceu na sala, meio adormecida e ainda usando a roupa interior com que tinha dormido. Era uma aparência um pouco escandalosa para uma garota de sua idade estar usando diante do sexo oposto. Escondidos sob sua roupa íntima estavam membros que enfatizavam sua suavidade feminina, e seios arredondados acentuavam a parte superior do seu corpo.

"Bom dia... Você esqueceu do Rio aqui, por acaso?" Yuba disse com uma risada reprimida.

"... Huh? A-Ah!"

Ruri finalmente percebeu que Rio estava ali. Ela olhou às pressas para si mesma, em seguida, corou tão vermelha quanto uma maçã madura. Rio evitou contato visual, mas ela entendeu isso como um sinal de que ele tinha tido um vislumbre de sua forma antiquada.

"E-Eu vou me trocar!" Ruri cobriu o corpo com as duas mãos e correu de volta para o quarto.

Rio deu um suspiro cansado. Ele já havia enfrentado situações semelhantes inúmeras vezes antes, quando morou com Latifa na vila do povo espiritual. Felizmente, não parecia que Ruri tinha a personalidade de ficar irracionalmente brava com ele por isso, mas eles provavelmente estariam estranhos perto um do outro por um pouco mais de tempo.

Com certeza, quando Ruri voltou de seu quarto momentos depois, ela observou Rio pelo canto do olho.

Ah, bem. Acho que não há como evitar isso...

Ruri era sua prima mais velha, então Rio poderia dizer honestamente que nenhum sentimento estranho havia surgido disso. Mas não era o caso quando se tratava do ponto de vista de Ruri, porque ela não sabia que Rio era seu primo mais novo.

"Então, você é bom cozinhando, Rio? Já que se ofereceu para ajudar com o café da manhã." Yuba sorriu alegremente.

"S-Sim, por favor, deixe comigo." Rio assentiu com o olhar constrangido.

"Então, vamos deixar você fazer o café da manhã hoje e ver como se sai. Ruri, vá com o Rio trocar os ingredientes para o café da manhã e apresente-o a todos. Faça as meninas da aldeia se acostumarem a ver seu rosto por aqui."

"Eh? O-Oh, tudo bem. ... Vamos, Rio." Ruri hesitou por um momento, antes assentir desconfortavelmente. Ela ainda parecia estar se sentindo envergonhada por sua tolice mais cedo.

"Oh, e diga a Sayo para vir para a casa com Shin. Vamos tomar café da manhã aqui.", pediu Yuba.

"Sim, senhora..." Ruri respondeu antes de sair pela porta da frente com Rio.

Seu primeiro destino a horta atrás da casa do chefe da aldeia. Ao contrário dos campos que eram administrados pela aldeia, as hortas eram propriedades individuais de cada casa.

"Nossa aldeia opera principalmente em trocas e negociações. A primeira coisa que fazemos todas as manhãs é colher os vegetais cultivados em nossa horta. Depois, nós os levamos para a praça da aldeia e os trocamos com os vegetais cultivados por outras famílias. Isso compõe os ingredientes para as refeições de um dia.", explicou Ruri ao recolher os legumes cultivados na horta do chefe da aldeia. Uma vez que terminaram de colhê-los, eles seguiram em direção à praça da aldeia.

A praça já estava cheia de jovens mulheres da aldeia conversando ruidosamente umas com as outras. Suas idades variavam entre a adolescência até os vinte e poucos anos de idade.

"Bom dia, todas!" Ruri as cumprimentou energicamente, movendo-se para se juntar a um círculo de garotas.

"Oh, Ruri-san. Bom di—" As jovens notaram Ruri e alegremente devolviam sua saudação, quando notaram o garoto desconhecido atrás dela e congelaram no local. Antes que percebesse, Ruri estava recebendo olhares questionadores de todas as garotas.

"E~tto, este aqui é o Rio. Ele é filho de um dos velhos conhecidos da Obaa-chan e tem viajado pelo mundo. É por isso que as roupas dele parecem um pouco estranhas. Ele vai ficar na nossa casa por um tempo, então eu queria apresentá-lo a todas.... Vá em frente, Rio." Ruri observou cuidadosamente as reações das outras garotas enquanto o apresentava timidamente. Ela, então, o induziu a dar um passo à frente.

"Por favor, permitam que eu me apresente. Meu nome é Rio. Eu ainda estou me acostumando à vida aqui, então espero que vocês possam perdoar quaisquer inconvenientes que eu possa causar no futuro. É um prazer conhecer todas vocês." Rio adotou um sorriso amigável enquanto dava sua bem-educada saudação.

"Uhm... É um prazer conhecê-lo também.", responderam as garotas, levemente envergonhadas.

"Ei, Rio. Não há necessidade de usar essa linguagem formal conosco. Todo mundo fica nervoso quando um garoto como você age assim.", aconselhou Ruri com um sorriso irônico.

"Ah... Temo estar mais acostumado com essa forma de falar. Vou fazer o meu melhor para me ajustar adequadamente.", respondeu Rio com um sorriso semelhante ao de Ruri.

As mulheres da aldeia observavam sua conversa de perto; elas pareciam estar se sentindo bastante tímidas na presença de Rio. No entanto, todas elas lançaram olhares implicitamente questionadores na direção de Ruri — olhares que diziam que não era justo ela ser a única próxima a ele.

Os únicos homens que as garotas da aldeia tinham em seus círculos sociais eram ásperos e barulhentos, tornando o comportamento suave e calmo do Rio como uma brisa de ar fresco. Seu rosto bonito e ainda andrógino só acentuou seu encanto ainda mais.

Haha... elas definitivamente vão tentar me tirar mais informações sobre o Rio durante o trabalho mais tarde.

Ruri sorriu amargamente para si mesma; ela podia sentir a silenciosa pressão vindo das garotas. Ela olhou para Rio e o viu lá, parado, um pouco desconfortavelmente no lado receptor de todo o escrutínio tímido das garotas. Ele desviou o olhar para Ruri, buscando ajuda com uma expressão conturbada. Ruri foi surpreendida pelo contato visual não intencional, seu corpo retrocedeu um pouco.

... Hmph. Ele nem se importou sobre como eu me senti antes.

Ruri lembrou como Rio tinha visto seu traje matinal imodesto mais cedo e fez beicinho com os lábios enquanto corava. Ela sabia que tinha sido principalmente sua própria culpa, no entanto. Era óbvio que tirar Rio daqui não tornaria a situação melhor. Ela tinha sentimentos confusos sobre a tempestade de perguntas que as garotas certamente a bombardeariam mais tarde..., mas por enquanto, ela só queria ir para casa.

E assim, ela decidiu resgatar Rio.

"Vamos lá, garotas, vamos começar a trocar esses ingredientes rápido. Está quase na hora de começar a trabalhar!" Ruri rapidamente encerrou a conversa e começou a se mover para trocar os vegetais.

As garotas pareciam querer falar com Rio, mas não encontraram o momento certo para isso. Ruri tomou isso como uma bênção e rapidamente empilhou os vegetais em sua cesta. Assim que tinha reunido todos os ingredientes que precisava, ela se virou para se dirigir ao Rio, que por acaso era quem carregava a cesta.

"Ok, tudo pronto. Vamos, Rio." Ela empurrou as costas dele para sugerir que ele se movesse.

"Ah, é mesmo! Sayo-chan!" Ruri se girou, lembrando uma última coisa.

"... Huh?" Sayo estava entre as garotas que silenciosamente olhavam para Rio. Seu corpo tremeu de susto quando seu nome foi chamado, e ela olhou para Ruri, se questionando.

"Obaa-chan quer que você venha à nossa casa com Shin. Vamos tomar café da manhã juntos.", explicou Ruri brevemente.

"Eh... Ah, tudo bem. Entendi." Sayo assentiu timidamente.

"Você vai descobrir o que ela quer quando nos encontrarmos, eu acho. Vejo você depois!" Com essas palavras de despedida, Ruri saiu às pressas novamente. Rio fez uma ligeira reverência para as garotas da aldeia confusas e seguiu atrás dela.

◇◇◇

Após os eventos na praça da aldeia, Rio retornou à casa do chefe da aldeia e começou a preparar o café da manhã. A aldeia estava com pouca carne seca e temperos, particularmente sal, então ele buscou nas reservas de seu Armazenamento Espaço-Tempo para complementar sua receita. Afinal, havia ingredientes e especiarias armazenados no interior que eram suficientes para durar vários anos.

No entanto, ele escondeu a existência do Armazenamento Espaço-Tempo, já que era muito problemático de explicar. Ele simplesmente removeu suprimentos suficientes para parecer que os tinha retirado de sua mochila. No entanto, ainda foi uma grande quantidade de carne e temperos — o suficiente para fazer Yuba feliz.

"Isso é maravilhoso. Carne seca é um luxo por aqui, e temos pouquíssimas oportunidades de comprar sal, então nunca há o suficiente. Tem certeza que está tudo bem? Esses vários ingredientes não devem ter sido baratos, certo?" Yuba perguntou hesitantemente.

"Eu não me importo.", respondeu Rio, balançando a cabeça suavemente. "Não faz sentido deixá-los estragarem, então, por favor, aceite como aluguel pela minha estadia. Eu vou fazer o café da manhã com isso agora... O suficiente para servir cinco pessoas, é isso mesmo?"

"Sim, Sayo e Shin virão mais tarde. Obrigada. Ruri, vá com ele e observe." Yuba viu quando Rio e Ruri foram para a cozinha juntos.

Como eles iam morar juntos a partir de agora, precisavam descobrir quão boas eram as habilidades culinárias de Rio. Ele prepararia a comida sozinho, e Ruri agiria como um juiz.

"A lenha já foi preparada — vou te mostrar onde está mais tarde. Todas as ferramentas de cozinha e utensílios de mesa estão naquele armário. Se há mais alguma coisa que você precisa saber, sinta-se livre para perguntar."

"Ok. O que devo fazer quanto a água? Eu posso gerá-la com artes espirituais, se necessário."

"Ah, você pode usar a água naquele jarro ali. Ele será reabastecido uma vez por dia por Obaa-chan ou por mim com artes espirituais, mas, acho que você pode usar artes espirituais também?" Ruri perguntou com as sobrancelhas levantadas. As artes espirituais eram mais comuns do que a magia na região de Yagumo, mas o número de usuários lá era bastante pequeno.

"... Sim. Então, vocês duas podem usá-las também..." Os olhos de Rio se abriram um pouco de surpresa.

"Sim. Nossa linhagem familiar sempre teve uma alta aptidão para as artes espirituais, apesar do fato de sermos plebeus. Isso é parte da razão pela qual Obaa-chan é a chefe da aldeia. Além de mim, Sayo-chan e seu irmão mais velho Shin também têm a capacidade de usar artes espirituais, então todos nós aprendemos juntos desde que éramos pequenos."

"Entendo... Então assim é como funciona." Rio assentiu em entendimento.

Quando comparados com elfos, anões, bestiais e outros Seirei no Tami, os humanos geralmente tinham uma baixa aptidão para usar artes espirituais. No entanto, muito raramente, nascia alguém com alta aptidão para usá-las. Isso significava que seu pai, Zen, provavelmente podia usar artes espirituais também, Rio refletiu para si mesmo. Teria sido quase impossível para seu pai fazer a dura viagem entre as regiões de Yagumo e Strahl sem elas.

Rio achou essa informação fascinante, mas não podia deixar seu objetivo cair no fundo de sua mente.

Depois de usar artes espirituais para acender a lenha no forno da cozinha, ele começou a cozinhar. O cardápio incluía arroz, sopa de miso, carne e legumes salteados, juntamente com os legumes em conserva que Yuba já havia preparado.

Aliás, havia muitos temperos disponíveis em Yagumo que lembravam alimentos asiáticos na Terra — incluindo molho de soja e miso — o que facilitou para Rio recriar o sabor da comida japonesa. Rio tinha se deparado com todos os tipos de ingredientes e condimentos durante seu tempo na vila dos Seirei no Tami, mas ser capaz de coletar aqueles que ele não tinha visto antes na região de Yagumo o fez sentir uma forte sensação de satisfação.

"... Hmph. Acho que você é muito bom, Rio.", Ruri murmurou distraídamente enquanto observava Rio preparar os ingredientes com bastante experiência.

"Muito obrigado. Eu tenho que ser capaz de fazer esse tanto, já que eu viajo sozinho." Rio balançou a cabeça timidamente.

"Não, não, isso não é apenas um nível médio de habilidade. Seu manuseio de faca é ainda melhor do que o meu." Ruri deu um sorriso ligeiramente conflitante. Os dois continuaram a conversar futilmente e se abriram um para o outro, pouco a pouco. Menos de uma hora depois, eles terminaram de cozinhar toda a comida.

"Olha, Obaa-chan. Rio nos preparou um café da manhã com um cheiro delicioso!" Com um sorriso alegre, Ruri levou os pratos para a sala de estar e os serviu na mesa.

"Oh? Isso certamente parece bom. Pelo visto não teremos problemas em deixar o Rio encarregado da cozinha." Yuba abriu um sorriso após ficar surpresa com a visão dos pratos que estavam na mesa.

"Umm, com licença."

Uma fofa voz feminina podia ser ouvida da entrada, onde a porta foi deixada aberta. Lá estavam Sayo e um garoto parado atrás dela; ele tinha mais ou menos a mesma idade que Rio.

"Ah, Sayo-chan. Bem-vinda. Entre, entre. Você também, Shin." Ruri acenou para os dois entrarem com um sorriso.

"O-Ok. P-Por favor, desculpem a intromissão." Sayo fez uma educada reverência e timidamente passou pela porta.

"Sim, com licença." Shin seguiu atrás dela.

"Que bom que vocês vieram — chegaram bem a tempo para o café da manhã. Venham." Yuba chamou os dois mais para perto enquanto Ruri voltou para a cozinha.

"Obrigado, Yuba-baachan, por nos chamar para o café da manhã." Shin agradeceu Yuba e se sentou em uma almofada perto da lareira.

"Obrigada, Yuba-sama." Sayo sentou-se também e inclinou sua cabeça. No entanto, ela parecia bastante nervosa enquanto olhava em torno da sala. Foi então que Rio saiu da cozinha, carregando mais pratos.

"Bom dia, Sayo-san."

"Bo-Bo-Bom dia, Rio-sama. Posso ajudá-los com alguma coisa?" Sayo perguntou nervosamente, oferecendo-se para ajudar.

".... Não, está bem. Acabamos de trazer todos os pratos. Tudo o que resta fazer agora é comer." Rio deu uma pausa ao ouvir como Sayo havia se dirigido a ele, depois sorriu e balançou a cabeça. Enquanto isso, Shin estava curiosamente observando o comportamento peculiar de Sayo.

"Rio, Ruri, vocês dois venham se sentar também.", ordenou Yuba. Tanto Rio quanto Ruri tomaram seus lugares.

Todos se acomodaram em forma de ferradura ao redor da mesa, com Yuba sentada no centro. Ruri e Sayo sentaram-se ao lado de Yuba, enquanto Rio e Shin sentaram-se ao lado delas. Sayo fez uma educada reverência para Rio, que estava sentado na diagonal em frente a ela, fazendo Shin lançar um olhar suspeito entre eles.

"Esta é a primeira vez que o Rio e o Shin se encontram, certo? Shin, esse garoto se chama Rio. Ele é filho de um velho conhecido meu. Ele vai ficar em nossa casa por um tempo. Rio, esse é o irmão da Sayo, Shin."

Um humor indescritível ameaçou se estabelecer na sala, mas Yuba ignorou quando casualmente apresentou Rio e Shin um ao outro.

"Meu nome é Rio. É um prazer conhecê-lo." Rio colou um sorriso sociável e inclinou-se para Shin, que estava sentado diretamente frente a ele.

".... Certo. Digo o mesmo.", respondeu Shin de forma brusca, aparentemente cauteloso com ele. Sayo, que estava sentada ao lado dele, parecia ter algo que queria dizer.

"Bem então, Rio passou por todo o trabalho de fazer essa refeição, então vamos comê-la antes que esfrie. Podemos conversar mais depois.", sugeriu Yuba. Então, enquanto seus olhares se reuniam nos pratos no meio da mesa...

"Ei, Baa-chan... Esta fritura tem carne dentro. Não é um pouco chique para o café da manhã? Você embolsou um extra para si mesma porque você é a chefe? Que sorrateira!" Os olhos de Shin imediatamente se prenderam aos pedaços de carne nos legumes salteados.

Carne era um luxo que não podia ser comido na aldeia com muita frequência. Eles mantinham gado, mas não para consumo — o gado da aldeia era valorizado por seu trabalho, e eram usados para coisas como transportar mercadorias e arar os campos. As únicas ocasiões em que podiam comer carne de gado era quando o gado de trabalho era "descartado" por lesões ou velhice, ou quando a distribuição de espólios de caça chegava a cada família.

"Não precisa entrar em pânico. Eu não fui sorrateira — esta é a carne que o Rio trouxe com ele.", explicou Yuba com um sorriso irônico.

"Ah, então é isso. Bem, contanto que eu possa comer carne, eu não me importo. .... Ei, isso é bom!" Assim que ouviu a explicação, Shin estava empurrando os legumes em sua boca e elogiando o gosto com olhos arredondados. Ele engoliu um pouco de arroz enquanto o sabor dos legumes ainda estava em sua boca.

"Cuidado com seus modos na mesa, Onii-chan.", avisou Sayo.

"Não importa isso — prove você também. É tão bom. Ooh, essa sopa de miso muito boa também!" Shin não parecia se importar com o aviso de Sayo enquanto devorava a refeição com vigor.

" Mō~..."

Sayo fez beicinho, mas no momento em que ela provou os legumes, suas sobrancelhas se levantarm em choque devido o gosto.

"É delicioso!"

"Não é mesmo?" Shin disse, assentindo presunçosamente.

"A sopa de miso está deliciosa também. V-Você realmente fez tudo isso sozinho, Rio-sama?" Sayo perguntou com um toque de inveja.

"Sim. Fico feliz que o gosto seja do seu agrado." Rio assentiu com um leve sorriso.

"Ahaha, os dois disseram o que eu queria dizer. Está muito bom, Rio."

"Realmente, você tem uma habilidade e tanto. Muito impressionante."

Ruri e Yuba concordaram com sorrisos estampados em seus lábios.

"Muito obrigado. Eu fiz arroz extra, então fiquem à vontade se quiserem uma segunda porção."

"Whoa, outra porção! Obrigado, Sayo." Shin virou-se para Sayo ao lado dele e ofereceu sua tigela vazia.

"Céus, Onii-chan! Tenha um pouco de restrição!"

"Sayo, não há necessidade de me conter. Eu sou um garoto em crescimento, então empilhe o máximo que você puder."

"D-Desculpe, Yuba-sama. Meu irmão é.… só.... Obrigada pela comida." Sayo se curvou, tanto para Yuba quanto para Rio, então começou a colocar o arroz da panela ao lado dela dentro da tigela de Shin. Assim que ela devolveu a tigela cheia para seu irmão, ela voltou a comer.

Todos comeram com prazer o café da manhã preparado por Rio. Depois que terminaram de comer e foi servida uma rodada de chá para todos...

"Agora que não estamos mais distraídos com a deliciosa refeição... Devemos ir ao ponto principal? Shin.", Yuba se dirigiu ao garoto.

"Hm, o que é?"

"Eu chamei você aqui por uma razão. Gostaria que o Rio experimentasse o trabalho que os caçadores fazem. Você poderia levá-lo para a casa de Dora depois disso?"

"... Huh? Esse cara como um caçador? Está falando sério?" Tendo esquecido completamente que Yuba o havia chamado aqui para algo, a expressão deliciosamente cheia e satisfeita de Shin tornou-se duvidosa ao ouvir suas palavras.

"Estou. Ele disse que queria ajudar com o trabalho na aldeia, então perguntei o que ele podia fazer. Ele tem um conjunto bem versátil de habilidades, incluindo a habilidade de caçar. Dora está procurando mais pessoas para ajudar, não é?"

"Isso é.… verdade, mas... É um trabalho muito rigoroso, sabe? Ele tem resistência? Ele parece bem frágil.", disse Shin, olhando para Rio em dúvida.


"Está tudo bem — ele não é do tipo que mente. Já confirmei que ele pode cozinhar e usar artes espirituais, afinal. Ele tem viajado pelo mundo desde uma certa idade sozinho, então eu tenho a sensação de que ele já é um grande especialista. Tem uma arma muito boa com ele, também... Ele pode até ser mais forte que você.", disse Yuba com um sorriso, provocando Shin.

"E-E daí? Eu também posso usar artes espirituais. Vamos ver o que você pode fazer." Shin vacilou por um momento, antes de colocar um ar de compostura.

"Bem, essa é a situação. Conto com você para explicar isso à Dora: 'Veja as habilidades do Rio — se parecer que você tenha um tempo livre, escolha um dos mais jovens e diga a ele para treiná-lo.'"

"Bem, bem. Melhor esperar que ele não desperdice muito nosso tempo.", disse Shin, assentindo infelizmente, subestimando claramente Rio.

"Onii-chan!" Sayo o repreendeu, tendo entendido o que ele quis dizer.

"Certo, certo. Você é tão barulhenta. Ei, Rio. Não temos muito tempo, então vamos embora." Shin levantou-se e caminhou rapidamente até a porta da frente.

"Ri-Rio-sama, eu sinto muito! Meu irmão precisa tomar mais cuidado com a boca." Sayo apressadamente inclinou a cabeça para Rio, mas ele deu um sorriso gentil e balançou a cabeça, como se não estivesse nem um pouco incomodado. Então, ele seguiu apressadamente atrás de Shin.

"Minha nossa. Rio é um ano mais novo, e ainda assim é muito mais maduro. Não se preocupe, Sayo-chan.... Eu vou ter uma conversa com o Rio mais tarde.", disse Ruri com um suspiro exasperado.

"O-Ok." Sayo assentiu com a cabeça timidamente.

"Agora, Sayo... e você também, Ruri. É a vez de vocês.", disse Yuba.

"Huh? Nós também?" Ruri ficou surpresa, não esperando ser abordada.

"Sim. Rio acabou de chegar nesta aldeia, afinal. Pode parecer que ele vai ficar bem por causa do seu comportamento calmo, mas há muita coisa que ele ainda não está acostumado. Haverá muitos aldeões desconfiados pelo seu status como forasteiro. Então, vocês duas podem cuidar dele?" Yuba disse em um tom sério e inclinou a cabeça profundamente para as duas garotas.

"S-Sim. Claro que vamos. Deixe isso conosco." Ruri foi pega de surpresa com a rara visão de sua avó abaixando a cabeça assim, mas imediatamente assentiu com um sorriso.

"E-Eu farei o meu melhor também, se estiver dentro das minhas habilidades!" Sayo assentiu com entusiasmo.

"Hmm, posso pensar nele como um novo irmãozinho meu? Ou um irmão mais velho para Sayo-chan? Ela já tem Shin, no entanto.", disse Ruri enquanto esticava o pescoço.

"N-Não posso ter a ousadia de imaginar Rio-sama como meu irmão mais velho!" Sayo interveio ao ouvir as palavras de Ruri.

"Ahaha... A propósito, por que você o chama de 'Rio-sama'?" Ruri perguntou com um sorriso zombador.

"Eh? B-Bem, não acha que ele parece ser alguém da nobreza? Como alguém inalcançável..." Sayo hesitou, respondendo com um leve rubor em suas bochechas.

"Entendi..." Ruri observou Sayo com um sorriso.

"O-O que foi, Ruri-san?"

"Não, não é nada. Agora, vamos começar a trabalhar? Estamos indo, Obaa-chan!" Ruri rapidamente se levantou e levou Sayo em direção à porta.

"Ah! E-Espere, Ruri-san!" Sayo lutou para acompanhar.

"Cuidem-se.", disse Yuba, vendo as garotas correndo lá fora.

".... Parece que as coisas vão ficar bem interessantes por aqui.", ela murmurou, sorrindo.

◇◇◇

Shin guiou Rio ao pé da montanha na floresta. Apesar de sua irritação ao sair da casa da chefe da aldeia, Rio continuou a envolver Shin na conversa até que eles estavam conversando amigavelmente, seu humor azedo rapidamente foi esquecido.

"Certo, aqui estamos. Esta floresta montanhosa é onde nós caçadores fazemos nosso trabalho. Geralmente nos escondemos na floresta da manhã até a tarde, e depois ajudamos nos campos com o tempo livre que temos depois. Se quiser saber mais, deveria perguntar ao mestre... oh, falando do diabo. Esse é Dora, nosso chefe."

Shin estava dando ao Rio uma breve explicação do trabalho dos caçadores quando o homem chamado Dora — que também havia surgido na conversa com Yuba — apareceu. Ele parecia estar em seus quarenta e poucos anos, com um grande corpo e um físico robusto.

"Yo, Shin — você chegou cedo. Então, esse é o garoto Rio?" Dora se aproximou, cumprimentando-os casualmente.

"... eh, você já sabe sobre ele?"

"Bem, sim. Minha filha o conheceu esta manhã. Eu vejo... isso é verdade... Ele parece um pouco delicado, mas posso ver por que as meninas enlouqueceriam por ele. Bem, não tão loucas quanto enlouqueceram por mim. Wahaha!" Dora soltou uma enorme gargalhada.

"É um prazer conhecê-lo — meu nome é Rio. Vou ficar nesta aldeia por um tempo, então vim ajudar os caçadores com o trabalho sob as ordens de Yuba-san. Estou ansioso para trabalhar com você.", disse Rio, apresentando-se e dando uma visão geral simples de suas circunstâncias.

"Certo, o mesmo aqui. Então, tem alguma experiência caçando?"

"Sim, tenho."

"Oho? Fico feliz em ouvir isso. Na verdade, tínhamos outros dois caçadores, mas ambos estão feridos agora. Os únicos caçadores que podem trabalhar são este aprendiz aqui, e eu." Dora disse com um sorriso feliz.

"Aquela Baa-chan disse que se parecesse que você tinha as mãos livres, era para trazer um cara mais jovem da aldeia e treiná-lo como aprendiz. De qualquer forma, vamos ver como ele se sai primeiro.", Shin interveio com um olhar ligeiramente divertido em seu rosto.

"Por que está agindo todo presunçoso? Você ainda é meio homem.", disse Dora exasperadamente.

"C-Cala a boca! Eu vou caçar algo muito maior do que ele!" Shin retrucou com motivação.

"Sim, claro, estou ansioso para ver isso. Só não exagere." Dora deu um leve encolher de ombros. "Agora, quero saber exatamente o quão talentoso o Rio é. Nosso equipamento de caça reserva está armazenado naquela cabana ali, então vamos para as montanhas assim que estiverem prontos.", disse ele com uma mudança de atitude que indicou que o trabalho havia começado.

Depois dessa troca, todos eles se reuniram dentro da cabana e se prepararam para ir caçar. Dora e Shin estavam usando roupas de trabalho que eram fáceis de se mover, mas eles mudaram para roupas mais grossas e botas que eram necessárias para viajar montanha acima. Depois, colocaram um sobretudo de palha, e equiparam-se com um punhal de caça e um arco cada.

Enquanto isso, Rio estava usando sua armadura de batalha um pouco mais grossa, e já tinha dagas e punhais de arremesso em seu cinto, então ele decidiu que tudo o que precisava era pegar um arco emprestado.

"Esse é um vestuário muito estranho que você tem aí. Tem certeza que vai ficar bem só com isso?" Assim que Shin terminou de se trocar, ele olhou Rio de cima a baixo com ceticismo.

"Sim, essas são as minhas roupas de viagem, então elas são feitas para serem muito duráveis.", assentiu Rio.

Dora veio para inspecionar a textura das roupas. "Assim parece. O tecido parece bem resistente. Bem, tenho certeza que vai ficar tudo bem.", disse ele, dando seu selo de aprovação.

"Tudo bem. Vamos logo.", Shin disse um pouco apressadamente e saiu correndo da cabana.

"Só para você saber, esse é ele sendo mais animado do que o normal. Você deve ter ateado fogo no coração competitivo dele, Rio. Bem, devemos ir também." Dora deu uma pequena risada e deixou a cabana. Rio o seguiu.

"Agora, Rio. Tem algo que eu preciso dizer a você antes que a gente entre na área de caça.", disse Dora quando eles estavam do lado de fora novamente.

"Sim? Qual é o problema?"

"É sobre o seu jeito de falar. Não precisa falar tão formal com a gente. Afinal, não há tempo para se preocupar com boas maneiras quando você está no meio de uma caçada."

"Isso é verdade... É só que, é quase como se fosse um hábito meu neste momento, então se você me pedir para abandoná-lo de repente, vai ser muito difícil... E vai me deixar ainda mais desajeitado do que originalmente sou. Mas eu vou fazer o meu melhor."


"Haha. Bem, não é algo ruim. Se está dizendo que é mais fácil para você falar assim, então não há necessidade de se forçar a parar. Ok, eu quero testar suas habilidades e explicar algumas coisas, então vamos para as montanhas. Você tem alguma dúvida antes de começarmos, Rio?"

"Só uma. Se você tem alguns sinais de mão para se comunicar sem falar, você poderia me ensiná-los de antemão?"

"Sinais de mão? O que é isso?" Dora e Shin, curiosamente inclinaram suas cabeças.


"Movimentos que você faz com a mão para comunicar suas intenções sem dizer nada, dando sentido a um gesto. Algo como 'siga em frente', 'pare' ou 'fique em silêncio', por exemplo." Rio explicou.


"Ah, entendo. Agora que você mencionou, usamos alguns gestos para dar instruções realmente simples. Mas, as especificaões de 'o que fazer' e 'onde fazer' são um pouco vagas, então não temos realmente um conjunto de gestos fixos com significado." Dora percebeu que ele estava usando sinais de mão de caça regularmente sem realmente pensar sobre isso.

"Mas... Existe algum ponto em decidir coisas assim? Quem se importa desde que você entenda? Coisas como 'vá' e 'pare', você pode dizer pela situação e alguns apontamentos simples." Aparentemente, Shin ainda não tinha entendido a importância dos sinais de mão.

"Há um ponto. Se você não decidir as regras de comunicação de antemão, você pode acabar ficando ainda mais confuso. Quando quiser comunicar algo mais complexo, você vai ficar bloqueado."

"Hah... Acho que o Rio tem razão. Tudo bem, parece interessante. Se você insiste tanto nisso, então você deve ter seus próprios gestos para quando você está caçando. Nos ensine esses." Dora pareceu aceitar a explicação de Rio, mostrando pronta disposição para implementar o uso dos sinais de mão para se comunicar durante a caça.

"Bem, se o chefe diz isso, então eu acho..." Shin concordou. E assim, Rio ensinou uma linguagem de sinais simples para os dois. Então, alguns minutos depois...

"Tudo bem. Estamos um pouco atrasados, então vamos andando! Vocês dois, me sigam."

Sob a liderança de Dora, eles finalmente partiram para os campos de caça nas montanhas. Dora ensinou Rio sobre as regras de caça da aldeia enquanto caminhavam, mas acabaram ficando sem coisas para falar e começaram a se comunicar ativamente através de sinais manuais.

Como um caçador experiente, a adaptabilidade de Dora significava que ele era rápido na captação; ele dominou a língua de sinais que Rio o ensinou sem demora.

Shin ainda tem um longo caminho a percorrer, mas Rio está lidando com ele maravilhosamente. Ele disse que tinha experiência.... Isso é impressionante para uma aparência frágil como a dele. Mas ele não parece ter problema. Se ele provar suas habilidades de caça, então poderá trabalhar sozinho de amanhã em diante.

Dora sorriu ironicamente. A atitude de caça de Shin ainda era muito imprudente, e ele muitas vezes perdia os sinais de mão que Dora enviava. Em contraste, as habilidades de Rio eram dignas de elogios.

A maneira como ele silenciou seus passos, a forma como ele escondia sua presença, sua capacidade de detectar vestígios e trilhas de suas presas de caça, e seu conhecimento do comportamento do animal — não importa como você olhasse, Rio era adepto de tudo.

E assim, Dora e Rio naturalmente dividiram a busca por presas de caça entre eles, movendo-se em uma formação de topo duplo com Shin atrás deles, o que não o deixou nada satisfeito, no mínimo. Mesmo que ele regularmente saísse para caçar com Dora, sempre recebia instruções, e nunca lhe foram dadas responsabilidades próprias. No entanto, um forasteiro recém-recrutado como o Rio — alguém mais jovem que ele, nada menos — estava sendo confiável e recebeu uma parcela de responsabilidades na caça. Era quase como se estivesse sendo um fardo para Rio. Talvez Rio pensasse nele como um fardo. E embora o pensamento nunca tivesse passado pela cabeça de Rio, apenas a possibilidade disso fez Shin se sentir extremamente frustrado.

Além disso, Rio trouxe à tona sua sabedoria sobre a linguagem de sinais e chamou a atenção de Dora com ela. Aos olhos de Shin, Rio parecia estar tentando bajular Dora, tornando-o ainda mais desconfiado do que antes. Eventualmente, suas frustrações se transformaram em irritação, levando à inevitável distração de seu foco.

"Ei, Shin. Qual é o problema? Se você vai relaxar, vá para casa. Você está no caminho." Dora notou seu comportamento distraído e decidiu avisá-lo.

".... Não é isso.", Shin murmurou mal-humorado, fazendo Dora franzir as sobrancelhas.

"Lá está." Rio disse depois de já ter disparado com o arco. A flecha cortou o ar e voou em uma trajetória reta até a presa — quase como se estivesse sendo sugada — e atingiu seu alvo a mais de vinte metros de distância, perfurando um pássaro em uma árvore.

"O-Ooh, um pássaro Renou! Essa é uma marca difícil! Esses pássaros volúveis ficam muito nervosos perto dos outros. Caçá-los é difícil."

"Desculpe. Eu disparei a flecha ao meu próprio julgamento... O pássaro havia nos notado e estava prestes a decolar.", desculpou-se Rio, arrependido.

"Não se preocupe com isso. Mais importante: sua habilidade com o arco é incrível. Quase não houve tempo entre você colocar a flecha e disparar. E a essa distância também — que visão!" Dora, deixando sua irritação com Shin se dispersar, virou-se para elogiar Rio. A expressão de Shin ficou ainda mais emburrada.

"Muito obrigado."

Rio agradeceu brevemente antes de correr para o Renou que tinha abatido. Ele o agarrou pelas pernas e puxou uma daga com a mão livre, cortando o pescoço para drenar o sangue. Rio mostrava uma expressão séria enquanto trabalhava, até mesmo oferecendo um pequeno momento de silêncio em agradecimento pela presa que havia sido sacrificada para se tornar alimento.

Dora viu Rio trabalhando duro e ficou impressionado.

"Oho. Bem! Não podemos também perder, Shin", disse ele entusiasmado, incitando Shin.

"Eu sei! Como se eu fosse desistir...!" Shin respondeu com raiva. Dora viu através de sua atitude e deu um sorriso irônico, exasperado, enquanto se aproximou de Rio.

Depois de terminar todos os procedimentos que precisavam ser feitos imediatamente, o trio retomou a busca por presas. Rio e Dora constantemente derrubavam pássaros selvagens e coelhos enquanto avançavam pela floresta. A visão de seus esforços acendeu um fogo dentro de Shin, que não queria perder para eles. No entanto, ele se viu sem sucesso, incapaz de pegar um único animal.

Assim, o tempo passou até o início da tarde.

"Ok. Ainda é um pouco cedo, mas podemos encerrar as coisas aqui. Vocês dois se saíram bem — a quantidade de carne que estamos levando hoje para a aldeia é mais que a habitual.", anunciou Dora no final do dia com um sorriso satisfeito.

"Eu só consegui um, no entanto. Foi tudo você e aquele cara, chefe.", Shin murmurou, ligeiramente amuado.

"O que você está dizendo?" Dora perguntou, com uma expressão cansada em seu rosto.

"Este é o resultado de nós três trabalhando juntos. Você também ajudou a encurralar as presas, Shin-san. Graças a isso, nossas flechas foram capazes de chegar onde queríamos."

"Isso mesmo. Encurralar a presa também é um trabalho importante de um caçador." Dora concordou com a opinião de Rio, mas Shin ainda permaneceu mal-humorado, estalando a língua antes de descer rapidamente a montanha sozinho.

"Nossa... Ele não tem jeito. Desculpe, Rio. Vou falar com ele mais tarde, então pense nisso como um acesso de raiva de um pirralho. Não deixe que isso incomode você."

".... Não, está bem. Também gostaria de me desculpar. Se você pudesse transmitir isso por mim, eu ficaria grato.", desculpou-se Rio com uma expressão arrependida.

".... Você não precisa se desculpar, mas tudo bem. Além disso, acho que você estará bem caçando por conta própria a partir de amanhã. Eu tenho que procurar alguns novatos, então se você pudesse caçar o suficiente para cobrir a minha parte, isso seria ótimo. Você acha que poderia conseguir isso?" Dora coçou a cabeça com um olhar culpado, balançando-a enquanto falava.

"Claro — deixe isso comigo.", respondeu Rio sem problemas.

"Tudo bem, eu estou contando com você. Agora, vamos voltar para a cabana e começar a limpar nossas presas." Dora deu um tapa no ombro de Rio com um sorriso.

◇◇◇

Depois de terminarem de limpar todos os animais, Rio pegou um pouco da carne e voltou para casa.

"Estou de volta.", disse ele da porta, mas não houve resposta. Não havia ninguém na sala, nem na cozinha à direita do chão de barro.

.... Não tem ninguém em casa? Bem, acho que ainda está no horário de trabalho agora.

Rio decidiu primeiro se livrar do fedor de animais selvagens que se agarrava a ele. Não havia banheiro dentro da casa, então ele pegou o balde de banho na cozinha e saiu. Ele deu a volta nos fundos da casa e colocou o balde no chão, depois ergueu o chão que o cercava com artes espirituais para criar paredes para delimitar o espaço. Então, ele usou artes espirituais para encher o balde de banho com água.

Depois disso, ele equipou o artefato Armazenamento Espaço-Tempo que recebeu da vila Seirei no Tami em sua mão esquerda e recitou o feitiço "Discharge". O ar perto de sua mão imediatamente começou a distorcer, e quatro pequenas garrafas de metal apareceram em sua palma. Cada uma continha vários sabões e detergentes para lavar seu cabelo, corpo e roupas. Naturalmente, eles foram feitos pelo povo espiritual.

Rio pegou as garrafas em ambas as mãos, tirou a roupa e subiu no balde de banho. Então, ele usou suas artes espirituais para controlar livremente a água e limpar seu cabelo e corpo com o sabão.

Seria muito mais conveniente ter algum tipo de banheiro, mesmo que seja um do lado de fora. Perguntarei a Yuba-san se posso construir um mais tarde. Poderíamos até emprestá-lo para os outros aldeões usarem.

Depois de lavar o cabelo e o corpo, ele foi lavar as roupas que usava naquele dia. Alguns minutos depois, Rio vestiu sua roupa reserva e devolveu o muro de terra elevado ao seu redor de volta ao solo. Então, ele viu Ruri e Sayo paradas a uma boa distância.

".... Ah, então era o Rio, afinal.", Ruri soltou um suspiro de alívio. Uma estranha estrutura foi construída atrás de sua casa enquanto ela estava fora, então era natural que ela suspeitasse.

"Desculpe, eu não queria assustá-las.", se desculpou Rio com uma expressão apologética.

"Não, tudo bem... Você moveu o chão com suas artes espirituais agora?" Ruri perguntou curiosamente.

"Sim, isso mesmo."

"Hmm. Eu não sou boa em artes espirituais de terra, então eu realmente não entendo..., mas é algo que você pode manipular tão facilmente?" Ruri não parecia aceitar a resposta tranquila de Rio, então ela se virou para perguntar a Sayo ao seu lado.

"E-Eu não sei. Eu também não sou boa em artes espirituais de terra..., mas comparado com o que eu posso fazer, não parece algo simples..." Sayo ofereceu sua própria opinião com incerteza.

".... Bem, não é tão difícil se você praticar bastante.", comentou Rio. Como não foi capaz de medir o nível médio dos usuários de artes espirituais na região de Yagumo, Rio deu uma resposta vaga para evitar responder completamente. Ele achou que só deveria explicar o quanto fosse necessário.

"Bem, tanto faz." Ruri não parecia estar muito incomodada com isso, e de repente começou a seguir em frente. Ela se aproximou de Rio, contorcendo o nariz enquanto cheirava o ar.

"Hmm.... Mas o que é isso...?" Assim que estava diretamente na frente de Rio, ela olhou para o rosto dele.

Rio hesitou. "Erm, o que você quer dizer?", ele finalmente perguntou.

Sayo curiosamente se aproximou também, observando os dois de uma distância mais próxima com um rubor. "Huh?"

"Eu sabia! Tem um cheiro bom vindo do Rio!" Ruri disse, com o rosto brilhando com um sorriso.

".... Ah, o fedor dos animais que caçamos estava agarrado a mim, então eu me lavei."

"Huh, então é por isso. É um cheiro muito bom, no entanto.... Venha sentir o cheiro também, Sayo-chan." Ruri fez um gesto para Sayo se aproximar.

"E-Eeh?! E-Estou bem! Eu posso sentir o cheiro daqui muito bem!" Sayo balançou a cabeça com um rosto vermelho brilhante.

"Vamos, vamos — não precisa ser tão tímida." Ruri se posicionou atrás de Sayo com um rápido movimento e a empurrou para a frente em direção a Rio. Sayo continuou a insistir contra isso, mas ela não estava resistindo com nenhum fervor em particular.

"Oh..."

Uma vez que ela estava bem diante dele, seu rosto ficou vermelho até as pontas das orelhas. Ela olhou para baixo.

"Veja, ele não cheira bem?"

"S-Sim..." Sayo concordou com uma voz quase inaudível. Sem saber como deveria reagir adequadamente à situação, Rio simplesmente ficou ali parado com um sorriso forçado no rosto.

"Ei, Rio. Que cheiro é esse?" Ruri perguntou.

"Acho que é o sabão."

"Huh? Sabão? Você quer dizer o sabão que você usa para lavar seu corpo e roupas?" A resposta de Rio fez os olhos de Ruri se arregalarem em choque.

"Sim, esse sabão."

"Huuuh? Por que você tem sabão, Rio?"

"Por quê? Porque eu mesmo fiz, eu acho..." Os olhos de Rio pareciam surpresos pela reação de Ruri, embora não fosse despropositado Ruri e Sayo reagirem de tal forma. Embora o sabão existisse na região de Yagumo, era um item de luxo. Não era uma coisa fácil de um plebeu colocar as mãos, então o vinagre era frequentemente usado como substituto.

"V-Você o fez? Rio, você pode fazer sabão? Wow! Em nossa aldeia, Obaa-chan é a única que realmente conhece de medicina, mas mesmo ela não sabe como fazer sabão. Não é incrível, Sayo-chan?"

".... Sim, é incrível." Ruri e Sayo se voltaram para Rio com olhares cheios de admiração.

"Desde que você tenha os materiais, é bem simples. Vou deixá-los em casa, então sinta-se livre para usá-los mais tarde. Você também, Sayo-san.", disse Rio, envergonhado. As duas garotas piscaram em branco para ele.

"Espera, o quê?! Podemos usá-los também?!"

"Claro. Vou fazer um pouco mais quando eu tiver tempo, então não precisam se preocupar em usá-los."

"Wow, mal posso esperar! Obrigada, Rio!" Ruri e Sayo bateram palmas alegremente.

"Então, por que vocês duas estão aqui?"

"Oh, nós vimos Dora-san e Shin na estrada bem agora, então percebemos que você devia ter voltado também. Se você fosse se lavar, precisaria de água quente e lenha, então Sayo-chan disse que deveríamos voltar e ter certeza de que você saberia onde encontrá-los e como fazê-lo.", disse Ruri com um sorriso, olhando para Sayo.

"Ah, não... Eu, hmm..." Sayo lutou para encontrar palavras em seu constrangimento.

"Então foi isso. Sayo-san, obrigado por sua consideração. Eu usei minhas artes espirituais para criar a água, então não houve problema."

"Huh... V-Você usou artes espirituais para criar a água?" Sayo perguntou com um olhar de total descrença. Ruri também ficou surpresa.

"Sim, eu fiz. Há algum problema...?" Rio perguntou, se perguntando por que as duas garotas estavam tão chocadas.

"Ah, não. É só que a água quente é muito mais difícil de fazer com artes espirituais do que água fria."

".... Oh, entendo. Há um truque para fazer isso.... Devo ensiná-lo algum dia?" Rio ofereceu casualmente.

"E-Eh, sério?" Sayo disse, ansiosa para aceitar sua oferta.

"S-Sim." Rio assentiu, pego de surpresa.

"Bom para você, Sayo-chan! Você vai ter que trabalhar duro.", Ruri sorriu, acariciando a cabeça de Sayo.

"Estarei sob seus cuidados.", disse Sayo, abaixando a cabeça timidamente para Rio.


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