Capítulo 1: Expiação
Fora das muralhas da cidade de Amande, no local onde Rio e Lucius estavam lutando há poucos minutos, Rio e Flora agora estavam de frente um para o outro.
"U-Umm, Rio-sama...", Flora agarrou a manga do Rio e sussurrou seu nome baixinho.
"Sim.", sem quebrar o contato visual, Rio assentiu com um olhar culpado, mas seu coração não estava presente. Um momento depois, ele lentamente olhou para o sol nascendo no céu distante. Inacessível e brilhante, era como algo pelo qual ser ansiado...
"Rio-sama... Você o é Rio-sama, não é?", Flora puxou delicadamente a manga da camisa de Rio, perguntando mais uma vez.
"...", Rio olhou para Flora como se tivesse sido arrastado de volta à realidade. Mas ele não falou, em vez disso franziu a testa pensando em como lidar com a situação atual.
Haruto, está tudo bem? Ao mesmo tempo, a telepatia de Aishia ecoou na cabeça de Rio.
.... Sim, está tudo bem. Estou um pouco ocupado agora. Você pode me contatar mais tarde? Rio se acalmou e respondeu a Aishia.
Entendido. Ele ouviu a resposta imediata de Aishia antes que a telepatia fosse interrompida. Assim que o fez, Rio finalmente abriu a boca para falar.
"... A quem está se referindo?", ele olhou para o rosto de Flora e fingiu ignorância.
Um olhar extremamente triste cruzou o rosto de Flora antes que ela ficasse furiosa com a resposta que não atendeu às suas expectativas.
"—, R-Rio-sama, você é o Rio-sama! Agora mesmo, aquele homem disse — que você é o Rio!", ela disse em frustração.
".... É verdade, eu já fui chamado assim. Tenho o nome de Rio além do meu nome de Haruto. Mas por que Flora-sama está me chamando por esse nome?", Rio inclinou a cabeça e perguntou com extrema curiosidade, como se insinuando que o Rio que Flora conhecia era outra pessoa.
"—...", Flora se sentiu como se tivesse sido fortemente rejeitada, e seu rosto torceu em lágrimas.
"Atualmente vivo pelo nome público de Haruto. Perdoe minha grosseria em pedir isso, mas eu ficaria extremamente grato se pudesse esquecer o que ouviu antes.", Rio foi direto ao assunto com seu pedido sem qualquer explicação adicional.
"E-Eu não quero!", Flora se agarrou ao peito do Rio como uma criança perdida.
".... Por quê?", embora os olhos de Rio se arregalaram, ele ainda conseguiu perguntar em um tom calmo.
"Porque... isso porque...", a voz de Flora tremeu ligeiramente enquanto ela olhava para o rosto do Rio bem diante dela.
Não há dúvidas de que ela se lembra de mim. O que eu faço? Rio calmamente tentou pensar em uma maneira de lidar com a situação enquanto olhava para Flora.
Quando se tratava de Flora ouvindo sua conversa com Lucius, ele não se arrependia. Afinal, ele considerava aquela conversa um ritual necessário para preceder a batalha.
No entanto, a memória de Flora sobre ele era mais clara do que ele pensava que seria, e seus fortes sentimentos sobre isso estavam um pouco além de suas expectativas. Ele não tinha ideia do que ela estava pensando. Afinal, ele não teve nenhuma interação com ela na academia, e seus status sociais eram distantes um do outro.
Se ela está tão desesperada sobre isso, pode ser impossível negar totalmente tudo, Rio sentiu, o que o deixou com opções limitadas. Ele poderia admitir a verdade honestamente, inventar algum tipo de desculpa convincente ou confundi-la propositalmente para mudar de assunto...
De qualquer forma, a decisão se resumiu ao fato de que o Rio não confiava em Flora. Embora ele acreditasse que ela não era uma má pessoa, ele ficaria em um beco sem saída se sua admissão a levasse a agir precipitadamente em resposta. Era por isso que ele tinha que tornar a verdade o mais vaga possível.
O que significava que a opção mais segura seria...
"Eu... sempre quis me desculpar! Sempre quis agradecer!", Flora proclamou com cada fibra de seu ser.
Ela sempre se arrependeu de seu próprio fracasso em ser incapaz de fazer qualquer coisa durante os antigos dias do Rio na academia, quando ele era discriminado bem diante de seus olhos. Era por isso que ela não podia simplesmente esquecer a existência da pessoa que a salvou. Ela fez um voto que não esqueceria. O encontro repentino deixou sua cabeça em branco como uma folha, mas se era coincidência ou destino, ela não podia deixar esta chance única na vida de se reunir com Rio escapar entre seus dedos.
“…. Pelo quê?", Rio meramente tentou desviar a verdade com um olhar conturbado.
"Pelo que aconteceu na academia!", disse Flora, chegando a raiz da questão.
".... Não consigo pensar em qualquer motivo pelo qual eu deveria estar recebendo tais palavras de gratidão e desculpas da Flora-sama. Se está se referindo a este incidente, por favor, não deixe que isso a incomode. Havia simplesmente alguns negócios a tratar entre mim e aquele homem.", depois de um longo momento de hesitação, Rio respondeu.
".... Estou sendo um incômodo?", até mesmo Flora podia ler o que ele queria dizer com isso, seu corpo tremia enquanto ela perguntava.
"Claro que não. Mas agora, eu sou Haruto. Se Vossa Alteza insiste em sentir gratidão e desculpas por este incidente, peço que gentilmente esqueça o nome Rio. Isso seria mais do que suficiente.", Rio pegou a agarrada Flora pelos ombros e a afastou um pouco para que pudesse falar com ela enquanto baixava a cabeça.
"Ah, —...", isso pareceu chocar Flora, pois sua expressão se perdeu por um momento. Ela tentou dizer algo, mas sua boca não se moveu.
Havia uma pessoa parecida com o Rio diante dela, e as palavras finais vindas dele ressoaram estranhamente em sua cabeça. Enquanto sua cabeça esfriava rapidamente, um sentimento indescritível girou violentamente em seu peito.
Talvez fosse um castigo por sua própria tolice. Depois de quanta miséria ele havia passado por ela e pelos outros ao seu redor, era simplesmente muito conveniente ter a chance de se desculpar assim. Assim que chegou a essa conclusão, Flora se sentiu extremamente envergonhada.
Como pensei... sou mesmo uma idiota... Flora pensou com amargura. Ela se sentiu tão triste e impotente com a impaciência, já que ela estava procurando desesperadamente por algo que pudesse fazer. Logo, ela percebeu que havia apenas uma coisa que ela poderia fazer.
"Enten…di. S-Sinto muito. Eu... me enganei e perguntei algo estranho... M-Me des...culpe.", Flora chorou grandes gotas de lágrimas enquanto abaixava a cabeça com uma voz muito trêmula.
"Não, não há necessidade de chorar em desculpas...", Rio se sentiu um tanto impotente, mas isso era o melhor. Não havia outra escolha agora, ele disse a si mesmo.
"M-Me.…desculpe.", Flora continuou a se desculpar de cabeça baixa. Ela esfregou os olhos, contendo desesperadamente as lágrimas, então mordeu o lábio com força e reprimiu suas emoções.
Um momento depois, Flora ergueu lentamente a cabeça. Não havia mais lágrimas escorrendo, mas estava claro que ela estava chorando. Ela tinha uma expressão horrível no rosto.
"Vou acompanhá-la de volta à cidade.", Rio desviou os olhos sem jeito.
".... Sim, por favor.", Flora assentiu fracamente.
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