Capítulo 7: A Verdade da Mentira

Na tarde da simulação ao ar livre, Celia estava andando pelos terrenos da Academia.
"Minha nossa! Oque eu sou, uma escrava? Faça sua própria pesquisa! Só porque sou a professora com a posição mais baixa aqui não significa que sou uma secretária! E não é exatamente fácil encontrar informações sobre monstros da Guerra Divina..."Celia resmungou baixinho enquanto se dirigia para o escritório do diretor.
Sua amargura foi devido à ordem que recebeu de seu superior para investigar um certo monstro enquanto ela estava fazendo sua própria pesquisa na biblioteca.
"Até me disseram para ir ao escritório do diretor... Qual é a pressa? ”
Ela considerou brevemente a possibilidade do monstro em questão aparecendo em algum lugar, mas descartou o pensamento imediatamente.
O monstro que Celia pesquisou era o minotauro, um monstro em forma de pessoa com a cabeça de um touro. Ele tinha desempenhado um grande papel na Guerra Divina, uma grande guerra que tinha ocorrido há mais de mil anos. A Guerra Divina foi um conflito que se espalhou entre os humanos, que eram liderados pelos Seis Deuses Sábios, e os demônios, que eram liderados pelo Maou. Dizem que os minotauros diminuíram drasticamente em população no final da Guerra Divina. Eles raramente foram vistos nos reinos em direção ao norte e oeste, mas não houve avistamentos em Beltrum nas últimas centenas de anos.
Celia contemplou essas coisas quando chegou ao escritório do diretor. Ela parou diante da porta, notando que estava um pouco entreaberta. A voz do diretor, Garcia Fontaine, podia ser ouvida conversando com o superior que havia lhe dado a ordem. Ela espiou pela abertura para verificar se podia entrar.
"Mas a questão de Sua Alteza ser empurrada do penhasco não pode ser tão pacificamente resolvida. Suponho que alguma forma de punição será necessária? ” Garcia perguntou com uma pitada de aborrecimento.
Celia inclinou-se com a menção de algo tão sério.
"Receio que não pode ser evitado. No entanto, há também um conflito nos fatos apresentados. Parece que não há dúvida de que o filho do Duque Huguenot foi quem colidiu com Sua Alteza, mas."
“Mas? ”
"Mais da metade dos alunos estão testemunhando que quem empurrou o filho do Duque Huguenot em primeiro lugar foi um estudante chamado Rio. Por outro lado, a própria Segunda Princesa insiste que isso não poderia ser possível."
Hein? Rio? O que estava acontecendo? Celia engoliu em seco nervosamente com a menção inesperada do nome de Rio.
"E por que isso?" Garcia perguntou.
"Porque esse Rio também foi o aluno que a salvou de cair do penhasco. Ao custo de cair ele mesmo. ”
Ele caiu de um penhasco? Rio ainda estava vivo. ? Um calafrio de repente desceu pela espinha de Celia.
"Então, onde está esse Rio agora?"
"Desaparecido. Depois de cair do penhasco, ele apareceu mais uma vez enquanto o monstro supracitado estava atacando a Segunda Princesa, que havia sido separada dos outros. Mas ele imediatamente desapareceu de novo depois de derrotar a criatura. ”
Graças a Deus. Ele estava vivo — embora seu status “desaparecido” intrigasse Celia, isso já foi um alívio de ouvir.
"Isso certamente implicaria que ele não tinha intenção de prejudicar Sua Alteza. Ele tinha um motivo para empurrar o filho do Duque Huguenot? ”
"De acordo com os alunos, ele entrou em pânico quando o grupo de monstros atacou."
Rio, em pânico por causa de alguns monstros? Algo não soou bem para Celia.
"Entendo. Então há algum testemunho que refute essa opinião majoritária?"
"Não, ninguém, incluindo a Segunda Princesa, testemunhou nada contraditório."
“Hmm...”
"O fato de que ele se escondeu depois é a prova de sua culpa. Caso contrário, ele teria dado um passo à frente e se explicado", declarou o professor idoso corajosamente a Garcia, que parecia contemplativo.
"Se fosse possível provar completamente sua inocência, talvez", Garcia murmurou discretamente.
“Huh? ”
“Mmm, não, nada. ”
"Muito bem... Então o que será feito sobre o relatório para o castelo? Duque Huguenot está pressionando para que seja escrito imediatamente.”
"Hm. Se desapontarmos o Duque Huguenot aqui, essa insatisfação certamente chegará a Sua Majestade. Convenientemente temos um sacrifício pronto. Seria imprudente fazer uma consideração maior desse assunto.”
"Então, devo consolidá-lo como um problema causado por um estudante chamado Rio no relatório a ser submetido à corte real?"
O que foi isso? Então eles nem iam dar a Rio a chance de se explicar? A raiva aumentou dentro de Celia quando a conversa se voltou para o abandono de Rio.
"Isso mesmo. A maioria dos estudantes testemunhou a mesma história. O resto podemos deixar para o Duque Huguenot na corte real — ele deve ser capaz de cuidar do resto por si mesmo. ”
Honestamente falando, Garcia não poderia se importar menos com o que era verdade. Qualquer opção que fosse mais conveniente e menos confusa seria sua versão da verdade.
"Então eu vou proceder a relatar isso à corte."
"Deixo isso em suas mãos. Levarei o relatório a Sua Majestade e aguardarei seu julgamento. Informe a todos os professores que o garoto deve ser apreendido se ele retornar à academia."
“Entendido. ”
Celia tremeu de preocupação enquanto escutava sua conversa de negócios.
O que ela deveria fazer? Rio corria perigo nesse ritmo. e Celia acreditava nele. Ela não conseguia entender a sequência de eventos da conversa agora, mas ela estava certa de que Rio nunca empurraria Stewart por causa do pânico.
.... Embora ela pudesse imaginar o inverso acontecendo.
Rio provavelmente desapareceu porque sabia que seria colocado sob suspeita. Era muito fácil dizer que ele não tinha feito isso, mas provar isso exigiria a “prova do diabo”. Em vez de ter que passar por todo tipo de tribulações para refutar essas falsas acusações, seria mais fácil começar a correr desde o início.
Com essa percepção em mente, Celia respirou fundo para se acalmar e bateu na porta.

◇◇◇

Naquela noite, Rio voltou para a capital e entrou escondido em seu quarto no dormitório da Academia.
Os portões da cidade estavam normalmente fechados à noite, impossibilitando a entrada nos muros, mas Rio havia aprimorado seu corpo físico e suas habilidades para ganhar o poder de saltar sobre os muros completamente, conseguindo entrar com sucesso. Uma vez dentro destas paredes, não havia nada que ele tivesse que temer. Da mesma forma, ele pulou o muro no interior da cidade dos nobres e seguiu para a academia.
Com a maioria dos alunos em casa, a segurança à noite era muito mais fraca do que durante o dia. Rio usou seu amplo conhecimento da academia para andar facilmente sem ser descoberto pelas patrulhas. Eventualmente, Rio abriu a porta de seu agora familiar quarto, observando que não havia sinal de mais ninguém ter entrado em seu quarto ainda. Embora ele não tivesse muitos pertences para começar. Uma vez que ele tinha confirmado o estado de suas propriedades, ele removeu o saco escondido sob sua cama. Dentro estava quase todo o dinheiro da recompensa que ele tinha recebido por salvar Flora cinco anos atrás. Era mais do que suficiente para viver lá fora de agora em diante.
Em seguida, Rio tirou uma muda de roupa de sua gaveta e colocou o dinheiro na bolsa presa ao cinto. Embora o uniforme da academia fosse excelente em combate, infelizmente se destacava demais.
Assim que terminou de se preparar, Rio saiu de seu quarto. Ele foi em direção à única pessoa na academia em quem podia confiar — Celia.
Espero que ela ainda esteja por aqui...
Celia muitas vezes se escondia em seu laboratório de pesquisa até tarde da noite. Rezando para que ela ainda não tivesse ido para casa, Rio atravessou o corredor subterrâneo familiar abaixo da torre da biblioteca. A maioria dos professores tinha encerrado o dia, tornando o silêncio no corredor mais proeminente do que o habitual. De olho nos outros, ele finalmente chegou ao laboratório de pesquisa de Celia para ver a luz de uma lâmpada brilhando da abertura abaixo da porta.
Parece que Celia ainda estava lá, então Rio bateu suavemente na porta.
"Quem está batendo tão tar—”
Celia abriu a porta fazendo um beicinho, mas seus olhos se abriram dramaticamente ao ver Rio. Ela estava quase prestes a gritar quando ele gentilmente cobriu sua boca com um dedo.
“Shh. Peço desculpas pelo distúrbio. Se possível, quero falar com você", disse Rio em voz baixa.
Celia não pôde evitar corar antes de olhar acima e abaixo no corredor.
"Entre", ela sussurrou, convidando Rio para a sala. Uma vez que ambos estavam dentro, a porta se fechou com um clique. Rio estava agonizando sobre por onde começar sua explicação quando Celia se aproximou para um abraço apertado.
“S-Sensei? ” Rio perguntou confuso. Ele podia sentir o calor de Celia através de suas roupas; parecia que seu coração estava batendo alto, também.
"Você não está ferido, está?"
Depois de um momento, Celia tocou o corpo dele como se verificasse se havia ferimentos.
"Isso faz cócegas..., mas estou bem", disse Rio, sorrindo pela sensação de cócegas.
"Graças a Deus..." Com lágrimas nos olhos, Celia sorriu em alívio.
Ah, é o Rio... Ele está seguro — ela estava muito feliz. Liberada de suas preocupações, a sensação apertada em seu peito finalmente se soltou.
"Você já ouviu alguma coisa sobre a simulação?"
"Sim. Disseram que você empurrou Stewart e colocou a Princesa Flora em perigo... E que você derrotou um minotauro sozinho..."
"Deixando de lado a segunda parte disso, a primeira parte é uma acusação completamente falsa", afirmou Rio com um tom de exasperação.
"Eu sei! De forma alguma você faria uma coisa dessas. ”
"Obrigado por acreditar em mim..."
"Isso deve ser óbvio!" Celia afirmou imediatamente.
"Mas esse não é o caso para todos os outros. Eu realmente aprecio isso",
disse Rio com um sorriso tímido. Celia abraçou Rio mais uma vez.
". Está tudo bem. Eu acredito em você. Eu conheço você, afinal de contas. ”
Não tenho aliados nesta academia — Rio poderia estar pensando. Eu sou sua aliada — isso era o que Celia queria dizer a ele. “Sensei.”
Cálido.
Ele não conseguia se lembrar da última vez que sentiu o calor de outra pessoa. Incapaz de resistir a esse conforto, Rio permitiu que Celia se agarrasse a ele por um tempo.
"Ei, você vai me dizer o que aconteceu? Não tenho certeza de todos os detalhes da história..." Celia eventualmente perguntou.
"Claro, eu acho. Tudo começou durante a simulação..."
"Como eles podem dizer isso?! Claramente não foi sua culpa! ”
Depois que Rio terminou de falar, Celia liberou toda sua raiva reprimida.
"Aqueles com poder têm o direito de decidir de quem é a culpa", disse Rio com uma voz sábia, como se tivesse desistido desde o início. Em uma sociedade estruturada em torno do status social, a justiça era um conceito fluido decidido pelos poderosos.
É por isso que a justiça nunca funcionaria para os fracos. A justiça existia para os fortes.
"Talvez, mas... Rio, você está sendo falsamente acusado quando você não fez nada de errado! ” As palavras de Rio, mergulhadas em realismo, fizeram Celia gritar com uma expressão dolorida.
"Mas, mesmo que eu aparecesse com a verdade, os poderosos deste reino nunca ficariam do meu lado. É mais provável que eles me perseguissem ainda mais porque o filho do Duque Huguenot estava envolvido nesse incidente."
O atual Grande Senhor de Beltrum era o Duque Huguenot. Em contraste, Rio era apenas um plebeu sem status nem apoio.
Se a verdade por trás deste caso fosse exposta, o Duque Huguenot sofreria muito na frente política. Embora o incidente em si foi um acidente, seu filho quase matou um membro da família real. Considerando o status político atual de Beltrum, essa não seria uma situação desejável para os poderes da realeza e nobreza do reino. Isso era por causa do Duque Albor, que — depois de perder muito de seu poder em seu fracasso cinco anos atrás — tinha recuperado uma parte um pouco significativa de sua influência dentro da corte real.
Recentemente, as facções Huguenot e Albor estavam batendo cabeça nos bastidores sobre as relações diplomáticas com um reino hostil. Esse reino hostil era o Império Proxia — uma nação emergente ao norte que havia invadido muitos dos reinos menores da região, fazendo com que as tensões se esbravejassem com Beltrum. A facção do rei e do duque Huguenot apoiavam discussões pacíficas para reduzir as relações tensas, enquanto a facção do Duque Albor apoiava uma abordagem mais agressiva que exigia expansão militar. A facção de Duque Huguenot ainda estava ganhando no momento,
mas qualquer falha agora derrubaria a balança a favor do Duque Albor.
Se isso acontecesse, seria apenas uma questão de tempo até que a guerra fosse declarada.
Esse era um resultado indesejável para muitos da realeza e nobreza, incluindo o próprio rei.
Contra esse tipo de cenário político, alguma outra realeza e nobreza desejaria ver o fracasso da família do Duque Huguenot? Se a indignação tola de Stewart fosse arrastada para o público, eles se absteriam de provocar um confronto sem sentido?
De fato, se tudo pudesse ser resolvido empurrando toda a culpa para um plebeu, então seria um preço barato a pagar. Mesmo Rio e Celia conseguiam entender esse raciocínio quando pensavam calmamente sobre isso.
"Eu sinto muito. Eu realmente gostaria de poder fazer algo por você, mas..." Celia mordeu o lábio e se desculpou com frustração. Mesmo que ela quisesse provar a inocência de Rio, claramente não tinha o poder de fazê-lo. Não fazia sentido ser idealista ou se enfurecer sem o poder de mudar sua realidade. Era quase frustrante demais para suportar.
"Por favor, não peça desculpas", disse Rio com uma voz suave. "Tudo é graças a você, sensei. Eu só fui capaz de continuar até agora porque você estava aqui. Estou feliz portê-la conhecido. Eu realmente acho isso.”
“Rio. ” O rosto de Celia se distorceu de tristeza. Ela tinha uma ideia do que ele ia dizer a seguir.
"É por isso que eu vim para dizer adeus, sensei. Estou deixando este reino.”
A despedida brutalmente desoladora foi exatamente o que Celia esperou.
"Você já sabe onde vai?”
"Eu mencionei isso antes, mas estou pensando em visitar a cidade natal dos meus pais."
"A cidade natal dos seus pais... Você realmente vai para a região de Yagumo? Você vai ficar bem? ”
"Bem, eu tenho certeza que vai funcionar. Provavelmente." Rio respondeu o mais brilhantemente que pôde para aliviar as preocupações de Celia.
"Devo ir com você? Você tem o dinheiro suficiente? ” Celia perguntou depois de pensar muito por um momento.
"Seria uma crise enorme se você desaparecesse, sensei. Eu vou ficar bem. Ainda tenho muito dinheiro da minha recompensa. Já sei — Vou enviar uma carta para você enquanto estou na estrada. Sob um pseudônimo, é claro. ”
"Você absolutamente tem que enviar, ok? Eu não vou perdoá-lo se você esquecer. ”
"Sim senhora." Rio assentiu com um sorriso.
"Com qual nome você vai enviá-la? ”
"Certo, vamos ver...Que tal. Haruto" Rio hesitou brevemente antes de dar seu pseudônimo. Era o nome de Rio em sua vida passada.
"Haruto, entendi." Celia murmurou o nome para si mesma, como se o gravasse em sua mente.
"Então. Estou indo agora.”
Com essas palavras para marcar sua partida, Rio gentilmente separou o corpo de Celia para longe do dele.
“Ah. ” Celia soltou uma voz rouca enquanto o calor de Rio a deixava.
"Eu vou vê-lo novamente, certo?"
Ela deu o maior sorriso que pôde enquanto perguntava com uma voz
trêmula.
"Sim, nós definitivamente nos encontraremos novamente. ” Rio pensou um momento antes de acenar, mostrando-lhe seu sorriso gentil.
"Então cuide-se, e volte em segurança. Até mais tarde." Celia sufocou as ansiedades girando em seu peito e deu um sorriso triste.
"Sim. nos vemos", respondeu Rio, em seguida, lentamente ele se virou.
Ele deu um passo, depois dois, longe de Celia.
Ela sentiu como se seu coração fosse explodir enquanto via Rio recuar. Se ela baixasse a guarda, mesmo que um pouco, ela provavelmente acabaria agarrada às costas dele em lágrimas.
Mas ela não podia. Ela não podia chorar agora. Ela tinha que ver Rio partir de cabeça erguida, para que não o atrasasse. Celia mordeu o lábio.
Sem outra palavra, Rio silenciosamente saiu da sala. A porta se fechou silenciosamente atrás dele.
A represa se rompeu instantaneamente quando suas lágrimas derramaram de seus olhos.
Pensando bem, agora, quem acabou sendo salvo por seu tempo juntos foi Celia, não Rio.
Desde a infância, ela tinha sido pressionada para seguir em frente, para a inveja de seu entorno. Ela não tinha amigos íntimos próximos a ela, então ter alguém com quem conversar sem reservas era novo e precioso para ela. O tempo que ela passava com Rio todos os dias era divertido, e ela tinha ficado muito feliz ao ouvir que Rio a considerava uma amiga.
"Sinto muito, Rio... Eu não pude te ajudar..."
Os sons dos soluços de Celia continuaram a ecoar de sua sala por mais um tempo.

◇◇◇

"Com licença."
Flora estava fazendo uma visita aos aposentos de seu pai. Uma vez que lhe foi concedida permissão, ela entrou para encontrar-se na presença não só de Phillip III, mas de Garcia também. Ela ficou surpresa, mas ter o diretor da academia aqui era mais conveniente para ela. Ela endureceu a determinação dentro dela, segurando a borda de seu vestido enquanto fazia uma reverência em saudação.
"Qual é o problema, minha querida Flora?" Phillip III perguntou descaradamente, já tendo uma vaga ideia do que se tratava.
"Eu vim para falar com você em relação à simulação, pai. Há algo que
eu gostaria de dizer", declarou Flora com uma expressão determinada.
Os olhos de Phillip III se abriram ligeiramente em um vislumbre da forte determinação de sua filha, algo que ele raramente tinha visto, até agora.
"Não se preocupe. Eu já ouvi os detalhes deste caso de Garcia.”
"Então, certamente essa pessoa — Rio-sama — não será submetido a qualquer culpa. Correto? ” Flora perguntou diretamente, após mencionar o resultado que desejava.
"Infelizmente, isso não será possível."
"Mas por que, pai? ” Flora enviou um olhar de reproche para o rei, que balançou a cabeça com um olhar severo.
"Não é que eu esteja ignorando o seu testemunho. A realidade é que vários estudantes testemunharam o filho mais velho da Casa Huguenot sendo empurrado. Como resultado, você — um membro da família real — foi posta em perigo. Essa é uma razão mais do que suficiente para decretar punição.”
"Mas foi ele quem me salvou! De forma alguma ele faria uma coisa dessas! ”
"Então por que o garoto desapareceu depois? Sou grato a ele por salvá-la em inúmeras ocasiões...mas não há dúvida de que suas ações desta vez são
suspeitas. ”
"Isso é... Isso é porque todo mundo o trata mal! Porque nós não acreditamos nele, ele..."
"Ah, juventude." Garcia riu em divertido com o apelo de Flora.
"O que quer dizer com isso, Diretor Garcia?" Flora perguntou com um beicinho.
"Ideais e realidade podem nem sempre coincidir. Como alguém que vive entre os privilegiados, faria bem a você aprender isso, Princesa."
"Por favor, não mude de assunto. Que tipo de relatório deu ao meu pai? Espero que sua resposta seja satisfatória", exigiu Flora, recusando-se a ser enganada facilmente.
"Minha nossa, eu simplesmente reuni os depoimentos dos alunos." Ao contrário de seu tom irônico, Garcia sorriu como um velho de bom humor.
"Tente não provocar demais minha adorável filha, Garcia."
"Aham. Por favor, aceite minhas desculpas", Garcia ofereceu ao aviso de Phillip III, mantendo seus pensamentos sobre pais excessivamente amorosos para si mesmo.
"Flora, minha querida. Enquanto houver uma razão para a acusação, qualquer exceção causaria grande agitação dentro da classe nobre. No entanto, é verdade que o garoto a salvou do perigo. Ele será acusado do crime, mas estou pensando em conceder-lhe um indulto. Será que isso alivia suas aflições?", perguntou o rei.
“Quão brando, ” Garcia murmurou baixinho. O rei o silenciou com um olhar penetrante.
"Mesmo com o indulto da sentença, o crime ainda estará em seu registro..." Flora disse com um beicinho. Em outras palavras, Rio seria tratado como um criminoso, não importa o que.
Com uma acusação oficial de culpa e uma ficha criminal, qualquer esperança de um futuro brilhante seria frustrada. Mesmo que Rio permanecesse em Beltrum, sua porta para o sucesso estava tão boa quanto fechada e trancada.
"Eu entendo. No entanto..." Phillip interrompeu suas próprias palavras.
Garcia observava sua conversa com um sorriso agradável, como se não fosse da conta dele. O olhar conturbado do rei vagou, buscando a ajuda de Garcia. "Princesa, por favor, acalme-se", Garcia interrompeu exasperado.
"Estamos muito ocupados para cogitar todos os caprichos de uma criança."
Flora fechou a boca mal-humorada. "Eu simplesmente não posso perdoar as injustiças."
"E é por isso que eu estou chamando você de criança. Separe suas emoções de suas ações. Como realeza, você terá muitas experiências onde suas emoções e ações não se encontrarão no meio." Garcia nem mesmo achava que o incidente desta vez fosse suficiente para tornar-se emocional— mas ele não disse isso em voz alta.
Flora tinha sido completamente silenciada. Lágrimas brotaram em seus olhos. Ela chegou à dolorosa percepção de que eles a tratariam como uma criança mimada, independentemente do que ela disse.
Foi incrivelmente frustrante.
Flora sempre obedeceu silenciosamente seu pai e irmã. Não havia ofensa em suas palavras, então ela geralmente acreditava que era a coisa certa a fazer...
Mas desta vez, ela não podia acreditar neles.
"Muito bem."
Ela murmurou essas palavras sem acreditar nelas, já que agora entendia que suas palavras não tinham poder. Ela não podia fazer nada sozinha — seu coração parecia estar se partindo de dor.
A única coisa que ela podia fazer era rezar pela segurança de Rio.
Flora amaldiçoou sua própria impotência.
O ano era 996 da Era Sagrada — mais de cinco anos se passaram desde que Rio recuperou suas memórias de outro mundo.


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