Capítulo 7: Convidado Indesejado

Em um dia em particular, depois que a vida de Rio na vila tinha passado a marca de seis meses...
Nas partes ocidentais da Região Selvagem, em uma cadeia de montanhas particular, um grifo solitário estava batendo suas asas, subindo muito no ar.
Os grifos eram chamados de leões dos céus, famosos por serem governantes das alturas, perdendo apenas para a família dos dragões. Eram criaturas extremamente inteligentes, mas tinham temperamentos selvagens, e habitavam principalmente áreas montanhosas. Como as partes superiores de seus corpos eram aves de rapina, um de seus traços característicos eram seus gritos agudos. No entanto, para alguns cidadãos do país, eles eram bestas para serem mantidos como animais de montaria.
"R-Reiss-san. Está realmente bem, vir aqui tão longe?"
Dois humanos estavam sentados na parte de trás do grifo. Um deles — um garoto com a aparência de um aventureiro — fez uma pergunta ao homem de túnica negra chamado Reiss, sentado atrás dele com as rédeas nas mãos.
"Sim, está bem. No entanto... se isso é suficiente para assustá-lo, então talvez você não seja muito adequado para ser um membro do nosso esquadrão mercenário, afinal, hmm?", Reiss soltou um enorme suspiro, desde que ele já havia respondido essa pergunta inúmeras vezes.
"N-Não, não é isso que eu estava dizendo! S-Só queria saber para onde estamos indo. Vários dias já se passaram desde que entramos na Região Selvagem.” O garoto se apressou em explicar-se, fazendo-o parecer ainda mais assustado.
A natureza encheu o cenário diante de seus olhos. Não havia nem um vestígio de uma presença humana — apenas feras perigosas rondavam a área, então era natural para um aventureiro novato como ele ter medo.
Até recentemente, o garoto fazia parte de um pequeno grupo de aventureiros que lutava contra monstros fracos para conseguir algum dinheiro. Como um novato fresco na cena, todos os dias era um obstáculo a ser atravessado — até que um dia, ele foi abordado por Reiss, que o convidou para o famoso esquadrão mercenário com o nome dos grifos: Leões Celestiais. Ele havia considerado Reiss uma figura bastante sombria no início, mas uma vez que os Leões Celestiais foram mencionados e lhe foi dito que eles estavam recrutando jovens aventureiros para treiná-los pessoalmente, ele decidiu pelo menos ouvi-lo.
Assim, depois de lhe ser mostrada a insígnia dos Leões Celestiais — e até mesmo um grifo — o desejo do garoto de se tornar um herói tinha sido facilmente despertado, e ele se viu alegremente concordando em se juntar ao esquadrão antes mesmo que percebesse. Depois disso, lhe foi dada imediatamente uma missão para completar, como uma tarefa de iniciação. Os eventos continuaram a progredir diante de seus olhos confusos, até que ele finalmente se viu casualmente montando na parte de trás de um grifo, meio arrependido de tudo.
"Fufu, chegamos ao nosso destino. Vamos descer aqui.", disse Reiss, controlando as rédeas em suas mãos para abaixar o grifo descendo na encosta da montanha. Na montanha em que pousaram havia muita rocha exposta e faltava muita vegetação.
S-Se vou fazer isso, farei direito! Vou dar o meu melhor! Quando chegaram ao seu destino e aterrissaram, o garoto já havia se decidido.
"Vamos", disse Reiss, seguindo para algum lugar de repente.
"Sim!", o garoto assentiu com grande entusiasmo, correndo atrás dele.
Depois de caminhar em direção ao cume por cerca de uma hora, eles se depararam com uma grande caverna logo antes do pico.
"Oh, nós vamos entrar ali?"
"Isso mesmo. Investigações preliminares já foram concluídas. O mestre desta caverna deve estar caçando comida neste momento, e não vai voltar por um tempo, então não há necessidade de se preocupar.", explicou Reiss em um tom calmo, fazendo o garoto suspirar de alívio.
"Você pode esperar aqui. Voltarei em poucos minutos." Dito isso, Reiss não disse mais nada e entrou na silenciosa caverna. Então, fiel às suas palavras, ele voltou da caverna alguns minutos depois.
Graças aos deuses. Agora podemos voltar, o garoto pensou. Mas assim que o alívio estava inundando através dele, ele notou o item que Reiss estava carregando com as duas mãos e endureceu em choque.
"R-Reiss-san, o que é isso?"
"Você não sabe dizer? É um ovo.", respondeu Reiss indiferentemente.
"Q-Que tipo de ovo?"
"Oh, você está curioso?"
"Ah, não..." Com medo de descobrir a verdade, o garoto balançou a cabeça reflexivamente.
Embora fosse de fato apenas um ovo, tinha um diâmetro de mais de 30 centímetros. Sua casca era tão grossa, que parecia que precisaria de uma arma brusca para quebrar, e seu peso era facilmente 10 quilos, também.
"Aqui. Estou entregando isso a você."
"Hweh?" O garoto soltou um barulho espantado.
"Você precisa segurar este ovo — eu tenho que guiar o grifo, afinal. Eu adoraria colocá-lo na bolsa, mas não podemos nos dar ao luxo de jogar fora nossa comida para a viagem de volta, agora podemos?"
".... C-Certo." Incapaz de argumentar contra a explicação imparcial de Reiss, o garoto acenou com a cabeça desajeitadamente.
"Bom. Agora, vamos voltar para o grifo?"
Reiss começou a caminhar, e o garoto em seus calcanhares. Ele não queria ficar aqui por mais tempo, e se sentia completamente dormente enquanto eles voltavam para onde o grifo estava esperando.
"O-Os pais não vão ficar bravos? E se tentarem recuperar o ovo? Quero dizer..." O garoto perguntou com um sorriso contorcido antes de montar, acometido por suas preocupações.
"Vai ficar tudo bem, é claro." Reiss colou um sorriso assustador em seu rosto quando respondeu.
"Quão longe você acha que é a distância daqui até Strahl?"
"Certo... claro..."
"Vamos voltar, agora. Certifique-se de segurar o ovo com firmeza, entendeu?" Depois que ele recebeu um aceno de reconhecimento do garoto, Reiss ordenou que o grifo fosse embora. No entanto, a direção que eles estavam viajando não era Strahl, mas a grande floresta onde o povo espiritual vivia. Mais tarde naquela noite, um tremendo e aterrorizante lamento ecoou na caverna que Reiss tinha visitado.
◇◇◇
Finalmente, chegou o dia do Grande Festival Espiritual. O palco principal do ritual deveria ser realizado no santuário espiritual construído perto das raízes da árvore gigante que Dryas protegia. Levou meia hora temporal (ou aproximadamente, uma hora regular) para caminhar até lá da vila. Com exceção do nível mínimo de segurança, quase todo o povo espiritual — mais de dez mil deles — havia se reunido nos magníficos terrenos do santuário.
O espírito da árvore gigante, Dryas, estava em um altar colocado no palco de dança do santuário, olhando para os anciões que estavam prostrados diante dela — entre os presentes estavam Syldora, Dominic e Asura.
"Sob a bênção divina do Grande Espírito, que sua graça e proteção estejam com o Seirei no Tami por toda a eternidade..." Uma atmosfera solene dominou toda a área enquanto Syldora e os outros ofereciam sua oração.
Uma vez concluído o ritual de oração, os anciões desceram do palco. Então, Sara, Oufia e Alma apareceram no palco vestidas com trajes cerimoniais, e começaram sua música e dança de apreciação para Dryas.
Dryas olhou para as três alegremente.
"Elas são tão bonitas..."
Abaixo do palco de dança, Latifa estava assistindo a dança mágica das garotas com admiração. Depois que as três terminaram sua apresentação, Syldora subiu ao palco mais uma vez e começou a falar em tom majestoso.
"Damas e cavalheiros! O Festival do Espírito começou mais uma vez em segurança. Isso tudo graças aos seus incansáveis esforços, orações diárias e dedicação aos espíritos ao longo do último ano. Que sua gratidão aos espíritos dos sonhos nunca diminua." Syldora não falava alto, mas o efeito de amplificação das artes espirituais do vento facilmente carregava sua voz por toda a área.
"Agora, vamos continuar o ritual.", continuou a voz de Syldora, fazendo Latifa ficar bastante nervosa.
Todos os anos, durante o Grande Festival Espiritual, era costume que as crianças do Seirei no Tami que alcançassem uma certa idade fossem apresentadas a todos na vila e recebessem uma bênção de Dryas. Latifa era uma dessas crianças este ano. Além disso, aqueles que receberam a bênção de Dryas seriam agraciados com um ligeiro aumento na quantidade total de odo e na afinidade com as artes espirituais, embora não fosse tanto quanto um contrato espiritual concederia.
Rio notou o nervosismo de Latifa e estendeu sua mão para agarrar a dela. Em resposta, Latifa levantou a cabeça e mostrou um sorriso corajoso.
Syldora chamou os nomes das crianças para subir ao palco de dança. Lá, uma simples introdução e saudação foi dada para que os moradores se familiarizassem com as crianças. Em seguida, Dryas lhes deu um beijo de bênção em sua testa, e os corpos das crianças brilharam com uma luz suave.
O nome de Latifa foi chamado depois que todas as outras crianças receberam suas bênçãos.
"Meio ano atrás, uma de nossas irmãs veio se juntar a nós: a bestial da tribo raposa, Latifa."
Depois que seu nome foi chamado, Latifa subiu ao palco, seu pequeno corpo tremia um pouco.
"Ela sofreu muito nas mãos de humanos sem coração, mas ao mesmo tempo, ela está aqui conosco hoje graças ao humano de bom coração que estendeu sua mão em ajuda. Ela é uma menina admirável e gentil." Na introdução de Syldora, Latifa fez uma estranha reverência. Então, como as outras crianças antes dela, ela caminhou em direção ao altar de Dryas.
"Por aqui, Latifa."
"S-Sim." Instada por Dryas, Latifa foi até ela.
"Isso faz de você uma residente oficial desta vila. Espero que você se sinta em casa aqui.", disse Dryas, antes de abraçar Latifa repentinamente. Isso foi muito mais contato em comparação com os outros, que só tinham recebido beijos. A multidão murmurou baixinho.
Latifa, em choque, sem querer soltou um grito. "Fweh?"
"Fufu. Você sofreu tanto até agora, que pensei em te dar um tratamento especial. Eu só posso fazer este tanto por você, mas espero que você sempre encontre força em seu coração."
"S-Sim!" Latifa deu um grande aceno, emocionada.
Dryas, em seguida, deu um beijo gentil na testa de Latifa; uma leve luz imediatamente começou a brilhar do corpo de Latifa. Apesar do inesperado acontecimento, Latifa também recebeu a bênção de Dryas.
E com isso, o ritual de bênção estava completo.
Se o festival tivesse seguido a mesma progressão dos anos anteriores, era aqui que a cerimônia de encerramento seria realizada antes de passar para o banquete. No entanto —
"Por fim, quero apresentar aquele que resgatou Latifa. Nosso unilateral mal-entendido causou-lhe muitos problemas no passado, mas ele nos perdoou, e nos permitiu começar de novo. Assim, somos muito gratos a ele. Permitam-me apresentar a vocês o benfeitor de Latifa — e nosso também — Rio-dono.", Syldora começou sua introdução.
Com um leve aceno, Rio subiu as escadas do palco. Uma vez que ele estava ao seu lado, Syldora continuou.
"Rio-dono nos ensinou muitas receitas de comida interessantes. Elas são deliciosas, e serão servidas no banquete subsequente, por isso aguardem ansiosos por isso."
O humor sobre os terrenos do santuário suavizou um pouco.
"Rio-dono fez contrato com um espírito humanoide. Esta é uma verdade que foi confirmada pela própria Dryas-sama, então não há erro. ... Silêncio!" Syldora vociferou para os agitados moradores da vila; suas palavras tinham causado que a área irrompesse em conversas barulhentas.
Até agora, o contrato de Rio com o espírito humanoide tinha sido mantido em segredo daqueles fora do conselho da vila. Mas eles escolheram usar suas cartas neste exato momento. O resultado foi perfeito.
"Como membro do conselho da vila, não posso permitir que alguém que fez um contrato com um espírito humanoide seja desrespeitado — não importa se ele é um Seirei no Tami ou não." Com as palavras de Syldora, os anciões deram grandes acenos de acordo. O objetivo de sua ação era expressar externamente a unidade da opinião do conselho sobre o assunto.
"Rio-dono é nosso benfeitor. Sua esplêndida personalidade ficou mais do que clara nos últimos seis meses de sua estadia aqui. É por isso que estou considerando aceitar Rio-dono como um amigo jurado do Seirei no Tami. Alguém se opõe?" Syldora perguntou em voz alta, fazendo com que um silêncio caísse sobre os terrenos do santuário. Considerando que não há objeções, Syldora continuou falando.
"Então, eu gostaria humildemente de pedir que Dryas-sama conceda a Rio-dono um beijo de bênção como símbolo de nossa amizade juramentada. Rio-dono, Dryas-sama." Instigado por Syldora, Rio se aproximou do altar onde Dryas estava.
"Fufu. Vamos nos dar bem. 'Pequeno herói de raça humana-san'." Dryas sorriu. Depois de dar um beijo na testa dele, o corpo de Rio começou a brilhar com uma luz suave. Depois de um instante de silêncio, o local se encheu de felicitações e aplausos.
"Agora, o ritual chegou ao fim! É hora do banquete! Preparem-se!" Dominic anunciou o fim da cerimônia quando os aplausos cessaram.
Imediatamente, a agitação dos moradores foi direcionada para a comida, e a equipe de gestão do banquete começou os preparativos de forma apressada. Eles usavam livremente as artes espirituais para guiar as multidões, montar a área do banquete e distribuir os alimentos e bebidas de forma eficiente. Um jovem elfo e um bestial alado voavam por cima, agindo como mensageiros, despachando ordens de trabalho, e guiando os moradores da vila com vozes amplificadas pelas artes espirituais. Anões estavam usando artes espirituais para manipular a terra, criando mesas e cadeiras improvisadas por todo o santuário em um ritmo rápido.
Enquanto isso, Oufia e várias outras garotas elfas estavam usando seus artefatos de Armazenamento Espaço-Tempo para trazer pratos completos e bebidas um após o outro, enquanto homens de espécies variadas corriam para levá-los a cada mesa. Assim, o trabalho progrediu à medida que os outros olhavam, e em pouco tempo todos os preparativos foram concluídos. O banquete começou com um brinde alto.
"Gahahaha! Você com certeza é um bebedor habilidoso, menino Rio!" Dominic segurou um copo de saquê em uma mão enquanto ele ria entusiasmado de Rio, que estava bebendo com ele.
"Sim — eu normalmente não bebo porque tenho prática, mas achei que deveria pelo menos beber livremente hoje. O licor desta vila com certeza é de alta qualidade." Rio disse, levantando a taça para a boca.
Isso não foi exatamente lisonjeiro, mas um elogio do fundo de seu coração. Havia vários tipos de licores oferecidos no banquete, mas mesmo o licor produzido a granel mais barato do povo espiritual excedeu a qualidade do que a alta nobreza e realeza de Strahl bebia. Claro, não era preciso dizer que a progressão de consumo das bebidas também era mais rápida.
"Bem, é lógico! Nossa vila só prepara licor genuíno! Não são como aquelas bebidas feitas pelos humanos que eles só bebem para ficar bêbados!" Ouvir a bebida da vila sendo elogiado fez Dominic rir alegremente.
"É exatamente como você diz. Agora que provei esse licor, eu nunca mais posso voltar para o álcool de Strahl."
"É bom ouvir isso! Este nem mesmo está na camada superior do álcool que fazemos. Espere até experimentar nossa especialidade do Seirei no Tami, o Licor Espiritual!" Com um sorriso, Dominic pegou uma jarra de mithril e um copo. Ele derramou seu conteúdo no copo e o ofereceu a Rio.
"Isso..."
"Shh, apenas beba."
No instante em que Rio olhou para o copo, um suave e hipnotizante aroma, fez cócegas em seu nariz. Um líquido espesso enchia o copo, atraindo a boca de Rio em direção a ele quase involuntariamente. No momento em que o sake tocou sua língua — "Wuh?!"
O sabor era tão requintado, que quase fez cair a mandíbula de Rio. Ele fechou apertadamente a boca, em pânico, mas o sabor intenso do álcool já estava percorrendo cada centímetro dele.
Era tão bom que parecia que sua alma estava saindo de seu corpo. O sake provavelmente foi apelidado de Licor Espiritual por essa mesma razão: porque bebê-lo causava uma experiência quase extracorpórea, Rio ponderou.
Incapaz de resistir à tentação, Rio levou o copo à boca para um segundo gole. Antes que percebesse, o sake em sua boca tinha desaparecido, como se tivesse evaporado no ar.
Não, o sake definitivamente passou pela garganta de Rio... O gosto era demais para ele processar, fazendo parecer que tinha desaparecido em um instante. Embora tivesse uma potência tão alta, era terrivelmente fácil beber.
Esta era uma bebida de primeira, digna de ser chamada de Licor Espiritual. Ele nem mesmo conseguia considerar o álcool de Strahl como álcool. Sem palavras, o corpo de Rio tremia com as emoções que passavam por ele. Foi quando Dryas apareceu, segurando um copo em sua mão.
"O que você acha? Meu fluído vital também está incluído.", disse ela.
"Guh!" Cof, cof. Ao ouvir Dryas mencionar seu "fluído", Rio engasgou.
"Kya! Eww, mō. O que você está fazendo?"
"M-Me desculpe. Só fiquei surpreso. Este é o fluído de Dryas-sama?"
"Isso mesmo. Chama-se Licor Espiritual, não é? Como o espírito da árvore gigante, eu sou o espírito que reside na seiva usada — daí o nome. Minha seiva é até usada em elixires.", disse Dryas orgulhosamente.
"E-Entendi..." Se a seiva produziu sake dessa qualidade, então certamente poderia ser usada como um componente milagroso para medicamentos também.
"Estou impressionada, no entanto. Só os anões podem beber esse sake corretamente. Você deve ser um bebedor pesado, Rio.", disse Dryas com olhos surpresos.
"Você está certa, Vossa Grandeza! É quase uma pena que um cara como este seja um humano. Agora beba, beba!" Dominic concordou alegremente enquanto reabastecia o copo de Rio. O ancião anão já havia consumido uma boa quantidade de álcool, mas seu rosto ainda parecia muito bem.
"É realmente uma bebida potente. É quase assustadora a facilidade com que ela desce apesar disso." Rio olhou para o copo cheio de Licor Espiritual com reverência.
"Certo? Normalmente eles acabam assim." Com um sorriso agradável, Dryas dirigiu o olhar para trás de Rio, que se virou e o seguiu.
Lá ele viu —
"O-Oufia-san?" Oufia estava tropeçando em seus próprios pés, indo em direção a Rio. Seu rosto estava tão vermelho que era evidente que ela estava bêbada com apenas um olhar.
"Riooo-shaamaaa, voshê eshta... bebenjoo...?" Oufia perguntou com uma pronúncia defeituosa e um pouco arrastada, caindo pesadamente no assento ao lado de Rio. A diferença entre seu eu habitual gentil era tão grande, que Rio ficou perplexo.
"U-Umm, Oufia-san, você não bebeu um pouco demais?" Rio perguntou com um sorriso crispado, enviando suas palavras de preocupação.
"Ah! Eshtou... Eshtou bieeenn. Iiishtoo... nooo eeessh naadda..."
Você claramente não está nada bem! — Rio gritou para si mesmo. De repente, Oufia aproximou seu corpo ao de Rio, e agarrou seu braço.
"Maash importanshee, Rioooo-shaann! Quaando voshê vai parar jee falar shãão rijjidamenshe?!"
"... hum, eu falo rigidamente?"
"Shiim! Voshê fala como she tentashee manter dishtanshia." Oufia manteve o contato visual com um olhar estranhamente firme. Ela falou com tanta insistência, que Rio não podia deixar de recuar.
"Eu me mee toornei beem prooshima jee Latifa-shaan, maaaash, nooo sheei nieem sheeequer shee Rioo-shaan me vê como anmiga. Faash meio ano que voshê veio aquiii. Iishoo não eshtaa nada bieem..."
Sem saber como lidar com uma Oufia bêbada, Rio procurou Dominic e Dryas para pedir ajuda. Mas os dois tinham desaparecido de onde estavam bebendo há meros momentos, parados à distância e rindo de Rio.
Eles me abandonaram! — Ah, Sara-san! Assim que o desespero tomou conta de Rio, ele notou Sara vindo em sua direção e soltou um pesado suspiro de alívio.
"Aah! Mō, Oufia, você está causando problemas ao Rio-sama!" Sara disse, segurando seu copo com as duas mãos enquanto se sentava e grudava seu quadril ao de Rio.
A julgar por sua aparência, Sara ainda parecia estar lúcida e sóbria, mas Rio pôde sentir que algo estava terrivelmente errado. Em todo o tempo que passaram morando juntos, ele sabia que Oufia e Sara não eram do tipo que o tocariam tão proativamente.
"Erm... Você está bêbada também, Sara-san? Haha..." Rio perguntou, olhando nos olhos de Sara.
"S-Sim. Hum, posso estar um pouco bêbada." Talvez ela realmente estava, já que suas bochechas estavam avermelhadas quando ela assentiu com a cabeça. Seus olhos vagavam pelo local, e sua cauda também se movia inquieta. Sara se aproximou ainda mais.
"Certo... Devo lançar uma arte espiritual de desintoxicação em você?" Sentindo seu corpo ser pressionado de ambos os lados fez Rio se recompor e perguntar.
"N-Não! Eu ficaria ainda mais envergonhada se você fizesse isso!" Sara balançou a cabeça, um pouco agitada.
"Isho meshmo. Eshcutcha Shara-chaan.", Oufia falou de acordo.
Ainda mais envergonhada.... Isso implicava que ela estava sentindo um certo nível de vergonha no momento. E ainda assim, ela escolheu ficar grudada tão perto dele. Rio calmamente tentou discernir qual seria a razão para isso.
No entanto, as garotas agarradas em cada lado dele tornaram muito difícil pensar.
Como acabou assim? Rio lamentou para si mesmo.
Sara e Oufia eram de alto status, poderiam ser consideradas as princesas da vila... e elas eram extremamente bonitas também. Rio não suportava estar nessa situação, mas era o tipo de circunstância em que não seria estranho se todos os homens ao seu redor lançassem dagas com o olhar em sua direção.
Então, como para dar o golpe final:
"Hmph! Oufia-oneechan, Sara-oneechan, isso é injusto!" Latifa de repente abraçou Rio por trás dele.
"Você está bêbada também, Latifa...?" Rio baixou a cabeça, resignado.
O rosto dela estava o mais perto possível dele, e ele podia sentir o leve aroma do doce Licor Espiritual de sua boca. Ao longe, Rio podia ver Asura rindo alegremente com Dryas e Dominic. Imediatamente, ele concluiu que este era um trabalho sujo deles.
Naquele exato momento, mais uma figura apareceu e chamou Rio. Foi Alma.
"Boa noite, Rio-sama. Posso me juntar a você também?"
"Sim, é claro." Rio assentiu com alegria. Os olhos de Alma ainda tinham um mínimo de razão dentro deles.
"Honestamente, só porque o gosto do Licor Espiritual é bom não significa que você pode beber o quanto quiser.", disse Alma com exasperação enquanto se movia para sentar-se de frente para Rio. Eles estavam a menos de um braço de distância um do outro, mas era a distância perfeita para ser capaz de conversar sem precisar gritar, devido ao barulhento banquete que acontecia ao seu redor.
"Parece que você ainda não está bêbada, Alma-san."
"Anões têm uma alta tolerância ao álcool." Alma sorriu levemente ao ver o rosto aliviado de Rio.
"Alma-shaan, shão lindaaaa!" Oufia, sentindo a leve mudança de expressão no rosto de Alma, de repente a abraçou.
"Wah! Isso faz cócegas, Oufia-neesan!" Apesar do constrangimento, Alma não se resistiu.
Sara riu.
"Alma costumava ser uma bebê chorona, sempre seguindo a mim e Oufia por aí. Ela era tão fofa..., mas agora, se tornou uma adulta madura e chata. Acredita que ela costumava nos chamar de 'Onee-chan'?" Ela disse, revelando velhas histórias de Alma para Rio. Rio e Latifa olharam para Alma, surpresos.
"W-Wah! Sara-neesan! O que você está dizendo?! Você está muito bêbada!" Alma tentou parar Sara em pânico, mas era tarde demais.
"Eu quero ouvir mais sobre 'Alma-chan' quando ela era pequena! Certo, Onii-chan?" Latifa riu de emoção, voltando-se para Rio.
"Certo." Rio concordou provocadoramente.
"V-Você também não, Rio-sama... N-Não acha que devemos usar este tempo para aprofundar nossa amizade em vez disso?!" Alma gritou, com o rosto corando de um vermelho profundo.
"Iisho meeshmo! Eu quero sheer maaiish anmiga jee Rio-shaan! Maash, Rioooo-shaama coonshinua tentanjoo ficar dishtanshee!" Oufia agarrou-se ao tema que Alma trouxe à tona, enfatizando sua declaração anterior.
"C-Comigo...? Mas eu já estou morando com você..." Demorou um pouco antes que Rio pudesse encontrar uma resposta, mas ele não podia negar a distância que estava tentando manter. Eles podem estar vivendo sob o mesmo teto, mas Rio definitivamente passou o tempo todo mantendo suas paredes erguidas enquanto interagia com elas.
"É verdade que moramos juntos. Você nos ajuda com nosso treinamento e nos ensina a cozinhar também. Como devo dizer.... Mesmo que Latifa-chan tenha aprendido a nos amar como irmãs mais velhas, ainda há essa sensação de distância quando se trata de você. E isso parece um pouco... s-solitário, sabe? Nós nos tornamos amigos jurados agora, então..." As bochechas de Sara coraram enquanto ela evitava o olhar de Rio e falava em um tom afiado.
"Nosh shó queremoosh sheer melhoresh anmigosh. Ehehe.", sorriu Oufia. No final, tudo se resumia a essa simples frase.
Então é por isso que elas estão sendo tão pegajosas... e ousadas... em suas ações. Embora eu não ache que seja a maneira correta de abordar isso... Ele estava feliz que elas decidiram expressar seus sentimentos de uma maneira tão direta. Rio olhou de soslaio para Latifa, que tinha subido em suas costas e estava espiando sobre seu ombro. Ela estava sorrindo alegremente enquanto observava o curso dos eventos.
Latifa estava por trás de tudo isso? Sara-san e as outras não costumam agir dessa forma.
Com esse pensamento, Rio não pôde evitar sorrir. As garotas tinham ido tão longe, fora de seus comportamentos usuais apenas para se tornarem amigas mais próximas dele. Esse fato o fez muito feliz.
"O-O que é tão engraçado?" Sara perguntou com o rosto vermelho. Ela estava bêbada, ou se sentindo envergonhada pelo quão diretamente havia expressado seu desejo de ser uma amiga mais próxima.
"Nada, só estou feliz. Obrigado a todas. É parte da minha personalidade eu não ser muito sociável com os outros, então eu ficaria muito grato se pudéssemos continuar nos dando bem." Rio sorriu gentilmente, olhando em volta para as garotas e curvando-se ligeiramente para elas.
"S-Sim! Adoraríamos isso!"
Depois de piscar em branco por um momento, Sara e as outras assentiram animadas. Elas pegaram nas mãos umas das outras e saltaram por aí com alegria.
"Agora todos nós podemos ser melhores amigos!" Latifa disse alegremente, abraçada ao pescoço de Rio.
"Gahaha! Parece que está tudo resolvido. Aqui, eu trouxe um pouco de comida e sake.... Agora vocês podem aprofundar o relacionamento com isso." Dominic de repente apareceu do nada e se aproximou do grupo com uma risada calorosa. Asura estava atrás dele.
"Eu sabia que vocês dois também estariam envolvidos..." Rio disse com um olhar cansado.
Asura deu uma risada bem-humorada.
"Oho, parece que tudo correu exatamente como planejado."
"Dominic-ooki-jiji-sama , qual é o significado disso?" Alma olhou para a comida e bebida apresentadas com curiosidade.
"Você é uma anã, também, não é? Tudo o que você precisa fazer é comer, beber e rir, é claro!"
"Por favor, não me inclua nesse seu estereótipo de espécie com cérebro de músculos."
"Gaha! Que garota! Que tal, Rio, meu rapaz? Ela pode ser um pouco tensa com as piadas, mas ela é uma beleza, e tem seus momentos fofos, também. Agora que você é um amigo jurado do Seirei no Tami, que tal levar uma noiva do povo espiritual com você?" Dominic falou com um sorriso ofuscante.
"Umm, isso é um pouco..." Rio se esforçou para responder.
"N-Não diga coisas tão absurdas!" Alma corou furiosamente e se refutou, fazendo com que Rio forçasse um sorriso em seu rosto.
"Isso mesmo. Você precisa considerar como a pessoa se sente.... Especialmente quando se trata das mulheres.", disse Rio, fazendo Dominic olhar surpreso para Alma.
"Por quê? Você não gosta do menino Rio, Alma?"
"N-Não, não é que eu não goste do Rio-sama ou algo assim. É que eu ainda sou jovem, então há outras coisas que eu gostaria de fazer primeiro..." Estranhamente, Alma respondeu a Dominic muito a sério, com o rosto vermelho.
"Alma-shaan esh tão foofa. Então... eu vou sheer noiva do Rioo-shaamaa também!" Oufia disse, acariciando a cabeça de Alma.
"Ohoho. Você não pode perder para elas, Latifa. Você também, Sara."
"Sim!"
"P-Por que estou incluída?"
Latifa assentiu inocentemente, enquanto Sara gritou seu protesto em pânico.
"Gahaha. Menino Rio, você deveria tomar as quatro como suas noivas. A vila do Seirei no Tami permite a poligamia, afinal de contas.", brincou um Dominic de cara vermelha, rindo alta e grosseiramente com o Licor Espiritual em uma das mãos.
"Parece que este velho homem finalmente atingiu o status de um bêbado completo..." Alma lançou um olhar exasperado em Dominic.
Os outros riram da visão. Antes de perceber, Rio também estava rindo. Ele nem se lembrava da última vez que riu tanto assim... foi um momento feliz no tempo.
Enquanto eles riam, conversavam de forma barulhenta, e assistiam aos divertidos shows paralelos que se apresentavam, a maioria do povo espiritual dos arredores tinha desmaiado bêbada. Latifa, Sara, Oufia e até a tolerante ao álcool Alma tinham adormecido ao lado de Rio. Alma estava tombando as bebidas mais fortes para esconder seu constrangimento, resultando em sua situação atual.
"Hm. Isso é um espetáculo e tanto.", disse Asura a Rio com um sorriso inquieto.
"Se é isso que você pensa, então por favor, faça um esforço para pará-las da próxima vez.", respondeu Rio fluentemente enquanto seu rosto estava vermelho.
"Hohoho! Não estava se divertindo, Rio-dono? Você poderia ter usado artes espirituais para deixá-las sóbrias a qualquer momento, mas ninguém faria coisas tão rudes assim em festividades como esta. Por que você não relaxa um pouco mais?"
"Não, já me diverti bastante." Rio balançou a cabeça com um sorriso ligeiramente tenso, em seguida, olhou para Latifa, que dormia felizmente.
"Estou pensando em contar a Latifa em breve."
Ele não especificou o quê. Asura entenderia o que Rio precisava dizer a Latifa mesmo sem ele dizer.
".... Eu acredito que ainda é um pouco cedo, mas isso pode ser realmente o melhor.", disse Asura, olhando amorosamente para a Latifa adormecida.
◇◇◇
No dia seguinte ao Grande Festival Espiritual...
Rio acordou com os raios matinais filtrando através de sua janela. Nenhum dos outros habitantes da casa estava acordado ainda, então ele cozinhou um fino mingau de aveia para todos — já que era leve para o estômago — e comeu sua parte sozinho. Depois de deixar para trás um bilhete, ele saiu e vagou sem rumo ao redor da vila. Após o banquete de ontem, havia muito menos pessoas acordadas e caminhando lá fora do que o normal.
Rio foi até a praça deserta da vila, e depois deitou-se no chão, olhando para cima. Ele fechou os olhos e sentiu o vento contra ele, e permaneceu assim por algumas horas.
"Onii-chan?"
Uma voz ansiosa soou de cima de sua cabeça. Rio abriu os olhos, e viu o rosto de Latifa olhando para ele.
"Como você sabia que eu estava aqui?" Rio perguntou com uma expressão um pouco tensa.
"Eu sou da tribo raposa, lembra? Eu tenho um bom olfato, e eu nunca esqueceria o cheiro de Onii-chan."
"Oh, tem razão. Então, o que houve? Você não parece muito bem."
"Não, eu estou bem. Onii-chan não estava lá quando acordei, então fiquei muito assustada por um momento. Pensei que talvez Onii-chan tivesse saído para um lugar distante." Latifa sorriu com um olhar de profundo alívio, balançando a cabeça.
".... Ei, já faz mais de meio ano desde que chegamos a essa vila, certo? Você está se divertindo morando aqui?" Rio perguntou de repente, com um olhar pensativo em seu rosto.
"Hm? Sim! É superdivertido! Sara-oneechan e as outras garotas estão aqui, Bella-chan e as outras crianças estão aqui, Asura-sama e os anciões são realmente gentis, e acima de tudo — Onii-chan está aqui!" Latifa assentiu, com um radiante e despreocupado sorriso. Rio sentiu uma pontada aguda no fundo do peito, mas ele tinha que continuar. Depois de vários segundos de hesitação, ele falou.
"... Latifa. Estou pensando em deixar esta vila depois de um tempo."
Sem saber como quebrar o gelo, ele acabou dizendo sem rodeios e observou a reação dela.
Em algum momento, enquanto ele estava distraído, todos os traços de emoção tinham desaparecido do rosto de Latifa. Ela estava congelada, olhando em branco para o rosto de Rio, mesmo estando sorrindo tão fofamente há alguns segundos atrás.
"Está indo…embora?" Latifa conseguiu perguntar com uma voz rouca.
"Sim, eu tenho que ir. Você se lembra que eu estava originalmente indo para o leste, certo?" Rio respondeu sinceramente com uma cara séria, propositalmente suprimindo suas próprias emoções.
".... Não." Latifa murmurou em voz baixa, mas Rio continuou falando mesmo assim.
"Eu não vou ser capaz de trazê-la comigo, Latifa—"
"N-Não! Nunca!" Latifa gritou alto, como se fosse abafar a voz de Rio.
"Latifa, por favor ouça o que eu tenho a dizer."
"Eu não estou ouvindo! Não quero!" Latifa recuou irritada. Seus olhos vagaram pela área, antes que ela de repente fugisse de Rio, recusando-se a ouvi-lo mais.
"Ei, Latifa?!" Rio a chamou enquanto ela fugia, mas Latifa não fez nenhum movimento para parar. Talvez ela tivesse aplicado a arte espiritual de aprimoramento físico que aprendeu com seu recente progresso no treinamento, porque sua pequena e leve figura corria como o vento.
Onde ela está indo? Rio se perguntou, com sua expressão escurecendo.
No mínimo, ela não estava indo na direção da casa. Ela estava fugindo em uma direção longe do centro da vila. Os movimentos de Rio foram entorpecidos por sua culpa em relação a Latifa — mesmo que ele a perseguisse agora, era óbvio que qualquer conversa que eles tivessem apenas seria amarga.
Parado e cerrando o punho, Rio hesitou, imaginando se ele deveria persegui-la de qualquer maneira.
◇◇◇
Latifa ofegou duramente enquanto continuava a correr sem rumo.
"Hah... hah..."
Seu entorno estava mudando a uma velocidade vertiginosa, mas ela não parou de correr. Neste momento, ela só queria o máximo de distância possível de Rio.
Não, não, não, não!
Seu coração estava inteiramente focado em se afastar dele. Na mente dela, desde que ela não o ouvisse, ele não iria embora.
Isso apresentou uma contradição: mesmo que ela não quisesse que ele fosse embora, ela estava tentando deixar ele para trás. Felizmente, não havia muitas pessoas andando pela vila por causa do banquete, que tinha corrido até tarde na noite passada. Desta forma, ela não encontraria ninguém que questionaria seu comportamento e tentasse detê-la.
Antes que percebesse, Latifa estava fora da vila. Ela não tinha ideia de quanto tempo tinha passado; pode ter sido um minuto, dez minutos, ou até mesmo uma hora.
Com todas as outras presenças completamente longe de seu entorno, Latifa finalmente parou.
Um silêncio tranquilo tinha caído sobre a floresta, sem sons além dos gorjeios dos pássaros e gritos de pequenos animais. A vila foi cercada por várias camadas de fortes barreiras; embora tinha suas fraquezas, era geralmente protegida de forasteiros na maioria das circunstâncias. Mesmo que houvesse um invasor, os guerreiros da vila imediatamente viriam correndo.
Além do mais, não havia estradas na floresta, tornando muito fácil se perder — embora Latifa pudesse voltar para a vila usando seu olfato a qualquer momento. Não havia necessidade de ficar com medo de se perder ou encontrar criaturas perigosas.
E mesmo assim, naquele momento...
Latifa notou que o céu acima dela estava bastante barulhento, e olhou para cima. Através das brechas das árvores, ela viu vários dos guerreiros da vila voando e conversando em um tom de voz bastante alto. Eram Sara, Oufia e Alma.
Elas poderiam estar procurando por ela — percebendo isso, Latifa olhou em volta em pânico, mas suspirou de alívio quando notou que ela ainda estava sozinha.
Com isso, ela fugiu mais uma vez, colocando mais distância entre ela e a vila.
◇◇◇
Enquanto Rio falava com Latifa na praça da vila, muito acima dos céus perto da grande floresta, um único grifo pairava no ar.
"Reiss-san, passamos por uma floresta tão grande no nosso caminho para cá?" O garoto, que estava carregando cuidadosamente o grande ovo, perguntou a Reiss com uma voz preocupada. Reiss estava cuidando das rédeas do grifo.
"Passamos, eu me pergunto?" Reiss respondeu indiferentemente. Seu olhar estava fixado rispidamente na grande floresta abaixo deles, então ele mal estava prestando atenção ao garoto.
Estatisticamente falando, a maior parte da barreira deve cobrir o solo abaixo. No entanto, quanto mais próxima é a distância da vila, mais a barreira protegeria o céu, também. Eu adoraria fazer isso de uma maneira inteligente, mas eu só tenho três peões para usar, e quem sabe quando aquilo virá por seu ovo. "Sem coragem, sem glória!", é o que dizem — terei que acelerar as coisas, mesmo que seja um pouco mais arriscado. Reiss olhou friamente entre o garoto, o ovo em seus braços, e o grifo entre as pernas. Com uma pequena risada, ele adotou um tom suave quando se dirigiu ao garoto.
"Vamos fazer uma pausa para a água? Eu gostaria de deixar o grifo descansar um pouco, também.
"S-Sim, senhor. Mas realmente vai ficar tudo bem? Descansando em um lugar como este."
"Bem, parece uma floresta pacífica. Esta é uma oportunidade rara.... Por que não faz algumas memórias ao invés de ter medo? Você pode nunca colocar seus olhos na natureza assim de novo."
Depois disso, Reiss baixou o grifo ao lado de uma nascente adequada. No momento, eles estavam localizados a meia hora de distância da vila, se viajassem por via aérea.
O garoto levou o grifo até a nascente pelas rédeas. Depois que ele o amarrou a uma árvore próxima, o grifo começou a beber a água da nascente. Então, o garoto se moveu para reabastecer seu cantil com água também.
"Agora, vou dar uma olhada em torno desta área. Estarei de volta em breve, então engula isso e espere aqui por mim." Reiss deu uma pequena pedra ao garoto. A pedra era transparente, como uma joia.
"Engolir... isso?" O garoto, compreensivelmente, expressou alguma resistência. Poucas pessoas engoliriam joias de bom grado por diversão, afinal.
"É um tipo de artefato. Uma precaução preparada no improvável caso de estarmos separados. Com o passar do tempo, ele se dissolverá lentamente dentro de você. A absorção em si não lhe fará mal. Mas, se você não quiser engoli-lo, eu não vou forçá-lo..."
"E-Eu vou engolir, se é apenas isso!" Tomando as palavras de Reiss pelo que eram, o garoto aceitou a jóia às pressas e a engoliu com um pouco de água.
"Bom — agora eu posso sair sem me preocupar."
"Você vai voltar em breve, certo?"
"Claro. Se algo acontecer, sinta-se livre para me deixar para trás e fugir no grifo. Você deve fugir nessa direção, a propósito", disse Reiss, apontando onde a árvore gigante estava escondida da percepção por barreiras mágicas.
"Ok!"
"Oh, e mais uma coisa. Leve o ovo com você cuidadosamente. No caso improvável de você precisar correr, é claro."
"Eu entendo." Com a ênfase de Reiss, o garoto assentiu com um enorme e exagerado sorriso.
"Agora, se você me der licença."
Com isso, Reiss lentamente se afastou para a floresta. Menos de um minuto depois, a figura do garoto na nascente estava completamente fora de vista.
"Eu adoraria tomar os ovos restantes agora, mas devo esperar que aquilo chegue em busca do ovo isca primeiro. Os semi-humanos também podem aparecer a qualquer momento, então eu devo me apressar."
Reiss deu um pequeno suspiro. Logo depois, seu corpo começou a flutuar no ar. Ele subiu alto no céu antes de voar para longe, colocando distância entre ele e a vila.
◇◇◇
Enquanto isso, Latifa ainda corria pela floresta. Um pássaro de quatro metros de comprimento — o espírito contratado de Oufia, Aerial — estava voando sobre a floresta perto da vila. Oufia e Uzuma também patrulhavam os céus, juntamente com vários outros guerreiros da vila.
"Outro intruso, huh? Isso faz dois nos últimos seis meses. Estes não são tempos muito pacíficos.", murmurou Alma, sentada nas costas de Aerial. Sentada ao lado dela, estava Sara.
"Seria bom se eles apenas fossem embora assim.", disse ela.
"E se eles são humanos, podemos apenas perguntar qual é o motivo deles. Uzuma, certifique-se de não cometer o mesmo erro daquela época com Rio-san."
"E-Eu sei disso!" O aviso severo de Sara fez Uzuma, que voava próxima a elas, assentir com culpa.
Seu vôo urgente continuou por mais um quarto de hora temporal (cerca de 30 minutos). O grupo de Sara chegou nas proximidades onde a maior reação de odo foi observada; tudo o que eles tinham que fazer era investigar a área e localizar o alvo.
"Oufia, há alguma reação suspeita de odo por perto?" Sara perguntou.
"... Duas, perto da nascente por ali." Oufia respondeu alguns segundos depois.
"Há um humano! E aquilo é.… um grifo!" Uzuma avistou o alvo instantaneamente com sua visão afiada.
“…. Vamos descer para a floresta primeiro. Então, como discutimos anteriormente, ouviremos o que ele tem a dizer, pacificamente. Se o humano tentar fugir no grifo, vamos contê-los."
Por ordem de Sara, o grupo foi para a floresta e em direção à nascente.
◇◇◇
Próximo da nascente, o garoto andava em círculos.
"Ele disse que voltaria logo... Droga!"
Trinta minutos se passaram desde que Reiss saiu para explorar a área. No entanto, ainda não havia sinal de seu retorno. Só então, os arbustos próximos começaram a fazer barulho.
"Reiss-san?"
A expressão do garoto se iluminou quando ele se virou para o som. Mas no momento em que ele viu quem tinha aparecido dos arbustos, a cor imediatamente sumiu de seu rosto.
"S-Semi-humanos..." O garoto murmurou em choque ao ver o grupo de Sara. O grupo de Sara parecia ser capaz de ouvir suas palavras, desde que suas expressões franziam um pouco.
“Gostaríamos de conversar com você. Você vem conosco em silêncio, sem lutar?"
"Eh? Ah, um... haha."
O garoto moveu a mão esquerda para a cintura em pânico, colando um sorriso falso em seu rosto enquanto cautelosamente se afastava em direção ao grifo. Ele lançou um olhar para onde o ovo estava.
".... Que tipo de ovo é aquele?" Sara perguntou com suspeita e olhou para o ovo.
"Oh, hum, me pergunto..." O garoto pegou o ovo na mão direita enquanto avaliava seus rostos e suas reações.
"Por favor, abstenha-se de fazer movimentos bruscos. Não queremos fazer isso da maneira mais difícil, mas temos contramedidas apropriadas preparadas no caso de sentir qualquer hostilidade em suas ações. Você vai responder nossas perguntas?" Sara perguntou sinceramente enquanto tentava negociar um compromisso.
Na realidade, os humanos raramente passavam por esta floresta. Por causa disso, os guerreiros da vila — incluindo Sara — não tinham muita experiência com situações como esta. Não havia protocolo para esta situação.
Quando Rio invadiu, meio ano atrás, sua cautela os levou a agir precipitadamente, fazendo-os perder a calma e fazendo com que Uzuma entrasse em frenesi. Foi por isso que eles refletiram sobre essa experiência e escolheram tomar a abordagem calma desta vez. No entanto —
"D-Desculpa!"
O garoto segurou o ovo em seu lado e puxou uma daga escondida em sua cintura, movendo-se para cortar a corda que amarrava o grifo na árvore. Então, ele pulou nas costas do grifo.
"E-Espere aí!" Sara gritou em pânico.
Mas o garoto ignorou sua ordem e guiou o grifo para decolar no ar.
"Não temos outra escolha! Sara-sama, dê a ordem para atacar!" Uzuma gritou enquanto ativava a arte espiritual que mantinha pronta em sua mão. Os outros guerreiros imediatamente se prepararam para ir ao ataque.
"Kuh! Mirem no grifo! Certifiquem-se de não matar o garoto humano!" Sara comandou, e vários dos guerreiros lançaram seus ataques de artes espirituais menos prejudiciais no ar.
Mas os grifos não eram chamados de governantes dos céus à toa: com sua alta inteligência, eles podiam detectar os ataques de baixa potência direcionados a eles e calmamente fazer manobras no ar para evitá-los.
"Kaaaaah!" O grifo soltou um grito agudo e bateu suas asas enquanto de repente acelerava.
"É-É rápido! Atrás dele— aquela é a direção da vila!" Sara gritou, surpresa. Os guerreiros da vila todos se apressaram e voaram no ar.
"Sara-neesan, suba em Aerial!"
Em algum momento, Oufia tinha materializado seu próprio espírito contratado. Alma já havia montado em suas costas, então Sara correu para se juntar a ela.
"Sim, vamos!" O grupo de Sara imediatamente partiu em direção ao céu, voando alto.
◇◇◇
"Ugh, por que eles podem voar?! Malditos monstros!" O garoto gritou, vendo os guerreiros da vila o perseguindo.
Ele tinha voado com o grifo na perspectiva única de que eles não seriam capazes de voar atrás dele, mas não esperava que os perseguidores fossem capazes de dar perseguição no ar. Na verdade, isso tornou a situação ainda pior do que antes.
"Ei, voe mais rápido! Você vai ser morto, sabia?!", ele gritou descontroladamente, ordenando que o grifo acelerasse usando o método que Reiss lhe ensinou.
Por causa de suas ordens desesperadas para acelerar — ou talvez por causa do estresse causado pelos ataques que tinha acabado de receber — o grifo se agitava enquanto acelerava. No entanto, ainda não foi suficiente para se afastar dos guerreiros da vila atrás dele. Pelo contrário, eles estavam fechando a distância entre eles, pouco a pouco. Percebendo que era apenas uma questão de tempo até que ele fosse pego, o pânico do garoto aumentou.
Nesse momento, uma sombra negra cobriu a visão do garoto. Uma grande massa desceu sobre ele a uma velocidade rápida, parando um pouco à sua frente.
"Huh...?" O garoto soltou um barulho perplexo. Ele não entendia o que tinha acabado de acontecer.
"Kaaah?!"
Enquanto isso, o grifo notou que algo havia obstruído seu caminho e diminuiu sua velocidade imediatamente. Como resultado, eles mal evitaram colidir com isso.
No entanto, o movimento repentino tinha enviado o garoto voando, juntamente com o ovo que tinha sido mantido em seu lado. O rosto do garoto contorceu de medo enquanto ele instintivamente se enrolava em torno do ovo. Uma vez que tinha agarrado o ovo com firmeza, o garoto caiu através das folhas e galhos das árvores em alta velocidade.
Ele sentiu os galhos estalando contra seu corpo, as poderosas colisões causando dor por toda parte. No meio de sua descida, ele soltou o ovo que havia estado cuidadosamente carregando, e aterrissou no chão, de costas.
"Gah!" Um gemido de dor escapou da boca do garoto ao mesmo tempo em que o ovo fez contato com o chão.
Uma enorme rachadura percorreu ao longo da casca, e o conteúdo começou a vazar. Naquele momento —
 "O-O quê?!"
A figura tímida de Latifa apareceu; ela estava correndo pela floresta, sem rumo, quando um garoto caiu perto dela.
"V-Você está bem?"
Assim que ela avistou o garoto caído, correu em direção a ele com pressa.
"Huh? Um humano...?" Latifa congelou com a aparência humana do garoto. Mas, apesar de sua espécie, ela não podia deixar de lado alguém tão maltratado e ferido.
"Você está bem?", perguntou ela, e lançou uma arte espiritual curativa que tinha acabado de aprender outro dia.
"Ugh..." o garoto gemeu, e fracamente abriu os olhos.
Ele se viu cara a cara com Latifa, que tinha orelhas de raposa se movendo em cima de sua cabeça. Seu rosto se contorceu de medo.
"Eek! Fique longe, monstro.", gritou ele, ficando pálido.
"O-O qu... Kya!" Latifa acovardou-se e recuou, tremendo.
Depois que o garoto a afastou, ele fugiu em pânico, com um rosto cheio de dor. Apenas Latifa e o ovo rachado foram deixados para trás — ou assim ela pensou, quando...
"Kyaa?"
De repente, uma grande massa negra desceu do céu, quebrando os galhos das árvores enquanto caía. A força de seu impacto facilmente lançou Latifa para longe.
"Ugh... Eek?!" Latifa abriu os olhos de onde havia caído.
Diante de seus olhos estava uma criatura parecida a um dragão, com suas asas estendidas, seu corpo inteiro coberto de escamas pretas, e com uma altura de 20 metros. Ele olhou friamente para Latifa.
Este era um Wyvern Negro — um membro das subespécies superiores de wyverns, e estava no topo de todos os outros semi dragões. Acreditava-se que suas habilidades de combate eram maiores do que todos, exceto os próprios dragões de sangue puro. Mesmo entre os semi dragões, eles eram de um calibre completamente diferente dos Lagartos Alados que Latifa e Rio haviam encontrado na Região Selvagem.
"D-Dragão..."
Para Latifa, que nunca tinha visto um dragão de verdade antes, a forma do Wyvern Negro tinha uma presença que era tão esmagadora quanto um verdadeiro dragão.
"Grrrooaar!"
Latifa estava tentando se levantar quando o rugido do Wyvern Negro a deixou intimidada. Ela deixou escapar um pequeno grito e caiu de volta no chão. Quando ela começou a se afastar lentamente, o Wyvern Negro lançou um olhar que dizia que ela não valia a pena, antes de olhar ao redor.
Então, uma vez que avistou o ovo rachado —
"GRAAAAAAH!"
Ele soltou um rugido ainda maior para o céu, e seus olhos enfurecidos e ameaçadores fixaram-se em Latifa. O Wyvern Negro torceu seu corpo com um estalo; Latifa pensou que ele estava se virando, mas uma cauda como chicote oscilou horizontalmente, e o som do ar sendo cortado circundou por todo a área. As árvores, que cresceram em todos os arredores, foram todas cortadas ao mesmo tempo.
O grito de Latifa caiu em ouvidos surdos, pois foi abafado pelo barulho da estrondosa colisão feita por todas as árvores que foram enviadas voando.
◇◇◇
Os guerreiros da vila chegaram a uma parada brusca com a grave situação que de repente lhes atingiu. Logo após o furioso Wyvern Negro descer de repente sobre o garoto no grifo, outro Wyvern Negro apareceu — e ele estava liderando vários outros wyverns.
"Sara-sama, é um grupo de subespécies de dragões voadores!" Uzuma imediatamente identificou os invasores e os confrontava, enquanto o rebanho wyvern ameaçadoramente batia suas asas à distância.
"Ninguém entra em pânico! Não viriam tão longe por nada. Eles não atacarão imediatamente e não parece que estão aqui para caçar.... Oh não, não me diga...!" Sara interrompeu, lembrando-se do ovo que o garoto estava carregando momentos atrás.
"Sara-neesan, é o ovo! E se aquele garoto de agora roubou aquele ovo?" Alma e Sara chegaram à mesma conclusão.
"Se for, isso é ruim. Ele e o ovo estão na floresta..." Sara mordeu seu lábio com força, franzindo a testa.
Um dos Wyverns Negros tinha descido para onde o garoto havia pousado em busca do ovo. Se o ovo estivesse seguro, era provável que os wyverns evitassem um confronto e simplesmente voltassem para o local de onde vieram. No entanto, se não estivesse... o pior cenário passou pela cabeça de Sara, fazendo um calafrio percorrer sua espinha.
Depois de algum tempo, o Wyvern Negro abaixo deles soltou um rugido em direção aos céus, enquanto o rebanho de dragões voadores acima batia suas asas em uma demonstração de pesar furiosa.
"Parece que essa não é mais uma opção. Isso é muito ruim; a vila está bem ali..." O rosto de Alma ficou tenso.
O Wyvern Negro no chão oscilou a cauda e arrasou todas as árvores da área. Em resposta, os dragões voadores no ar atacaram Sara e os outros.
"Oufia, Alma! Nós vamos cuidar daqueles dois Wyverns Negros! Uzuma, você lidera os outros guerreiros e elimina os wyverns restantes!"
"Entendido!"
Os outros membros do grupo se moveram assim que Sara deu a ordem. Enquanto enfrentavam o rebanho wyvern que se aproximava, cada guerreiro lançou sua mais poderosa especialidade de artes espirituais. No entanto, como muitos dos usuários de artes espirituais presentes eram do tipo voador, a maioria dos presentes se especializava em habilidades de vento.
As artes espirituais podem manipular fenômenos naturais, mas as leis da natureza só podiam ser influenciadas, não completamente dominadas. Dependendo da força do usuário das artes, pode-se ignorar as leis da natureza para provocar fenômenos não naturais. Quando os guerreiros da vila usaram suas artes espirituais, os ventos circundantes sopraram violentamente, atacando o dragão voador com explosões de ar lançadas de lâminas de vento e odo.
No entanto, mesmo quando conseguiam golpes diretos contra a pele dos wyverns, não tinham nenhum efeito além de um leve ataque físico. No máximo, diminuía sua velocidade por um instante. Não havia muito mais que pudessem fazer contra as grandes criaturas, exemplos de uma típica subespécie com facilmente mais de dez metros de altura. As artes espirituais elementares do vento tinham uma gama de uso mais ampla e adaptável em comparação com outros elementos, mas também tinha muito menos poder. Especialmente em um caso onde os oponentes tinham corpos tão grandes, na maioria das circunstâncias, uma arte espiritual de grande escala tinha que ser usada para não ser superado.
"Tch, não podemos usar artes espirituais de alta potência enquanto estamos voando! Espalhem-se! Formem pares para que um possa agir como isca, enquanto o outro maximiza seu aprimoramento físico e visa onde sua armadura é mais fraca!" Uzuma ordenou, fazendo com que os guerreiros se dispersassem.
Enquanto isso, o grupo de Sara chamou a atenção de um dos Wyverns Negros.
"Posso ver por que eles são chamados de subespécie mais próxima dos dragões puros. Ouvi dizer que dragões de verdade têm uma pele especial que repele completamente o odo.... Esses dragões voadores parecem possuir um efeito semelhante.", disse Alma com um sorriso amargo. As garotas já tinham disparado artes espirituais nos Wyverns Negros para confirmar suas suspeitas, percebendo que não foram capazes de causar muito dano.
"Não há um método mais eficaz, Alma?" Sara perguntou, voltando-se para olhar para Alma, enquanto montada nas costas de Aerial.
"É uma estratégia simplista, mas só podemos atacá-los com artes espirituais que causem mais efeitos físicos. Em vez de usar o odo para materializar a energia e dar a ela uma forma física, fazê-lo dessa maneira diminuiria bastante a diferença de poder. Eu vou me encarregar do que está no chão.... Vocês duas podem lidar com o que está no ar?"
"Não temos escolha... Entendido. Estamos deixando a unidade terrestre para você, Alma!"
"Sara-neesan, por favor me empreste Hel. Vamos lutar em coordenação com o meu Ifrit."
"Entendido. Hel, ajude Alma!" Sara disse, materializando um lobo prateado no meio do ar, que se girou para ir em direção ao solo.
"Muito obrigada. Que a sorte da guerra abençoe vocês!" Alma disse, pulando das costas de Aerial e invocando "Ifrit", um espírito com uma forma semelhante à de um leão. Ela montou em suas costas e seguiram para baixo.
Uma vez que o leão, de quatro metros de comprimento, e o lobo tinham aterrissado em segurança, eles correram em direção ao Wyvern Negro que perambulava pelo chão.
◇◇◇
Imediatamente após o Wyvern Negro ter destruído as árvores com sua cauda, Latifa foi surpreendida pela força do vento. Ela foi lançada 10 metros no ar, mas conseguiu se recompor no ar, graças ao seu corpo leve. Na pior das hipóteses, ela teria atingido as costas no tronco de uma árvore primeiro.
"Uugh..."
Apesar de sua provação, ela de alguma forma conseguiu ficar de pé, e começou a correr para fugir.
"Graaaah!"
"Eek?"
O Wyvern Negro rugiu, fazendo o corpo de Latifa tremer. Ela olhou por cima do ombro bem a tempo de ver a besta abrir sua impressionante boca e inalar profundamente. O ar fluiu para seus pulmões, expandindo um pouco seu torso. Então, chamas estouraram de sua boca quando o Wyvern Negro exalou tudo de uma só vez. Uma linha de calor abrasador estendeu-se para fora, queimando árvores e tentando envolver completamente o corpo de Latifa.
Mas, assim que estava prestes a sofrer um golpe direto —
"Latifa?!" Alma apareceu através das brechas das árvores, batendo a clava em sua mão contra o chão com uma poderosa quantidade de força. O solo subiu alto, formando uma parede grossa para proteger as duas.
"A-Alma-oneechan!" Latifa abraçou Alma, cheia de emoção.
"E-Ei! Estamos no meio de uma batalha agora. Por que você está aqui?! Espere, me solte primeiro. Ainda não acabou — está vindo! Suba nas costas de Hel, rápido!"
"O-Ok!"
Latifa subiu às pressas nas costas do espírito contratado de Sara. Enquanto isso, Alma subiu nas costas de seu próprio espírito contratado, Ifrit, mais uma vez. Assim que as duas subiram com segurança, os espíritos lobo e leão saltaram para o alto, justo quando a parede de terra que Alma criou desmoronou em pedaços.
A cauda do Wyvern Negro emergiu dos escombros, e a forma de lobo de Hel saltou para o ar e lançou um hálito gelado na besta. Imediatamente depois, a forma de leão de Ifrit atacou da mesma forma, mas, com um sopro de fogo.
Um ataque combinado de gelo e fogo — uma vez que o corpo do Wyvern Negro tinha sido exposto a tais mudanças dramáticas de temperatura, Alma saltou das costas de Ifrit, para baixo em direção ao wyvern. Ela reforçou seu corpo físico com artes espirituais, e oscilou a clava. O Wyvern Negro rugiu, chicoteando sua cauda em direção a Alma quando ela saltou para ele. A clava de Alma e a cauda do Wyvern Negro colidiram entre si com um som estridente.
"Kuh, isso não é suficiente para acabá-lo?" Alma franziu a testa, usando o recuo do impacto para saltar para trás. Depois de pousar no chão, ela olhou para a cauda do Wyvern Negro para verificar se havia danos, mas ainda estava completamente ilesa.
"A-Alma-oneechan, vamos fugir! Você não pode ganhar contra isso... é impossível!" Latifa gritou das costas de Hel.
"Não! Se eu fugir, a vila pode ser — kya!"
O Wyvern Negro não estava disposto a esperar Latifa e Alma terminarem sua conversa; o semi dragão negro como o azeviche agitou sua cauda em um ataque de fúria, visando acertar Alma em particular. Alma saltou para o ar e evitou o ataque, mas não houve oportunidade para lançar um contra-ataque.
"Alma-oneechan?! Hel, Ifrit, vão ajudar Alma-oneechan! Eu irei também!" Latifa ordenou.
Com isso, tanto Hel quanto Ifrit começaram a correr. Latifa saltou de Hel e correu apressadamente em direção a Alma.
Honestamente, ela estava assustada — mas ver Alma sob ataque a deixou incapaz de ficar à margem por mais tempo.
"L-Latifa! Você não deve vir por aqui!"
"T-Tudo bem, eu posso lutar também! E-Ei, você! Por aqui!" Latifa se aproximou do Wyvern Negro e o provocou, fazendo-o mudar seu alvo de ataque para ela. Nesse momento, Ifrit pegou Alma nas costas e temporariamente recuou para uma zona segura. Hel apoiou Latifa enquanto ela enfrentava o Wyvern Negro, ajudando a redirecionar um pouco de sua atenção. Pelo que Alma podia ver, Latifa estava usando seus movimentos leves para escapar dos ataques ferozes do Wyvern Negro. Mas ela não podia manter isso para sempre.
"Kuh... Ifrit! Você ajuda Latifa e Hel a distrair o inimigo. Vou usar esse tempo para preparar uma arte espiritual em grande escala!" Alma ordenou depois de um momento de hesitação.
Derrotar o Wyvern Negro exigiria uma arte espiritual consideravelmente poderosa, mas não havia nada que ela pudesse ativar no local. Ela precisava de toda ajuda possível, então estava grata pelos esforços deles na distração.
"Latifa, me consiga um pouco de tempo, mas sem se colocar em perigo! Recue assim que eu der o sinal!"
"O-Ok! ... Kya?!"
Assim que Alma deu suas instruções, o Wyvern Negro mudou seu padrão de ataque. Ele só tinha usado sua cauda para atacar até agora, mas desta vez, de repente saltou para a frente. A ação irregular fez Latifa congelar por apenas um momento, mas aquele momento era tudo o que ele precisava.
Latifa seria esmagada sob seu peso.
Quando Alma pensou isso, uma bola de gelo de sete a oito metros de largura veio atirada por trás dela, colidindo de frente com o corpo do Wyvern Negro, repelindo fortemente o semi dragão. Logo depois, uma rajada de vento passou por Alma, aproximando-se rapidamente de Latifa.
"Huh...?" Latifa soltou uma voz um pouco perplexa.
Ela pensou que seu corpo tinha ficado mais leve por um segundo..., mas antes que percebesse, ela estava sendo confortavelmente segurada nos braços de sua pessoa mais preciosa — Rio.
"Desculpe o atraso, Latifa.", Rio se desculpou com um olhar um pouco sombrio no rosto.
"Está... bem. Me.… desculpe... também. Por... fugir..." Latifa piscou em branco por um momento, antes que essa expressão desse lugar a um fluxo constante de lágrimas enquanto ela se desculpava com Rio.
"Vamos conversar mais tarde. Está tudo bem agora — você pode recuar agora.", disse Rio, sorrindo enquanto acariciava a cabeça dela e a colocava no chão.
Ele estava no meio de sua caminhada quando correu para intervir, então estava sem sua arma. Mas Rio não mostrou hesitação enquanto olhava friamente para cima, para o Wyvern Negro, que se erguia muito acima de sua cabeça.
Logo depois, ele atacou. Saltando alto no ar a uma velocidade tremenda, ele chutou o queixo do Wyvern Negro diretamente abaixo dele.
"Grah?" O grande corpo do Wyvern Negro se curvou para trás, e um som de dor saiu de sua boca.
Sem tomar fôlego, Rio girou graciosamente seu corpo e lançou um chute cortante com a borda externa do pé no pescoço do adversário. O semi dragão cambaleou, dando um passo para o lado.
"Sua pele é muito rígida... Suponho que não vai ser tão fácil.", disse Rio, franzindo a testa ainda no meio do ar. Ele tinha chutado com a intenção de incapacitá-lo, mas o ataque não causou muito dano ao Wyvern Negro.
"Graaaah!" O Wyvern Negro se enfureceu, e lançou um sopro de fogo em seu oponente.
No entanto, Rio estendeu a mão esquerda e disparou uma rajada de vento, evitando o hálito de fogo que se aproximava. As chamas que acabaram de sair da boca do Wyvern Negro regrediram rapidamente.
"Gyreeh?" O semi dragão negro gritava de dor — parecia que o fogo direcionado para dentro de sua boca era sua fraqueza.
Rio sorriu e lançou uma enorme bola de fogo na boca do Wyvern Negro. Ao mesmo tempo, ele usou as artes espirituais do vento para flutuar suavemente pelo ar e mover-se acima da cabeça do oponente. Ele colocou as duas mãos juntas, e golpeou com toda a sua força. Com um barulho alto, a boca do Wyvern Negro foi fechada, e uma grande explosão ocorreu dentro dela imediatamente depois.
Uma incrível quantidade de calor e poderosas ondas de choque foram produzidas dentro de sua boca, e o Wyvern Negro balançou a cabeça furiosamente enquanto se inclinava para trás.
Um sangue escuro estava começando a brotar em seus olhos enfurecidos; ele cambaleou por um tempo, antes de cair pesadamente no chão.
"I-Incrível. Você derrotou tão facilmente..." Alma murmurou espantada, tendo visto Rio facilmente cuidar da besta sozinho, sem necessidade de ajuda.
"Parecia que o interior de sua boca era sua fraqueza. Ainda bem que foi fácil de notar isso.", disse Rio com um sorriso amargo, e pousou suavemente no chão, ao lado dela.
"Não, mesmo que fosse esse o caso..." Alma respondeu com assombro.
O adversário tinha mais de 20 metros de tamanho; chegar perto o suficiente de sua cara para disparar dentro de sua boca não era uma façanha pequena. Alguém poderia facilmente ter sido esmagado por suas mandíbulas e comido.
"Onii-chan!" Após olhar para o estado estupefato de Alma, Latifa saltou em Rio.
"Oh, parece que eles também terminaram lá em cima." Recebendo a força do abraço de Latifa com todo o seu corpo, Rio olhou para o céu com um leve sorriso aparecendo em seus lábios.
Alma olhou para cima também. Lá, os guerreiros gritavam triunfantemente pelo disperso grupo da subespécie de wyverns que estava tentando fugir. O outro Wyvern Negro ainda estava vivo, mas estava fugindo, juntamente com um número significativamente menor de seus parentes do que quando atacou pela primeira vez.
Então, Oufia e Sara — esta última ainda nas costas de Aerial — desceram de cima.
"Alma-chan, você é incrível! Como você o derrotou? .... Oh? Rio-san e Latifa estão aqui também?" Oufia começou a falar entusiasmada quando olhou para o Wyvern Negro no chão, antes de se surpreender ao notar Rio e Latifa.
"Rio-san derrotou esse Wyvern Negro sozinho.", confessou Alma com um sorriso forçado.
"Eh, sozinho?! Isso é incrível! Não estou surpresa — é o Rio-san, afinal!" Oufia elogiou com um sorriso radiante.
"Não, não foi nada. Ei, alguém foi ferido do seu lado?" Rio desviou o tema com um sorriso tímido.
"Estamos todos bem. Poderia ter sido mais perigoso se a batalha tivesse se arrastado, mas felizmente, os outros fugiram.", explicou Sara após o pouso.
"Sara-neesan, por que você acha que os wyverns no ar fugiram?" Alma perguntou.
"Provavelmente porque aquele Wyvern Negro ali foi derrotado. Desde que não conseguimos derrotar o outro, isso tudo foi graças ao Rio-san. Muito obrigada." Sara respondeu, inclinando a cabeça para Rio.
“Não foi nada... Eu sou o irmão de Latifa, e amigo jurado de todos vocês, afinal."
Balançando a cabeça timidamente, Rio deu um pequeno encolher de ombros.
◇◇◇
"Hah... Hah... Hah..."
O aventureiro estava correndo pela floresta, ofegante. Tanto o grifo quanto seus suprimentos de viagem tinham sumido, e tudo o que ele tinha eram as roupas nas costas e a arma na mão.
Ele estava sozinho nesta grande floresta, sem ideia de onde ir ou o que fazer.
"Por que a pressa?"
Uma pessoa apareceu fora de vista e perguntou ao garoto com uma voz calma. O garoto olhou ao redor em pânico, mas não conseguiu encontrar o dono da voz.
"Estou aqui.", a voz disse de cima. O garoto levantou a cabeça e viu Reiss flutuando no ar.
"A-Aaah... R-Reiss-san?!"
"Então você realmente conseguiu sobreviver a essa situação... Para ser honesto, estou surpreso.", disse Reiss, soando impressionado ao pousar no chão.
"O-O que você quer dizer com 'realmente'?! Você estava observando o tempo todo?!" O garoto gritou com raiva, sem se importar com como Reiss estava parado no ar, nem com a polidez de suas próprias palavras.
"Heh heh. Ao contrário das expectativas, sua verdadeira personalidade era tão repulsiva, que eu estava inadvertidamente cativado. Dizem que as verdadeiras cores de uma pessoa são reveladas quando sua vida está em perigo... e parece que estavam certos." Com essas palavras, o autocontrole do garoto quebrou completamente.
"Chega das suas besteiras! Eu quase morri! Foi você quem me trouxe para esse lugar de merda.... Então, peça desculpas! Como você vai compensar isso?! Eu não vou perdoá-lo!"
"Heh. Heheheh. Você é uma pessoa interessante, então isso é uma pena. Tem certeza que quer que essas sejam suas últimas palavras?" Reiss perguntou com um sorriso arrogante. Ele segurou uma pequena e clara pedra, como uma joia, entre o polegar e o dedo indicador da mão direita.
"H-Hah? Há algo errado com a sua cabeça? Me dê essa ped-", o garoto gritou, e Reiss esmagou a jóia entre os dedos. Uma expressão de agonia de repente apareceu no rosto do garoto, e ele caiu de joelhos.
"Adeus."
Com essas palavras, Reiss levantou vôo mais uma vez.

Comentários

Wesley disse…
Reiss é um vilão bem legal