Capítulo 5: Mal-entendido
Sara e as outras pessoas espírito trouxeram os inconscientes Rio e Latifa de volta para sua vila junto com eles. Rio foi contido com um artefato mágico e escoltado até a cela raramente usada no Concelho[Concelho refere-se a uma divisão administrativa — como por exemplo, uma prefeitura — de um território, como um município. Vila é um aglomerado populacional de tamanho intermédio entre a aldeia e a cidade, dotado de uma economia quase autossuficiente, sendo o que caracteriza a sua passagem de aldeia para vila, em que o sector terciário (comércio e serviços) tem uma importância relevante e lhe proporciona alguma autossuficiência econômica.] da vila, enquanto o grupo de Sara levava Latifa para um quarto de hóspedes dentro do mesmo edifício.
Uma anciã da tribo raposa esperava na sala para receber o relatório do incidente. Como a representante do grupo, Sara explicou as circunstâncias para a anciã primeiro.
"... Hmm. Você não acha que você foi um pouco dura demais, querida Uzuma?", A anciã olhou friamente para Uzuma depois de ouvir o relatório.
"M-Mas era uma situação de emergência..."
"Bem, isso pode ser verdade..., no entanto, essa criança... Nunca a vi por aqui antes. E ainda, definitivamente, sinto que já conheci alguém tão fofa."
"Sim. Com relação a isso, descobrimos suprimentos em seu acampamento que acreditamos ser equipamentos de viagem pertencentes a esta garota. É possível que ela não seja alguém da nossa vila...", Sara esclareceu do lado com o rosto ligeiramente pálido.
"Oufia. Alma. Tragam o garoto capturado aqui imediatamente.", a expressão no rosto da anciã mudou instantaneamente, e ela deu a ordem em um tom um pouco frio.
Oufia e Alma, ambas assentiram nervosamente para a anciã e se apressaram em sair da sala.
Latifa abriu os olhos logo depois.
◇◇◇
Latifa abriu os olhos para se encontrar em um quarto desconhecido. Ela estava em uma cama macia e confortável, sob um cobertor quentinho e aconchegante. Comparado ao acampamento lá fora, era muito, muito mais confortável e agradável de dormir. E ainda assim —
"... Onii-chan?", Latifa murmurou, olhando descontroladamente ao redor da sala.
Sua preciosa pessoa não estava aqui, onde deveria estar. Em vez disso, ela estava cercada por estranhos: a loba prateada Sara, a bestial alada Uzuma, e a mulher-raposa — como Latifa — anciã. As três estavam sentadas em cadeiras de frente uma para a outra, conversando com expressões conflitantes em seus rostos, que imediatamente pararam quando perceberam que Latifa estava acordada.
"Hmm, parece que você está acordada agora. Bom dia, ‘irmã minha’. Como você se sente?", a anciã da tribo raposa sorriu, falando na língua do povo espiritual. No entanto, Latifa não pôde entender uma única palavra.
"... O que você está dizendo? Onii-chan... Onde está Onii-chan?", ela inclinou a cabeça e falou na língua comum da região de Strahl. Um olhar abatido caiu sobre os rostos de Sara e da anciã.
"Linguagem humana. Asura-sama, essa garota realmente..."
"Assim parece. Essa criança não é da vila.", Sara e a anciã disseram uma a outra conclusivamente.
Latifa, por outro lado, não conseguia entender o que as duas estavam dizendo, e com cautela olhou ao redor da sala. Ela contorceu o nariz, secretamente farejando o cheiro de Rio para localizá-lo.
De repente, o nariz de Latifa captou levemente o cheiro dele.
Não há como confundir. É o Onii-chan — incapaz de aguentar por mais tempo, Latifa pulou da cama e começou a correr.
"Ah, ei! Pare aí mesmo!", a súbita reviravolta nos eventos atrasou a reação de Sara, permitindo a Latifa deslizar e mergulhar no corredor.
"Augendae Corporis!"
Depois de chegar com sucesso ao corredor, ela recitou a única magia que poderia usar. Seu corpo instantaneamente se tornou mais leve, e a força fluiu através dela enquanto corria na direção do cheiro de Rio. Sara e Uzuma correram atrás dela.
"Humm. Isso parece estar tomando um giro para pior...", Asura murmurou para si mesma, com sua expressão escurecendo.
◇◇◇
Alguns momentos mais cedo, antes de Latifa abrir os olhos...
Rio recuperou a consciência em uma cama velha em um quarto desconhecido. Com a cabeça confusa, ele se perguntou onde estava; seu corpo se sentia sem energias, como se ele tivesse pego um resfriado. Na tentativa de avaliar a situação, ele se moveu para sentar-se na cama, quando uma dor aguda apunhalou repentinamente sua área estomacal.
Aceitando sua derrota, ele desistiu e caiu deitado de volta.
Ele moveu a mão até o estômago para se tratar com magia, quando percebeu que havia algemas contendo suas mãos.
Estas são... Algemas de Selagem Encantadas, huh. Eles até foram cuidadosos o bastante para restringir meu pescoço e pés, também.
Rio rangeu os dentes. Algemas de Selagem Encantadas, eram artefatos que poderiam conter a essência mágica do usuário. Normalmente, era suficiente com anexar apenas uma, mas ela poderia se romper dependendo da capacidade do usuário.
Por causa disso, magos de alta classe seriam obrigados a usar múltiplas algemas.
Se mesmo manejar minha essência é tão difícil, quem diria me curar. Droga...
Rio franziu a testa enquanto olhava para o teto acima dele. Uma luz fraca da lua e uma brisa fria entraram pela gradeada janela de ferro no canto da sala. Em algum momento, eles o haviam despojado de seu equipamento e roupas; Rio só estava vestido com uma fina camada inferior. A temperatura da sala era inferior a dez graus.... Estava quase garantido que ele pegaria um resfriado dessa forma.
Ele teria preferido se mover um pouco e se aquecer o máximo possível, mas agora não era o momento para isso. Rio suportou as dores apunhalando em seu estômago e se concentrou em se recuperar naturalmente.
Então, pouco tempo depois...
O frio contra sua pele já tinha passado seus limites, fazendo uma sensação desagradável percorrê-lo. Eventualmente, sua mente começou a cochilar na escuridão. Ele sabia que era ruim dormir agora, mas não conseguia encontrar forças para manter os olhos abertos.
Então, alguns minutos depois que Rio perdeu completamente a consciência, se viu em um espaço branco puro. Ele não tinha ideia de onde estava, nem o que estava acontecendo.
"Haruto...", uma voz clara e bela ressoou.
Rio olhou em volta, surpreso. Antes que ele percebesse, uma garota desconhecida estava diante dele.
Seu longo cabelo rosado tremulava atrás dela enquanto ela olhava para o rosto de Rio com olhos como rubis. Não havia emoção em sua expressão, mas suas feições eram incrivelmente refinadas.
"Você é.…", Rio murmurou.
Ele sentiu como se tivesse visto o rosto dela em algum lugar, mas realmente ele esqueceria o rosto de alguém tão irresistivelmente bela, um rosto que emitia uma aura tão divina?
"Quem é você?"
"Eu? Quem sou eu.... Me pergunto.", a garota inclinou a cabeça para o lado.
"Você não sabe?", Rio perguntou.
"Não...", a garota assentiu tristemente.
"Mas você sabe quem eu sou, certo?"
"Haruto? Haruto... Haruto é.… apenas Haruto."
"Isso não é bem uma resposta. Ok, então, por que você me conhece?"
Sua resposta um tanto filosófica, mas redundante, fez Rio dar um sorriso tenso e mudar sua linha de questionamento. Ela estendeu a mão para tocar o rosto de Rio suavemente e, depois de uma pausa, agarrou a mão dele. Se sentia tão natural para ela estar fazendo isso... Rio simplesmente ficou lá e segurou a mão dela o tanto que ela queria. Sua mão parecia tão irreal, que era quase como se a vida tivesse sido drenada artificialmente dela — mas, ao mesmo tempo, era estranhamente cálida.
"Eu estou... conectada a Haruto."
"Conectado a mim?", Rio não entendeu o que ela estava dizendo.
"Sim. Mas agora não é o momento... Haruto, eu pertenço apenas a você, e sempre estarei ao seu lado. Suas fraquezas, suas fortalezas, seu tudo — eu aceito todos eles. Então não desista. Não tenha medo. E acredite em si mesmo um pouco."
"Por... Por que...?"
Uma expressão perplexa tomou conta do rosto de Rio; ele mal conseguiu encontrar sua voz. A garota sorriu, como se tivesse recuperado um pouco de suas emoções perdidas.
"Porque você é o único que resta para mim... para... para quê?", disse ela, piscando com uma expressão um pouco confusa e mistificada. Então, a garota ampliou os olhos com um sobressalto quando sua figura de repente começou a desaparecer.
"... Desculpa. Parece que... o tempo acabou."
"Tempo?", Rio perguntou à garota, mas ela não respondeu.
"Desculpe. É o máximo... que posso fazer... por você. Bons... sonhos..."
Ela abraçou Rio suavemente. Os olhos dela lentamente lutavam para permanecerem abertos, enquanto sua consciência ia desvanecendo. Rio, também, a seguiu para aquela escuridão logo depois.
Então, não muito depois, outra voz —
"Haru-kun."
Ele pensou ter ouvido uma voz familiar. Uma menina. Rio conhecia a voz dessa menina... Não, Amakawa Haruto conhecia a voz dessa menina. As memórias que ele tentou desesperadamente selar há tanto tempo vieram correndo de volta para ele, claramente, como se tivessem acontecido ontem.
"Acorde, Haru-kun!"
A amiga de infância de Haruto — Ayase Miharu — estava sacudindo seu ombro.
".... Estou acordado."
"Ah! Haru-kun está acordado!"
Haruto piscou os olhos abertos contra a deslumbrante luz para ver Miharu sorrindo para ele. O sorriso de Miharu... Só de vê-lo fez Haruto feliz, enchendo seu coração de calor.
"Qual é o problema...? Eu estava num sono tão bom, também."
Ele olhou para o relógio. Ainda era de manhã cedo.
"Não me venha com essa! Hoje é o dia da excursão! Você tem que levantar cedo!"
Excursão? Por que vamos fazer uma excursão nessa idade? Espera, é isso mesmo!
Hoje era a primeira excursão da primeira série — Haruto arregalou os olhos quando ele se lembrou disso. Mas, depois de alguns momentos de hesitação...
"Hmm. Boa noite, Mii-chan.", disse Haruto, enterrando-se de volta em seus cobertores, apesar de estar mais do que acordado agora.
Ele estava realmente ansioso pela excursão — foi por isso que ele não tinha sido capaz de dormir na noite anterior. Mas por alguma razão, ele realmente queria passar o dia apenas com Miharu. No entanto, como ela também estava ansiosa pela excursão, choramingou como uma criança cujo item precioso estava sendo tirado dela.
"V-Você não pode fazer isso! Nós concordamos em sentar um ao lado do outro no ônibus e ir juntos!"
Oh, isso soa tentador também, Haruto pensou nas palavras de Miharu, mas não fez nenhum movimento para deixar os cobertores. Querendo ver a reação dela, ele não pôde deixar de provocá-la um pouco.
"Vamos, Haru-kun, levanta. Por favor?", Miharu sacudiu Haruto gentilmente.
"Mmph..." Haruto resmungou em resposta. Então, em algum lugar ao lado da cama, Miharu começou a se inquietar com algo.
Eu acho que deveria me levantar agora, Haruto pensou, mas assim que ele fez isso —
"Mō! Definitivamente vou fazer você se levantar!", Miharu disse, pulando em cima de seus cobertores.
"Whoa, huh?! Espera! Espere, Mii-chan! Me rendo! Eu vou me levantar!"
Haruto ressurgiu de seus cobertores com pressa e encontrou Miharu sorrindo presunçosamente para ele.
"Fufu! Bom dia, Haru-kun."
Honestamente, essa fofura foi injusta..., mas Haruto também não estava disposto a apenas aceitar isso deitado.
"Ingênua!", Haruto maliciosamente arrastou Miharu para os cobertores com ele.
"W-Wah! Haru-kun!", Miharu corou furiosamente por ser tão fortemente abraçada por ele sob os cobertores.
"Você quer que eu te solte?", Haruto perguntou descaradamente. Miharu estava na frente dele. Isso foi o suficiente para fazê-lo muito feliz.
"Uugh... O que aconteceu, Haru-kun? Você está muito ousado hoje."
"É porque eu amo Mii-chan. E então? Você quer que eu te solte?"
Ele realmente estava sendo ousado hoje, Haruto pensou impassivelmente enquanto falava.
"V-Você está sendo malvado, Haru-kun. Não há nenhuma maneira de eu querer que você me solte.", Miharu corou em um escarlate ainda mais profundo enquanto murmurava.
"Realmente. .... Então está tudo bem se ficarmos assim um pouco mais?", Só por enquanto, pelo menos, Haruto pensou enquanto abraçava Miharu.
Por um instante, parecia que Miharu iria para algum lugar distante... Haruto continuou a importunar Miharu para distrair-se de suas preocupações.
"Sim.", Miharu assentiu com um pequeno sorriso.
Haruto gentilmente afastou os fios do cabelo de Miharu, depois gentilmente acariciou sua bochecha.
Mas suas mãos de repente se recusaram a se mover, como se tivessem sido contidas por algo.
Antes que ele percebesse, o calor de Miharu desapareceu.
"Por favor, acorde."
Haruto — não, Rio — voltou à realidade, acordado pela voz de alguém. Era uma voz desconhecida; uma de uma jovem, mas definitivamente não de Miharu.
Deixe-me dormir, quero ver esse sonho um pouco mais... Rio desejou isso profundamente, do fundo de seu coração. No entanto, sua consciência não permitiria isso, agora que ele estava acordado.
"Umm, por favor, levanta-se."
Rio acordou abalado, e pestanejou. Então, sua expressão imediatamente se transformou em uma de devastação. Claro, não era Miharu diante dele — era a garota elfa, Oufia e a garota anã, Alma.
Foi... um sonho? Rio pensou vagamente, através de sua ardente febre e fadiga.
Um indescritível sentimento de perda tomou conta dele, fazendo lágrimas caírem repentinamente de seus olhos.
Amakawa Haruto estava morto, e nunca mais encontraria Miharu de novo. Foi por isso que ele fez seu melhor para parar de se lembrar de Miharu. Os pensamentos e sentimentos que ele tinha selado até agora fluíam para fora dele ao lado de suas lágrimas.
Rio ainda tinha sentimentos de arrependimento em relação a Miharu dentro dele; seu sonho bem agora tinha enfatizado isso profundamente. No entanto, mesmo com essa consciência, Miharu não existia neste mundo.
A realidade era cruel.
"Erm... Bom dia.", Oufia disse hesitantemente, enquanto Rio tristemente derramava suas lágrimas.
"Bom... dia.", respondeu Rio por reflexo, apesar de não ver Oufia e Alma em absoluto. Ele mordeu o lábio na tentativa de reprimir suas emoções.
De repente, ele sentiu alguém envolver um cobertor sobre seu corpo. Elas provavelmente não suportariam ver um garoto de idade semelhante à sua usando apenas roupa de baixo, mesmo um de uma raça diferente. Bem, quem se importa com isso, Rio pensou sem constrangimento.
Um silêncio estranho caiu sobre a sala — sobre Oufia e Alma, para ser mais preciso. Foi quando a porta se abriu com um estrondo.
"Onii-chan!"
Latifa apareceu na porta. Alguns momentos depois, Sara e Uzuma também entraram. Assim que Latifa entrou no quarto, ela caiu em prantos e se agarrou à forma horizontal de Rio na cama.
".... Por que você está chorando, Latifa?"
"Porque você tinha ido embora, Onii-chan. Eu não quero isso... Por favor, não me deixe. Fique ao meu lado… por favor?"
"Estou bem aqui, não estou?" Rio disse gentilmente com um sorriso torcido. Ver Latifa chorar, instantaneamente o fez se recompor de alguma forma; sua disposição emocional tinha desaparecido.
"Então você estará sempre comigo? Você nunca vai partir, certo?", Latifa perguntou, apertando o corpo de Rio com ainda mais firmeza.
"Oh, céus. Poderia me abraçar um pouco mais suave? Isso dói", disse Rio com uma cara conturbada, fugindo da pergunta.
Ele não podia responder sim. Se o fizesse, provavelmente seria uma mentira. Seria um tanto vergonhoso mentir diretamente no rosto de uma jovem que o admirava.
"Huh, você está ferido? Por que — O que é isso?!", Latifa finalmente notou as algemas nas mãos e pés de Rio. Ela tentou abri-las à força, mas foi inútil.
"Não se preocupe comigo. Fizeram algo ruim para você, Latifa?"
"Sim. Elas machucaram meu Onii-chan", respondeu Latifa imediatamente, fazendo Rio piscar com uma expressão em branco.
"Então está tudo bem.", ele disse, divertido.
"Uh-uh! Isso não é verdade. Quem fez isso com você?"
Latifa balançou a cabeça furiosamente com lágrimas nos olhos. Então, ela olhou ao redor da sala e viu Sara, Oufia, Alma, e Uzuma — as quatro que pareciam estar a par da resposta. Ela olhou para elas desconfiada, exigindo silenciosamente que explicassem o que aconteceu.
"U-Umm..."
Sem saber por onde começar, o rosto de Sara empalideceu enquanto ela abria a boca. As outras três usavam expressões semelhantes. De repente —
"Minha nossa, por que vocês não podem andar um pouco mais devagar? Estou aqui agora."
Tardiamente, Asura chegou. Uma vez que viu Latifa agarrada a Rio, ela baixou a cabeça e suspirou.
"Imaginei. Garoto humano, por favor, aceite minhas desculpas. Gostaria de fazer algumas perguntas sobre essa garota. Poderia gentilmente cooperar conosco? Vamos escolher um lugar melhor para conversar, é claro."
"Quem se importa com isso! Foram vocês que fizeram isso com o meu Onii-chan? Respondam-me."
Antes que Rio pudesse responder à pergunta de Asura, Latifa interrompeu e fez uma exigência descaradamente hostil.
"Isso mesmo... Hm?! Essa é.… uma intenção assassina bastante feroz."
No momento em que Asura confirmou a acusação de Latifa, Latifa assumiu uma postura protetora sobre Rio. Seus olhos eram tão afiados quanto os de um cão de guarda, olhando para os ocupantes da sala.
"Vocês foram malvadas com Onii-chan. Eu não vou perdoá-las."
Antes que eles percebessem, um ar espesso e intimidante varreu a sala escura. Foi direcionado para todos na sala. Todos, exceto Rio, isto é. O grupo de Sara ficou rígido de uma só vez, suando nervosamente. A bestial alada, Uzuma, deu um passo à frente e recebeu todo o efeito do olhar penetrante de Latifa.
"Pare, Uzuma."
"Você também, Latifa. Fico feliz que se sinta assim, mas pare. Eu estou bem, então vamos ouvir o que elas têm a dizer."
Asura e Rio intervieram, não querendo que a situação saísse do controle.
"Se Onii-chan diz isso, então...", Latifa relutantemente recuou.
"Obrigada a vocês dois. Antes de nos mudarmos de local, permita-me remover essas algemas. Onde está a chave, Uzuma?"
".... Eu entreguei para Sara-sama.", Uzuma respondeu para Asura com um tom de voz formal.
"Então, Sara. Abra essas algemas imediatamente."
"S-Sim senhora! .... Desculpe-me.", Sara assentiu, correndo na direção de Rio com pressa. As algemas em torno de seu pescoço, mãos e pés foram soltas uma por uma.
"Muito obrigado."
"N-Não! Nós é que devemos nos desculpar com você! Por favor, aceite nossas sinceras desculpas!", Sara abaixou a cabeça, um pouco agitada, depois que Rio lhe agradeceu.
"Então vamos para outro local imediatamente. Sigam-me."
"Tudo bem..., mas você pode me dar um momento primeiro? Eu gostaria de me curar um pouco."
Assim que Rio tentou se levantar e seguir Asura, uma dor aguda o apunhalou no estômago. Seu rosto se contorceu em agonia quando ele pediu permissão para tratar a si mesmo.
"Hmm? Elas machucaram você? Isso é imperdoável. Deixe-me tratá-lo imediatamente.", Asura respondeu, lançando um olhar frio para Sara e as outras.
"Não, eu posso fazer isso. Por favor, não se incomode.", Rio rejeitou a oferta e começou a se curar.
"Isso é.… arte espiritual. Entendo, então você é um humano de Yagumo. Que inesperado..."
"Então isso é arte espiritual, afinal?", Asura murmurou para si mesma em compreensão, levando Rio a questioná-la.
Ele estava mais do que ciente de que estava usando uma habilidade incomum que era semelhante, mas diferente da magia. Ele tentou pesquisar a identidade dela na biblioteca da Academia Real, e como resultado, descobriu um livro que falava de uma técnica imitativa chamada "arte espiritual". No entanto, não tinha outros detalhes além do nome, e sua pesquisa terminou sem que ele recebesse mais clareza de sua habilidade.
"Pelo visto, você não parece entender muito bem as artes espirituais. Como você chegou a aprendê-las?"
"De repente, fui capaz de usá-la um dia."
"... O quê?"
A franca verdade de Rio fez os olhos de Asura se ampliarem.
"Isso é incomum?"
"Hum. Os humanos têm muito menos aptidão para as artes espirituais do que os Seirei no Tami para começar.... Aprender em um único dia deveria ser impossível. Em circunstâncias normais, pelo menos. Não me diga...", Asura disse, antes de dar um olhar significativo em Rio.
"Há algum problema?"
"Não, não é um problema... Não deveria ser, em todo caso. Gostaria de ouvir mais sobre isso também, se possível. Eu prometo responder a quaisquer perguntas que você tiver sobre nós também."
"Por favor. Além disso, eu agradeceria se você pudesse me emprestar algo para vestir", disse Rio, dando um vislumbre de sua figura, vestida apenas com roupa de baixo, sob o cobertor. Asura suspirou profundamente.
".... Peço desculpas de novo. Elas serão trazidas a você imediatamente. Junto com alguns remédios, desde que você já pode estar doente. Oufia, Alma. Vão prepará-los, agora."
"S-Sim senhora!"
Oufia e Alma responderam em uníssono e correram para fora da sala.
◇◇◇
Depois que Rio trocou de roupa, mudou de sala e se apresentou, ele explicou o motivo de ter acolhido Latifa. Explicou que estava se movendo de Strahl para Yagumo, que foi atacado no caminho por Latifa, uma escrava sendo controlada pelo Colar de Submissão, que Latifa decidiu segui-lo depois que ele a libertou, e assim por diante.
Latifa — a única que poderia atestar a veracidade de sua história — tinha talvez se cansado ou entediado da conversa fiada, visto que havia adormecido no colo de Rio enquanto ele falava. No entanto, seu apego ao Rio foi a maior prova que eles poderiam ter oferecido.
À medida que a discussão avançava, Rio explicou o motivo pelo qual decidiu pisar na grande floresta onde se encontrava a vila dos Seirei no Tami. Ou seja, o fato de que ele queria que o povo espiritual acolhesse a bestial — Latifa — e a protegesse.
"Uzuma. Por causa de suas ações precipitadas, você cometeu a maior desonra sobre um benfeitor que buscava proteger um dos nossos. Você tem algo a dizer?"
Depois de ouvir toda a história, Asura virou-se para Uzuma com um olhar severo.
"Um... Quando eu ouvi que Latifa-dono foi colocada para dormir com artes espirituais, pensei que esse humano... que ele certamente a tinha sequestrado, e fiquei furiosa.", Uzuma explicou seu lado da história com o rosto corado, suando muito.
"Pelo que ouvi, você o atacou no meio das negociações sem nem mesmo se preocupar em ouvir o que Rio-dono tinha a dizer. Por que você não esperou até ele terminar de falar?"
"E-Eu estava simplesmente com muita raiva... E desde que havia a possibilidade de um sequestro, eu tive que me preparar para o pior cenário e garantir o resgate seguro da Latifa-dono...", Uzuma se encolheu enquanto falava, recuando com medo.
Considerando a urgência da situação, as ações de Uzuma não puderam ser completamente descartadas. Qualquer um chegaria à conclusão do sequestro se encontrasse um estrangeiro armado, invadindo seu território, com uma jovem de sua própria espécie colocada para dormir pelas artes espirituais.
Além disso, havia o risco de Latifa ser usada como refém se elas se movessem muito lentamente... E se Rio tivesse sido realmente um sequestrador, isso teria sido mais do que possível.
Mas, só porque a reação de Uzuma não estava completamente errada não significa que ela tinha feito a coisa certa. A realidade não tinha soluções claras como fórmulas numéricas, afinal.
"P-Por favor, perdoe-me, Asura-sama! V-Você pode me punir da forma que achar melhor, se necessário!", incapaz de suportar o clima na sala e seu próprio sentimento de culpa, Uzuma finalmente cedeu e se voltou para pedir desculpas.
"Hmph. Não acha que se enganou sobre a quem suas desculpas devem ser dirigidas?"
"R-Rio-dono! Eu realmente sinto muito..."
Uzuma de repente se ajoelhou no chão, encostando a testa no piso diante dela.
Em outras palavras, um dogeza.
Então o povo espiritual também tinha a cultura do dogeza.... Os olhos de Rio se abriram ligeiramente com isso.
Embora ele não tivesse certeza se sua ação tinha o mesmo peso que o dogeza tinha no Japão, suas intenções de se desculpar eram evidentes.
"P-Por favor, aceite minhas desculpas também. Rio-sama, sinto muito pelo que aconteceu!", seguindo a liderança de Uzuma, Sara, Oufia e Alma se ajoelharam em sucessão.
".... Estaria mentindo se dissesse que não me incomodei, mas aceito suas desculpas. Também pode ter faltado alguma consideração da minha parte quando pisei em seu território tão impensadamente.", desconfortável em ter garotas da idade dele e mais velhas abaixadas aos seus pés, Rio decidiu aceitar suas desculpas e acabar com o assunto. Também, não seria uma boa ideia arruinar o relacionamento deles de agora em diante.
"Rio-dono, por favor, aceite um pedido de desculpas meu também. Prometo que Uzuma assumirá a responsabilidade por sua precipitação. As garotas ali também vão enfrentar uma bronca minha", disse Asura, fazendo Sara e as outras se encolherem.
"Sim, eu entendo. Então, por favor, todas, levantem a cabeça. Ficarei perturbado se vocês continuarem assim por mais tempo", disse Rio com um sorriso forçado para Sara e as outras que ainda estavam se curvando no chão.
"Rio-dono. Os anciões da vila se reunirão amanhã de manhã e farão um pedido formal de desculpas. Você deve estar cansado esta noite. Por favor, descanse com Latifa aqui neste quarto.", sugeriu Asura, com um olhar de lado para as garotas lentamente se levantando.
"Então eu vou fazer exatamente isso."
"Bom. Vou preparar um atendente para você também. Não hesite em nos informar se você precisar de alguma coisa."
"Não, nada. Obrigado por sua consideração."
"Muito bem. Agora, preciso fazer alguns arranjos, então, por favor, desculpe-me. Venham, vocês."
As garotas seguiram Asura para fora da sala.
Na saída, Uzuma e as três garotas se curvaram profundamente, levando Rio a acenar levemente com a cabeça para elas. Antes de sair do quarto, Asura lançou um olhar transbordando de afeto para Latifa. Em seguida, Rio moveu Latifa de seu colo para a cama, antes de se deitar ao lado dela.
◇◇◇
Pouco depois de Rio adormecer...
Os anciões se reuniram numa sala no último andar do Concelho da vila.
"... E esse é o resumo geral deste incidente. Acredito que seria apropriado oferecer a Rio-dono um pedido formal de desculpas e uma recompensa para mostrar nossa gratidão por salvar Latifa e protegê-la. Há alguma objeção?", depois que Asura explicou os eventos que ocorreram, ela olhou ao redor da sala dos anciões de onde estava sentada. Havia também outros dois anciões na sala, sentados à sua esquerda. Todos os outros mostravam expressões conflitantes.
"Eu não acho que alguém se oporia às desculpas e recompensa. Mas, como não temos conhecimento de como a cultura humana funciona, nossas práticas comuns podem não ser transmitidas como pretendemos. Como devemos pedir desculpas e agradecê-lo é outro assunto que precisa ser considerado.", o ancião representante dos elfos — um homem idoso sentado num dos três lugares centrais com Asura — disse.
Como todos eram espécies inteiramente diferentes dos humanos, havia uma diferença significativa em seu senso fundamental de valores. Na realidade, essa diferença de valor foi o que os levou a se separarem dos humanos ao longo da história. Por isso, queriam evitar expressar sua gratidão de forma errada e causar algum tipo de descontentamento.
"Então por que não perguntamos ao garoto? Podemos dar a ele o que ele quiser, desde que esteja dentro dos nossos meios.", sugeriu o ancião que representava a raça dos anões, de onde estava sentado, à direita.
"Não acha que isso seria um tanto presunçoso, Dominic?", disse o ancião elfo. Ele olhou para o anão — Dominic — ao lado dele.
O que Dominic quis dizer era: "emitir um cheque em branco para Rio escrever a quantia desejada". Mas se fosse uma quantia que não podiam pagar, eles estariam em apuros por parecerem ainda mais rudes e ingratos para ele.
A sala ficou barulhenta.
"Mesmo assim, não podemos simplesmente expressar nossa gratidão apenas com palavras. Devemos muito ao Rio-dono pela forma em como o menosprezamos. Acredito que há algum apelo às palavras de Dominic, o que acham?", disse Asura, olhando para os outros anciões.
"Bem... Eu suponho.", o ancião elfo deu um aceno imponente.
Os outros anciões na sala relutantemente expressaram seu acordo também. Todos os presentes admitiram que era certo retribuir Rio de alguma forma ou de outra, mas a razão pela qual eles eram tão cautelosos com ele foi em grande parte devido aos seus preconceitos sobre os humanos.
Com os problemas entre suas espécies profundamente enraizados em sua história, isso era uma coisa que não podia ser ajudada.
"Sim... tem que se evitar os humanos a todo custo. Entendo por que todos se sentem cautelosos e tudo mais, mas isso foi algo bastante amável: salvar um de nossos irmãos da escravidão e guiá-la até nós de lá da região de Strahl. Pelo que ouvi, retribuímos o favor dele com animosidade. Ele certamente não parece o tipo de pirralho que exige que lhe ofereçamos um escravo.... Não é certo, Asura?"
"De fato, eu posso garantir isso. Ele era um menino compassivo e sensato.", declarou assertivamente Asura à pergunta de Dominic.
"Então, que tal, Syldora?"
".... Está bem. Alguém tem alguma objeção?", o ancião elfo Syldora concordou e olhou para os outros anciões, mas ninguém se opôs, e a proposta foi aprovada.
"Então, para mostrar nossa gratidão, vamos com a ideia que Dominic sugeriu. Alguém mais tem outros pontos a serem discutidos?"
"Hmm. Então eu posso?", Asura levantou a mão.
"Com certeza. Você foi a pessoa mais envolvida com este incidente de todo o conselho de anciões.", disse Syldora.
"Eu gostaria de abordar o tema de Latifa-dono. Embora eu não esteja totalmente certa, acredito que sua educação como escrava resultou no que eu percebi como fragilidade mental. Essa fragilidade tem se manifestado na forma de dependência de Rio-dono. Se vamos aceitá-la dentro de nossa comunidade, isso exige que Rio-dono permaneça na vila também — pelo menos até que ela se acalme, é o que estou pensando."
"Ah... Nesse caso, os preparativos precisam ser feitos para alojamentos e um guardião. Também temos que explicar a situação aos aldeões... e obter o consentimento do pirralho também, é claro."
Dominic coçou a cabeça com as palavras de Asura; Syldora e Asura abriram a boca sem perder um instante.
"Podemos deixar o cuidado para as donzelas aprendizes do santuário. Felizmente, elas já o conheceram. Isso pode atuar como seu arrependimento por causar transtornos a alguém tão protetor."
"Hm. Com relação à hospedagem, há uma casa vazia na minha propriedade. Eles podem viver lá. Eu me ofereço para assumir o papel de ser guardiã deles enquanto isso."
E assim, a discussão prosseguiu sem problemas, até que...
"Ei. Vocês têm um momento?"
Uma bela voz ecoou claramente por toda a sala do conselho. De repente, uma mulher se materializou em um local que estava vago. Ela era uma jovem beleza, e estava usando um vestido decorado com flores delicadas. Seu cabelo verde era longo o suficiente para chegar ao chão, e seus olhos eram de uma cor esmeralda brilhante. Seu rosto era tão requintadamente refinado, que quase parecia desprovido de vida, mas ela também emitia uma aura cálida sobre ela.
"V-Vossa Grandeza..."
Assim que a avistaram, todos os anciões da sala imediatamente se ajoelharam ao mesmo tempo.
"Dryas-sama, o Grande Festival Espiritual ainda está bastante distante no futuro. O que a traz aqui hoje?", Asura perguntou de forma cortês.
"Sim, eu apenas tinha algo em minha mente. E vim perguntar a vocês sobre isso."
"Entendo. Como podemos ajudá-la?"
"Bem agora, eu senti a presença de um espírito desconhecido em torno desta área. Parecia de uma classe bastante alta, mas desapareceu quase imediatamente. Tenho quase certeza que é o espírito contratado de alguém, mas não sei quem. Alguma ideia?"
Dryas perguntou, olhando ao redor da sala do conselho.
".... Sim, na verdade...", respondeu Asura.
"Oh, realmente? Onde está?"
"Eu acredito que está descansando com o menino que contratou no momento. Temos planos de trazê-lo para esta sala amanhã de manhã. O que gostaria de fazer, Vossa Grandeza?"
A resposta de Asura fez os outros anciões arregalarem os olhos em choque. O único garoto contratado a quem ela poderia se referir era Rio.
"Huh... Ele vai estar nesta sala? Então estará tudo bem se estiver presente também?"
"Claro, Vossa Grandeza. No entanto, o menino é na verdade uma criança humana..."
"Oh, ara~... Que incomum. Os humanos estão visitando esta vila?", Dryas abriu um pouco mais os olhos.
"Sim, havia circunstâncias especiais envolvidas...", Asura hesitou com uma expressão conturbada.
"Hmm. Bem, isso não me diz respeito. Vou aparecer de novo amanhã de manhã. Vejo vocês depois, então."
"Sim, Vossa Grandeza.", Asura reconheceu respeitosamente.
Ao mesmo tempo, a figura de Dryas desvaneceu. Ela realmente era uma alma despreocupada, aparecendo e desaparecendo como e quando queria.
"... E lá vai ela. Nunca imaginei que ela apareceria tão de repente assim. É ruim para o meu coração...", Asura suspirou cansada. Os outros anciões mostravam reações semelhantes.
"Gahaha! É um grande espírito de classe alta, afinal. Claro que ela vai ser caprichosa. Além do Grande Festival Espiritual, raramente nos é concedida a presença dela. Vamos considerar isso como um sinal de boa sorte desta vez", disse Dominic.
"Isso pode ser verdade..., mas, Asura, o que falou antes? É verdade?", Syldora concordou com as palavras de Dominic antes de estreitar os olhos para Asura.
"Sim. As palavras de Dryas-sama solidificaram minha teoria. Rio-dono fez um contrato com um espírito. Embora seja um pouco preocupante que ele mesmo não parecia estar ciente disso."
"Entendo... Uma coisa atrás da outra... nunca esperaria isso depois de ser acordado tão tarde. Esta foi uma noite bastante agitada, de fato", disse Syldora, colando um sorriso tenso em seu rosto.
"Muito certo. A mais agitada da minha vida.", Dominic fez um grande aceno de acordo.
◇◇◇
Na manhã seguinte, Rio acordou e encontrou Latifa dormindo em seus braços. Ontem ele sentiu os sintomas iminentes de um resfriado, mas agora ele se sentia surpreendentemente saudável, e tudo graças à medicina élfica que Asura lhe deu. Enquanto ele acariciava o cabelo de Latifa, ainda em seu sono profundo, uma batida ecoou da porta.
"Sim? Estou acordado.", Rio sentou-se e respondeu, em seguida, viu como a porta lentamente se abria. Lá na porta estavam três garotas — a loba prateada Sara, a elfa Oufia, e a anã Alma.
"Bom dia, Rio-sama!", as três gritaram juntas em uníssono, antes de fazer uma reverência.
"Bom dia. Há algum problema?", Rio baixou a cabeça para retribuir sua saudação, antes de pedir para as três entrarem no quarto.
"Os preparativos para o café da manhã foram concluídos, então viemos chamá-los. O que você gostaria de fazer?", Sara respondeu em nome das três. Ela era a mais velha do grupo e muitas vezes acabava agindo como sua líder.
"É uma oferta muito tentadora, mas eu gostaria de esperar até Latifa acordar. Ela ficará brava comigo se eu comer primeiro.", Rio sorriu suavemente, balançando a cabeça.
As expressões das garotas se nublaram um pouco. Ver como Latifa dormia profundamente enquanto se agarrava a Rio, fez com que se sentissem ainda mais culpadas pelo que tinham feito por causa de seu erro de julgamento.
".... Entendido.", disse Sara, curvando-se educadamente.
"Oh! Que tal um chá primeiro, Rio-sama?", Oufia juntou as mãos quando uma ideia surgiu em sua cabeça.
"Se não for muito incômodo, então por favor, Oufia-san."
"Se-Será um prazer! Por favor, espere aqui por um momento.", Oufia sorriu antes de virar e sair do quarto.
"Ah, eu vou ajudá-la, Oufia-neesan!", sem um momento de atraso, Alma ansiosamente seguiu Oufia. Não demorou muito até Rio e Sara serem os únicos acordados restantes no quarto.
"A-Ah, um..."
Sara quase pensou em ajudá-las também, mas sua mente racional percebeu que três pessoas não eram necessárias para preparar o chá. Ela permaneceu parada em seu lugar, sentindo-se um pouco estranha por ser deixada sozinha com uma pessoa de uma espécie diferente que também tinha a mesma idade. Seu mal-entendido egoísta causou muitos problemas para Rio, afinal.
"O-Obrigada.", disse Sara, curvando-se sem pensar. Então, ela percebeu o quanto sua ação era sem sentido, e ficou vermelha. Sara abaixou a cabeça, suas orelhas e cauda se moviam inquietamente. Os olhos de Rio não podiam deixar de ser atraídos por seus movimentos.
Eles simplesmente se movem por vontade própria? Ele se perguntou com uma leve inclinação de sua cabeça.
"U-Umm, Rio-sama?", Sara de repente falou, um pouco nervosa, fazendo Rio ficar um pouco rígido reflexivamente.
"Sim, o que é?"
"Hm. Rio-sama, conheceu Latifa-chan quando ela era uma escrava?", Sara perguntou com uma expressão conflitante, incapaz de evitar fazer uma pergunta difícil.
"Não, mas posso imaginar que tipo de tratamento ela deve ter recebido. Eu nunca me intrometi muito profundamente nesse assunto, porque não queria desencadear nenhuma memória ruim."
".... É assim. Então, hum, se estiver tudo bem para você, Rio-sama... poderia dizer o que você sabe?"
"Não será uma história muito divertida. Você está ciente disso, certo?" Não era algo para perguntar por curiosidade, as palavras de Rio implicavam.
".... Sim, eu sei. Mas eu quero ouvir mesmo assim.", Sara olhou para Rio, com sua forte vontade queimando profundamente dentro de seus olhos.
"Tudo bem."
Rio começou a contar a Sara os detalhes de sua teoria sobre como Latifa havia sido tratada. Como ela estava terrivelmente sem emoções quando ele a conheceu, e como ela carregava um trauma profundo que ocasionalmente se manifestava na forma de mudanças de humor. Que ela provavelmente foi forçada a passar por um treinamento de combate severo, que ela era uma assassina que tentou matá-lo. Que ela nunca teve uma refeição adequada em sua vida...
A enorme e chocante verdade deixou Sara completamente sem palavras. Mas depois que Rio terminou de falar, seu sangue ferveu de raiva até que ela estava tremendo para se conter.
"Latifa-chan é... Ela é mais incrível do que todos nós! Suportando tais coisas..."
"Sim, concordo plenamente. Ela realmente é."
Rio simpatizava com as frustrações reprimidas de Sara; como membro de uma espécie que tinha um forte senso de parentesco entre si, ela naturalmente sentiria ainda mais raiva do que ele.
"..., mas não posso dizer que escutar às escondidas seja um bom passatempo.", Rio olhou na direção da porta.
Suas palavras fizeram Sara sobressaltar-se e girar em direção à porta. Lá estavam Asura, Oufia e Alma.
"Nos descobriu, não foi? Peço desculpas. Eu tinha algumas coisas em mente sobre essa criança.", Asura se desculpou, com uma expressão mistificada em seu rosto.
"Algo está acontecendo com Latifa-chan?", Sara perguntou com medo.
"Esta é apenas a minha própria conjectura, mas... essa criança é provavelmente da minha linhagem."
As palavras de Asura deixaram todos os que estavam presentes atônitos. Ela deixou escapar um inevitável e amargo sorriso, e cuidadosamente escolheu suas palavras enquanto continuou a falar.
"Há mais de dez anos, a filha de um parente de sangue meu acabou fugindo de casa. Ela era uma garota livre e incontrolável. No começo, pensei que ela tinha ficado entediada com a vila e ido passear pelas redondezas, mas, ela nunca mais voltou para casa. Ela desapareceu sem deixar rastros, então acreditávamos que tinha sido atacada por um monstro ou uma fera, mas...", Asura olhou para a figura adormecida de Latifa, que estava agarrada a Rio.
"É-É verdade?! Asura-sama?", Sara perguntou, espantada.
"Hmm. Aconteceu muito antes de você nascer, Sara. Não tenho certeza, mas olhar para essa criança me faz sentir estranhamente nostálgica. Gostaria de perguntar o nome de sua mãe, mas ao mesmo tempo eu temo fazê-lo. Sua mãe não está mais viva, não é?", Asura disse, com uma expressão bastante dolorida.
"Infelizmente, ouvi dizer que a mãe de Latifa não é mais deste mundo..."
"É assim...", um olhar triste apareceu no rosto de Asura.
"Mmm... Onii-chan? Bom dia.…" Latifa foi acordada pelas conversas que ocorriam ao seu lado.
"Bom dia. Parece que o café da manhã está pronto. Gostaria de tomá-lo agora?"
"Sim, por favor!", Latifa assentiu ansiosamente. Seu sorriso pacífico não mostrou sinais do passado cruel que ela tinha que suportar. Neste momento, ela era simplesmente uma garota feliz, condizente com sua idade.
"Rio-dono, sou verdadeiramente grata a você.", Asura agradeceu sinceramente a Rio.
"Não, eu...", a expressão de Rio ficou nublada enquanto ele balançava a cabeça com culpa.
Só estava cuidando de mim mesmo.... Ele engoliu essas palavras sem expressá-las.
"...Rio-dono ainda não tomou café da manhã, certo? Eu também não. Se você não se importa, posso comer com vocês?", Asura sugeriu, para mudar a atmosfera solene no quarto.
"Sim, é claro. Certo, Latifa?"
"Um... Claro. Se Onii-chan está bem com isso.", Latifa agarrou as roupas de Rio e assentiu timidamente.
"Ótimo, isso torna as coisas muito mais simples. Apresentarei Rio-dono ao Conselho dos Anciões esta manhã. Preparem a comida. Tragam suas próprias porções também.", Asura sorriu amplamente com felicidade.
"Sim, imediatamente! Vamos Sara-chan, Alma-chan.", Oufia tomou a iniciativa e se moveu primeiro. Ela se apressou em direção à porta.
"Entendido. Vamos lá, ou você vai ser deixada para trás, Sara-neesama.", Alma foi atrás dela sem perder um instante, chamando a atrasada Sara.
"E-Eu sei.", Sara saiu de seu aturdimento momentâneo e correu para fora do quarto com pressa.
◇◇◇
Depois de deixar Latifa aos cuidados de Sara e Alma, Rio foi guiado por Asura e Oufia para o andar mais alto do Concelho, onde os anciões da vila se reuniram.
O Concelho era uma casa construída em uma grande árvore localizada no centro da vila, o mesmo edifício onde Rio havia ficado a noite passada. Rio subiu a escada em espiral que corria ao redor da casa da árvore, com vista para os edifícios mais abaixo na vila. O povo espiritual tinha integrado completamente seu estilo de vida com a natureza, construindo casas de madeira, pedra e argila, na floresta.
Uma cena mágica de se ver.
Uma vez que chegaram a um ponto acima das outras árvores da vila, eles podiam ver uma árvore particularmente enorme que se erguia sobre tudo.
"Isso é.…"
"Fufu. Essa é a Árvore do Mundo, onde Dryas-sama — o espírito das árvores gigantes — reside. Dizem que existia aqui muito antes de chegarmos a esta terra. É enorme, não é?", Oufia explicou orgulhosamente a um Rio de olhos arregalados.
"Sim. Eu cheguei aqui, vindo em direção a essa árvore."
".... Incrível. Uma barreira de magia ilusória avançada se estende ao redor da Árvore do Mundo, por isso não pode ser vista sem um extenso treinamento em artes espirituais." O comentário casual de Rio fez os olhos de Oufia se arregalarem também.
"Isso é.… verdade?"
Rio não parecia totalmente convencido, e inclinou a cabeça. Como ele nunca tinha conhecido outros usuários de artes espirituais até agora, ele não tinha nada para comparar seu próprio nível de artes espirituais. No entanto, ele reconheceu que sua habilidade de imitar livremente a maioria dos efeitos das magias apenas reproduzindo o fluxo de essência na fórmula era injustamente vantajosa, até mesmo para ele.
"Rio-dono, você disse que não aprendeu artes espirituais com ninguém. É isso mesmo?" Asura de repente perguntou, enquanto caminhavam.
"... Sim. Eu tive um pequeno empurrão na direção certa..., mas na maior parte eu estudei por mim mesmo." Rio hesitou em responder no início, mas acabou concordando.
"Entendo. Esse é um talento incrível que você tem. Talvez...", Asura disse com um olhar pensativo em seu rosto, parando antes de terminar sua sentença.
Em pouco tempo, eles chegaram ao último andar.
"Aqui estamos, Rio-dono. Você entrará também, Oufia."
Asura abriu a porta e gesticulou para eles entrarem. Rio foi o primeiro, seguido por Oufia atrás dele. Dentro, várias figuras idosas estavam esperando sentadas em suas cadeiras.
"Rio-dono, por favor, sente-se aqui. Oufia, sente-se ao lado de Sua Grandeza e atenda às suas necessidades."
Asura indicou a Rio uma cadeira perto da porta e Oufia para um canto da sala. Lá estava uma jovem mulher.
"... Huh?"
Por um momento, Oufia duvidou de seus próprios olhos. Aquela jovem era uma existência muito superior, até mesmo à sua própria como parente consanguíneo dos membros do conselho na vila: o espírito da árvore gigante, Dryas, de quem Oufia estava contando a Rio. Em circunstâncias normais, ela nunca seria encontrada em um lugar como este, mas —
"Qual o problema? Continue andando.", Asura não mostrou nenhum sinal de estar agitada, enquanto indiferentemente ordenou Oufia a se mover.
"A-Ah, claro!", Oufia assentiu desajeitadamente e seguiu em direção a Dryas. Quando Dryas avistou Oufia, ela a abraçou alegremente. Mas Oufia estava nervosa, tornando-se o único ponto de agitação na sala pacífica. Os outros anciões no conselho permaneceram tranquilos e sorriram contentes para elas.
Depois de tomar seu lugar primeiro, Rio estava olhando para Dryas e Oufia curiosamente, mas redirecionou seu olhar para a frente. Diante dele havia três lugares para os três anciões chefes: o alto elfo Syldora, o líder anão Dominic, e a bestial da raça do povo-raposa Asura.
"Agora que todos os preparativos foram concluídos, gostaria de iniciar a reunião do Conselho dos Anciões. Como temos um garoto humano como nosso convidado nesta ocasião, prosseguiremos na linguagem dos humanos." Syldora disse, declarando o início da reunião. Apenas nesta reunião, eles manteriam os procedimentos na língua comum da região de humanos, Strahl, em consideração a Rio.
"Agora, garoto humano. Gostaria de pedir desculpas por chamá-lo aqui hoje. E agradeço sinceramente por comparecer."
"Sou eu quem deveria dizer isso. É uma honra ser convidado aqui.", Rio curvou-se levemente de onde estava sentado.
"Eu sou Syldora, um dos anciões chefes desta vila dos Seirei no Tami. Ao meu lado estão os outros anciões. Tenho certeza que você já está familiarizado com Asura. Este anão aqui é—", Syldora se levantou e começou a apresentar Dominic.
"É Dominic. Prazer em conhecê-lo, menino humano.", Dominic interrompeu primeiro, apresentando-se.
"... Como você pode ver, ele é bastante franco. Peço desculpas se ele te ofendeu de alguma forma. Vou apresentar os outros anciões para você em outra ocasião.", Syldora soltou um pequeno sorriso amargo.
"Obrigado por sua consideração. É um prazer conhecer todos — meu nome é Rio.", Rio se levantou e inclinou-se profundamente com uma simples apresentação.
"Não precisa ser tão modesto, Rio-dono. Você é um convidado e benfeitor nosso. Pelos problemas que meus irmãos causaram por seus mal-entendidos, bem como por libertar um de nossa espécie da escravidão, ofereço a vocês minha mais profunda gratidão e desculpas." Syldora disse, levando todos os anciões da sala a se levantarem e abaixarem a cabeça em direção a Rio.
A partir de suas posturas sinceras, Rio julgou que suas palavras de gratidão e desculpas eram genuínas. No entanto, ter todas aquelas pessoas com claramente mais experiência de vida do que ele curvadas assim, o deixou desconfortável, e ele sorriu amargamente.
"Eu aceito suas palavras de desculpas e gratidão. Em relação às desculpas, eu também fui culpado por pisar em seu território sem ser convidado. Não recebi nenhum dano permanente ou duradouro, então, desde que o mal-entendido foi esclarecido, não creio que seja um problema. Vamos perdoar e esquecê-lo como um infeliz acidente. Por favor, levantem a cabeça.", disse Rio, com um comportamento calmo e educado.
Os anciões se surpreenderam, impressionados com o quão maduro Rio agiu, ao contrário de sua aparência indubitavelmente jovem e inocente.
"Somos sinceramente gratos por seu altruísmo..." ー Syldora começou com mais uma reverência ー"mas é um fato que retribuímos o favor que recebemos de você com maus tratos. Assim, gostaríamos de fazer algo por você em retribuição, para expressar nosso remorso. Há alguma coisa que você deseja, Rio-dono?", continuou ele, achando um pouco difícil expressar suas palavras. Os olhares dos anciões se reuniram em Rio.
"Um desejo... você diz?", um olhar confuso surgiu no rosto de Rio com o tema repentino.
Asura acrescentou à explicação com um suspiro.
"Você pode citar qualquer coisa. Devido à nossa diferença de espécies, não sabíamos qual era a melhor forma de expressar nossa gratidão a você. Embora houvesse alguns que temiam o que você pediria.", disse Asura com um sorriso tenso. Uma expressão ligeiramente culpada apareceu nos rostos dos anciões quando Rio assentiu em entendimento.
"Entendo... Então, posso pedir que aceitem Latifa sob seus cuidados? Meu objetivo original era ir em direção à região de Yagumo a leste daqui." Um olhar sério surgiu no rosto de Rio quando ele abaixou a cabeça em direção a Syldora, que estava sentado diante dele. Os anciões pareciam bastante surpresos.
"Hmm..., mas Rio-dono, esse é um dos nossos desejos. Na verdade, é algo que deveríamos estar pedindo a você, não o contrário. Você poderia pedir algo mais...", Asura suspirou, deixando uma risada irônica escapar. Rio balançou a cabeça lentamente.
"Você pode dizer isso, mas eu fui o irresponsável quando tentei tomar a vida de outro sob meus cuidados."
"Rio-dono..."
"É por isso que, se possível... Se não for apenas minha própria ilusão..., mas agora, Latifa está... ela está apegada a mim, eu acho. É por isso que—"
"Eu imploro, Rio-dono. Não diga mais. Ao menos vamos ser nós a fazer o pedido. O que acha disso? Você gostaria de permanecer nesta vila ao lado de Latifa por um tempo?", Rio estava lutando para encontrar suas palavras, então Asura assumiu.
"Isso é.… verdadeiramente generoso de sua parte. Realmente está tudo bem?", Rio perguntou, implicando em como ele ser um humano pode causar um problema.
"Não se preocupe. Discutimos tudo ontem, e todos os anciões aqui já concordaram com isso. Adoraríamos tê-lo aqui, pelo bem dessa criança também.", confirmou Asura, decisivamente.
"Isso mesmo! Não há necessidade de se conter. Eu gosto de você, garoto. Asura nos contou sobre o tipo de humano que você era, mas há algumas coisas que não se pode dizer sem encontrar alguém cara a cara. E garoto, eu concordo! Você é um homem ainda maior do que me disseram, garoto." Dominic riu de coração, dando as boas-vindas a Rio.
"De fato, é exatamente como Asura e Dominic dizem. Faremos o máximo esforço para acomodar sua estadia na vila e garantir que seja confortável. Se você achar que precisa de algo a qualquer momento, não hesite em nos informar."
"É isso aí. Você pode até pedir algo além de bens materiais, como a mão de uma das garotas da vila em casamento. Já que você é um garoto de boa aparência, também... se estiver tão interessado, que tal a minha pequena Alma?", Dominic se gabou, acrescentando às palavras de Syldora com bom humor.
"Dominic, não se empolgue demais. Você está bêbado?"
"Gahaha!" Dominic caiu na gargalhada depois que Asura o repreendeu. Risadas se agitaram entre os outros anciões, instantaneamente iluminando a atmosfera da sala.
"Francamente. Mas é assim, Rio-dono. Não há necessidade de se conter. Tente procurar algo que você queira enquanto vive na vila. Minhas desculpas, mas eu devo insistir em expressar minha gratidão de alguma forma."
".... Eu entendo", Rio riu, pensando por um momento antes de finalmente afirmar o que desejava.
"Nesse caso, gostaria de pedir seu apoio para me ensinar sobre artes espirituais e seu modo de viver durante minha estadia na vila."
"Entendo... Isso não deve ser nenhum problema."
"Hm. Vamos preparar um professor talentoso para você.", Asura e Syldora assentiram.
"Muito bem! Agora que a conversa de vocês terminou, posso continuar com meu assunto?", a voz brilhante de Dryas ecoou pela sala. Todos os olhos na sala mudaram para ela.
"Certamente, Dryas-sama. Mas, se me permite, eu poderia por favor apresentar Vossa Grandeza ao Rio-dono primeiro?", Asura perguntou.
"Claro, vá em frente.", Dryas assentiu facilmente em resposta.
"Rio-dono, sentada ali está o espírito da árvore gigante, Dryas-sama. Oufia falou sobre ela um pouco antes. Você lembra?"
"Umm... Um espírito?", os olhos de Rio se abriram de surpresa. Dryas estava emitindo uma aura transcendental, mas sua aparência era tão humanoide... era difícil acreditar que ela era um espírito.
"Eu sou Dryas. Prazer em conhecê-lo, Rio. Vamos nos dar bem, certo?", com um sorriso inocente, Dryas flutuou pelo ar em direção a Rio.
"Estou muito feliz em conhecê-la também.", Rio retribuiu a saudação com um rosto confuso quando Dryas abruptamente apertou sua mão.
"Hmm... Eu sabia. Embora seja realmente fraca, eu posso sentir a presença de um espírito dentro de você. Talvez ele esteja dormindo?"
"... Um espírito? Dentro de mim?", Rio questionou, um pouco aturdido.
"Sim. Algo vem à sua mente? Você deve ter formado um contrato com ele."
"Contrato? Não, não posso dizer que me lembro de algo...", Rio balançou a cabeça da esquerda para a direita, intrigado. Ele não se lembrava de ter formado um contrato com um espírito em toda sua vida.
"Sério? Isso é estranho.... Ah, não há necessidade de se preocupar. Eu digo contrato, mas não há nenhuma obrigação chata envolvida. Na verdade, é mais benéfico para você."
Incapaz de acompanhar suas palavras, Rio soltou um distraído "Huh..."
"Ei, se importa se eu der uma olhada? Não causará nenhum dano ao seu corpo, então não há nada com que se preocupar."
Depois de um breve momento de hesitação, Rio acenou com a cabeça uma vez.
".... Sim, por favor."
"Então, com licença...", disse Dryas, agarrando gentilmente o rosto de Rio. De repente, Rio sentiu a estranha sensação de algo desconhecido entrando nele, mas ele aceitou sem resistência.
"Uau... Você tem uma enorme quantidade de odo escondida dentro de você. Parece delicioso. Você é mesmo humano? Oh — Parece que um caminho se formou, afinal. Isso significa que você definitivamente fez um contrato, e—?!"
No meio de seu exame do espírito dormindo dentro de Rio, Dryas subitamente retrocedeu. Seus olhos se abriram em choque.
"Aconteceu alguma coisa?", Rio perguntou, sentindo algo anormal no estado de Dryas.
"Com certeza isso é algo... Há um espírito humanoide dormindo dentro de você.", respondeu Dryas com uma expressão confusa. Isso fez com que a sala ficasse mais agitada do que nunca.
Rio ainda não havia entendido.
"Um espírito humanoide?"
"Mm... A julgar por essa reação, você não sabe o quão raro são os espíritos humanoides. Oufia, explique a ele.", Dryas passou o trabalho de explicar para Oufia.
"Eh? Ah! S-Sim, Vossa Grandeza! Então, para os espíritos, apenas espíritos de classe alta e acima são capazes de assumir uma forma humanoide como Dryas-sama. Nem preciso dizer, então, que tais espíritos são extremamente raros. Alguns dizem que você pode contar os números deles em uma mão." Apesar do pânico, Oufia forneceu uma quantidade suficiente de informações.
"E assim estão as coisas. Resumindo, um espírito tão raro está dormindo dentro de você. Um com a mesma quantidade de poder — talvez até mais poderoso — que eu."
"...Dryas-sama, isso significa que existe a possibilidade de um espírito de classe superior estar dormindo dentro de Rio-dono?"
"É o que eu acho. Os espíritos de classe superior conhecidos como "Seis Grandes Espíritos" desapareceram há mais de mil anos na Guerra Divina, mas não é como se eu conhecesse todos os espíritos humanoides por aí, também. Eu não descartaria completamente a possibilidade de que o espírito dormindo dentro de Rio seja de classe superior.", respondeu Dryas casualmente, fazendo com que um barulho de surpresa soasse por toda a sala.
"Erm... há algum problema com espíritos de classe superior?", Rio perguntou a Dryas, olhando de lado para as reações dos anciões.
"Nenhum em particular. Ah, mas pode ser importante para os aldeões que adoram os espíritos. Eu já sou tratada como uma divindade por ser um espírito de classe alta, então se um espírito de classe superior aparecesse, poderia causar um alvoroço."
"... Então por que você não o acorda e pergunta se ele é um espírito de classe superior por si mesma?"
"Eu não recomendaria isso. Ele deve ter esgotado a maior parte de sua energia, já que está em sono profundo. Acordá-lo descuidadamente pode fazê-lo dormir ainda mais, mas se você o deixar sozinho ele vai acordar por conta própria, eventualmente." Dryas balançou a cabeça, colocando a segurança do espírito adormecido dentro de Rio em primeiro lugar.
“Isso faz sentido... Eu entendo."
Havia vários pontos sobre os quais ele ainda estava curioso, mas Dryas era um ser adorado pelo Seirei no Tami, e seria rude se ele continuasse a persegui-la com perguntas. Ele decidiu guardá-las para Asura mais tarde, e se absteve de fazer mais perguntas no momento.
"Hmm. Mas, se o espírito dentro de Rio-dono é no mínimo um espírito de classe alta, então talvez seja necessário reconsiderar nossa conduta em relação ao próprio Rio-dono.", disse Asura com uma expressão preocupada.
"O que... você quer dizer com isso?", Rio perguntou inquisitivamente.
"Em termos gerais, pode ser mais sábio tratar Rio-dono com reverência, como um homem santo. Não vamos pedir para você assumir quaisquer deveres; simplesmente vamos ajustar nossas percepções por nossa própria vontade. Você não será sobrecarregado.", Syldora respondeu com um sorriso irônico, sentindo a prudente suspeita de Rio.
"Reverência...? Não, não sinto que fiz nada para merecer isso. De repente me tratar dessa forma só vai me incomodar.", Rio disse desajeitadamente.
"Gahaha! Bem, não deixe que isso te incomode. Pense nisso como a vila dando a você uma recepção ainda mais calorosa!", disse Dominic com sinceridade, como sempre.
"Haha... Acho que farei isso."
Rio não pôde fazer nada além de assentir com um sorriso tenso.
◇◇◇
Depois da reunião com os anciões e Dryas no Concelho, Rio se encontrou com Latifa e eles almoçaram antes de Asura os levar para sua nova residência.
Ficava a poucos minutos de caminhada do Concelho, perto do centro da vila. Muitos dos membros do conselho da vila tinham suas casas localizadas aqui.
Eles chegaram a uma casa na árvore que era apoiada pelos troncos de várias árvores.
"Uau! Olhe Onii-chan, tem até mesmo uma área coberta! É tão ampla! E com uma vista tão bonita!", Latifa correu animadamente. Ninguém podia culpá-la — tinha a sensação de uma base secreta. Uma casa na árvore totalmente bem construída tinha um encanto que poderia fazer o coração de uma criança dançar.
"Hoho, quanta energia. Minha casa fica ao lado — Rio-dono, por favor, sinta-se livre para aparecer a qualquer momento. A casa já está mobiliada, e pedirei para Sara e as meninas trazerem a comida de vocês."
"Muito obrigado. Vocês realmente preparam tudo."
"Oh, não precisa agradecer. Deixe-me mostrar a casa a vocês.", Asura sorriu alegremente e entrou.
"Venha, Latifa... Vamos. Asura-dono está nos dando uma rápida excursão por dentro."
"Yay, ok!"
Rio e Latifa a seguiram até lá dentro. No momento em que Latifa pôs os pés dentro da casa, ela soltou um grito de admiração.
"Uau!"
A primeira visão que os recebeu foi uma ampla e aberta sala de estar e a sala de janta. Móveis elegantes foram colocados ao redor da sala, e uma porta deslizante conectada à cobertura exterior. Além disso, havia vários quartos, além de um quarto principal, uma cozinha e um banheiro, todos totalmente abastecidos.
Honestamente, não importa como você olhasse para isso, era grande demais para apenas os dois viverem na casa.
Na maior das vezes, os artefatos cobriam todos os utilitários que eles precisavam, permitindo-lhes viver uma vida quase tão confortável quanto a do Japão moderno.
"Se houver algum artefato que você não saiba usar, pergunte às meninas mais tarde. Por último, deixem-me mostrar a vocês a sala de banho."
"Vocês têm até mesmo uma sala de banho? Eu adoraria isso." A expressão de Rio se iluminou bastante com a menção de uma sala de banho.
"Oh? Esse olhar em seu rosto me diz que você é uma pessoa que desfruta seus banhos, Rio-dono. Nesse caso, você vai gostar disso. A banheira desta casa é bastante magnífica, se digo por mim mesma.", disse Asura orgulhosamente, com um grande sorriso estampado em seu rosto. A confiança dela não traiu as expectativas de Rio, pois ele se viu cheio de um sentimento de euforia ao ver a sala.
"Incrível. Então esta é uma sala de banho do povo espiritual."
"Não é mesmo? É incrível, Onii-chan! Eu quero entrar agora..."
O estado de ânimo de Rio geralmente não oscilava muito para cima ou para baixo, mas essa regra não se aplicava quando se tratava da banheira desta casa. Os olhos de Latifa também brilhavam.
Em primeiro lugar, havia uma área adequada para trocar de roupa. Em segundo lugar, abrir a porta para o local de banho revelou que a área estava claramente separada em uma área de banho e a área de lavagem, assim como um banho no estilo japonês. Isso possibilita lavar o corpo antes de submergir-se na água.
O piso, as paredes e a banheira eram todos feitos de madeira, um material natural que ajudava o espaço a dar uma qualidade maravilhosa e incomum adequada para se refrescar. Finalmente, a melhor parte de tudo foi a porta que dava para a cobertura externa, onde outra banheira de madeira foi colocada. Em outras palavras, uma banheira ao ar livre — fechado, é claro, para que ninguém pudesse espiar.
"Hoho, fico feliz de saber que é do seu gosto.", Asura riu alegremente da felicidade de Rio e Latifa.
"Umm, com licença?"
Pouco antes do sol se pôr, depois que Asura já havia saído, Rio e Latifa estavam alocando quartos e organizando seus pertences quando ouviram o som da voz de uma garota na entrada.
Provavelmente era Sara e as meninas. Asura havia mencionado mais cedo que elas estariam trazendo mantimentos.
Rio se apressou para a entrada e abriu a porta, e com certeza, lá estavam Sara, Oufia e Alma.
"Boa tarde a todas."
"Bo-Boa tarde!", Rio as cumprimentou amigavelmente, ao que as garotas responderam com nervos extremamente rígidos.
Oufia estava conseguindo mostrar um sorriso, mas era um bastante tenso. Alma tinha uma expressão fria e séria, acenando com a cabeça à saudação.
"Eu já ouvi os detalhes de Asura-dono. Obrigado por tudo que fizeram. Por favor, entrem." Embora ele se sentia um pouco desconfortável com a reação delas, Rio convidou todas para entrar. As três garotas o agradeceram e hesitantemente entraram.
"Latifa, Sara-san e as outras garotas estão aqui."
"Olá, Latifa-chan." Após serem anunciadas por Rio, as garotas então cumprimentaram Latifa, sentada em um sofá da sala.
"Oh, olá de novo."
Latifa respondeu educadamente, observando-as cuidadosamente para julgar seu humor. Em algum momento, ela tinha se tornado um pouco mais próxima das garotas. Ela provavelmente se abriu um pouco quando Sara e Alma a cuidaram enquanto Rio falava com os anciões.
"Rio-sama. Peço desculpas pela interrupção, mas estaria tudo bem se trouxéssemos os itens?", Sara perguntou, nervosamente indo direto aos negócios.
"Claro. Fique à vontade.", concordou Rio agradavelmente.
"Muito obrigada. Oufia, por favor."
"Okay. Vamos começar movendo os alimentos para a despensa. Nossos próprios pertences podem vir depois.", Sara e Oufia trocaram palavras.
Rio achou que tinha ouvido algo sobre o qual deveria fazer um comentário na conversa bem agora, mas decidiu que deve ter sido sua imaginação. A razão para isso foi o fato de que as garotas pareciam com as mãos muito vazias para estar movendo itens.
"Hum, todas vocês parecem estar de mãos vazias... Onde pode estar os itens? Eu posso ajudar a carregá-los."
"Oh, não se preocupe. Eles estão conosco. Oufia, por favor."
Sara riu da pergunta de Rio, então perguntou a ele o local da despensa e foi para lá. Rio seguiu junto com as garotas, curioso sobre o que elas iam guardar lá. Latifa também foi junto, ao lado de Rio.
"Discharge." Uma vez que eles chegaram ao depósito, que era mantido em baixa temperatura com um artefato, Oufia estendeu a mão e recitou algum tipo de feitiço. O espaço diante de sua mão começou a deformar, dobrando e torcendo até que vários itens de comida de repente apareceram do nada.
"Huh?", os olhos de Rio e Latifa se abriram de surpresa.
"O que Oufia-neesan usou agora foi um artefato mágico... o ‘Armazenamento Espaço-Tempo’. Ele usa a essência do usuário para criar uma dimensão isolada no tempo e no espaço com a magia embutida nele, depois retira itens da dimensão quando o usuário recita um certo feitiço.", Alma interveio com uma explicação bastante orgulhosa, tendo concluído a razão de seu choque.
"Pensar que tais artefatos existiam... Isso é incrível. O povo espiritual pode usar magia espaço-tempo também?"
"Sim. No entanto, estamos limitados pela quantidade de energia que ela consome. Os únicos que podem usar são aqueles com grandes quantidades de odo... o que os humanos chamariam de essência. É por isso que pedras espirituais de alta qualidade são necessárias para criar artefatos com magia espaço-tempo embutida."
"Pedras espirituais? Não pedras mágicas, ou cristais de essência?" Enquanto Sara e Oufia começaram a organizar os itens de seu lado, Rio não conseguiu conter sua curiosidade enquanto questionava Alma.
"Sim. É um objeto que difere das pedras mágicas e dos cristais de essência, criadas a partir deles. Você pode pensar nelas como uma versão superior, em termos gerais."
"Entendi."
Depois de assentir, Rio finalmente se juntou às garotas na organização da comida. Alma também, e por um tempo eles harmoniosamente trabalharam, pensando sobre onde deveriam colocar o que.
Ocasionalmente, Rio se deparava com um item alimentar ou ingrediente que não existia na região de Strahl, mas existia na Terra, fazendo-o reagir secretamente com espanto.
"O que é isso...?" Depois de localizar um item que simplesmente não podia deixar passar, ele se virou para pedir a Alma para identificá-lo.
"Essas são sementes de arroz sem casca. É um dos produtos da debulha, e nós as comemos fervendo ou fritando."
A palavra que ela usou não era exatamente a mesma pronúncia que a palavra japonesa para arroz, mas pela descrição de como era preparado, não havia como confundir.
"Embora tenhamos ingredientes que são preparados de forma semelhante, essa coisa exata não está disponível em Strahl."
"Foi originalmente um cultivo da região de Yagumo, afinal. Se bem me lembro, foi trazido para a vila ao longo do curso da história e começamos a cultivá-lo."
"Estou ansioso para cozinhá-lo e comê-lo."
Assim, eles conversaram enquanto trabalhavam até que tinham guardado a maior parte da comida na despensa e retornaram para a sala de estar. Latifa estava conversando com Sara e Oufia enquanto limpavam, permitindo que ela se abrisse e se sentisse um pouco mais relaxada em comparação com quando elas chegaram.
"Então, umm... Rio-sama. Em que quartos devemos dormir?"
Depois que o chá foi preparado e todos estavam sentados nos sofás para um respiro, Sara abordou o assunto de forma bastante tímida.
".... Hein?", Rio ficou boquiaberto com as palavras de Sara.
"Eh? Uum, a anciã líder... Asura-sama não lhe disse nada?"
"Hã, me dizer o quê?" Ele tinha uma ideia do que estava acontecendo, mas perguntou de qualquer forma para acalmar seu coração.
"Nos disseram para morar com Rio-sama nesta casa e cuidar de vocês dois..."
Com certeza, as palavras de Sara foram exatamente como Rio esperava.
"...... O quêêêê?! Vocês todas vão morar aqui com a gente?", Latifa respondeu com espanto depois de pensar por alguns segundos.
"Sim. Isso vai ser um problema?"
"V-Vai?" Oufia perguntou, levando Latifa a olhar para Rio, sentado ao lado dela.
"Não, isso..."
A expressão de Rio transmitia um sentimento de desaprovação. Embora fossem todos meninos e meninas, era um menino e quatro meninas — só de imaginar isso o fazia se sentir cansado.
"Erm, é pedir demais, afinal?", Sara perguntou a Rio com um rosto ansioso.
"... Uum. Todas aqui estão bem com isso?", Rio perguntou. "Eu sou um homem — e além disso um humano, sabem? Se vieram aqui por uma ordem, então por favor, não se forcem a fazer isso."
Seu pensamento era que Sara e as outras poderiam não querer morar com um humano como ele.
"Estamos completamente bem com isso! Rio-sama é um salvador. E não podemos nos desculpar o suficiente pelo quão terrivelmente te tratamos. Então, gostaríamos de mostrar nosso arrependimento por essas ações através disso!", Sara insistiu acaloradamente, com Oufia e Alma assentindo ao seu lado.
"Ah, não, mas... Eu não preciso de arrependimento ou qualquer coisa do tipo.", Rio disse, encolhendo-se para trás.
"E-Eu entendo que podemos ser um incômodo para vocês! Estávamos realmente preocupadas que Rio-sama fosse quem se oporia a isso.... É verdade que nos disseram para fazer isso, mas estamos felizes em cumprir essa ordem! Queremos conhecer melhor Latifa-chan, também!", Sara expressou de todo coração, com o melhor de suas habilidades. Rio podia sentir a determinação dentro dela; ela não recuaria facilmente.
O silêncio na sala continuou por um momento, até...
"Rio-dono, estou entrando.", Asura apareceu na porta.
"Asura-dono...", Rio lhe lançou um olhar interrogativo, perguntando se tudo isso tinha sido planejado por ela.
"Eu ouvi parte de sua conversa. Com relação ao tema de morar com as meninas, Rio-dono, gostaria humildemente de pedir isso a você."
"Mesmo que diga isso... não é indesejável para elas? Sara e as outras são da mesma linhagem que os membros do conselho da vila, certo? Haverá rumores ruins se elas viverem com um humano como eu.", Rio sussurrou no ouvido de Asura, tendo rapidamente se levantado e aproximado dela.
"Mais uma razão, então. Rumores sobre Rio-dono e Latifa já estão se espalhando pela vila. Se o conselho da vila te tratasse como uma praga, esses rumores negativos seriam ainda piores.", Asura balançou a cabeça com desdém.
"Realmente estará tudo bem?"
"Estará. Como a líder dos anciões, eu garanto isso. Esta é uma ação que tomamos para o bem-estar de Latifa. Rio-dono, você pretende deixar a vila um dia, não? Então seria indesejável continuar essa dependência que ela desenvolveu em relação a você. Você precisa de indivíduos ao lado dela que possam ser seus guardiões, seus amigos. Embora essas meninas ainda têm um longo caminho a percorrer, são todas boas meninas."
Era exatamente como Asura disse. Se ele considerasse o futuro de Latifa, Rio tinha que ser menos protetor com ela.
".... Você está certa. Tanto Latifa quanto eu, nos beneficiaríamos muito com isso."
"Oho! Então posso tomar isso como uma palavra de aceitação?"
"Sim. Se não for muito incômodo para Sara-san e as outras..."
Assim, ficou decidido que Rio e Latifa viveriam juntos com as meninas do Seirei no Tami.
Naquela noite, para celebrar sua nova vida juntos, eles decidiram realizar um banquete modesto. Os participantes eram os novos moradores da casa — Rio, Latifa, Sara, Oufia e Alma — e os três líderes anciões, Asura, Syldora e Dominic, com um total de oito pessoas. À medida que a noite se aproximava, eles começaram a preparar o banquete na cozinha. Sara, Oufia e Alma se encarregaram da cozinha, enquanto Rio pediu para ajudar.
No entanto, com certeza...
"Rio-sama, por favor tome um descanso.", todas lhe disseram.
"Vamos morar juntos de agora em diante, então não há necessidade de me acomodar tanto. Vamos todos ficar cansados assim, não acha? E eu prefiro que você pare de me chamar com o 'sama' também.", disse Rio a elas com um sorriso forçado. As três garotas se olharam.
"Então, umm... Estaria bem chamá-lo apenas de ‘Rio-san’?", Sara perguntou em nome do grupo.
"Sim, isso seria bom. Então vamos fazer o trabalho doméstico de forma semelhante. Podemos decidir os detalhes outro dia, então vamos apenas cozinhar juntos por hoje. Dessa forma, podemos verificar cada um os níveis de nossas habilidades na culinária também."
"Eu quero comer a comida de Onii-chan!"
A sugestão de Rio fez Latifa entrar animadamente na conversa. As três garotas — especialmente Sara — pareciam preocupadas em atribuir tarefas para Rio, mas a palavra final de Latifa as fez ceder aos seus desejos. Então, depois de discutir quem estaria fazendo o quê, eles finalmente começaram a preparar a comida.
Na verdade, Rio estava desesperado para cozinhar.
Havia vários ingredientes na despensa que não estavam disponíveis em Strahl, então ele queria tentar refazer o máximo de alimentos da Terra que pudesse. Latifa certamente ficaria em êxtase também. Ele só fazia comidas ocidentais que as crianças gostavam — massas, omeletes e hambúrgueres.
Com mãos habilidosas, ele completou suas receitas o tempo todo evitando ficar no caminho dos outros, fazendo Sara e Alma ampliarem seus olhos com admiração.
"Fufu, isso é divertido... Cozinhar com todo mundo.", disse Oufia, preparando comida e sorrindo alegremente.
"Rio... -san é tão bom em cozinhar quanto Oufia-neesan.", Alma disse. Ela ainda estava um pouco relutante em chamar Rio sem o “sama”.
"E-Eu não vou perder também!", Sara disse entusiasticamente, adicionando ingredientes ainda mais seriamente.
Em pouco tempo, um banquete foi preparado por eles. A sala de estar de sua nova casa logo estava cheia de vida.
"Gahaha! Sua comida é ótima, garoto!", Dominic riu com vontade, engolindo o álcool em seu copo de metal.
"Todos os ingredientes são itens que estou bem familiarizado, mas os pratos são todos novos e inovadores. Estou surpreso de experimentar algo tão bom na minha idade."
"Sim, que habilidade maravilhosa. Meu favorito é esse prato de ovo com tomate.", Syldora e Asura também desfrutaram das receitas de Rio.
"Eu prefiro este aqui com batata e queijo. É perfeito com álcool. E quanto a você, Alma?"
"Eu gosto mais do prato de carne. Parecia muito difícil de fazer, mas o gosto definitivamente vale a pena.", Alma respondeu enquanto mastigava um hambúrguer.
"Ehehe, toda a comida de Onii-chan é deliciosa!", Latifa sorriu orgulhosamente enquanto comia macarrão.
"Rio-san, me ensine como fazer da próxima vez.", Oufia pediu agradavelmente.
"O-Oufia, isso não é rude?", Sara a avisou em pânico.
"Claro, eu não me importo. Em troca, me ensine a fazer alguns dos pratos de sua vila também."
E assim, de uma forma ou de outra, sua vida na vila teve um bom começo.
Uma anciã da tribo raposa esperava na sala para receber o relatório do incidente. Como a representante do grupo, Sara explicou as circunstâncias para a anciã primeiro.
"... Hmm. Você não acha que você foi um pouco dura demais, querida Uzuma?", A anciã olhou friamente para Uzuma depois de ouvir o relatório.
"M-Mas era uma situação de emergência..."
"Bem, isso pode ser verdade..., no entanto, essa criança... Nunca a vi por aqui antes. E ainda, definitivamente, sinto que já conheci alguém tão fofa."
"Sim. Com relação a isso, descobrimos suprimentos em seu acampamento que acreditamos ser equipamentos de viagem pertencentes a esta garota. É possível que ela não seja alguém da nossa vila...", Sara esclareceu do lado com o rosto ligeiramente pálido.
"Oufia. Alma. Tragam o garoto capturado aqui imediatamente.", a expressão no rosto da anciã mudou instantaneamente, e ela deu a ordem em um tom um pouco frio.
Oufia e Alma, ambas assentiram nervosamente para a anciã e se apressaram em sair da sala.
Latifa abriu os olhos logo depois.
◇◇◇
Latifa abriu os olhos para se encontrar em um quarto desconhecido. Ela estava em uma cama macia e confortável, sob um cobertor quentinho e aconchegante. Comparado ao acampamento lá fora, era muito, muito mais confortável e agradável de dormir. E ainda assim —
"... Onii-chan?", Latifa murmurou, olhando descontroladamente ao redor da sala.
Sua preciosa pessoa não estava aqui, onde deveria estar. Em vez disso, ela estava cercada por estranhos: a loba prateada Sara, a bestial alada Uzuma, e a mulher-raposa — como Latifa — anciã. As três estavam sentadas em cadeiras de frente uma para a outra, conversando com expressões conflitantes em seus rostos, que imediatamente pararam quando perceberam que Latifa estava acordada.
"Hmm, parece que você está acordada agora. Bom dia, ‘irmã minha’. Como você se sente?", a anciã da tribo raposa sorriu, falando na língua do povo espiritual. No entanto, Latifa não pôde entender uma única palavra.
"... O que você está dizendo? Onii-chan... Onde está Onii-chan?", ela inclinou a cabeça e falou na língua comum da região de Strahl. Um olhar abatido caiu sobre os rostos de Sara e da anciã.
"Linguagem humana. Asura-sama, essa garota realmente..."
"Assim parece. Essa criança não é da vila.", Sara e a anciã disseram uma a outra conclusivamente.
Latifa, por outro lado, não conseguia entender o que as duas estavam dizendo, e com cautela olhou ao redor da sala. Ela contorceu o nariz, secretamente farejando o cheiro de Rio para localizá-lo.
De repente, o nariz de Latifa captou levemente o cheiro dele.
Não há como confundir. É o Onii-chan — incapaz de aguentar por mais tempo, Latifa pulou da cama e começou a correr.
"Ah, ei! Pare aí mesmo!", a súbita reviravolta nos eventos atrasou a reação de Sara, permitindo a Latifa deslizar e mergulhar no corredor.
"Augendae Corporis!"
Depois de chegar com sucesso ao corredor, ela recitou a única magia que poderia usar. Seu corpo instantaneamente se tornou mais leve, e a força fluiu através dela enquanto corria na direção do cheiro de Rio. Sara e Uzuma correram atrás dela.
"Humm. Isso parece estar tomando um giro para pior...", Asura murmurou para si mesma, com sua expressão escurecendo.
◇◇◇
Alguns momentos mais cedo, antes de Latifa abrir os olhos...
Rio recuperou a consciência em uma cama velha em um quarto desconhecido. Com a cabeça confusa, ele se perguntou onde estava; seu corpo se sentia sem energias, como se ele tivesse pego um resfriado. Na tentativa de avaliar a situação, ele se moveu para sentar-se na cama, quando uma dor aguda apunhalou repentinamente sua área estomacal.
Aceitando sua derrota, ele desistiu e caiu deitado de volta.
Ele moveu a mão até o estômago para se tratar com magia, quando percebeu que havia algemas contendo suas mãos.
Estas são... Algemas de Selagem Encantadas, huh. Eles até foram cuidadosos o bastante para restringir meu pescoço e pés, também.
Rio rangeu os dentes. Algemas de Selagem Encantadas, eram artefatos que poderiam conter a essência mágica do usuário. Normalmente, era suficiente com anexar apenas uma, mas ela poderia se romper dependendo da capacidade do usuário.
Por causa disso, magos de alta classe seriam obrigados a usar múltiplas algemas.
Se mesmo manejar minha essência é tão difícil, quem diria me curar. Droga...
Rio franziu a testa enquanto olhava para o teto acima dele. Uma luz fraca da lua e uma brisa fria entraram pela gradeada janela de ferro no canto da sala. Em algum momento, eles o haviam despojado de seu equipamento e roupas; Rio só estava vestido com uma fina camada inferior. A temperatura da sala era inferior a dez graus.... Estava quase garantido que ele pegaria um resfriado dessa forma.
Ele teria preferido se mover um pouco e se aquecer o máximo possível, mas agora não era o momento para isso. Rio suportou as dores apunhalando em seu estômago e se concentrou em se recuperar naturalmente.
Então, pouco tempo depois...
O frio contra sua pele já tinha passado seus limites, fazendo uma sensação desagradável percorrê-lo. Eventualmente, sua mente começou a cochilar na escuridão. Ele sabia que era ruim dormir agora, mas não conseguia encontrar forças para manter os olhos abertos.
Então, alguns minutos depois que Rio perdeu completamente a consciência, se viu em um espaço branco puro. Ele não tinha ideia de onde estava, nem o que estava acontecendo.
"Haruto...", uma voz clara e bela ressoou.
Rio olhou em volta, surpreso. Antes que ele percebesse, uma garota desconhecida estava diante dele.
Seu longo cabelo rosado tremulava atrás dela enquanto ela olhava para o rosto de Rio com olhos como rubis. Não havia emoção em sua expressão, mas suas feições eram incrivelmente refinadas.
"Você é.…", Rio murmurou.
Ele sentiu como se tivesse visto o rosto dela em algum lugar, mas realmente ele esqueceria o rosto de alguém tão irresistivelmente bela, um rosto que emitia uma aura tão divina?
"Quem é você?"
"Eu? Quem sou eu.... Me pergunto.", a garota inclinou a cabeça para o lado.
"Você não sabe?", Rio perguntou.
"Não...", a garota assentiu tristemente.
"Mas você sabe quem eu sou, certo?"
"Haruto? Haruto... Haruto é.… apenas Haruto."
"Isso não é bem uma resposta. Ok, então, por que você me conhece?"
Sua resposta um tanto filosófica, mas redundante, fez Rio dar um sorriso tenso e mudar sua linha de questionamento. Ela estendeu a mão para tocar o rosto de Rio suavemente e, depois de uma pausa, agarrou a mão dele. Se sentia tão natural para ela estar fazendo isso... Rio simplesmente ficou lá e segurou a mão dela o tanto que ela queria. Sua mão parecia tão irreal, que era quase como se a vida tivesse sido drenada artificialmente dela — mas, ao mesmo tempo, era estranhamente cálida.
"Eu estou... conectada a Haruto."
"Conectado a mim?", Rio não entendeu o que ela estava dizendo.
"Sim. Mas agora não é o momento... Haruto, eu pertenço apenas a você, e sempre estarei ao seu lado. Suas fraquezas, suas fortalezas, seu tudo — eu aceito todos eles. Então não desista. Não tenha medo. E acredite em si mesmo um pouco."
"Por... Por que...?"
Uma expressão perplexa tomou conta do rosto de Rio; ele mal conseguiu encontrar sua voz. A garota sorriu, como se tivesse recuperado um pouco de suas emoções perdidas.
"Porque você é o único que resta para mim... para... para quê?", disse ela, piscando com uma expressão um pouco confusa e mistificada. Então, a garota ampliou os olhos com um sobressalto quando sua figura de repente começou a desaparecer.
"... Desculpa. Parece que... o tempo acabou."
"Tempo?", Rio perguntou à garota, mas ela não respondeu.
"Desculpe. É o máximo... que posso fazer... por você. Bons... sonhos..."
Ela abraçou Rio suavemente. Os olhos dela lentamente lutavam para permanecerem abertos, enquanto sua consciência ia desvanecendo. Rio, também, a seguiu para aquela escuridão logo depois.
Então, não muito depois, outra voz —
"Haru-kun."
Ele pensou ter ouvido uma voz familiar. Uma menina. Rio conhecia a voz dessa menina... Não, Amakawa Haruto conhecia a voz dessa menina. As memórias que ele tentou desesperadamente selar há tanto tempo vieram correndo de volta para ele, claramente, como se tivessem acontecido ontem.
"Acorde, Haru-kun!"
A amiga de infância de Haruto — Ayase Miharu — estava sacudindo seu ombro.
".... Estou acordado."
"Ah! Haru-kun está acordado!"
Haruto piscou os olhos abertos contra a deslumbrante luz para ver Miharu sorrindo para ele. O sorriso de Miharu... Só de vê-lo fez Haruto feliz, enchendo seu coração de calor.
"Qual é o problema...? Eu estava num sono tão bom, também."
Ele olhou para o relógio. Ainda era de manhã cedo.
"Não me venha com essa! Hoje é o dia da excursão! Você tem que levantar cedo!"
Excursão? Por que vamos fazer uma excursão nessa idade? Espera, é isso mesmo!
Hoje era a primeira excursão da primeira série — Haruto arregalou os olhos quando ele se lembrou disso. Mas, depois de alguns momentos de hesitação...
"Hmm. Boa noite, Mii-chan.", disse Haruto, enterrando-se de volta em seus cobertores, apesar de estar mais do que acordado agora.
Ele estava realmente ansioso pela excursão — foi por isso que ele não tinha sido capaz de dormir na noite anterior. Mas por alguma razão, ele realmente queria passar o dia apenas com Miharu. No entanto, como ela também estava ansiosa pela excursão, choramingou como uma criança cujo item precioso estava sendo tirado dela.
"V-Você não pode fazer isso! Nós concordamos em sentar um ao lado do outro no ônibus e ir juntos!"
Oh, isso soa tentador também, Haruto pensou nas palavras de Miharu, mas não fez nenhum movimento para deixar os cobertores. Querendo ver a reação dela, ele não pôde deixar de provocá-la um pouco.
"Vamos, Haru-kun, levanta. Por favor?", Miharu sacudiu Haruto gentilmente.
"Mmph..." Haruto resmungou em resposta. Então, em algum lugar ao lado da cama, Miharu começou a se inquietar com algo.
Eu acho que deveria me levantar agora, Haruto pensou, mas assim que ele fez isso —
"Mō! Definitivamente vou fazer você se levantar!", Miharu disse, pulando em cima de seus cobertores.
"Whoa, huh?! Espera! Espere, Mii-chan! Me rendo! Eu vou me levantar!"
Haruto ressurgiu de seus cobertores com pressa e encontrou Miharu sorrindo presunçosamente para ele.
"Fufu! Bom dia, Haru-kun."
Honestamente, essa fofura foi injusta..., mas Haruto também não estava disposto a apenas aceitar isso deitado.
"Ingênua!", Haruto maliciosamente arrastou Miharu para os cobertores com ele.
"W-Wah! Haru-kun!", Miharu corou furiosamente por ser tão fortemente abraçada por ele sob os cobertores.
"Você quer que eu te solte?", Haruto perguntou descaradamente. Miharu estava na frente dele. Isso foi o suficiente para fazê-lo muito feliz.
"Uugh... O que aconteceu, Haru-kun? Você está muito ousado hoje."
"É porque eu amo Mii-chan. E então? Você quer que eu te solte?"
Ele realmente estava sendo ousado hoje, Haruto pensou impassivelmente enquanto falava.
"V-Você está sendo malvado, Haru-kun. Não há nenhuma maneira de eu querer que você me solte.", Miharu corou em um escarlate ainda mais profundo enquanto murmurava.
"Realmente. .... Então está tudo bem se ficarmos assim um pouco mais?", Só por enquanto, pelo menos, Haruto pensou enquanto abraçava Miharu.
Por um instante, parecia que Miharu iria para algum lugar distante... Haruto continuou a importunar Miharu para distrair-se de suas preocupações.
"Sim.", Miharu assentiu com um pequeno sorriso.
Haruto gentilmente afastou os fios do cabelo de Miharu, depois gentilmente acariciou sua bochecha.
Mas suas mãos de repente se recusaram a se mover, como se tivessem sido contidas por algo.
Antes que ele percebesse, o calor de Miharu desapareceu.
"Por favor, acorde."
Haruto — não, Rio — voltou à realidade, acordado pela voz de alguém. Era uma voz desconhecida; uma de uma jovem, mas definitivamente não de Miharu.
Deixe-me dormir, quero ver esse sonho um pouco mais... Rio desejou isso profundamente, do fundo de seu coração. No entanto, sua consciência não permitiria isso, agora que ele estava acordado.
"Umm, por favor, levanta-se."
Rio acordou abalado, e pestanejou. Então, sua expressão imediatamente se transformou em uma de devastação. Claro, não era Miharu diante dele — era a garota elfa, Oufia e a garota anã, Alma.
Foi... um sonho? Rio pensou vagamente, através de sua ardente febre e fadiga.
Um indescritível sentimento de perda tomou conta dele, fazendo lágrimas caírem repentinamente de seus olhos.
Amakawa Haruto estava morto, e nunca mais encontraria Miharu de novo. Foi por isso que ele fez seu melhor para parar de se lembrar de Miharu. Os pensamentos e sentimentos que ele tinha selado até agora fluíam para fora dele ao lado de suas lágrimas.
Rio ainda tinha sentimentos de arrependimento em relação a Miharu dentro dele; seu sonho bem agora tinha enfatizado isso profundamente. No entanto, mesmo com essa consciência, Miharu não existia neste mundo.
A realidade era cruel.
"Erm... Bom dia.", Oufia disse hesitantemente, enquanto Rio tristemente derramava suas lágrimas.
"Bom... dia.", respondeu Rio por reflexo, apesar de não ver Oufia e Alma em absoluto. Ele mordeu o lábio na tentativa de reprimir suas emoções.
De repente, ele sentiu alguém envolver um cobertor sobre seu corpo. Elas provavelmente não suportariam ver um garoto de idade semelhante à sua usando apenas roupa de baixo, mesmo um de uma raça diferente. Bem, quem se importa com isso, Rio pensou sem constrangimento.
Um silêncio estranho caiu sobre a sala — sobre Oufia e Alma, para ser mais preciso. Foi quando a porta se abriu com um estrondo.
"Onii-chan!"
Latifa apareceu na porta. Alguns momentos depois, Sara e Uzuma também entraram. Assim que Latifa entrou no quarto, ela caiu em prantos e se agarrou à forma horizontal de Rio na cama.
".... Por que você está chorando, Latifa?"
"Porque você tinha ido embora, Onii-chan. Eu não quero isso... Por favor, não me deixe. Fique ao meu lado… por favor?"
"Estou bem aqui, não estou?" Rio disse gentilmente com um sorriso torcido. Ver Latifa chorar, instantaneamente o fez se recompor de alguma forma; sua disposição emocional tinha desaparecido.
"Então você estará sempre comigo? Você nunca vai partir, certo?", Latifa perguntou, apertando o corpo de Rio com ainda mais firmeza.
"Oh, céus. Poderia me abraçar um pouco mais suave? Isso dói", disse Rio com uma cara conturbada, fugindo da pergunta.
Ele não podia responder sim. Se o fizesse, provavelmente seria uma mentira. Seria um tanto vergonhoso mentir diretamente no rosto de uma jovem que o admirava.
"Huh, você está ferido? Por que — O que é isso?!", Latifa finalmente notou as algemas nas mãos e pés de Rio. Ela tentou abri-las à força, mas foi inútil.
"Não se preocupe comigo. Fizeram algo ruim para você, Latifa?"
"Sim. Elas machucaram meu Onii-chan", respondeu Latifa imediatamente, fazendo Rio piscar com uma expressão em branco.
"Então está tudo bem.", ele disse, divertido.
"Uh-uh! Isso não é verdade. Quem fez isso com você?"
Latifa balançou a cabeça furiosamente com lágrimas nos olhos. Então, ela olhou ao redor da sala e viu Sara, Oufia, Alma, e Uzuma — as quatro que pareciam estar a par da resposta. Ela olhou para elas desconfiada, exigindo silenciosamente que explicassem o que aconteceu.
"U-Umm..."
Sem saber por onde começar, o rosto de Sara empalideceu enquanto ela abria a boca. As outras três usavam expressões semelhantes. De repente —
"Minha nossa, por que vocês não podem andar um pouco mais devagar? Estou aqui agora."
Tardiamente, Asura chegou. Uma vez que viu Latifa agarrada a Rio, ela baixou a cabeça e suspirou.
"Imaginei. Garoto humano, por favor, aceite minhas desculpas. Gostaria de fazer algumas perguntas sobre essa garota. Poderia gentilmente cooperar conosco? Vamos escolher um lugar melhor para conversar, é claro."
"Quem se importa com isso! Foram vocês que fizeram isso com o meu Onii-chan? Respondam-me."
Antes que Rio pudesse responder à pergunta de Asura, Latifa interrompeu e fez uma exigência descaradamente hostil.
"Isso mesmo... Hm?! Essa é.… uma intenção assassina bastante feroz."
No momento em que Asura confirmou a acusação de Latifa, Latifa assumiu uma postura protetora sobre Rio. Seus olhos eram tão afiados quanto os de um cão de guarda, olhando para os ocupantes da sala.
"Vocês foram malvadas com Onii-chan. Eu não vou perdoá-las."
Antes que eles percebessem, um ar espesso e intimidante varreu a sala escura. Foi direcionado para todos na sala. Todos, exceto Rio, isto é. O grupo de Sara ficou rígido de uma só vez, suando nervosamente. A bestial alada, Uzuma, deu um passo à frente e recebeu todo o efeito do olhar penetrante de Latifa.
"Pare, Uzuma."
"Você também, Latifa. Fico feliz que se sinta assim, mas pare. Eu estou bem, então vamos ouvir o que elas têm a dizer."
Asura e Rio intervieram, não querendo que a situação saísse do controle.
"Se Onii-chan diz isso, então...", Latifa relutantemente recuou.
"Obrigada a vocês dois. Antes de nos mudarmos de local, permita-me remover essas algemas. Onde está a chave, Uzuma?"
".... Eu entreguei para Sara-sama.", Uzuma respondeu para Asura com um tom de voz formal.
"Então, Sara. Abra essas algemas imediatamente."
"S-Sim senhora! .... Desculpe-me.", Sara assentiu, correndo na direção de Rio com pressa. As algemas em torno de seu pescoço, mãos e pés foram soltas uma por uma.
"Muito obrigado."
"N-Não! Nós é que devemos nos desculpar com você! Por favor, aceite nossas sinceras desculpas!", Sara abaixou a cabeça, um pouco agitada, depois que Rio lhe agradeceu.
"Então vamos para outro local imediatamente. Sigam-me."
"Tudo bem..., mas você pode me dar um momento primeiro? Eu gostaria de me curar um pouco."
Assim que Rio tentou se levantar e seguir Asura, uma dor aguda o apunhalou no estômago. Seu rosto se contorceu em agonia quando ele pediu permissão para tratar a si mesmo.
"Hmm? Elas machucaram você? Isso é imperdoável. Deixe-me tratá-lo imediatamente.", Asura respondeu, lançando um olhar frio para Sara e as outras.
"Não, eu posso fazer isso. Por favor, não se incomode.", Rio rejeitou a oferta e começou a se curar.
"Isso é.… arte espiritual. Entendo, então você é um humano de Yagumo. Que inesperado..."
"Então isso é arte espiritual, afinal?", Asura murmurou para si mesma em compreensão, levando Rio a questioná-la.
Ele estava mais do que ciente de que estava usando uma habilidade incomum que era semelhante, mas diferente da magia. Ele tentou pesquisar a identidade dela na biblioteca da Academia Real, e como resultado, descobriu um livro que falava de uma técnica imitativa chamada "arte espiritual". No entanto, não tinha outros detalhes além do nome, e sua pesquisa terminou sem que ele recebesse mais clareza de sua habilidade.
"Pelo visto, você não parece entender muito bem as artes espirituais. Como você chegou a aprendê-las?"
"De repente, fui capaz de usá-la um dia."
"... O quê?"
A franca verdade de Rio fez os olhos de Asura se ampliarem.
"Isso é incomum?"
"Hum. Os humanos têm muito menos aptidão para as artes espirituais do que os Seirei no Tami para começar.... Aprender em um único dia deveria ser impossível. Em circunstâncias normais, pelo menos. Não me diga...", Asura disse, antes de dar um olhar significativo em Rio.
"Há algum problema?"
"Não, não é um problema... Não deveria ser, em todo caso. Gostaria de ouvir mais sobre isso também, se possível. Eu prometo responder a quaisquer perguntas que você tiver sobre nós também."
"Por favor. Além disso, eu agradeceria se você pudesse me emprestar algo para vestir", disse Rio, dando um vislumbre de sua figura, vestida apenas com roupa de baixo, sob o cobertor. Asura suspirou profundamente.
".... Peço desculpas de novo. Elas serão trazidas a você imediatamente. Junto com alguns remédios, desde que você já pode estar doente. Oufia, Alma. Vão prepará-los, agora."
"S-Sim senhora!"
Oufia e Alma responderam em uníssono e correram para fora da sala.
◇◇◇
Depois que Rio trocou de roupa, mudou de sala e se apresentou, ele explicou o motivo de ter acolhido Latifa. Explicou que estava se movendo de Strahl para Yagumo, que foi atacado no caminho por Latifa, uma escrava sendo controlada pelo Colar de Submissão, que Latifa decidiu segui-lo depois que ele a libertou, e assim por diante.
Latifa — a única que poderia atestar a veracidade de sua história — tinha talvez se cansado ou entediado da conversa fiada, visto que havia adormecido no colo de Rio enquanto ele falava. No entanto, seu apego ao Rio foi a maior prova que eles poderiam ter oferecido.
À medida que a discussão avançava, Rio explicou o motivo pelo qual decidiu pisar na grande floresta onde se encontrava a vila dos Seirei no Tami. Ou seja, o fato de que ele queria que o povo espiritual acolhesse a bestial — Latifa — e a protegesse.
"Uzuma. Por causa de suas ações precipitadas, você cometeu a maior desonra sobre um benfeitor que buscava proteger um dos nossos. Você tem algo a dizer?"
Depois de ouvir toda a história, Asura virou-se para Uzuma com um olhar severo.
"Um... Quando eu ouvi que Latifa-dono foi colocada para dormir com artes espirituais, pensei que esse humano... que ele certamente a tinha sequestrado, e fiquei furiosa.", Uzuma explicou seu lado da história com o rosto corado, suando muito.
"Pelo que ouvi, você o atacou no meio das negociações sem nem mesmo se preocupar em ouvir o que Rio-dono tinha a dizer. Por que você não esperou até ele terminar de falar?"
"E-Eu estava simplesmente com muita raiva... E desde que havia a possibilidade de um sequestro, eu tive que me preparar para o pior cenário e garantir o resgate seguro da Latifa-dono...", Uzuma se encolheu enquanto falava, recuando com medo.
Considerando a urgência da situação, as ações de Uzuma não puderam ser completamente descartadas. Qualquer um chegaria à conclusão do sequestro se encontrasse um estrangeiro armado, invadindo seu território, com uma jovem de sua própria espécie colocada para dormir pelas artes espirituais.
Além disso, havia o risco de Latifa ser usada como refém se elas se movessem muito lentamente... E se Rio tivesse sido realmente um sequestrador, isso teria sido mais do que possível.
Mas, só porque a reação de Uzuma não estava completamente errada não significa que ela tinha feito a coisa certa. A realidade não tinha soluções claras como fórmulas numéricas, afinal.
"P-Por favor, perdoe-me, Asura-sama! V-Você pode me punir da forma que achar melhor, se necessário!", incapaz de suportar o clima na sala e seu próprio sentimento de culpa, Uzuma finalmente cedeu e se voltou para pedir desculpas.
"Hmph. Não acha que se enganou sobre a quem suas desculpas devem ser dirigidas?"
"R-Rio-dono! Eu realmente sinto muito..."
Uzuma de repente se ajoelhou no chão, encostando a testa no piso diante dela.
Em outras palavras, um dogeza.
Então o povo espiritual também tinha a cultura do dogeza.... Os olhos de Rio se abriram ligeiramente com isso.
Embora ele não tivesse certeza se sua ação tinha o mesmo peso que o dogeza tinha no Japão, suas intenções de se desculpar eram evidentes.
"P-Por favor, aceite minhas desculpas também. Rio-sama, sinto muito pelo que aconteceu!", seguindo a liderança de Uzuma, Sara, Oufia e Alma se ajoelharam em sucessão.
".... Estaria mentindo se dissesse que não me incomodei, mas aceito suas desculpas. Também pode ter faltado alguma consideração da minha parte quando pisei em seu território tão impensadamente.", desconfortável em ter garotas da idade dele e mais velhas abaixadas aos seus pés, Rio decidiu aceitar suas desculpas e acabar com o assunto. Também, não seria uma boa ideia arruinar o relacionamento deles de agora em diante.
"Rio-dono, por favor, aceite um pedido de desculpas meu também. Prometo que Uzuma assumirá a responsabilidade por sua precipitação. As garotas ali também vão enfrentar uma bronca minha", disse Asura, fazendo Sara e as outras se encolherem.
"Sim, eu entendo. Então, por favor, todas, levantem a cabeça. Ficarei perturbado se vocês continuarem assim por mais tempo", disse Rio com um sorriso forçado para Sara e as outras que ainda estavam se curvando no chão.
"Rio-dono. Os anciões da vila se reunirão amanhã de manhã e farão um pedido formal de desculpas. Você deve estar cansado esta noite. Por favor, descanse com Latifa aqui neste quarto.", sugeriu Asura, com um olhar de lado para as garotas lentamente se levantando.
"Então eu vou fazer exatamente isso."
"Bom. Vou preparar um atendente para você também. Não hesite em nos informar se você precisar de alguma coisa."
"Não, nada. Obrigado por sua consideração."
"Muito bem. Agora, preciso fazer alguns arranjos, então, por favor, desculpe-me. Venham, vocês."
As garotas seguiram Asura para fora da sala.
Na saída, Uzuma e as três garotas se curvaram profundamente, levando Rio a acenar levemente com a cabeça para elas. Antes de sair do quarto, Asura lançou um olhar transbordando de afeto para Latifa. Em seguida, Rio moveu Latifa de seu colo para a cama, antes de se deitar ao lado dela.
◇◇◇
Pouco depois de Rio adormecer...
Os anciões se reuniram numa sala no último andar do Concelho da vila.
"... E esse é o resumo geral deste incidente. Acredito que seria apropriado oferecer a Rio-dono um pedido formal de desculpas e uma recompensa para mostrar nossa gratidão por salvar Latifa e protegê-la. Há alguma objeção?", depois que Asura explicou os eventos que ocorreram, ela olhou ao redor da sala dos anciões de onde estava sentada. Havia também outros dois anciões na sala, sentados à sua esquerda. Todos os outros mostravam expressões conflitantes.
"Eu não acho que alguém se oporia às desculpas e recompensa. Mas, como não temos conhecimento de como a cultura humana funciona, nossas práticas comuns podem não ser transmitidas como pretendemos. Como devemos pedir desculpas e agradecê-lo é outro assunto que precisa ser considerado.", o ancião representante dos elfos — um homem idoso sentado num dos três lugares centrais com Asura — disse.
Como todos eram espécies inteiramente diferentes dos humanos, havia uma diferença significativa em seu senso fundamental de valores. Na realidade, essa diferença de valor foi o que os levou a se separarem dos humanos ao longo da história. Por isso, queriam evitar expressar sua gratidão de forma errada e causar algum tipo de descontentamento.
"Então por que não perguntamos ao garoto? Podemos dar a ele o que ele quiser, desde que esteja dentro dos nossos meios.", sugeriu o ancião que representava a raça dos anões, de onde estava sentado, à direita.
"Não acha que isso seria um tanto presunçoso, Dominic?", disse o ancião elfo. Ele olhou para o anão — Dominic — ao lado dele.
O que Dominic quis dizer era: "emitir um cheque em branco para Rio escrever a quantia desejada". Mas se fosse uma quantia que não podiam pagar, eles estariam em apuros por parecerem ainda mais rudes e ingratos para ele.
A sala ficou barulhenta.
"Mesmo assim, não podemos simplesmente expressar nossa gratidão apenas com palavras. Devemos muito ao Rio-dono pela forma em como o menosprezamos. Acredito que há algum apelo às palavras de Dominic, o que acham?", disse Asura, olhando para os outros anciões.
"Bem... Eu suponho.", o ancião elfo deu um aceno imponente.
Os outros anciões na sala relutantemente expressaram seu acordo também. Todos os presentes admitiram que era certo retribuir Rio de alguma forma ou de outra, mas a razão pela qual eles eram tão cautelosos com ele foi em grande parte devido aos seus preconceitos sobre os humanos.
Com os problemas entre suas espécies profundamente enraizados em sua história, isso era uma coisa que não podia ser ajudada.
"Sim... tem que se evitar os humanos a todo custo. Entendo por que todos se sentem cautelosos e tudo mais, mas isso foi algo bastante amável: salvar um de nossos irmãos da escravidão e guiá-la até nós de lá da região de Strahl. Pelo que ouvi, retribuímos o favor dele com animosidade. Ele certamente não parece o tipo de pirralho que exige que lhe ofereçamos um escravo.... Não é certo, Asura?"
"De fato, eu posso garantir isso. Ele era um menino compassivo e sensato.", declarou assertivamente Asura à pergunta de Dominic.
"Então, que tal, Syldora?"
".... Está bem. Alguém tem alguma objeção?", o ancião elfo Syldora concordou e olhou para os outros anciões, mas ninguém se opôs, e a proposta foi aprovada.
"Então, para mostrar nossa gratidão, vamos com a ideia que Dominic sugeriu. Alguém mais tem outros pontos a serem discutidos?"
"Hmm. Então eu posso?", Asura levantou a mão.
"Com certeza. Você foi a pessoa mais envolvida com este incidente de todo o conselho de anciões.", disse Syldora.
"Eu gostaria de abordar o tema de Latifa-dono. Embora eu não esteja totalmente certa, acredito que sua educação como escrava resultou no que eu percebi como fragilidade mental. Essa fragilidade tem se manifestado na forma de dependência de Rio-dono. Se vamos aceitá-la dentro de nossa comunidade, isso exige que Rio-dono permaneça na vila também — pelo menos até que ela se acalme, é o que estou pensando."
"Ah... Nesse caso, os preparativos precisam ser feitos para alojamentos e um guardião. Também temos que explicar a situação aos aldeões... e obter o consentimento do pirralho também, é claro."
Dominic coçou a cabeça com as palavras de Asura; Syldora e Asura abriram a boca sem perder um instante.
"Podemos deixar o cuidado para as donzelas aprendizes do santuário. Felizmente, elas já o conheceram. Isso pode atuar como seu arrependimento por causar transtornos a alguém tão protetor."
"Hm. Com relação à hospedagem, há uma casa vazia na minha propriedade. Eles podem viver lá. Eu me ofereço para assumir o papel de ser guardiã deles enquanto isso."
E assim, a discussão prosseguiu sem problemas, até que...
"Ei. Vocês têm um momento?"
Uma bela voz ecoou claramente por toda a sala do conselho. De repente, uma mulher se materializou em um local que estava vago. Ela era uma jovem beleza, e estava usando um vestido decorado com flores delicadas. Seu cabelo verde era longo o suficiente para chegar ao chão, e seus olhos eram de uma cor esmeralda brilhante. Seu rosto era tão requintadamente refinado, que quase parecia desprovido de vida, mas ela também emitia uma aura cálida sobre ela.
"V-Vossa Grandeza..."
Assim que a avistaram, todos os anciões da sala imediatamente se ajoelharam ao mesmo tempo.
"Dryas-sama, o Grande Festival Espiritual ainda está bastante distante no futuro. O que a traz aqui hoje?", Asura perguntou de forma cortês.
"Sim, eu apenas tinha algo em minha mente. E vim perguntar a vocês sobre isso."
"Entendo. Como podemos ajudá-la?"
"Bem agora, eu senti a presença de um espírito desconhecido em torno desta área. Parecia de uma classe bastante alta, mas desapareceu quase imediatamente. Tenho quase certeza que é o espírito contratado de alguém, mas não sei quem. Alguma ideia?"
Dryas perguntou, olhando ao redor da sala do conselho.
".... Sim, na verdade...", respondeu Asura.
"Oh, realmente? Onde está?"
"Eu acredito que está descansando com o menino que contratou no momento. Temos planos de trazê-lo para esta sala amanhã de manhã. O que gostaria de fazer, Vossa Grandeza?"
A resposta de Asura fez os outros anciões arregalarem os olhos em choque. O único garoto contratado a quem ela poderia se referir era Rio.
"Huh... Ele vai estar nesta sala? Então estará tudo bem se estiver presente também?"
"Claro, Vossa Grandeza. No entanto, o menino é na verdade uma criança humana..."
"Oh, ara~... Que incomum. Os humanos estão visitando esta vila?", Dryas abriu um pouco mais os olhos.
"Sim, havia circunstâncias especiais envolvidas...", Asura hesitou com uma expressão conturbada.
"Hmm. Bem, isso não me diz respeito. Vou aparecer de novo amanhã de manhã. Vejo vocês depois, então."
"Sim, Vossa Grandeza.", Asura reconheceu respeitosamente.
Ao mesmo tempo, a figura de Dryas desvaneceu. Ela realmente era uma alma despreocupada, aparecendo e desaparecendo como e quando queria.
"... E lá vai ela. Nunca imaginei que ela apareceria tão de repente assim. É ruim para o meu coração...", Asura suspirou cansada. Os outros anciões mostravam reações semelhantes.
"Gahaha! É um grande espírito de classe alta, afinal. Claro que ela vai ser caprichosa. Além do Grande Festival Espiritual, raramente nos é concedida a presença dela. Vamos considerar isso como um sinal de boa sorte desta vez", disse Dominic.
"Isso pode ser verdade..., mas, Asura, o que falou antes? É verdade?", Syldora concordou com as palavras de Dominic antes de estreitar os olhos para Asura.
"Sim. As palavras de Dryas-sama solidificaram minha teoria. Rio-dono fez um contrato com um espírito. Embora seja um pouco preocupante que ele mesmo não parecia estar ciente disso."
"Entendo... Uma coisa atrás da outra... nunca esperaria isso depois de ser acordado tão tarde. Esta foi uma noite bastante agitada, de fato", disse Syldora, colando um sorriso tenso em seu rosto.
"Muito certo. A mais agitada da minha vida.", Dominic fez um grande aceno de acordo.
◇◇◇
Na manhã seguinte, Rio acordou e encontrou Latifa dormindo em seus braços. Ontem ele sentiu os sintomas iminentes de um resfriado, mas agora ele se sentia surpreendentemente saudável, e tudo graças à medicina élfica que Asura lhe deu. Enquanto ele acariciava o cabelo de Latifa, ainda em seu sono profundo, uma batida ecoou da porta.
"Sim? Estou acordado.", Rio sentou-se e respondeu, em seguida, viu como a porta lentamente se abria. Lá na porta estavam três garotas — a loba prateada Sara, a elfa Oufia, e a anã Alma.
"Bom dia, Rio-sama!", as três gritaram juntas em uníssono, antes de fazer uma reverência.
"Bom dia. Há algum problema?", Rio baixou a cabeça para retribuir sua saudação, antes de pedir para as três entrarem no quarto.
"Os preparativos para o café da manhã foram concluídos, então viemos chamá-los. O que você gostaria de fazer?", Sara respondeu em nome das três. Ela era a mais velha do grupo e muitas vezes acabava agindo como sua líder.
"É uma oferta muito tentadora, mas eu gostaria de esperar até Latifa acordar. Ela ficará brava comigo se eu comer primeiro.", Rio sorriu suavemente, balançando a cabeça.
As expressões das garotas se nublaram um pouco. Ver como Latifa dormia profundamente enquanto se agarrava a Rio, fez com que se sentissem ainda mais culpadas pelo que tinham feito por causa de seu erro de julgamento.
".... Entendido.", disse Sara, curvando-se educadamente.
"Oh! Que tal um chá primeiro, Rio-sama?", Oufia juntou as mãos quando uma ideia surgiu em sua cabeça.
"Se não for muito incômodo, então por favor, Oufia-san."
"Se-Será um prazer! Por favor, espere aqui por um momento.", Oufia sorriu antes de virar e sair do quarto.
"Ah, eu vou ajudá-la, Oufia-neesan!", sem um momento de atraso, Alma ansiosamente seguiu Oufia. Não demorou muito até Rio e Sara serem os únicos acordados restantes no quarto.
"A-Ah, um..."
Sara quase pensou em ajudá-las também, mas sua mente racional percebeu que três pessoas não eram necessárias para preparar o chá. Ela permaneceu parada em seu lugar, sentindo-se um pouco estranha por ser deixada sozinha com uma pessoa de uma espécie diferente que também tinha a mesma idade. Seu mal-entendido egoísta causou muitos problemas para Rio, afinal.
"O-Obrigada.", disse Sara, curvando-se sem pensar. Então, ela percebeu o quanto sua ação era sem sentido, e ficou vermelha. Sara abaixou a cabeça, suas orelhas e cauda se moviam inquietamente. Os olhos de Rio não podiam deixar de ser atraídos por seus movimentos.
Eles simplesmente se movem por vontade própria? Ele se perguntou com uma leve inclinação de sua cabeça.
"U-Umm, Rio-sama?", Sara de repente falou, um pouco nervosa, fazendo Rio ficar um pouco rígido reflexivamente.
"Sim, o que é?"
"Hm. Rio-sama, conheceu Latifa-chan quando ela era uma escrava?", Sara perguntou com uma expressão conflitante, incapaz de evitar fazer uma pergunta difícil.
"Não, mas posso imaginar que tipo de tratamento ela deve ter recebido. Eu nunca me intrometi muito profundamente nesse assunto, porque não queria desencadear nenhuma memória ruim."
".... É assim. Então, hum, se estiver tudo bem para você, Rio-sama... poderia dizer o que você sabe?"
"Não será uma história muito divertida. Você está ciente disso, certo?" Não era algo para perguntar por curiosidade, as palavras de Rio implicavam.
".... Sim, eu sei. Mas eu quero ouvir mesmo assim.", Sara olhou para Rio, com sua forte vontade queimando profundamente dentro de seus olhos.
"Tudo bem."
Rio começou a contar a Sara os detalhes de sua teoria sobre como Latifa havia sido tratada. Como ela estava terrivelmente sem emoções quando ele a conheceu, e como ela carregava um trauma profundo que ocasionalmente se manifestava na forma de mudanças de humor. Que ela provavelmente foi forçada a passar por um treinamento de combate severo, que ela era uma assassina que tentou matá-lo. Que ela nunca teve uma refeição adequada em sua vida...
A enorme e chocante verdade deixou Sara completamente sem palavras. Mas depois que Rio terminou de falar, seu sangue ferveu de raiva até que ela estava tremendo para se conter.
"Latifa-chan é... Ela é mais incrível do que todos nós! Suportando tais coisas..."
"Sim, concordo plenamente. Ela realmente é."
Rio simpatizava com as frustrações reprimidas de Sara; como membro de uma espécie que tinha um forte senso de parentesco entre si, ela naturalmente sentiria ainda mais raiva do que ele.
"..., mas não posso dizer que escutar às escondidas seja um bom passatempo.", Rio olhou na direção da porta.
Suas palavras fizeram Sara sobressaltar-se e girar em direção à porta. Lá estavam Asura, Oufia e Alma.
"Nos descobriu, não foi? Peço desculpas. Eu tinha algumas coisas em mente sobre essa criança.", Asura se desculpou, com uma expressão mistificada em seu rosto.
"Algo está acontecendo com Latifa-chan?", Sara perguntou com medo.
"Esta é apenas a minha própria conjectura, mas... essa criança é provavelmente da minha linhagem."
As palavras de Asura deixaram todos os que estavam presentes atônitos. Ela deixou escapar um inevitável e amargo sorriso, e cuidadosamente escolheu suas palavras enquanto continuou a falar.
"Há mais de dez anos, a filha de um parente de sangue meu acabou fugindo de casa. Ela era uma garota livre e incontrolável. No começo, pensei que ela tinha ficado entediada com a vila e ido passear pelas redondezas, mas, ela nunca mais voltou para casa. Ela desapareceu sem deixar rastros, então acreditávamos que tinha sido atacada por um monstro ou uma fera, mas...", Asura olhou para a figura adormecida de Latifa, que estava agarrada a Rio.
"É-É verdade?! Asura-sama?", Sara perguntou, espantada.
"Hmm. Aconteceu muito antes de você nascer, Sara. Não tenho certeza, mas olhar para essa criança me faz sentir estranhamente nostálgica. Gostaria de perguntar o nome de sua mãe, mas ao mesmo tempo eu temo fazê-lo. Sua mãe não está mais viva, não é?", Asura disse, com uma expressão bastante dolorida.
"Infelizmente, ouvi dizer que a mãe de Latifa não é mais deste mundo..."
"É assim...", um olhar triste apareceu no rosto de Asura.
"Mmm... Onii-chan? Bom dia.…" Latifa foi acordada pelas conversas que ocorriam ao seu lado.
"Bom dia. Parece que o café da manhã está pronto. Gostaria de tomá-lo agora?"
"Sim, por favor!", Latifa assentiu ansiosamente. Seu sorriso pacífico não mostrou sinais do passado cruel que ela tinha que suportar. Neste momento, ela era simplesmente uma garota feliz, condizente com sua idade.
"Rio-dono, sou verdadeiramente grata a você.", Asura agradeceu sinceramente a Rio.
"Não, eu...", a expressão de Rio ficou nublada enquanto ele balançava a cabeça com culpa.
Só estava cuidando de mim mesmo.... Ele engoliu essas palavras sem expressá-las.
"...Rio-dono ainda não tomou café da manhã, certo? Eu também não. Se você não se importa, posso comer com vocês?", Asura sugeriu, para mudar a atmosfera solene no quarto.
"Sim, é claro. Certo, Latifa?"
"Um... Claro. Se Onii-chan está bem com isso.", Latifa agarrou as roupas de Rio e assentiu timidamente.
"Ótimo, isso torna as coisas muito mais simples. Apresentarei Rio-dono ao Conselho dos Anciões esta manhã. Preparem a comida. Tragam suas próprias porções também.", Asura sorriu amplamente com felicidade.
"Sim, imediatamente! Vamos Sara-chan, Alma-chan.", Oufia tomou a iniciativa e se moveu primeiro. Ela se apressou em direção à porta.
"Entendido. Vamos lá, ou você vai ser deixada para trás, Sara-neesama.", Alma foi atrás dela sem perder um instante, chamando a atrasada Sara.
"E-Eu sei.", Sara saiu de seu aturdimento momentâneo e correu para fora do quarto com pressa.
◇◇◇
Depois de deixar Latifa aos cuidados de Sara e Alma, Rio foi guiado por Asura e Oufia para o andar mais alto do Concelho, onde os anciões da vila se reuniram.
O Concelho era uma casa construída em uma grande árvore localizada no centro da vila, o mesmo edifício onde Rio havia ficado a noite passada. Rio subiu a escada em espiral que corria ao redor da casa da árvore, com vista para os edifícios mais abaixo na vila. O povo espiritual tinha integrado completamente seu estilo de vida com a natureza, construindo casas de madeira, pedra e argila, na floresta.
Uma cena mágica de se ver.
Uma vez que chegaram a um ponto acima das outras árvores da vila, eles podiam ver uma árvore particularmente enorme que se erguia sobre tudo.
"Isso é.…"
"Fufu. Essa é a Árvore do Mundo, onde Dryas-sama — o espírito das árvores gigantes — reside. Dizem que existia aqui muito antes de chegarmos a esta terra. É enorme, não é?", Oufia explicou orgulhosamente a um Rio de olhos arregalados.
"Sim. Eu cheguei aqui, vindo em direção a essa árvore."
".... Incrível. Uma barreira de magia ilusória avançada se estende ao redor da Árvore do Mundo, por isso não pode ser vista sem um extenso treinamento em artes espirituais." O comentário casual de Rio fez os olhos de Oufia se arregalarem também.
"Isso é.… verdade?"
Rio não parecia totalmente convencido, e inclinou a cabeça. Como ele nunca tinha conhecido outros usuários de artes espirituais até agora, ele não tinha nada para comparar seu próprio nível de artes espirituais. No entanto, ele reconheceu que sua habilidade de imitar livremente a maioria dos efeitos das magias apenas reproduzindo o fluxo de essência na fórmula era injustamente vantajosa, até mesmo para ele.
"Rio-dono, você disse que não aprendeu artes espirituais com ninguém. É isso mesmo?" Asura de repente perguntou, enquanto caminhavam.
"... Sim. Eu tive um pequeno empurrão na direção certa..., mas na maior parte eu estudei por mim mesmo." Rio hesitou em responder no início, mas acabou concordando.
"Entendo. Esse é um talento incrível que você tem. Talvez...", Asura disse com um olhar pensativo em seu rosto, parando antes de terminar sua sentença.
Em pouco tempo, eles chegaram ao último andar.
"Aqui estamos, Rio-dono. Você entrará também, Oufia."
Asura abriu a porta e gesticulou para eles entrarem. Rio foi o primeiro, seguido por Oufia atrás dele. Dentro, várias figuras idosas estavam esperando sentadas em suas cadeiras.
"Rio-dono, por favor, sente-se aqui. Oufia, sente-se ao lado de Sua Grandeza e atenda às suas necessidades."
Asura indicou a Rio uma cadeira perto da porta e Oufia para um canto da sala. Lá estava uma jovem mulher.
"... Huh?"
Por um momento, Oufia duvidou de seus próprios olhos. Aquela jovem era uma existência muito superior, até mesmo à sua própria como parente consanguíneo dos membros do conselho na vila: o espírito da árvore gigante, Dryas, de quem Oufia estava contando a Rio. Em circunstâncias normais, ela nunca seria encontrada em um lugar como este, mas —
"Qual o problema? Continue andando.", Asura não mostrou nenhum sinal de estar agitada, enquanto indiferentemente ordenou Oufia a se mover.
"A-Ah, claro!", Oufia assentiu desajeitadamente e seguiu em direção a Dryas. Quando Dryas avistou Oufia, ela a abraçou alegremente. Mas Oufia estava nervosa, tornando-se o único ponto de agitação na sala pacífica. Os outros anciões no conselho permaneceram tranquilos e sorriram contentes para elas.
Depois de tomar seu lugar primeiro, Rio estava olhando para Dryas e Oufia curiosamente, mas redirecionou seu olhar para a frente. Diante dele havia três lugares para os três anciões chefes: o alto elfo Syldora, o líder anão Dominic, e a bestial da raça do povo-raposa Asura.
"Agora que todos os preparativos foram concluídos, gostaria de iniciar a reunião do Conselho dos Anciões. Como temos um garoto humano como nosso convidado nesta ocasião, prosseguiremos na linguagem dos humanos." Syldora disse, declarando o início da reunião. Apenas nesta reunião, eles manteriam os procedimentos na língua comum da região de humanos, Strahl, em consideração a Rio.
"Agora, garoto humano. Gostaria de pedir desculpas por chamá-lo aqui hoje. E agradeço sinceramente por comparecer."
"Sou eu quem deveria dizer isso. É uma honra ser convidado aqui.", Rio curvou-se levemente de onde estava sentado.
"Eu sou Syldora, um dos anciões chefes desta vila dos Seirei no Tami. Ao meu lado estão os outros anciões. Tenho certeza que você já está familiarizado com Asura. Este anão aqui é—", Syldora se levantou e começou a apresentar Dominic.
"É Dominic. Prazer em conhecê-lo, menino humano.", Dominic interrompeu primeiro, apresentando-se.
"... Como você pode ver, ele é bastante franco. Peço desculpas se ele te ofendeu de alguma forma. Vou apresentar os outros anciões para você em outra ocasião.", Syldora soltou um pequeno sorriso amargo.
"Obrigado por sua consideração. É um prazer conhecer todos — meu nome é Rio.", Rio se levantou e inclinou-se profundamente com uma simples apresentação.
"Não precisa ser tão modesto, Rio-dono. Você é um convidado e benfeitor nosso. Pelos problemas que meus irmãos causaram por seus mal-entendidos, bem como por libertar um de nossa espécie da escravidão, ofereço a vocês minha mais profunda gratidão e desculpas." Syldora disse, levando todos os anciões da sala a se levantarem e abaixarem a cabeça em direção a Rio.
A partir de suas posturas sinceras, Rio julgou que suas palavras de gratidão e desculpas eram genuínas. No entanto, ter todas aquelas pessoas com claramente mais experiência de vida do que ele curvadas assim, o deixou desconfortável, e ele sorriu amargamente.
"Eu aceito suas palavras de desculpas e gratidão. Em relação às desculpas, eu também fui culpado por pisar em seu território sem ser convidado. Não recebi nenhum dano permanente ou duradouro, então, desde que o mal-entendido foi esclarecido, não creio que seja um problema. Vamos perdoar e esquecê-lo como um infeliz acidente. Por favor, levantem a cabeça.", disse Rio, com um comportamento calmo e educado.
Os anciões se surpreenderam, impressionados com o quão maduro Rio agiu, ao contrário de sua aparência indubitavelmente jovem e inocente.
"Somos sinceramente gratos por seu altruísmo..." ー Syldora começou com mais uma reverência ー"mas é um fato que retribuímos o favor que recebemos de você com maus tratos. Assim, gostaríamos de fazer algo por você em retribuição, para expressar nosso remorso. Há alguma coisa que você deseja, Rio-dono?", continuou ele, achando um pouco difícil expressar suas palavras. Os olhares dos anciões se reuniram em Rio.
"Um desejo... você diz?", um olhar confuso surgiu no rosto de Rio com o tema repentino.
Asura acrescentou à explicação com um suspiro.
"Você pode citar qualquer coisa. Devido à nossa diferença de espécies, não sabíamos qual era a melhor forma de expressar nossa gratidão a você. Embora houvesse alguns que temiam o que você pediria.", disse Asura com um sorriso tenso. Uma expressão ligeiramente culpada apareceu nos rostos dos anciões quando Rio assentiu em entendimento.
"Entendo... Então, posso pedir que aceitem Latifa sob seus cuidados? Meu objetivo original era ir em direção à região de Yagumo a leste daqui." Um olhar sério surgiu no rosto de Rio quando ele abaixou a cabeça em direção a Syldora, que estava sentado diante dele. Os anciões pareciam bastante surpresos.
"Hmm..., mas Rio-dono, esse é um dos nossos desejos. Na verdade, é algo que deveríamos estar pedindo a você, não o contrário. Você poderia pedir algo mais...", Asura suspirou, deixando uma risada irônica escapar. Rio balançou a cabeça lentamente.
"Você pode dizer isso, mas eu fui o irresponsável quando tentei tomar a vida de outro sob meus cuidados."
"Rio-dono..."
"É por isso que, se possível... Se não for apenas minha própria ilusão..., mas agora, Latifa está... ela está apegada a mim, eu acho. É por isso que—"
"Eu imploro, Rio-dono. Não diga mais. Ao menos vamos ser nós a fazer o pedido. O que acha disso? Você gostaria de permanecer nesta vila ao lado de Latifa por um tempo?", Rio estava lutando para encontrar suas palavras, então Asura assumiu.
"Isso é.… verdadeiramente generoso de sua parte. Realmente está tudo bem?", Rio perguntou, implicando em como ele ser um humano pode causar um problema.
"Não se preocupe. Discutimos tudo ontem, e todos os anciões aqui já concordaram com isso. Adoraríamos tê-lo aqui, pelo bem dessa criança também.", confirmou Asura, decisivamente.
"Isso mesmo! Não há necessidade de se conter. Eu gosto de você, garoto. Asura nos contou sobre o tipo de humano que você era, mas há algumas coisas que não se pode dizer sem encontrar alguém cara a cara. E garoto, eu concordo! Você é um homem ainda maior do que me disseram, garoto." Dominic riu de coração, dando as boas-vindas a Rio.
"De fato, é exatamente como Asura e Dominic dizem. Faremos o máximo esforço para acomodar sua estadia na vila e garantir que seja confortável. Se você achar que precisa de algo a qualquer momento, não hesite em nos informar."
"É isso aí. Você pode até pedir algo além de bens materiais, como a mão de uma das garotas da vila em casamento. Já que você é um garoto de boa aparência, também... se estiver tão interessado, que tal a minha pequena Alma?", Dominic se gabou, acrescentando às palavras de Syldora com bom humor.
"Dominic, não se empolgue demais. Você está bêbado?"
"Gahaha!" Dominic caiu na gargalhada depois que Asura o repreendeu. Risadas se agitaram entre os outros anciões, instantaneamente iluminando a atmosfera da sala.
"Francamente. Mas é assim, Rio-dono. Não há necessidade de se conter. Tente procurar algo que você queira enquanto vive na vila. Minhas desculpas, mas eu devo insistir em expressar minha gratidão de alguma forma."
".... Eu entendo", Rio riu, pensando por um momento antes de finalmente afirmar o que desejava.
"Nesse caso, gostaria de pedir seu apoio para me ensinar sobre artes espirituais e seu modo de viver durante minha estadia na vila."
"Entendo... Isso não deve ser nenhum problema."
"Hm. Vamos preparar um professor talentoso para você.", Asura e Syldora assentiram.
"Muito bem! Agora que a conversa de vocês terminou, posso continuar com meu assunto?", a voz brilhante de Dryas ecoou pela sala. Todos os olhos na sala mudaram para ela.
"Certamente, Dryas-sama. Mas, se me permite, eu poderia por favor apresentar Vossa Grandeza ao Rio-dono primeiro?", Asura perguntou.
"Claro, vá em frente.", Dryas assentiu facilmente em resposta.
"Rio-dono, sentada ali está o espírito da árvore gigante, Dryas-sama. Oufia falou sobre ela um pouco antes. Você lembra?"
"Umm... Um espírito?", os olhos de Rio se abriram de surpresa. Dryas estava emitindo uma aura transcendental, mas sua aparência era tão humanoide... era difícil acreditar que ela era um espírito.
"Eu sou Dryas. Prazer em conhecê-lo, Rio. Vamos nos dar bem, certo?", com um sorriso inocente, Dryas flutuou pelo ar em direção a Rio.
"Estou muito feliz em conhecê-la também.", Rio retribuiu a saudação com um rosto confuso quando Dryas abruptamente apertou sua mão.
"Hmm... Eu sabia. Embora seja realmente fraca, eu posso sentir a presença de um espírito dentro de você. Talvez ele esteja dormindo?"
"... Um espírito? Dentro de mim?", Rio questionou, um pouco aturdido.
"Sim. Algo vem à sua mente? Você deve ter formado um contrato com ele."
"Contrato? Não, não posso dizer que me lembro de algo...", Rio balançou a cabeça da esquerda para a direita, intrigado. Ele não se lembrava de ter formado um contrato com um espírito em toda sua vida.
"Sério? Isso é estranho.... Ah, não há necessidade de se preocupar. Eu digo contrato, mas não há nenhuma obrigação chata envolvida. Na verdade, é mais benéfico para você."
Incapaz de acompanhar suas palavras, Rio soltou um distraído "Huh..."
"Ei, se importa se eu der uma olhada? Não causará nenhum dano ao seu corpo, então não há nada com que se preocupar."
Depois de um breve momento de hesitação, Rio acenou com a cabeça uma vez.
".... Sim, por favor."
"Então, com licença...", disse Dryas, agarrando gentilmente o rosto de Rio. De repente, Rio sentiu a estranha sensação de algo desconhecido entrando nele, mas ele aceitou sem resistência.
"Uau... Você tem uma enorme quantidade de odo escondida dentro de você. Parece delicioso. Você é mesmo humano? Oh — Parece que um caminho se formou, afinal. Isso significa que você definitivamente fez um contrato, e—?!"
No meio de seu exame do espírito dormindo dentro de Rio, Dryas subitamente retrocedeu. Seus olhos se abriram em choque.
"Aconteceu alguma coisa?", Rio perguntou, sentindo algo anormal no estado de Dryas.
"Com certeza isso é algo... Há um espírito humanoide dormindo dentro de você.", respondeu Dryas com uma expressão confusa. Isso fez com que a sala ficasse mais agitada do que nunca.
Rio ainda não havia entendido.
"Um espírito humanoide?"
"Mm... A julgar por essa reação, você não sabe o quão raro são os espíritos humanoides. Oufia, explique a ele.", Dryas passou o trabalho de explicar para Oufia.
"Eh? Ah! S-Sim, Vossa Grandeza! Então, para os espíritos, apenas espíritos de classe alta e acima são capazes de assumir uma forma humanoide como Dryas-sama. Nem preciso dizer, então, que tais espíritos são extremamente raros. Alguns dizem que você pode contar os números deles em uma mão." Apesar do pânico, Oufia forneceu uma quantidade suficiente de informações.
"E assim estão as coisas. Resumindo, um espírito tão raro está dormindo dentro de você. Um com a mesma quantidade de poder — talvez até mais poderoso — que eu."
"...Dryas-sama, isso significa que existe a possibilidade de um espírito de classe superior estar dormindo dentro de Rio-dono?"
"É o que eu acho. Os espíritos de classe superior conhecidos como "Seis Grandes Espíritos" desapareceram há mais de mil anos na Guerra Divina, mas não é como se eu conhecesse todos os espíritos humanoides por aí, também. Eu não descartaria completamente a possibilidade de que o espírito dormindo dentro de Rio seja de classe superior.", respondeu Dryas casualmente, fazendo com que um barulho de surpresa soasse por toda a sala.
"Erm... há algum problema com espíritos de classe superior?", Rio perguntou a Dryas, olhando de lado para as reações dos anciões.
"Nenhum em particular. Ah, mas pode ser importante para os aldeões que adoram os espíritos. Eu já sou tratada como uma divindade por ser um espírito de classe alta, então se um espírito de classe superior aparecesse, poderia causar um alvoroço."
"... Então por que você não o acorda e pergunta se ele é um espírito de classe superior por si mesma?"
"Eu não recomendaria isso. Ele deve ter esgotado a maior parte de sua energia, já que está em sono profundo. Acordá-lo descuidadamente pode fazê-lo dormir ainda mais, mas se você o deixar sozinho ele vai acordar por conta própria, eventualmente." Dryas balançou a cabeça, colocando a segurança do espírito adormecido dentro de Rio em primeiro lugar.
“Isso faz sentido... Eu entendo."
Havia vários pontos sobre os quais ele ainda estava curioso, mas Dryas era um ser adorado pelo Seirei no Tami, e seria rude se ele continuasse a persegui-la com perguntas. Ele decidiu guardá-las para Asura mais tarde, e se absteve de fazer mais perguntas no momento.
"Hmm. Mas, se o espírito dentro de Rio-dono é no mínimo um espírito de classe alta, então talvez seja necessário reconsiderar nossa conduta em relação ao próprio Rio-dono.", disse Asura com uma expressão preocupada.
"O que... você quer dizer com isso?", Rio perguntou inquisitivamente.
"Em termos gerais, pode ser mais sábio tratar Rio-dono com reverência, como um homem santo. Não vamos pedir para você assumir quaisquer deveres; simplesmente vamos ajustar nossas percepções por nossa própria vontade. Você não será sobrecarregado.", Syldora respondeu com um sorriso irônico, sentindo a prudente suspeita de Rio.
"Reverência...? Não, não sinto que fiz nada para merecer isso. De repente me tratar dessa forma só vai me incomodar.", Rio disse desajeitadamente.
"Gahaha! Bem, não deixe que isso te incomode. Pense nisso como a vila dando a você uma recepção ainda mais calorosa!", disse Dominic com sinceridade, como sempre.
"Haha... Acho que farei isso."
Rio não pôde fazer nada além de assentir com um sorriso tenso.
◇◇◇
Depois da reunião com os anciões e Dryas no Concelho, Rio se encontrou com Latifa e eles almoçaram antes de Asura os levar para sua nova residência.
Ficava a poucos minutos de caminhada do Concelho, perto do centro da vila. Muitos dos membros do conselho da vila tinham suas casas localizadas aqui.
Eles chegaram a uma casa na árvore que era apoiada pelos troncos de várias árvores.
"Uau! Olhe Onii-chan, tem até mesmo uma área coberta! É tão ampla! E com uma vista tão bonita!", Latifa correu animadamente. Ninguém podia culpá-la — tinha a sensação de uma base secreta. Uma casa na árvore totalmente bem construída tinha um encanto que poderia fazer o coração de uma criança dançar.
"Hoho, quanta energia. Minha casa fica ao lado — Rio-dono, por favor, sinta-se livre para aparecer a qualquer momento. A casa já está mobiliada, e pedirei para Sara e as meninas trazerem a comida de vocês."
"Muito obrigado. Vocês realmente preparam tudo."
"Oh, não precisa agradecer. Deixe-me mostrar a casa a vocês.", Asura sorriu alegremente e entrou.
"Venha, Latifa... Vamos. Asura-dono está nos dando uma rápida excursão por dentro."
"Yay, ok!"
Rio e Latifa a seguiram até lá dentro. No momento em que Latifa pôs os pés dentro da casa, ela soltou um grito de admiração.
"Uau!"
A primeira visão que os recebeu foi uma ampla e aberta sala de estar e a sala de janta. Móveis elegantes foram colocados ao redor da sala, e uma porta deslizante conectada à cobertura exterior. Além disso, havia vários quartos, além de um quarto principal, uma cozinha e um banheiro, todos totalmente abastecidos.
Honestamente, não importa como você olhasse para isso, era grande demais para apenas os dois viverem na casa.
Na maior das vezes, os artefatos cobriam todos os utilitários que eles precisavam, permitindo-lhes viver uma vida quase tão confortável quanto a do Japão moderno.
"Se houver algum artefato que você não saiba usar, pergunte às meninas mais tarde. Por último, deixem-me mostrar a vocês a sala de banho."
"Vocês têm até mesmo uma sala de banho? Eu adoraria isso." A expressão de Rio se iluminou bastante com a menção de uma sala de banho.
"Oh? Esse olhar em seu rosto me diz que você é uma pessoa que desfruta seus banhos, Rio-dono. Nesse caso, você vai gostar disso. A banheira desta casa é bastante magnífica, se digo por mim mesma.", disse Asura orgulhosamente, com um grande sorriso estampado em seu rosto. A confiança dela não traiu as expectativas de Rio, pois ele se viu cheio de um sentimento de euforia ao ver a sala.
"Incrível. Então esta é uma sala de banho do povo espiritual."
"Não é mesmo? É incrível, Onii-chan! Eu quero entrar agora..."
O estado de ânimo de Rio geralmente não oscilava muito para cima ou para baixo, mas essa regra não se aplicava quando se tratava da banheira desta casa. Os olhos de Latifa também brilhavam.
Em primeiro lugar, havia uma área adequada para trocar de roupa. Em segundo lugar, abrir a porta para o local de banho revelou que a área estava claramente separada em uma área de banho e a área de lavagem, assim como um banho no estilo japonês. Isso possibilita lavar o corpo antes de submergir-se na água.
O piso, as paredes e a banheira eram todos feitos de madeira, um material natural que ajudava o espaço a dar uma qualidade maravilhosa e incomum adequada para se refrescar. Finalmente, a melhor parte de tudo foi a porta que dava para a cobertura externa, onde outra banheira de madeira foi colocada. Em outras palavras, uma banheira ao ar livre — fechado, é claro, para que ninguém pudesse espiar.
"Hoho, fico feliz de saber que é do seu gosto.", Asura riu alegremente da felicidade de Rio e Latifa.
"Umm, com licença?"
Pouco antes do sol se pôr, depois que Asura já havia saído, Rio e Latifa estavam alocando quartos e organizando seus pertences quando ouviram o som da voz de uma garota na entrada.
Provavelmente era Sara e as meninas. Asura havia mencionado mais cedo que elas estariam trazendo mantimentos.
Rio se apressou para a entrada e abriu a porta, e com certeza, lá estavam Sara, Oufia e Alma.
"Boa tarde a todas."
"Bo-Boa tarde!", Rio as cumprimentou amigavelmente, ao que as garotas responderam com nervos extremamente rígidos.
Oufia estava conseguindo mostrar um sorriso, mas era um bastante tenso. Alma tinha uma expressão fria e séria, acenando com a cabeça à saudação.
"Eu já ouvi os detalhes de Asura-dono. Obrigado por tudo que fizeram. Por favor, entrem." Embora ele se sentia um pouco desconfortável com a reação delas, Rio convidou todas para entrar. As três garotas o agradeceram e hesitantemente entraram.
"Latifa, Sara-san e as outras garotas estão aqui."
"Olá, Latifa-chan." Após serem anunciadas por Rio, as garotas então cumprimentaram Latifa, sentada em um sofá da sala.
"Oh, olá de novo."
Latifa respondeu educadamente, observando-as cuidadosamente para julgar seu humor. Em algum momento, ela tinha se tornado um pouco mais próxima das garotas. Ela provavelmente se abriu um pouco quando Sara e Alma a cuidaram enquanto Rio falava com os anciões.
"Rio-sama. Peço desculpas pela interrupção, mas estaria tudo bem se trouxéssemos os itens?", Sara perguntou, nervosamente indo direto aos negócios.
"Claro. Fique à vontade.", concordou Rio agradavelmente.
"Muito obrigada. Oufia, por favor."
"Okay. Vamos começar movendo os alimentos para a despensa. Nossos próprios pertences podem vir depois.", Sara e Oufia trocaram palavras.
Rio achou que tinha ouvido algo sobre o qual deveria fazer um comentário na conversa bem agora, mas decidiu que deve ter sido sua imaginação. A razão para isso foi o fato de que as garotas pareciam com as mãos muito vazias para estar movendo itens.
"Hum, todas vocês parecem estar de mãos vazias... Onde pode estar os itens? Eu posso ajudar a carregá-los."
"Oh, não se preocupe. Eles estão conosco. Oufia, por favor."
Sara riu da pergunta de Rio, então perguntou a ele o local da despensa e foi para lá. Rio seguiu junto com as garotas, curioso sobre o que elas iam guardar lá. Latifa também foi junto, ao lado de Rio.
"Discharge." Uma vez que eles chegaram ao depósito, que era mantido em baixa temperatura com um artefato, Oufia estendeu a mão e recitou algum tipo de feitiço. O espaço diante de sua mão começou a deformar, dobrando e torcendo até que vários itens de comida de repente apareceram do nada.
"Huh?", os olhos de Rio e Latifa se abriram de surpresa.
"O que Oufia-neesan usou agora foi um artefato mágico... o ‘Armazenamento Espaço-Tempo’. Ele usa a essência do usuário para criar uma dimensão isolada no tempo e no espaço com a magia embutida nele, depois retira itens da dimensão quando o usuário recita um certo feitiço.", Alma interveio com uma explicação bastante orgulhosa, tendo concluído a razão de seu choque.
"Pensar que tais artefatos existiam... Isso é incrível. O povo espiritual pode usar magia espaço-tempo também?"
"Sim. No entanto, estamos limitados pela quantidade de energia que ela consome. Os únicos que podem usar são aqueles com grandes quantidades de odo... o que os humanos chamariam de essência. É por isso que pedras espirituais de alta qualidade são necessárias para criar artefatos com magia espaço-tempo embutida."
"Pedras espirituais? Não pedras mágicas, ou cristais de essência?" Enquanto Sara e Oufia começaram a organizar os itens de seu lado, Rio não conseguiu conter sua curiosidade enquanto questionava Alma.
"Sim. É um objeto que difere das pedras mágicas e dos cristais de essência, criadas a partir deles. Você pode pensar nelas como uma versão superior, em termos gerais."
"Entendi."
Depois de assentir, Rio finalmente se juntou às garotas na organização da comida. Alma também, e por um tempo eles harmoniosamente trabalharam, pensando sobre onde deveriam colocar o que.
Ocasionalmente, Rio se deparava com um item alimentar ou ingrediente que não existia na região de Strahl, mas existia na Terra, fazendo-o reagir secretamente com espanto.
"O que é isso...?" Depois de localizar um item que simplesmente não podia deixar passar, ele se virou para pedir a Alma para identificá-lo.
"Essas são sementes de arroz sem casca. É um dos produtos da debulha, e nós as comemos fervendo ou fritando."
A palavra que ela usou não era exatamente a mesma pronúncia que a palavra japonesa para arroz, mas pela descrição de como era preparado, não havia como confundir.
"Embora tenhamos ingredientes que são preparados de forma semelhante, essa coisa exata não está disponível em Strahl."
"Foi originalmente um cultivo da região de Yagumo, afinal. Se bem me lembro, foi trazido para a vila ao longo do curso da história e começamos a cultivá-lo."
"Estou ansioso para cozinhá-lo e comê-lo."
Assim, eles conversaram enquanto trabalhavam até que tinham guardado a maior parte da comida na despensa e retornaram para a sala de estar. Latifa estava conversando com Sara e Oufia enquanto limpavam, permitindo que ela se abrisse e se sentisse um pouco mais relaxada em comparação com quando elas chegaram.
"Então, umm... Rio-sama. Em que quartos devemos dormir?"
Depois que o chá foi preparado e todos estavam sentados nos sofás para um respiro, Sara abordou o assunto de forma bastante tímida.
".... Hein?", Rio ficou boquiaberto com as palavras de Sara.
"Eh? Uum, a anciã líder... Asura-sama não lhe disse nada?"
"Hã, me dizer o quê?" Ele tinha uma ideia do que estava acontecendo, mas perguntou de qualquer forma para acalmar seu coração.
"Nos disseram para morar com Rio-sama nesta casa e cuidar de vocês dois..."
Com certeza, as palavras de Sara foram exatamente como Rio esperava.
"...... O quêêêê?! Vocês todas vão morar aqui com a gente?", Latifa respondeu com espanto depois de pensar por alguns segundos.
"Sim. Isso vai ser um problema?"
"V-Vai?" Oufia perguntou, levando Latifa a olhar para Rio, sentado ao lado dela.
"Não, isso..."
A expressão de Rio transmitia um sentimento de desaprovação. Embora fossem todos meninos e meninas, era um menino e quatro meninas — só de imaginar isso o fazia se sentir cansado.
"Erm, é pedir demais, afinal?", Sara perguntou a Rio com um rosto ansioso.
"... Uum. Todas aqui estão bem com isso?", Rio perguntou. "Eu sou um homem — e além disso um humano, sabem? Se vieram aqui por uma ordem, então por favor, não se forcem a fazer isso."
Seu pensamento era que Sara e as outras poderiam não querer morar com um humano como ele.
"Estamos completamente bem com isso! Rio-sama é um salvador. E não podemos nos desculpar o suficiente pelo quão terrivelmente te tratamos. Então, gostaríamos de mostrar nosso arrependimento por essas ações através disso!", Sara insistiu acaloradamente, com Oufia e Alma assentindo ao seu lado.
"Ah, não, mas... Eu não preciso de arrependimento ou qualquer coisa do tipo.", Rio disse, encolhendo-se para trás.
"E-Eu entendo que podemos ser um incômodo para vocês! Estávamos realmente preocupadas que Rio-sama fosse quem se oporia a isso.... É verdade que nos disseram para fazer isso, mas estamos felizes em cumprir essa ordem! Queremos conhecer melhor Latifa-chan, também!", Sara expressou de todo coração, com o melhor de suas habilidades. Rio podia sentir a determinação dentro dela; ela não recuaria facilmente.
O silêncio na sala continuou por um momento, até...
"Rio-dono, estou entrando.", Asura apareceu na porta.
"Asura-dono...", Rio lhe lançou um olhar interrogativo, perguntando se tudo isso tinha sido planejado por ela.
"Eu ouvi parte de sua conversa. Com relação ao tema de morar com as meninas, Rio-dono, gostaria humildemente de pedir isso a você."
"Mesmo que diga isso... não é indesejável para elas? Sara e as outras são da mesma linhagem que os membros do conselho da vila, certo? Haverá rumores ruins se elas viverem com um humano como eu.", Rio sussurrou no ouvido de Asura, tendo rapidamente se levantado e aproximado dela.
"Mais uma razão, então. Rumores sobre Rio-dono e Latifa já estão se espalhando pela vila. Se o conselho da vila te tratasse como uma praga, esses rumores negativos seriam ainda piores.", Asura balançou a cabeça com desdém.
"Realmente estará tudo bem?"
"Estará. Como a líder dos anciões, eu garanto isso. Esta é uma ação que tomamos para o bem-estar de Latifa. Rio-dono, você pretende deixar a vila um dia, não? Então seria indesejável continuar essa dependência que ela desenvolveu em relação a você. Você precisa de indivíduos ao lado dela que possam ser seus guardiões, seus amigos. Embora essas meninas ainda têm um longo caminho a percorrer, são todas boas meninas."
Era exatamente como Asura disse. Se ele considerasse o futuro de Latifa, Rio tinha que ser menos protetor com ela.
".... Você está certa. Tanto Latifa quanto eu, nos beneficiaríamos muito com isso."
"Oho! Então posso tomar isso como uma palavra de aceitação?"
"Sim. Se não for muito incômodo para Sara-san e as outras..."
Assim, ficou decidido que Rio e Latifa viveriam juntos com as meninas do Seirei no Tami.
Naquela noite, para celebrar sua nova vida juntos, eles decidiram realizar um banquete modesto. Os participantes eram os novos moradores da casa — Rio, Latifa, Sara, Oufia e Alma — e os três líderes anciões, Asura, Syldora e Dominic, com um total de oito pessoas. À medida que a noite se aproximava, eles começaram a preparar o banquete na cozinha. Sara, Oufia e Alma se encarregaram da cozinha, enquanto Rio pediu para ajudar.
No entanto, com certeza...
"Rio-sama, por favor tome um descanso.", todas lhe disseram.
"Vamos morar juntos de agora em diante, então não há necessidade de me acomodar tanto. Vamos todos ficar cansados assim, não acha? E eu prefiro que você pare de me chamar com o 'sama' também.", disse Rio a elas com um sorriso forçado. As três garotas se olharam.
"Então, umm... Estaria bem chamá-lo apenas de ‘Rio-san’?", Sara perguntou em nome do grupo.
"Sim, isso seria bom. Então vamos fazer o trabalho doméstico de forma semelhante. Podemos decidir os detalhes outro dia, então vamos apenas cozinhar juntos por hoje. Dessa forma, podemos verificar cada um os níveis de nossas habilidades na culinária também."
"Eu quero comer a comida de Onii-chan!"
A sugestão de Rio fez Latifa entrar animadamente na conversa. As três garotas — especialmente Sara — pareciam preocupadas em atribuir tarefas para Rio, mas a palavra final de Latifa as fez ceder aos seus desejos. Então, depois de discutir quem estaria fazendo o quê, eles finalmente começaram a preparar a comida.
Na verdade, Rio estava desesperado para cozinhar.
Havia vários ingredientes na despensa que não estavam disponíveis em Strahl, então ele queria tentar refazer o máximo de alimentos da Terra que pudesse. Latifa certamente ficaria em êxtase também. Ele só fazia comidas ocidentais que as crianças gostavam — massas, omeletes e hambúrgueres.
Com mãos habilidosas, ele completou suas receitas o tempo todo evitando ficar no caminho dos outros, fazendo Sara e Alma ampliarem seus olhos com admiração.
"Fufu, isso é divertido... Cozinhar com todo mundo.", disse Oufia, preparando comida e sorrindo alegremente.
"Rio... -san é tão bom em cozinhar quanto Oufia-neesan.", Alma disse. Ela ainda estava um pouco relutante em chamar Rio sem o “sama”.
"E-Eu não vou perder também!", Sara disse entusiasticamente, adicionando ingredientes ainda mais seriamente.
Em pouco tempo, um banquete foi preparado por eles. A sala de estar de sua nova casa logo estava cheia de vida.
"Gahaha! Sua comida é ótima, garoto!", Dominic riu com vontade, engolindo o álcool em seu copo de metal.
"Todos os ingredientes são itens que estou bem familiarizado, mas os pratos são todos novos e inovadores. Estou surpreso de experimentar algo tão bom na minha idade."
"Sim, que habilidade maravilhosa. Meu favorito é esse prato de ovo com tomate.", Syldora e Asura também desfrutaram das receitas de Rio.
"Eu prefiro este aqui com batata e queijo. É perfeito com álcool. E quanto a você, Alma?"
"Eu gosto mais do prato de carne. Parecia muito difícil de fazer, mas o gosto definitivamente vale a pena.", Alma respondeu enquanto mastigava um hambúrguer.
"Ehehe, toda a comida de Onii-chan é deliciosa!", Latifa sorriu orgulhosamente enquanto comia macarrão.
"Rio-san, me ensine como fazer da próxima vez.", Oufia pediu agradavelmente.
"O-Oufia, isso não é rude?", Sara a avisou em pânico.
"Claro, eu não me importo. Em troca, me ensine a fazer alguns dos pratos de sua vila também."
E assim, de uma forma ou de outra, sua vida na vila teve um bom começo.
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