Capítulo 3: Conexão
Dois dias após sua partida de Amande, Rio e Latifa finalmente cruzaram a fronteira para a região oriental do Reino Galark.
Deste ponto em diante estava a Região Selvagem, onde seu primeiro desafio imediatamente os aguardava. As Montanhas Nephilim eram uma cordilheira que dividia a Região Selvagem da região de Strahl em uma única linha vertical, com uma altura que variava de 2000 metros a 5000 metros. Além disso, mais montanhas continuavam além da cordilheira; uma vasta área de terra inculta, que não era benéfica para os humanos de Strahl se aventurarem. Daí o nome: Região Selvagem.
Para atravessar o portão para aquela terra isolada, Rio corria a toda velocidade. Atrás dele, estava a pequena figura de Latifa.
"Como você está?" Rio chamou Latifa, que estava correndo atrás dele. Ele parou ao longo da encosta da montanha.
"Eu... bem", Latifa respondeu assentindo com cabeça, mas sua respiração estava saindo um pouco irregular. Enquanto isso, a expressão de Rio ainda estava calma e confortavelmente à vontade.
"É um pouco cedo, mas vamos montar acampamento por hoje. Vou preparar tudo, então você pode descansar. Certifique-se de se reidratar", disse Rio, marcando o fim de sua viagem para o dia. Com isso, uma expressão de medo apareceu no rosto de Latifa. Ela apressadamente abaixou a cabeça.
"Eu... desculpa!"
".... Por que você está se desculpando?" Rio perguntou calmamente.
"Eu... atrasar você... Ah... V-Você me deixar... para trás?" Latifa perguntou, pendurando a cabeça.
A segunda metade de sua sentença foi tão silenciosa, que desapareceu antes que pudesse chegar aos ouvidos de Rio. Mas, ele poderia muito bem adivinhar o que ela havia dito pelo humor no ar.
"Você não está sendo um fardo. Estamos nas montanhas agora — se avançarmos muito apressadamente, acabaremos com Mal da montanha devido a altitude. É por isso que estamos acampando aqui agora. É por necessidade."
Rio coçou a cabeça enquanto tentava explicar tudo com o tom mais suave possível. Ouvindo isso, Latifa suspirou de alívio. Desde que fez sua inferência sobre as circunstâncias de Latifa, Rio estava fazendo o seu melhor para tratá-la da forma mais gentil possível, conversando com ela sempre que podia. Ao fazer isso, ele concluiu que poderia afastar algumas de suas ansiedades e levá-la a participar de mais conversas, desenvolvendo suas habilidades linguísticas.
No entanto, Rio não era um psicólogo, e não tinha uma personalidade social para começar.
Na verdade, ele era bastante inábil quando se tratava de relacionamentos. Era por isso que ele estava observando a situação por enquanto, desajeitado como ele poderia ser.
Farei o melhor que puder.... Espero que as coisas dêem certo.
Ele só poderia fazer o seu melhor com a situação, afinal. Com esse pensamento, Rio foi montar o acampamento.
Mais tarde naquela noite, seu mais novo problema ocorreu pouco depois de os dois terem se acomodado para dormir.
"Wah... Wah... uwaaaah!"
Dentro da barraca escura em que eles dormiam — pequena e construída simplesmente para apenas acolher os dois dentro — Latifa de repente caiu em prantos. Os olhos de Rio abriram-se e ele imediatamente olhou para Latifa, que estava deitada ao seu lado. Ela estava chorando com os olhos fechados ao lado dele. Era o choro noturno de uma criança, por assim dizer. Embora variasse de pessoa para pessoa, crianças que choravam à noite na idade de Latifa eram raras. No entanto, Rio não conseguia entender por que ela estaria chorando. Ela estava bem no dia anterior, afinal.
"Ei, qual é o problema? Você está bem? Você está ferida?" Rio a perguntou, impotente, ao ver suas incessantes lágrimas.
"Eek! Não.... Onde eu estou? Alguém me salve!" Latifa murmurou em seu sono como lágrimas continuaram a escorrer pelo rosto.
"Isso é.… japonês..." As palavras que vieram de Latifa eram de uma língua extremamente familiar para Rio — não, para Amakawa Haruto. Ele estava totalmente pasmo. No entanto, os olhos de Latifa permaneceram fechados.
"Ela estava... falando dormida?"
Rio percebeu que as palavras tinham sido involuntariamente ditas. Mas para uma mera conversa enquanto dormia, as palavras dela foram uma revelação chocante.
Latifa de repente agarrou firmemente a túnica que Rio usava como cobertor, puxando-a para mais perto para aproximar-se dele. Ela tinha se acalmado um pouco, agora, mas ainda não mostrou nenhum sinal de parar suas lágrimas.
"O que eu devo fazer..." Ele deve acordá-la, ou deve deixá-la dormir assim? Sem saber o que fazer, Rio simplesmente ficou ali, aturdido.
"Você está acordada?" Rio gentilmente tentou sacudi-la.
"Mamãe... Papai... Onii-chan", ela murmurou timidamente em japonês.
Rio franziu a testa com o sentimento insuportável dentro dele. Ela estava experimentando algum tipo de sonho? Ele não pôde deixar de imaginar que tipo de sonho poderia ser.
Dias aconchegantes e gentis. Vivendo em felicidade, todos os dias. Talvez fosse um sonho assim...
Mas esse sonho não duraria muito. Como se provasse sua teoria, Latifa chorou mais e enterrou seu rosto no peito de Rio.
Seu pequeno corpo se encaixava confortavelmente no peito de Rio, e sua pele branca, como porcelana, parecia tão delicada; frágil o suficiente para quebrar com um único toque...
Rio envolveu um braço em volta das costas de Latifa e a afagou gentilmente, como se tratasse de uma boneca de cristal. Ao mesmo tempo, ele cuidadosamente acariciou seu lindo cabelo laranja pálido, desenrolando os nós. Suas fofas orelhas de raposa se moviam, se contorcendo alegremente enquanto ele o fazia. Por um tempo, Rio continuou a acalmar Latifa, como um irmão mais velho acalmando sua irmã que chorava.
"Nngh..."
Eventualmente, a respiração de Latifa normalizou enquanto ela dormia. Rio soltou um suspiro de alívio. Ela ainda estava agarrando a túnica, mas ele não viu necessidade de se afastar dela à força, então ele deixou assim.
De repente, Rio foi completamente dominado por uma onda de fadiga mental. Eles haviam corrido durante todo o dia, acumulando exaustão até que ela se manifestou como uma sonolência que consumiu sua consciência.
Rio lentamente piscou suas pálpebras pesadas, fechou os olhos e deixou a escuridão do sono levar sua mente para longe.
Na manhã seguinte, quando Latifa acordou, ela se viu agarrada a algo acolhedor e reconfortante.
Ela esfregou sua bochecha contra esse algo em seu ofuscamento semiconsciente, só voltando aos seus sentidos uma vez que ela relutantemente afastou o rosto para longe disso. Depois de várias piscadas, ela percebeu em que estava se agarrando, e congelou em choque.
Ali diante dela, estava um garoto com traços bem definidos — Rio. Ele estava respirando pacificamente enquanto dormia.
Como, quando, por que ela estava se agarrando a ele? Perguntas incoerentes passaram por sua cabeça uma após a outra, fazendo com que Latifa entrasse em pânico.
P-Pensando bem.... Eu... estava chorando.... Isso não foi... um sonho, foi...?
Ela respirou fundo para tentar se acalmar ao relembrar os acontecimentos da noite passada, mas não conseguiu determinar o que havia sido um sonho e o que havia sido realidade.
No entanto, ela estava certa de que alguém a abraçou e a confortou com seu calor. Considerando sua situação agora, esses eventos provavelmente foram realidade.
Uma vez que Latifa chegou a essa conclusão, um constrangimento difícil de expressar em palavras surgiu. Seu coração bateu loucamente. Ela segurou a túnica de Rio com as duas mãos e hesitantemente fixou seu olhar em Rio mais uma vez.
"Fwah..."
As bochechas pálidas de Latifa ficaram vermelhas num instante, e ela acidentalmente deixou escapar um som atordoado.
"O cabelo dele... tão preto... Parece... Com ele? Com aquele irmão mais velho... Como um onii-chan.…"
Ela inclinou a cabeça enquanto olhava para ele com curiosidade.
"Ehehe. Onii-chan."
Latifa enterrou o rosto contra o peito de Rio mais uma vez, deixando um sorriso aparecer no rosto dela. Suas ações eram como as de um pequeno filhote furiosamente buscando afeto.
Depois de sentir o cheiro e a sensação de Rio por um tempo, Latifa lentamente levantou a cabeça para olhar para ele.
"Bom dia. Dormiu bem?" Rio a cumprimentou suavemente, olhando para ela com um rosto um pouco perturbado.
"Fweh?! Ah, eu.... Desculpa! Wah!" Latifa tartamudeou suas desculpas, levantando-se rapidamente em pânico e batendo a cabeça contra o teto baixo. Rio esfregou a cabeça de Latifa gentilmente.
"Está tudo bem, eu não estou bravo. Este lugar é apertado, então você precisa ter cuidado. Você está ferida?"
"E-Eu... Bem. Ehe. Eheheh." Latifa sorriu com alegria.
◇◇◇
Mais de dois meses se passaram desde a noite em que Latifa chorou enquanto dormia.
Atualmente, Rio e Latifa haviam cruzado as Montanhas Nephilim e atravessado a enorme área de terras não cultivadas depois delas, continuamente seguindo para o leste. Sem mapa, eles tinham que tatear o caminho, algumas vezes tomando desvios e outras vezes retrocedendo para buscar outra rota. Mas definitivamente estavam avançando, pouco a pouco.
"Rio-san! Desculpe, mas sinto o cheiro de algo estranho! Cheira como sangue de uma fera!" Enquanto os dois corriam por uma planície, Latifa o chamou. Ela perdeu muito do seu discurso gago ao conversar com Rio nos últimos dois meses.
Rio, que estava correndo na frente, sinalizou com a mão para uma pausa.
Como uma bestial do tipo raposa, o olfato de Latifa estava a ligas acima do olfato de Rio, mesmo quando ele melhorava seus sentidos através do encantamento de seu corpo físico. O nariz dela era capaz de identificar qualquer cheiro e processar a informação com precisão. Foi por isso que Rio depositou sua confiança no olfato de Latifa, pedindo que ela o avisasse sempre que cheirasse algo suspeito.
No entanto, gritar bem alto não era a melhor ideia.
"O sangue de uma fera... Pode haver uma besta carnívora por perto. De que lado o cheiro —"
No momento em que Rio estava prestes a pedir mais detalhes a Latifa, seu senso de audição aguçado captou os gritos estridentes de uma criatura reptiliana.
"O que foi isso agora...?"
"Algo está errado?"
Ver a súbita expressão perceptiva de Rio fez Latifa inclinar a cabeça em confusão. Após cerca de dez segundos de pausa, Rio localizou a origem do som estranho e olhou para o céu, muito acima deles. Havia um bando de criaturas misteriosas, negras, parecida com pássaros.
Eles dobraram as asas e mergulharam na direção de Rio e Latifa. Uma vez que reduziram sua resistência ao ar ao mínimo absoluto, fecharam a distância entre eles e Rio num piscar de olhos.
"Aquilo é uma ave.…?! Latifa, estão vindo em nossa direção, de cima!"
Rio gritou, levando Latifa a sacar a daga de sua cintura. No entanto, ela era esmagadoramente curta em alcance para lutar contra um inimigo que podia voar. Além disso, Latifa era incapaz de qualquer magia além de Augendae Corporis, então ela não tinha nenhum outro meio eficaz de ataque. Assim, ela só podia olhar para o grupo voador enquanto se aproximavam. Seu pequeno corpo tremia um pouco.
"Vai ficar tudo bem. Não se mexa!" Rio disse, manipulando a essência em seu corpo para formar dois pedaços de gelo em suas mãos. Então, ele balançou as mãos e arremessou os blocos de gelo parecidos com pedras no grupo de criaturas voadoras.
Os blocos gigantes de gelo atravessavam o céu como balas de canhão, colidindo com as criaturas como se estivessem absorvendo seus corpos, antes de partirem em vários pedaços e explodir as bestas misteriosas.
Mas o grupo de criaturas em si ainda estava cheio de vida. Sem parar para respirar, Rio lançou um segundo ataque. Isso derrubou mais duas criaturas do grupo no céu — e um deles caiu perto de Rio e Latifa. Rio deu uma olhada, antes de arregalar os olhos em choque.
Um dragão? Não, um semi dragão?!
A identidade da criatura semelhante a um pássaro que atacou Rio e Latifa era um semi dragão — semelhante a um dragão em aparência, é dito ser um membro da família dos dragões. Este grupo em particular era composto pela menor subespécie de semi dragões: o Lagarto Alado de três metros de comprimento.
A criatura que tinha caído diante de Rio tinha recebido um pedaço grosso de gelo direto na cara, mas ainda respirava fracamente. Eles não eram membros da família dragão à toa — seus corpos eram ridiculamente robustos.
"Kyaaah!"
Tendo quatro de seu grupo derrotados em tão pouco tempo, os Lagartos Alados restantes tornaram-se cautelosos, espalhando-se para cercar Rio e Latifa. Rio levemente franziu as sobrancelhas e liberou um terceiro ataque de blocos de gelo. No entanto, o vôo circular dos lagartos foi muito mais difícil de apontar em comparação com o caminho direto que eles tinham usado antes.
"R-Rio-san! Eles estão vindo todos de uma vez!"
"Sim, não vale a pena o esforço de derrubar todos eles. Vamos correr! Venha!"
Rio começou a correr, junto com Latifa atrás dele. Os dois fugiram como lebres assustadas, mas os Lagartos Alados também começaram a perseguição. Irritantemente, eles mantiveram uma distância não muito próxima e não tão distante, enquanto contornavam Rio e Latifa.
Acho que eles não vão nos deixar escapar tão facilmente, Rio pensou, voltando-se para olhar para trás e franzindo a testa. Era difícil obter uma vantagem sobre lagartos quando eles podiam voar.
"Hah... hah... hah..." Sua corrida em velocidade máxima com a bagagem já tinha feito a respiração de Latifa sair em arfadas ásperas.
Eles estão tentando esgotar nossa resistência, huh? Latifa não vai durar muito a essa velocidade. A situação só vai piorar nesse ritmo. Rio analisou a situação no local antes de chegar a uma decisão.
"Latifa, você vai na frente! Esconda-se atrás daquela colina ali."
"Huh? Ah... M-Mas!" A ordem repentina deixou Latifa perplexa; ela se opôs fortemente à ideia.
"Está bem, apenas vá! Vai ficar tudo bem, eu posso lidar com isso sozinho! Entendeu?!" Rio repetiu em um tom mais forte, antes de parar sem esperar por uma resposta.
Por um instante, a velocidade de Latifa diminuiu drasticamente. Mas ela estava mais do que dolorosamente consciente do quanto seria um fardo, então se concentrou em correr mesmo quando seu rosto estava todo envergonhado.
Um dos Lagartos Alados deslizou em direção a Rio.
"Lamento, mas você não vai passar por mim", murmurou Rio, removendo sua mochila antes de saltar no ar em direção ao lagarto. Ele agarrou sua espada longa com mão direita e a enfiou no corpo da criatura.
Bastante resistente! E duro!
Apesar de seu espanto com a sensação em sua mão, ele puxou sua espada de volta. Então, agarrou o pescoço da criatura e a puxou para mais perto dele, com um giro, montou sobre as costas dela com movimentos ágeis, e em seguida, a usou como um trampolim para atacar outro Lagarto Alado. O Lagarto Alado atualmente sob ataque tentou se desprender de Rio e afastá-lo, mas Rio reuniu essência em seus braços e aumentou sua força. Então, ele oscilou a espada enquanto eles passavam um pelo outro e cortou o pescoço da besta.
Imediatamente, Rio criou uma rajada de vento em sua mão esquerda e usou o impulso reverso para frear e pousar nas costas da criatura sem cabeça. Foi quando um novo Lagarto Alado tentou atacar Rio. Sem pestanejar, ele disparou outra rajada de vento contra a criatura em que estava. Seu corpo disparou para cima, fazendo com que as mandíbulas do lagarto atacando se fechassem em torno de nada além de ar.
Rio girou no ar e oscilou sua espada contra o pescoço estendido do lagarto de cima. Assim que fez isso, ele usou a magia com o braço esquerdo novamente e usou o impulso inverso para saltar nas costas do Lagarto Alado recém decapitado. Pousando nas costas da criatura, Rio embainhou sua espada na cintura e estendeu as duas mãos para cada lado, usando essência para criar grandes bolas de fogo. Ele as lançou em dois dos Lagartos Alados nas proximidades.
As bolas de fogo desenharam uma curva limpa no ar enquanto colidiam diretamente com as criaturas. Uma onda de choque ecoou do impacto, sacudindo o ar ao seu redor, mas o único dano que os Lagartos Alados sofreram foi ter seu equilíbrio perdido por alguns instantes.
Eles podiam ser semi dragões, mas ainda eram famosos por serem criaturas cruéis — sua pele era altamente resistente ao calor.
"Krraaah!"
O líder dos Lagartos Alados levantou sua voz estranha em protesto, respondendo ao que ele percebeu como uma ameaça — Rio. O grupo se espalhou em todas as direções e fugiu.
Enquanto isso, o lagarto em que Rio estava em pé seguia em rota de colisão com o solo. Pouco antes de fazer contato, Rio direcionou uma rajada de vento em direção ao chão para amenizar o impacto. A força do vento o soprou para trás, levantando-o no ar. Em seguida, ele maximizou o aprimoramento em seu corpo físico antes de pousar alguns momentos depois que o Lagarto Alado caiu no chão.
◇◇◇
Depois que Latifa conseguiu escapar sozinha, ela se deparou com uma ameaça diferente da que Rio estava enfrentando.
"Hah... Hah... H-huh?!"
Enquanto se escondia atrás da colina que Rio havia apontado e recuperava o fôlego, de repente ela percebeu o cheiro de outra coisa. Olhando em volta nervosamente, ela viu um Lizardman — outra subespécie de semi dragão como o Lagarto Alado. A sombra da morte pairava sobre ela; o medo rasgava seu coração.
"Eek?"
Corpo tremendo, Latifa preparou sua daga. De toda a experiência de assassinato que teve até agora, ela nunca esteve do lado sendo atacado.
O Lizardman tinha dois metros de altura e ostentava cinco metros da cabeça à cauda — quase como um dinossauro — com sua cauda tipo chicote, balançando-a de um lado para o outro.
Usando os movimentos enraizados dentro de seu corpo, Latifa saltou instintivamente. Ela virou uma vez no ar e apunhalou as costas do Lizardman com sua daga. No entanto, seus encantamentos físicos não foram suficientes para compensar sua força infantil. O leve ataque de sua daga só estimulou a criatura ainda mais.
"Ugh! É tão duro?!"
Diante do fato de que sua daga só podia arranhar a superfície de sua pele, Latifa arquejou. Quando o Lizardman soltou um rugido irritado com a dor maçante em suas costas, Latifa as usou como um trampolim para saltar para longe, em pânico. Aterrissando em uma clareira onde o grupo de bestas não havia se reunido, Latifa verteu sua força em suas pernas para se concentrar em uma fuga. No entanto, quando ela tentou correr, descobriu que os Lizardmen já tinham se reunido em volta dela.
Oprimida pelos números, o rosto de Latifa se contorceu com medo.
Se ela pudesse usar suas habilidades de batalha em sua capacidade total, seria capaz de criar quantas rotas de fuga ela quisesse. O que Latifa carecia em poder, compensava em velocidade, afinal. Contanto que se posicionasse corretamente, ela seria capaz de mantê-los afastados pelo tempo em que sua resistência pudesse aguentar. Então, uma vez que ela ganhasse tempo suficiente, Rio voltaria para salvá-la.
Mas Latifa tinha perdido a coragem desde o início, entrando demais em pânico para manter a calma, não muito diferente daqueles tempos em que ela tinha sido controlada pelo Colar de Submissão. Ela faria qualquer coisa para evitar uma situação onde teria que lutar até a morte.
Além disso, Latifa quase não tinha experiência lutando em algo além de uma situação de um contra um.
"Krraaah!" O Lizardman que ela cortou nas costas mais cedo rugiu, pulando em Latifa.
"Não!", ela gritou, saltando para longe dele com mais força do que o necessário. A inesperada reviravolta dos acontecimentos transformou completamente seu pânico em um caos interior.
Os Lizardmen pareciam perceber seu medo enquanto eles açoitavam suas caudas, como se zombassem dela. Latifa de alguma forma conseguiu escapar do ataque com seu salto, mas o caos dentro dela só ficou mais forte. Seus movimentos se tornaram mais e mais lentos.
"Kya?!" Eventualmente, Latifa tropeçou e caiu.
Ela tentou levantar-se com pressa, mas seu corpo desabou sob ela. Não havia força em seus braços.... Suas pernas também não se moviam.
Os Lizardmen pararam sua animada mostra de intimidação e lentamente avançaram.
"Ugh, ah... N-Não... S-Salve-me... O... Onii... chan.…" Latifa gritou, à beira das lágrimas, enquanto, passo-a-passo, a morte iminente se aproximava dela.
Salve-me... Era tudo o que ela conseguia pensar.
Na frente dela estava uma grande sombra — a boca babando e as presas afiadas de um Lizardman. Era o mesmo que Latifa havia ferido mais cedo; ele emitiu um grito penetrante enquanto abria suas mandíbulas amplamente.
Enquanto olhava para a criatura maligna diante dela com assombro, o rosto de Rio passou pela mente de Latifa. Ele a salvou depois que ela tentou assassiná-lo, cuidou dela, e era um pouco parecido ao jovem nas memórias de seu outro eu. Uma amável, e gentil pessoa.
"Onii-chan!"
Antes que ela percebesse, Latifa estava gritando esse nome — o nome que ela sempre quis chamar, mas nunca tinha sido capaz.
Nesse momento, um grande pedregulho veio voando do lado, facilmente levando o corpo do Lizardman para longe e fazendo com que os outros lagartos do grupo se agitassem com emboscada repentina. Latifa levantou-se o mais rápido possível e se virou na direção em que o pedregulho veio. Lá, em uma túnica preta, estava o garoto alguns anos mais velho que ela — Rio.
Uma luz de esperança acendeu nos olhos de Latifa.
Em contraste, os Lizardmen, instintivamente sentindo que tinham algo a temer, recuaram gradualmente.
Rio segurou sua espada, preparado, e liberou uma feroz e intimidante aura. Seus olhos castanhos pardos brilhavam de maneira cortante, observando os Lizardmen com atenção, antes de subitamente saltar adiante. Ele se moveu como o vento, fechando a distância entre eles e colocando-se diante de Latifa instantaneamente. Depois de cortar o pescoço do que estava na frente dele, ele pisou firmemente no solo. O chão diante dele se deformou, em resposta ao momento em que ele se atirou como uma lança para atacar os Lizardmen.
Embora ele não fosse capaz de causar dano efetivo contra os semi dragões de pele grossa, ele conseguiu romper sua formação. Saltando com essa chance, ele oscilou a espada para feri-los fatalmente.
"K-Krraaah!"
Depois de ter alguns de seus números reduzidos, o líder sinalizou a retirada, e o grupo de Lizardmen começou a recuar imediatamente.
Vendo suas figuras recuando, Rio soltou um pequeno suspiro. Ele deslizou a espada longa em sua mão direita de volta na bainha em sua cintura, em seguida, fez contato visual com Latifa.
"Desculpe. Os Lizardmen de agora estavam provavelmente em conluio com os Lagartos Alados de mais cedo. Seu objetivo era nos separar."
"... O-Onii-chan!"
Latifa perdeu toda a força em seu corpo, gritando "onii-chan" em voz alta enquanto chorava com os olhos abertos.
Rio não fazia ideia a quem "onii-chan" se referia, mas ele lentamente se aproximou e se ajoelhou diante dela. Latifa agarrou-se a ele.
"Onii-chan, eu estava com tanto medo!"
"Huh? Um.... Eu sinto muito."
Ela quis dizer eu quando disse "Onii-chan?", Rio hesitou por um momento, antes de estender a mão para afagar as costas de Latifa, sem jeito.
"Não... Obrigada. Por me salvar." Latifa sufocou seus soluços, e estendeu a mão para agarrar firmemente as vestes de Rio.
"Hum, a propósito", Rio começou com uma voz ligeiramente hesitante. Latifa levantou a cabeça para olhar o rosto de Rio.
"Você disse 'onii-chan'..."
Latifa levou alguns segundos para processar o significado das palavras de Rio. Percebendo quanto tempo ela passou olhando para o rosto dele em um transe, a fez corar de constrangimento.
"Err, ah, hum! D-Desculpe!"
"Não, não é algo pelo qual você precisa se desculpar..." Rio disse com uma cara conturbada pelo pedido de desculpas em pânico de Latifa.
"Huh? Realmente?!" A expressão de Latifa de repente se iluminou.
"Hm? O que você quer dizer?"
"E-Está bem se eu te chamar de onii-chan.…?"
"E-Eeh...?"
"Ou... Não... Você não iria querer isso..."
"Eu não me importo. Mas por quê?"
"Eu só pensei que seria bom ter você como meu Onii-chan.…" Latifa terminou suas palavras, em seguida, olhou para Rio nervosamente.
".... Entendo."
A expressão de Rio transmitia seu complicado, e difícil de descrever estado de espírito. Ele não achava que tinha feito nada excessivamente fraternal em sua jornada até agora. Sabendo que eles se separariam eventualmente, ele manteve Latifa à distância enquanto a tratava com uma disposição gentil. Era tudo o que Rio pretendia em suas interações com ela.
Mas o que Latifa pensou enquanto viajava com ele era uma história diferente. Desde aquela primeira noite em que ela chorou, ela rapidamente começou a abrir seu coração para ele. As emoções que ela suprimiu durante seus dias de escrava explodiram como uma represa quebrada.
Isso era compreensível — Latifa estava faminta. Faminta por gentileza, por carinho, por amor.... Fazia sentido que o objeto de seus desejos fosse apontado para Rio, aquele que a salvou, de uma forma quase dependente.
"Onii-... Rio-san. Sinto muito.", se desculpou Latifa, observando a reação de Rio com medo. Sua expressão era como um cabisbaixo filhote que havia sido abandonado. Rio suspirou com esse pensamento.
"Qualquer forma está bem."
"Huh?" A boca de Latifa se abriu, enquanto olhava em branco para Rio.
"Você pode me chamar como quiser." Embora ele soubesse que era um julgamento complacente, Rio não pôde deixar de dizer isso a ela. Ele tinha se tornado próximo à Latifa sem nem mesmo perceber.
"R-Realmente?"
"Sim, está bem."
"Ehehe..." Incapaz de segurar a risada que borbulhava dentro dela, Latifa sorriu alegremente.
Não, não havia necessidade de se conter. Fazia muito tempo desde que ela sentiu uma felicidade tão calorosa, afinal.
Deste ponto em diante estava a Região Selvagem, onde seu primeiro desafio imediatamente os aguardava. As Montanhas Nephilim eram uma cordilheira que dividia a Região Selvagem da região de Strahl em uma única linha vertical, com uma altura que variava de 2000 metros a 5000 metros. Além disso, mais montanhas continuavam além da cordilheira; uma vasta área de terra inculta, que não era benéfica para os humanos de Strahl se aventurarem. Daí o nome: Região Selvagem.
Para atravessar o portão para aquela terra isolada, Rio corria a toda velocidade. Atrás dele, estava a pequena figura de Latifa.
"Como você está?" Rio chamou Latifa, que estava correndo atrás dele. Ele parou ao longo da encosta da montanha.
"Eu... bem", Latifa respondeu assentindo com cabeça, mas sua respiração estava saindo um pouco irregular. Enquanto isso, a expressão de Rio ainda estava calma e confortavelmente à vontade.
"É um pouco cedo, mas vamos montar acampamento por hoje. Vou preparar tudo, então você pode descansar. Certifique-se de se reidratar", disse Rio, marcando o fim de sua viagem para o dia. Com isso, uma expressão de medo apareceu no rosto de Latifa. Ela apressadamente abaixou a cabeça.
"Eu... desculpa!"
".... Por que você está se desculpando?" Rio perguntou calmamente.
"Eu... atrasar você... Ah... V-Você me deixar... para trás?" Latifa perguntou, pendurando a cabeça.
A segunda metade de sua sentença foi tão silenciosa, que desapareceu antes que pudesse chegar aos ouvidos de Rio. Mas, ele poderia muito bem adivinhar o que ela havia dito pelo humor no ar.
"Você não está sendo um fardo. Estamos nas montanhas agora — se avançarmos muito apressadamente, acabaremos com Mal da montanha devido a altitude. É por isso que estamos acampando aqui agora. É por necessidade."
Rio coçou a cabeça enquanto tentava explicar tudo com o tom mais suave possível. Ouvindo isso, Latifa suspirou de alívio. Desde que fez sua inferência sobre as circunstâncias de Latifa, Rio estava fazendo o seu melhor para tratá-la da forma mais gentil possível, conversando com ela sempre que podia. Ao fazer isso, ele concluiu que poderia afastar algumas de suas ansiedades e levá-la a participar de mais conversas, desenvolvendo suas habilidades linguísticas.
No entanto, Rio não era um psicólogo, e não tinha uma personalidade social para começar.
Na verdade, ele era bastante inábil quando se tratava de relacionamentos. Era por isso que ele estava observando a situação por enquanto, desajeitado como ele poderia ser.
Farei o melhor que puder.... Espero que as coisas dêem certo.
Ele só poderia fazer o seu melhor com a situação, afinal. Com esse pensamento, Rio foi montar o acampamento.
Mais tarde naquela noite, seu mais novo problema ocorreu pouco depois de os dois terem se acomodado para dormir.
"Wah... Wah... uwaaaah!"
Dentro da barraca escura em que eles dormiam — pequena e construída simplesmente para apenas acolher os dois dentro — Latifa de repente caiu em prantos. Os olhos de Rio abriram-se e ele imediatamente olhou para Latifa, que estava deitada ao seu lado. Ela estava chorando com os olhos fechados ao lado dele. Era o choro noturno de uma criança, por assim dizer. Embora variasse de pessoa para pessoa, crianças que choravam à noite na idade de Latifa eram raras. No entanto, Rio não conseguia entender por que ela estaria chorando. Ela estava bem no dia anterior, afinal.
"Ei, qual é o problema? Você está bem? Você está ferida?" Rio a perguntou, impotente, ao ver suas incessantes lágrimas.
"Eek! Não.... Onde eu estou? Alguém me salve!" Latifa murmurou em seu sono como lágrimas continuaram a escorrer pelo rosto.
"Isso é.… japonês..." As palavras que vieram de Latifa eram de uma língua extremamente familiar para Rio — não, para Amakawa Haruto. Ele estava totalmente pasmo. No entanto, os olhos de Latifa permaneceram fechados.
"Ela estava... falando dormida?"
Rio percebeu que as palavras tinham sido involuntariamente ditas. Mas para uma mera conversa enquanto dormia, as palavras dela foram uma revelação chocante.
Latifa de repente agarrou firmemente a túnica que Rio usava como cobertor, puxando-a para mais perto para aproximar-se dele. Ela tinha se acalmado um pouco, agora, mas ainda não mostrou nenhum sinal de parar suas lágrimas.
"O que eu devo fazer..." Ele deve acordá-la, ou deve deixá-la dormir assim? Sem saber o que fazer, Rio simplesmente ficou ali, aturdido.
"Você está acordada?" Rio gentilmente tentou sacudi-la.
"Mamãe... Papai... Onii-chan", ela murmurou timidamente em japonês.
Rio franziu a testa com o sentimento insuportável dentro dele. Ela estava experimentando algum tipo de sonho? Ele não pôde deixar de imaginar que tipo de sonho poderia ser.
Dias aconchegantes e gentis. Vivendo em felicidade, todos os dias. Talvez fosse um sonho assim...
Mas esse sonho não duraria muito. Como se provasse sua teoria, Latifa chorou mais e enterrou seu rosto no peito de Rio.
Seu pequeno corpo se encaixava confortavelmente no peito de Rio, e sua pele branca, como porcelana, parecia tão delicada; frágil o suficiente para quebrar com um único toque...
Rio envolveu um braço em volta das costas de Latifa e a afagou gentilmente, como se tratasse de uma boneca de cristal. Ao mesmo tempo, ele cuidadosamente acariciou seu lindo cabelo laranja pálido, desenrolando os nós. Suas fofas orelhas de raposa se moviam, se contorcendo alegremente enquanto ele o fazia. Por um tempo, Rio continuou a acalmar Latifa, como um irmão mais velho acalmando sua irmã que chorava.
"Nngh..."
Eventualmente, a respiração de Latifa normalizou enquanto ela dormia. Rio soltou um suspiro de alívio. Ela ainda estava agarrando a túnica, mas ele não viu necessidade de se afastar dela à força, então ele deixou assim.
De repente, Rio foi completamente dominado por uma onda de fadiga mental. Eles haviam corrido durante todo o dia, acumulando exaustão até que ela se manifestou como uma sonolência que consumiu sua consciência.
Rio lentamente piscou suas pálpebras pesadas, fechou os olhos e deixou a escuridão do sono levar sua mente para longe.
Na manhã seguinte, quando Latifa acordou, ela se viu agarrada a algo acolhedor e reconfortante.
Ela esfregou sua bochecha contra esse algo em seu ofuscamento semiconsciente, só voltando aos seus sentidos uma vez que ela relutantemente afastou o rosto para longe disso. Depois de várias piscadas, ela percebeu em que estava se agarrando, e congelou em choque.
Ali diante dela, estava um garoto com traços bem definidos — Rio. Ele estava respirando pacificamente enquanto dormia.
Como, quando, por que ela estava se agarrando a ele? Perguntas incoerentes passaram por sua cabeça uma após a outra, fazendo com que Latifa entrasse em pânico.
P-Pensando bem.... Eu... estava chorando.... Isso não foi... um sonho, foi...?
Ela respirou fundo para tentar se acalmar ao relembrar os acontecimentos da noite passada, mas não conseguiu determinar o que havia sido um sonho e o que havia sido realidade.
No entanto, ela estava certa de que alguém a abraçou e a confortou com seu calor. Considerando sua situação agora, esses eventos provavelmente foram realidade.
Uma vez que Latifa chegou a essa conclusão, um constrangimento difícil de expressar em palavras surgiu. Seu coração bateu loucamente. Ela segurou a túnica de Rio com as duas mãos e hesitantemente fixou seu olhar em Rio mais uma vez.
"Fwah..."
As bochechas pálidas de Latifa ficaram vermelhas num instante, e ela acidentalmente deixou escapar um som atordoado.
"O cabelo dele... tão preto... Parece... Com ele? Com aquele irmão mais velho... Como um onii-chan.…"
Ela inclinou a cabeça enquanto olhava para ele com curiosidade.
"Ehehe. Onii-chan."
Latifa enterrou o rosto contra o peito de Rio mais uma vez, deixando um sorriso aparecer no rosto dela. Suas ações eram como as de um pequeno filhote furiosamente buscando afeto.
Depois de sentir o cheiro e a sensação de Rio por um tempo, Latifa lentamente levantou a cabeça para olhar para ele.
"Bom dia. Dormiu bem?" Rio a cumprimentou suavemente, olhando para ela com um rosto um pouco perturbado.
"Fweh?! Ah, eu.... Desculpa! Wah!" Latifa tartamudeou suas desculpas, levantando-se rapidamente em pânico e batendo a cabeça contra o teto baixo. Rio esfregou a cabeça de Latifa gentilmente.
"Está tudo bem, eu não estou bravo. Este lugar é apertado, então você precisa ter cuidado. Você está ferida?"
"E-Eu... Bem. Ehe. Eheheh." Latifa sorriu com alegria.
◇◇◇
Mais de dois meses se passaram desde a noite em que Latifa chorou enquanto dormia.
Atualmente, Rio e Latifa haviam cruzado as Montanhas Nephilim e atravessado a enorme área de terras não cultivadas depois delas, continuamente seguindo para o leste. Sem mapa, eles tinham que tatear o caminho, algumas vezes tomando desvios e outras vezes retrocedendo para buscar outra rota. Mas definitivamente estavam avançando, pouco a pouco.
"Rio-san! Desculpe, mas sinto o cheiro de algo estranho! Cheira como sangue de uma fera!" Enquanto os dois corriam por uma planície, Latifa o chamou. Ela perdeu muito do seu discurso gago ao conversar com Rio nos últimos dois meses.
Rio, que estava correndo na frente, sinalizou com a mão para uma pausa.
Como uma bestial do tipo raposa, o olfato de Latifa estava a ligas acima do olfato de Rio, mesmo quando ele melhorava seus sentidos através do encantamento de seu corpo físico. O nariz dela era capaz de identificar qualquer cheiro e processar a informação com precisão. Foi por isso que Rio depositou sua confiança no olfato de Latifa, pedindo que ela o avisasse sempre que cheirasse algo suspeito.
No entanto, gritar bem alto não era a melhor ideia.
"O sangue de uma fera... Pode haver uma besta carnívora por perto. De que lado o cheiro —"
No momento em que Rio estava prestes a pedir mais detalhes a Latifa, seu senso de audição aguçado captou os gritos estridentes de uma criatura reptiliana.
"O que foi isso agora...?"
"Algo está errado?"
Ver a súbita expressão perceptiva de Rio fez Latifa inclinar a cabeça em confusão. Após cerca de dez segundos de pausa, Rio localizou a origem do som estranho e olhou para o céu, muito acima deles. Havia um bando de criaturas misteriosas, negras, parecida com pássaros.
Eles dobraram as asas e mergulharam na direção de Rio e Latifa. Uma vez que reduziram sua resistência ao ar ao mínimo absoluto, fecharam a distância entre eles e Rio num piscar de olhos.
"Aquilo é uma ave.…?! Latifa, estão vindo em nossa direção, de cima!"
Rio gritou, levando Latifa a sacar a daga de sua cintura. No entanto, ela era esmagadoramente curta em alcance para lutar contra um inimigo que podia voar. Além disso, Latifa era incapaz de qualquer magia além de Augendae Corporis, então ela não tinha nenhum outro meio eficaz de ataque. Assim, ela só podia olhar para o grupo voador enquanto se aproximavam. Seu pequeno corpo tremia um pouco.
"Vai ficar tudo bem. Não se mexa!" Rio disse, manipulando a essência em seu corpo para formar dois pedaços de gelo em suas mãos. Então, ele balançou as mãos e arremessou os blocos de gelo parecidos com pedras no grupo de criaturas voadoras.
Os blocos gigantes de gelo atravessavam o céu como balas de canhão, colidindo com as criaturas como se estivessem absorvendo seus corpos, antes de partirem em vários pedaços e explodir as bestas misteriosas.
Mas o grupo de criaturas em si ainda estava cheio de vida. Sem parar para respirar, Rio lançou um segundo ataque. Isso derrubou mais duas criaturas do grupo no céu — e um deles caiu perto de Rio e Latifa. Rio deu uma olhada, antes de arregalar os olhos em choque.
Um dragão? Não, um semi dragão?!
A identidade da criatura semelhante a um pássaro que atacou Rio e Latifa era um semi dragão — semelhante a um dragão em aparência, é dito ser um membro da família dos dragões. Este grupo em particular era composto pela menor subespécie de semi dragões: o Lagarto Alado de três metros de comprimento.
A criatura que tinha caído diante de Rio tinha recebido um pedaço grosso de gelo direto na cara, mas ainda respirava fracamente. Eles não eram membros da família dragão à toa — seus corpos eram ridiculamente robustos.
"Kyaaah!"
Tendo quatro de seu grupo derrotados em tão pouco tempo, os Lagartos Alados restantes tornaram-se cautelosos, espalhando-se para cercar Rio e Latifa. Rio levemente franziu as sobrancelhas e liberou um terceiro ataque de blocos de gelo. No entanto, o vôo circular dos lagartos foi muito mais difícil de apontar em comparação com o caminho direto que eles tinham usado antes.
"R-Rio-san! Eles estão vindo todos de uma vez!"
"Sim, não vale a pena o esforço de derrubar todos eles. Vamos correr! Venha!"
Rio começou a correr, junto com Latifa atrás dele. Os dois fugiram como lebres assustadas, mas os Lagartos Alados também começaram a perseguição. Irritantemente, eles mantiveram uma distância não muito próxima e não tão distante, enquanto contornavam Rio e Latifa.
Acho que eles não vão nos deixar escapar tão facilmente, Rio pensou, voltando-se para olhar para trás e franzindo a testa. Era difícil obter uma vantagem sobre lagartos quando eles podiam voar.
"Hah... hah... hah..." Sua corrida em velocidade máxima com a bagagem já tinha feito a respiração de Latifa sair em arfadas ásperas.
Eles estão tentando esgotar nossa resistência, huh? Latifa não vai durar muito a essa velocidade. A situação só vai piorar nesse ritmo. Rio analisou a situação no local antes de chegar a uma decisão.
"Latifa, você vai na frente! Esconda-se atrás daquela colina ali."
"Huh? Ah... M-Mas!" A ordem repentina deixou Latifa perplexa; ela se opôs fortemente à ideia.
"Está bem, apenas vá! Vai ficar tudo bem, eu posso lidar com isso sozinho! Entendeu?!" Rio repetiu em um tom mais forte, antes de parar sem esperar por uma resposta.
Por um instante, a velocidade de Latifa diminuiu drasticamente. Mas ela estava mais do que dolorosamente consciente do quanto seria um fardo, então se concentrou em correr mesmo quando seu rosto estava todo envergonhado.
Um dos Lagartos Alados deslizou em direção a Rio.
"Lamento, mas você não vai passar por mim", murmurou Rio, removendo sua mochila antes de saltar no ar em direção ao lagarto. Ele agarrou sua espada longa com mão direita e a enfiou no corpo da criatura.
Bastante resistente! E duro!
Apesar de seu espanto com a sensação em sua mão, ele puxou sua espada de volta. Então, agarrou o pescoço da criatura e a puxou para mais perto dele, com um giro, montou sobre as costas dela com movimentos ágeis, e em seguida, a usou como um trampolim para atacar outro Lagarto Alado. O Lagarto Alado atualmente sob ataque tentou se desprender de Rio e afastá-lo, mas Rio reuniu essência em seus braços e aumentou sua força. Então, ele oscilou a espada enquanto eles passavam um pelo outro e cortou o pescoço da besta.
Imediatamente, Rio criou uma rajada de vento em sua mão esquerda e usou o impulso reverso para frear e pousar nas costas da criatura sem cabeça. Foi quando um novo Lagarto Alado tentou atacar Rio. Sem pestanejar, ele disparou outra rajada de vento contra a criatura em que estava. Seu corpo disparou para cima, fazendo com que as mandíbulas do lagarto atacando se fechassem em torno de nada além de ar.
Rio girou no ar e oscilou sua espada contra o pescoço estendido do lagarto de cima. Assim que fez isso, ele usou a magia com o braço esquerdo novamente e usou o impulso inverso para saltar nas costas do Lagarto Alado recém decapitado. Pousando nas costas da criatura, Rio embainhou sua espada na cintura e estendeu as duas mãos para cada lado, usando essência para criar grandes bolas de fogo. Ele as lançou em dois dos Lagartos Alados nas proximidades.
As bolas de fogo desenharam uma curva limpa no ar enquanto colidiam diretamente com as criaturas. Uma onda de choque ecoou do impacto, sacudindo o ar ao seu redor, mas o único dano que os Lagartos Alados sofreram foi ter seu equilíbrio perdido por alguns instantes.
Eles podiam ser semi dragões, mas ainda eram famosos por serem criaturas cruéis — sua pele era altamente resistente ao calor.
"Krraaah!"
O líder dos Lagartos Alados levantou sua voz estranha em protesto, respondendo ao que ele percebeu como uma ameaça — Rio. O grupo se espalhou em todas as direções e fugiu.
Enquanto isso, o lagarto em que Rio estava em pé seguia em rota de colisão com o solo. Pouco antes de fazer contato, Rio direcionou uma rajada de vento em direção ao chão para amenizar o impacto. A força do vento o soprou para trás, levantando-o no ar. Em seguida, ele maximizou o aprimoramento em seu corpo físico antes de pousar alguns momentos depois que o Lagarto Alado caiu no chão.
◇◇◇
Depois que Latifa conseguiu escapar sozinha, ela se deparou com uma ameaça diferente da que Rio estava enfrentando.
"Hah... Hah... H-huh?!"
Enquanto se escondia atrás da colina que Rio havia apontado e recuperava o fôlego, de repente ela percebeu o cheiro de outra coisa. Olhando em volta nervosamente, ela viu um Lizardman — outra subespécie de semi dragão como o Lagarto Alado. A sombra da morte pairava sobre ela; o medo rasgava seu coração.
"Eek?"
Corpo tremendo, Latifa preparou sua daga. De toda a experiência de assassinato que teve até agora, ela nunca esteve do lado sendo atacado.
O Lizardman tinha dois metros de altura e ostentava cinco metros da cabeça à cauda — quase como um dinossauro — com sua cauda tipo chicote, balançando-a de um lado para o outro.
Usando os movimentos enraizados dentro de seu corpo, Latifa saltou instintivamente. Ela virou uma vez no ar e apunhalou as costas do Lizardman com sua daga. No entanto, seus encantamentos físicos não foram suficientes para compensar sua força infantil. O leve ataque de sua daga só estimulou a criatura ainda mais.
"Ugh! É tão duro?!"
Diante do fato de que sua daga só podia arranhar a superfície de sua pele, Latifa arquejou. Quando o Lizardman soltou um rugido irritado com a dor maçante em suas costas, Latifa as usou como um trampolim para saltar para longe, em pânico. Aterrissando em uma clareira onde o grupo de bestas não havia se reunido, Latifa verteu sua força em suas pernas para se concentrar em uma fuga. No entanto, quando ela tentou correr, descobriu que os Lizardmen já tinham se reunido em volta dela.
Oprimida pelos números, o rosto de Latifa se contorceu com medo.
Se ela pudesse usar suas habilidades de batalha em sua capacidade total, seria capaz de criar quantas rotas de fuga ela quisesse. O que Latifa carecia em poder, compensava em velocidade, afinal. Contanto que se posicionasse corretamente, ela seria capaz de mantê-los afastados pelo tempo em que sua resistência pudesse aguentar. Então, uma vez que ela ganhasse tempo suficiente, Rio voltaria para salvá-la.
Mas Latifa tinha perdido a coragem desde o início, entrando demais em pânico para manter a calma, não muito diferente daqueles tempos em que ela tinha sido controlada pelo Colar de Submissão. Ela faria qualquer coisa para evitar uma situação onde teria que lutar até a morte.
Além disso, Latifa quase não tinha experiência lutando em algo além de uma situação de um contra um.
"Krraaah!" O Lizardman que ela cortou nas costas mais cedo rugiu, pulando em Latifa.
"Não!", ela gritou, saltando para longe dele com mais força do que o necessário. A inesperada reviravolta dos acontecimentos transformou completamente seu pânico em um caos interior.
Os Lizardmen pareciam perceber seu medo enquanto eles açoitavam suas caudas, como se zombassem dela. Latifa de alguma forma conseguiu escapar do ataque com seu salto, mas o caos dentro dela só ficou mais forte. Seus movimentos se tornaram mais e mais lentos.
"Kya?!" Eventualmente, Latifa tropeçou e caiu.
Ela tentou levantar-se com pressa, mas seu corpo desabou sob ela. Não havia força em seus braços.... Suas pernas também não se moviam.
Os Lizardmen pararam sua animada mostra de intimidação e lentamente avançaram.
"Ugh, ah... N-Não... S-Salve-me... O... Onii... chan.…" Latifa gritou, à beira das lágrimas, enquanto, passo-a-passo, a morte iminente se aproximava dela.
Salve-me... Era tudo o que ela conseguia pensar.
Na frente dela estava uma grande sombra — a boca babando e as presas afiadas de um Lizardman. Era o mesmo que Latifa havia ferido mais cedo; ele emitiu um grito penetrante enquanto abria suas mandíbulas amplamente.
Enquanto olhava para a criatura maligna diante dela com assombro, o rosto de Rio passou pela mente de Latifa. Ele a salvou depois que ela tentou assassiná-lo, cuidou dela, e era um pouco parecido ao jovem nas memórias de seu outro eu. Uma amável, e gentil pessoa.
"Onii-chan!"
Antes que ela percebesse, Latifa estava gritando esse nome — o nome que ela sempre quis chamar, mas nunca tinha sido capaz.
Nesse momento, um grande pedregulho veio voando do lado, facilmente levando o corpo do Lizardman para longe e fazendo com que os outros lagartos do grupo se agitassem com emboscada repentina. Latifa levantou-se o mais rápido possível e se virou na direção em que o pedregulho veio. Lá, em uma túnica preta, estava o garoto alguns anos mais velho que ela — Rio.
Uma luz de esperança acendeu nos olhos de Latifa.
Em contraste, os Lizardmen, instintivamente sentindo que tinham algo a temer, recuaram gradualmente.
Rio segurou sua espada, preparado, e liberou uma feroz e intimidante aura. Seus olhos castanhos pardos brilhavam de maneira cortante, observando os Lizardmen com atenção, antes de subitamente saltar adiante. Ele se moveu como o vento, fechando a distância entre eles e colocando-se diante de Latifa instantaneamente. Depois de cortar o pescoço do que estava na frente dele, ele pisou firmemente no solo. O chão diante dele se deformou, em resposta ao momento em que ele se atirou como uma lança para atacar os Lizardmen.
Embora ele não fosse capaz de causar dano efetivo contra os semi dragões de pele grossa, ele conseguiu romper sua formação. Saltando com essa chance, ele oscilou a espada para feri-los fatalmente.
"K-Krraaah!"
Depois de ter alguns de seus números reduzidos, o líder sinalizou a retirada, e o grupo de Lizardmen começou a recuar imediatamente.
Vendo suas figuras recuando, Rio soltou um pequeno suspiro. Ele deslizou a espada longa em sua mão direita de volta na bainha em sua cintura, em seguida, fez contato visual com Latifa.
"Desculpe. Os Lizardmen de agora estavam provavelmente em conluio com os Lagartos Alados de mais cedo. Seu objetivo era nos separar."
"... O-Onii-chan!"
Latifa perdeu toda a força em seu corpo, gritando "onii-chan" em voz alta enquanto chorava com os olhos abertos.
Rio não fazia ideia a quem "onii-chan" se referia, mas ele lentamente se aproximou e se ajoelhou diante dela. Latifa agarrou-se a ele.
"Onii-chan, eu estava com tanto medo!"
"Huh? Um.... Eu sinto muito."
Ela quis dizer eu quando disse "Onii-chan?", Rio hesitou por um momento, antes de estender a mão para afagar as costas de Latifa, sem jeito.
"Não... Obrigada. Por me salvar." Latifa sufocou seus soluços, e estendeu a mão para agarrar firmemente as vestes de Rio.
"Hum, a propósito", Rio começou com uma voz ligeiramente hesitante. Latifa levantou a cabeça para olhar o rosto de Rio.
"Você disse 'onii-chan'..."
Latifa levou alguns segundos para processar o significado das palavras de Rio. Percebendo quanto tempo ela passou olhando para o rosto dele em um transe, a fez corar de constrangimento.
"Err, ah, hum! D-Desculpe!"
"Não, não é algo pelo qual você precisa se desculpar..." Rio disse com uma cara conturbada pelo pedido de desculpas em pânico de Latifa.
"Huh? Realmente?!" A expressão de Latifa de repente se iluminou.
"Hm? O que você quer dizer?"
"E-Está bem se eu te chamar de onii-chan.…?"
"E-Eeh...?"
"Ou... Não... Você não iria querer isso..."
"Eu não me importo. Mas por quê?"
"Eu só pensei que seria bom ter você como meu Onii-chan.…" Latifa terminou suas palavras, em seguida, olhou para Rio nervosamente.
".... Entendo."
A expressão de Rio transmitia seu complicado, e difícil de descrever estado de espírito. Ele não achava que tinha feito nada excessivamente fraternal em sua jornada até agora. Sabendo que eles se separariam eventualmente, ele manteve Latifa à distância enquanto a tratava com uma disposição gentil. Era tudo o que Rio pretendia em suas interações com ela.
Mas o que Latifa pensou enquanto viajava com ele era uma história diferente. Desde aquela primeira noite em que ela chorou, ela rapidamente começou a abrir seu coração para ele. As emoções que ela suprimiu durante seus dias de escrava explodiram como uma represa quebrada.
Isso era compreensível — Latifa estava faminta. Faminta por gentileza, por carinho, por amor.... Fazia sentido que o objeto de seus desejos fosse apontado para Rio, aquele que a salvou, de uma forma quase dependente.
"Onii-... Rio-san. Sinto muito.", se desculpou Latifa, observando a reação de Rio com medo. Sua expressão era como um cabisbaixo filhote que havia sido abandonado. Rio suspirou com esse pensamento.
"Qualquer forma está bem."
"Huh?" A boca de Latifa se abriu, enquanto olhava em branco para Rio.
"Você pode me chamar como quiser." Embora ele soubesse que era um julgamento complacente, Rio não pôde deixar de dizer isso a ela. Ele tinha se tornado próximo à Latifa sem nem mesmo perceber.
"R-Realmente?"
"Sim, está bem."
"Ehehe..." Incapaz de segurar a risada que borbulhava dentro dela, Latifa sorriu alegremente.
Não, não havia necessidade de se conter. Fazia muito tempo desde que ela sentiu uma felicidade tão calorosa, afinal.
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