Capítulo 2: Garota Assassina

Quando Rio deixou a Companhia Rikka, os céus ocidentais já estavam ficando vermelhos. Uma vez que o sol se põe, os portões da cidade seriam fechados para qualquer tipo de tráfego entrando ou saindo.
Rio, no entanto, estava andando pela rua principal, à procura de uma pousada. Ele tinha seguido um cronograma bastante rigoroso em seu caminho para cá, e teve que dormir fora várias noites seguidas. Ele queria descansar em uma cama adequada pelo menos esta noite.
Ao olhar ao redor, ele podia ver placas de rua para pousadas praticamente em todos os lugares, mas ele não estava disposto a se contentar com qualquer lugar antigo: havia diferenças nas instalações que as pousadas podiam oferecer, e Rio estava procurando por uma com um banho.
No entanto, as banheiras da região de Strahl eram um pouco diferentes em aparência para uma que um japonês poderia imaginar. Isso deve-se, em parte, ao fato de que a água não está tão prontamente disponível aqui como no Japão, e à falta de desejo da população em geral de submergir-se na água do banho. Isso significava que as banheiras profundas o suficiente para submergir uma pessoa, simplesmente não existiam. Na verdade, a palavra "banheira" aqui referia-se a banheiras rasas que só tinham água suficiente para lavar o cabelo e o corpo.
Além disso, os únicos que se lavavam todos os dias eram membros da realeza e nobreza — plebeus nunca gastaria dinheiro em banhos. Isso significava que ter um balde cheio de água e dividir um espaço privado longe dos outros era suficiente para ser considerado uma instalação de banho bastante esplêndida.
Dito isso, mesmo esse tanto seria difícil de encontrar se Rio apenas vagasse por qualquer pousada barata, então, como um antigo japonês, ele era muito seletivo sobre o status da banheira na pousada que ele escolhia. Assim, enquanto Rio estava ponderando sobre suas escolhas...
"Ei, Onii-san!" Uma voz de repente o chamou por trás. Rio virou-se.
Havia uma garota local fofa, usando um largo vestido com avental, que parecia ser cerca de dois ou três anos mais jovem que Rio, fazendo com que ela tivesse cerca de dez anos de idade. A menina olhou para Rio com um sorriso brilhante e amigável.
"Hum, você quer dizer eu?" Rio perguntou, apontando para si mesmo.
"Sim! Você está procurando um lugar para ficar?"
"Sim, mas, quem é você?"
"Estou trabalhando naquela pousada ali! Você gostaria de vir ficar em nossa casa?" A garota perguntou, apontando para um edifício de madeira de três andares que se erguia sobre os arredores.
Ela agarrou-se firmemente ao braço de Rio, como se fosse sua maneira de se recusar a deixar um possível cliente escapar. Apesar da pouca idade, ela era muito boa em chamar a atenção nos negócios.
"Estou procurando um quarto de solteiro com uma banheira. Você tem algo assim disponível?"
Naturalmente, Rio não era capaz de dizer se as banheiras estavam incluídas olhando para a pousada do lado de fora, então ele pensou que seria melhor simplesmente perguntar a uma pessoa que realmente trabalha lá... Ainda mais se ela tivesse propositalmente vindo a ele pelos negócios. Com isso em mente, Rio apresentou suas condições para permanecer na pousada. A menina sorriu e assentiu.
"Sim! Só temos quartos individuais em nossa pousada. Ainda temos quartos disponíveis, e você pode até alugar uma banheira, também. Então.... Você vai nos escolher? Por favor?"
A sorriu alegremente, então olhou para Rio, tendo um vislumbre de seu rosto sob o capuz de seu manto. Seus olhos se abriram por uma fração.
"Eu acho que vou." Se ele adiar até tarde demais, havia uma chance de que todos os quartos livres da cidade pudessem ser tomados. Este lugar cumpriu suas condições, então Rio acenou com a cabeça, imediatamente decidindo por ele.
"Hehe, yay! Um hóspede, chegando! Siga-me, por aqui! Por aqui!" Com um leve rubor nas bochechas, a menina puxou Rio pelo braço com energia.
Ao entrarem na pousada, os dois se depararam com uma recepção vazia. Havia uma porta balançando à direita que levava ao refeitório, onde um pouco de agitação podia ser ouvido de dentro.
"A tarifa é paga antecipadamente. Serão sete cobres grandes por uma noite, jantar incluído. Você pode obter a banheira grátis como um bônus!" Ignorando a comoção dentro do refeitório, a menina explicou os preços em uma voz alta e clara.
O preço não era nem barato nem caro; para um plebeu ficar em uma pousada de qualidade média em um quarto individual, o preço era de se esperar. Para referência, ficar em um quarto compartilhado em uma das pousadas mais baratas teria custado menos do que um cobre grande.
"Aqui está, então." Rio entregou sete cobres grandes.
"Obrigada pelo patrocínio! Ah, isso mesmo.... Qual é o seu nome? Eu sou Chloe!" A garota perguntou com um sorriso inocente e profissional, adequado para sua idade.
"Eu sou Haruto."
"Haruto, tudo bem! Você provavelmente é um pouco mais velho que eu, certo? É um prazer conhecê-lo!"
"Sim, prazer em conhecê-la."
"Hmm... Você é meio calado. Você parece legal, Haruto. Deveria tirar o capuz e sorrir mais! Vamos lá, vamos ver esse sorriso!" Chloe fez beicinho com um leve olhar de insatisfação com a resposta calma de Rio.
"Haha..." Era difícil sorrir quando alguém pedia, mas Rio fez seu melhor.
"Hmm... Okay. Acho que isso é aceitável. Vou levá-lo para o seu quarto agora!" O sorriso voltou para o rosto de Chloe. Ela assentiu, então agarrou a mão de Rio e saíram.
Que garota animada, Rio pensou com um sorriso amargo. Depois de estar cercado por crianças impetuosas durante seus dias na Academia Real, conhecer alguém como Chloe, que realmente agia de acordo com sua idade, era bastante refrescante.
Eles marcharam até o terceiro andar, onde ficava o quarto de Rio. Tinha cerca de 10 metros quadrados de área, com nada além de uma cama dentro.
"Aqui estamos. Você só pode trancá-lo por dentro, então não deixe seus objetos de valor quando sair do quarto. É hora do jantar agora, então você pode descer para o primeiro andar quando estiver pronto. Ou você quer seu banho primeiro?" Chloe explicou na porta do quarto.
"Não, eu vou jantar primeiro."
"Entendido. Então me chame quando precisar da banheira e a água preparada. Acho que expliquei tudo.... Você tem alguma dúvida?"
"Não, estou bem."
"Ótimo. Bem, me avise se precisar de alguma coisa. .... Ah, isso mesmo! Muitos de nossos clientes são aventureiros, então tente não brigar com eles, certo?" Chloe acrescentou como um aviso anedótico.
"Tudo bem, entendi", disse Rio, assentindo um pouco cansado. Ele desejava que ela tivesse dito isso a ele durante a fase de negociação de sua visita, mas esses tipos de aventureiros poderiam ser encontrados em mais ou menos todas as pousadas, então ele cedeu.
Os aventureiros eram os “paus-para-toda-obra” que pertenciam a organizações chamadas grêmios de aventureiros, geralmente especializadas em trabalho sujo. Eles agiam como mercenários durante as guerras e exterminavam monstros e outras bestas perigosas durante tempos de paz. Assim, a maioria dos aventureiros tendiam a ser meio brutos. Era comum ver adultos bêbados brigando um com o outro diariamente.
"Tenha cuidado, certo? Mesmo que não sejam aventureiros, homens adultos podem ser muito estúpidos. Eles ficam bravos rapidamente e sempre recorrem a violência.... Você pode ser intimidado um pouco, mas como você ainda é uma criança, eles provavelmente vão deixá-lo em paz se você apenas concordar com eles", Chloe disse com insistência. Havia uma leve sombra sobre seu rosto.
"Está tudo bem, Chloe. Você tem trabalho a fazer, não tem? É melhor voltar antes que seja repreendida", respondeu Rio, dando um suave sorriso.
"Sim. Até mais tarde, então!" Com um aceno de cabeça, Chloe se virou. Mas antes de sair, ela parou abruptamente.
"Hum, se você tiver algum tempo depois do jantar... Adoraria falar um pouco mais com você. Gosto muito do meu trabalho, mas não tenho muitos amigos na minha idade", disse ela timidamente.
◇◇◇
Rio entrou no refeitório e encontrou um grande grupo de adultos de cara vermelha fazendo um grande barulho; parecia que o negócio estava crescendo na pousada. Alguns dos clientes estavam até usando espadas — aqueles eram provavelmente os aventureiros. Eles olharam para a figura encapuzada de Rio descaradamente, mas ele propositadamente ignorou seus olhares. Enquanto ele estava buscando um lugar para se sentar...
"Haruto! Bem-vindo! Aqui, este assento está livre."
Chloe, que trabalhava como garçonete dentro do refeitório, notou Rio e veio correndo. Mesmo com o capuz, ela o reconheceu instantaneamente por sua estatura. Rio deixou Chloe arrastá-lo para um assento próximo ao balcão.
"Vou trazer sua comida imediatamente. O que você gostaria de beber? A primeira bebida é por conta da casa."
"O que você tem?"
"As opções gratuitas são cerveja, vinho e hidromel. Oh, e chá com leite."
"Uma cerveja, então."
"Heh... Você pode beber algo tão amargo, Haruto?"
Não havia limite de idade para beber neste mundo, mas parecia que Chloe ainda não sabia das delícias da cerveja. Rio riu.
"Sim. Na verdade, estou com muita fome agora, então, pode trazer a comida rapidamente, por favor?"
"Entendido! Mamãe está muito orgulhosa da refeição que ela cozinhou hoje à noite, então você deve aguardar ansiosamente!" Chloe disse, antes de correr para a cozinha. Como se estivessem esperando o momento certo, dois aventureiros sentados em uma mesa próxima se levantaram.
"Heeey, garoto. Você não é um pouco jovem para beber cerveja, hein?"
"Isso. Fracotes como você deviam estar bebendo leite, não acha?"
"Me contem sobre isso!"
Provavelmente já estavam bêbados. Os homens de cara vermelha caíram na gargalhada enquanto tomavam os dois lugares de cada lado de Rio de uma maneira excessivamente familiar. Ele suspirou, sua expressão se contorceu com o fedor do álcool em suas respirações. Os outros homens próximos sorriram enquanto observavam, tratando o espetáculo como um aperitivo para acompanhar sua bebida.
"Ei, vocês! Não impliquem com Haruto. Deixem ele comer sua comida em paz, ok?" Chloe avisou os adultos, empurrando a refeição de Rio para ele do outro lado do balcão.
"Nós não estamos implicando com ele, Chloe-chan. Estávamos apenas começando uma conversa com uma criança que nunca vimos antes."
"Exato. Ele parece um aventureiro novato. Nós pensamos em dar algumas dicas, sendo mais experientes e tudo mais." Os homens argumentaram de volta para Chloe com sorrisos alegres.
"Caramba. Haruto, você pode ter quantas porções de pão e sopa quiser. Eu mesma assei o pão, sabia?" Chloe disse gentilmente para Rio depois de suspirar exasperada. O prato de madeira que ela ofereceu a ele estava cheio de comida.
"Uau, parece delicioso. Vou repetir depois", disse Rio, tirando os talheres que havia preparado de antemão do bolso e usando sua faca, garfo e colher para comer. Chloe disse que esta refeição era o orgulho de sua mãe, e ele podia prová-la.
"É ótima. Pode trazer a cerveja, também?" Rio pediu enquanto ele elegantemente levava a comida para sua boca.
"Oh, certo", Chloe assentiu distraidamente e voltou para a cozinha.
"Tch, olha os modos dele na mesa. Acha que você é um nobre, hein?" O homem sentado à direita de Rio estalou a língua entediado.
O refeitório estava cheio de pessoas comendo com as mãos, fazendo com que o uso refinado de talheres de Rio se destacasse. Isso fez parecer que ele estava colocando um ar de importância, para o desagrado dos outros na sala. Eles não acharam nada divertido.
Rio ignorou as palavras do homem e continuou a comer sua refeição silenciosamente, o que enfureceu ainda mais os homens. Eles finalmente estalaram de raiva.
"Escuta aqui, pirralho. Seus senpais estão falando com você agora. Pelo menos tire o capuz", disse o homem à direita de Rio, antes de audaciosamente pegar seu capuz. Slap! Rio bateu na mão estendida do homem sem olhar para cima. As expressões nos homens mudaram instantaneamente, e aquele que teve a mão esbofeteada olhou sombriamente para Rio.
"Parece que alguém precisa aprender algumas maneiras..."
"Eu poderia dizer o mesmo para você. Esta é a primeira vez que nos vemos, não é?" Rio suspirou, opondo-se ao homem com uma voz fria e fazendo-o franzir bastante a testa.
"O que você disse?"
A atmosfera azedou. Até...
"Tudo bem, parem, parem! Se quiserem brigar vão para fora!" Chloe, que estava no meio de trazer a cerveja, pulou entre eles em pânico.
"Vamos, Chloe-chan. Isso não conta como uma briga, certo? Ou você está dando a este pirralho um tratamento especial?" O homem cuja mão foi esbofeteada disse, claramente infeliz.
"Essa não é.… minha intenção..." Chloe encolheu com o olhar escuro que o perigoso homem lançou para ela.
"Então feche essa matraca. Vou ensinar boas maneiras a esse garoto. Ei, garoto! Tire o capuz e fique de joelhos. Eu vou perdoá-lo se você fizer isso." O homem à direita de Rio ordenou irracionalmente com um olhar afiado.
No entanto, Rio continuou a desfrutar de sua refeição silenciosamente, o que deixou os homens mais zangados ainda. Os espectadores ao redor deles riram com a visão.
"He, ele está ignorando eles."
"Eles estão sendo menosprezados. Bem feito", disse alguém zombando.
"V-Você..." Os dois homens começaram a tremer de raiva por serem humilhados.
"H-Haruto! Apresse-se e tire seu capuz!" Chloe com medo instou Rio a obedecer.
".... Eu não quero." Rio deu um sorriso desconfortável e balançou a cabeça para Chloe.
"Então você vai ignorar o que dizemos e só responder a Chloe-chan. É isso? É assim que vai ser, hein?"
"De que outra forma eu deveria responder a alguém que claramente se aproximou de mim com má intenção? Se houver uma resposta correta, por favor, me informe", perguntou Rio ao homem com um efeito cansado na voz.
Envolver-se com algo assim não é nada além de problemas.
Rio tinha sido criado nas favelas onde o poder era tudo, mas ele descobriu que a sociedade dos aventureiros era bastante semelhante, de fato. A maneira como ambos os grupos pensavam era extremamente simplista. Para ambos, ser menosprezado era o equivalente à derrota, porque seus meios de subsistência dependiam de sua força. Eles não podiam mostrar qualquer fraqueza. Mesmo que Rio se desculpasse aqui, não havia garantia de que o perdoariam. Eles simplesmente empurrariam suas acusações ainda mais, dizendo algo ao longo das linhas de: "Se desculpar significa que você admite que foi sua culpa."
".... Uma resposta certa? Não mude de assunto. Agora estou perguntando como você vai compensar isso. Tudo o que você precisa fazer é pedir desculpas." O homem cuja mão Rio esbofeteou insistiu em fazer as coisas do seu jeito. Rio soltou um suspiro zombador antes de mover uma fatia de carne em direção à sua boca.
"Você quer mesmo aprender as coisas do jeito mais difícil, pirralho?" Os homens se levantaram de seus assentos com um barulho alto.
"Ei Gene, Assil. Vocês não deviam ensinar uma lição ao garoto?"
"Sim, ele precisa ser derrubado do seu cavalo alto um pouco. Ainda mais sendo um novato e tudo isso. Ensinem a ele as regras de viver como um aventureiro por aqui." Os homens sentados nas proximidades tentaram irritar ainda mais os homens que incomodavam Rio. Chloe tentou falar contra eles, mas foi silenciada com um único olhar afiado. Ela fechou a boca com medo.
"Levante", disse o homem cuja mão foi esbofeteada mais cedo, agarrando Rio pelo colarinho com a mão esquerda.
O homem tinha quase dois metros de altura, então aos doze anos de idade e com 160cm de altura, os pés de Rio facilmente pendiam no ar. No entanto, o ato de agarrar o colarinho de alguém em uma luta geralmente não era nada mais do que um ato de intimidação; ele ocupa suas mãos e deixa você indefeso para contra-ataques.
"Haha, típico de Gene e sua força bruta. Vá e pegue ele, cara!" Os espectadores incitaram o homem que segurava Rio.
Se este é Gene, então o outro deve ser Assil.... Não que isso importe. Rio lançou seu olhar frio sobre os dois homens uma vez.
"Tch, você é um pirralho imprudente." O homem chamado Gene estalou sua língua, murmurando com o hálito fedendo a álcool.
"Você fede. Poderia parar de falar.... Não, parar de respirar em mim?" Rio perguntou infeliz, torcendo seu rosto.
"Você pediu por isso agora."
Gene fez um punho com a mão direita e o apontou para o rosto de Rio. Mas Rio moveu as mãos facilmente, e no momento seguinte —
"O-Oww!" Gene gritou. Rio agarrou com agilidade a mão esquerda de Gene e a torceu, permitindo que ele empurrasse o corpo dobrado de Gene para o chão.
Gene fez uma careta de onde ele estava pressionado; ele ainda tinha que processar o que havia acontecido. O mesmo aconteceu com todos os outros que os observavam.
"H-Hey! O que você fez com Gene?" Assil exigiu, espantado.
"É legítima defesa, obviamente", respondeu Rio sem rodeios.
Mas não era isso que Assil queria saber. Ele estava falando sobre como Rio tinha prendido Gene tão facilmente, mas Rio não estava disposto a revelar isso.
"Por quanto tempo você vai manter isso?! Solte Gene agora!" Assil cerrou os punhos impacientemente e tentou socar Rio.
Rio soltou Gene e rapidamente se esquivou dos punhos que se aproximavam. Eram apenas os socos de um bêbado trêmulo, e Rio não teve dificuldade em ler a trajetória e evitá-los.
"Pare de se esquivar!"
Assil ofegou, mas não importa quantas vezes ele tinha dado seus socos, eles nunca fizeram contato com Rio. Mas ele insistentemente continuava golpeando, então Rio o fez tropeçar. Assil voou pelo ar.
"Não posso fazer isso", disse Rio, rindo da figura caída de Assil após sua patética queda.
"V-Você..." A raiva de Assil fez com que ele pulasse de pé, mas de repente congelou quando viu quem estava atrás de Rio. Era Gene, e ele tinha sacado a lâmina escondida em sua cintura.
Enquanto isso, Rio havia notado a presença de Gene há muito tempo.
"Se você usar isso, eu não vou me conter também." Ele olhou para trás, cautelosamente, e ofereceu esse único aviso.
"Cale a boca! Como se eu pudesse deixar você me humilhar mais do que isso.... Eu não vou perdoá-lo, mesmo se você implorar, seu pirralho maldito!" Gene gritou furiosamente.
De repente —
"Não derramem sangue na minha pousada!"
Uma mulher que parecia ser a proprietária da pousada saiu da cozinha, guiada por uma Chloe aterrorizada. Ela parecia estar em seus vinte e poucos anos; esta era provavelmente a mãe de Chloe.
Normalmente, os guardas da cidade não agiam contra uma briga entre dois bêbados em uma pousada, mas, mesmo eles não podiam ignorar brigas que resultavam em cadáveres.
"Heeey, Rebecca, querida. Desculpe, mas temos que defender nossa honra e tudo isso. Não podemos deixar isso passar tão facilmente", disse Gene, olhando para Rio com um olhar enlouquecido nos olhos. Não era que ele estava relutante em recuar; ele claramente não tinha intenção de recuar.
O fato de ele estar muito bêbado para processar calmamente seus pensamentos teve um grande papel em sua tomada de decisões.
Rio olhou de volta para Gene, que estava a instantes de atacá-lo. Se você não quer perder a cara pegando brigas com bêbados, então você deve viver mais modestamente, ele pensou para si mesmo em exasperação.
Mas Rio não tinha intenção de expressar esses pensamentos em voz alta e abanar as chamas. Ele já teve o suficiente com esses dois bêbados problemáticos diante dele, e só queria voltar para o quarto e descansar. Para ele, Gene e Assil não eram oponentes que valem a pena lutar, então ele não queria se envolver mais em problemas do que já estava.
Ah, bem. Se eles vão atacar, gostaria que fizessem isso rapidamente. Assim, o que quer que eu faça será em legítima defesa, pelo menos.
Os pensamentos de Rio começavam a tomar um rumo perturbador, mas suas palavras só podiam trazer desastres. Ele provavelmente poderia provocá-los para atacar com algumas provocações genéricas, mas alegar que foi legítima defesa não funcionaria muito bem depois de convidar o problema ele mesmo. A luta seria considerada culpa de ambos dessa forma. Para estabelecer a situação como um ato inegável de legítima defesa, ele tinha que garantir que Gene o atacasse sem provocações, de forma clara.
Foi por isso que Rio transformou o canto da boca dele em um sorriso de escárnio, de uma maneira que só Gene veria. Gene deu um estalo rancoroso com sua língua e se lançou na direção de Rio com força total.
"Gene-san!" A proprietária Rebecca gritou, mas Gene não parou. Ele empurrou o punhal em sua mão direita para a frente, com o objetivo de esfaqueá-lo no ombro de Rio.
Com um pequeno suspiro, Rio estendeu a mão direita em direção ao punhal que se aproximava. O punhal de Gene e a mão de Rio cruzaram, mas nenhuma gota de sangue foi derramada. Em vez disso, o grande corpo de Gene voou pelo ar. Rio tinha afastado a mão com o punhal e o fez tropeçar golpeando os pés do homem, antes de jogá-lo sobre seu ombro. Gene colidiu em Assil, mandando os dois para o chão. Claro, Rio deixou Gene e ele mesmo ilesos, mas — “Gah! Oww...”
O punhal de Gene estava preso na coxa de Assil. O impulso da queda provavelmente o virou na mão de Gene. Assil gemeu de dor, segurando a área ferida com um rosto pálido.
"A-Assil-san! Você está bem?!" Rebecca deixou o balcão em pânico.
"A-Assil? Eu sinto muito!" Gene se desculpou pelo choque.
"Oww, oww..."
Ver o rosto de Assil torcido em agonia fez com que Rebecca e Gene perdessem a calma. "S-Seu pirralho! O que você fez com Assil?" Gene virou todo o peso de sua raiva sobre Rio.
"O quê? Foi um caso de legítima defesa. Você quem é terrível aqui, esfaqueando seu amigo dessa forma", respondeu Rio com uma voz sincera.
Apesar de ter sido um caso de legítima defesa, Rio sentiu um forte sentimento de repulsa por cruzar a linha do assassinato — por causa de Amakawa Haruto dentro dele. No entanto... Ele foi contaminado o suficiente pelos valores deste mundo para ignorar apenas um pouco de dano inevitável. Foi por isso que ele não conseguiu encontrar em si mesmo nenhuma pena pelos homens que se machucaram implicando com os outros para sua própria diversão.
"O quê? Você foi quem fez isso!" Gene ficou irado com as palavras de Rio, incapaz de aceitá-las.
"O punhal estava em sua mão. Já que foi você quem decidiu me atacar com ele, minha autodefesa foi mais do que justificada. Ou você está me dizendo para calar a boca e me deixar ser esfaqueado?"
"Qu... N-Não, mas..." Gene hesitou, pressionado pelo tom e olhar indiferentes de Rio.
"Você deve parar o sangramento rapidamente. Não é uma ferida fatal, mas também não é algo que você deve ignorar", disse Rio, fazendo Gene voltar para Assil com um sobressalto.
Rebecca estava tentando fazer os primeiros socorros de emergência nele, e já tinha ordenado Chloe a buscar um pouco de álcool e um pano limpo.
"Vou remover o punhal e esterilizar a ferida. Vai doer, mas você vai ter que suportar isso", disse Rebecca, antes de tirar o punhal da coxa de Assil. Ele gritou de dor.
Rebecca lavou a ferida com álcool, depois enrolou-a com o pano, instantaneamente o manchando com o vermelho do sangue.
"O-O que devemos fazer? O sangue..." A regra inflexível de interromper o fluxo sanguíneo era colocar pressão na artéria mais próxima do coração. No entanto, amadores tendem a entrar em pânico e acabam apenas colocando pressão sobre a ferida em si. Rebecca era um exemplo clássico de tal amador, já que a visão do pano vermelho brilhante a deixava desorientada.
.... Esses tolos tiveram o que merecia, mas suponho que a proprietária não tem culpa...
Os únicos envolvidos na luta foram Rio, Gene e Assil — Rebecca era uma terceira parte inocente. Vê-la desesperadamente tentando conter o fluxo de sangue, apesar de sua falta de envolvimento, era mais do que Rio poderia suportar.
Com um suspiro, ele se aproximou de Assil.
"Por favor, mova-se."
"Huh?"
Ignorando a voz confusa de Rebecca, Rio facilmente levantou o grande corpo de Assil. Ele só foi capaz de fazer isso secretamente melhorando seu corpo físico com essência. Mas para todos ao seu redor — incluindo Gene e Rebecca — fez parecer que ele tinha uma tremenda força, fazendo com que todos congelassem em confusão.
Rio levou Assil para um canto da sala e desamarrou o curativo de pano improvisado, localizando o ponto de pressão adequado para conter o fluxo sanguíneo e o amarrando mais apertado. Então, ele colocou a mão sobre a ferida e recitou o feitiço para a cura.
"Cura."
Uma luz mística e leve foi emitida da mão de Rio. No entanto, nenhuma fórmula mágica — ou seja, nenhum círculo mágico — apareceu ao lado dele, porque a constituição peculiar de Rio o impedia de realizar magia. Em vez disso, ele imita o fluxo da essência em uma fórmula mágica para realizar o mesmo fenômeno que a própria magia. Para qualquer um com o mínimo conhecimento de magia e fórmulas mágicas, as ações de Rio pareceriam extremamente suspeitas. Não importa os quão poucos plebeus pudessem lidar com magia, usar tais habilidades sobrenaturais na frente dos outros era suficiente para causar preocupação. Foi por isso que Rio o levou até este canto, onde os espectadores não conseguiam ter uma visão clara de seu tratamento.
Felizmente, Assil estava apertando os olhos fechados para evitar olhar para sua perna manchada de vermelho, dando a Rio a chance de curá-lo apenas o suficiente para fechar a ferida. Mais uma vez, ele levou Assil para onde eles estavam antes e o deitou, desamarrando o pano que estava pressionando o fluxo sanguíneo.
"Eu parei o sangramento, mas você vai precisar se abster de qualquer atividade brusca por pelo menos uma semana. Caso contrário, a ferida se abrirá novamente. Vai doer, mas você deve estar bem para caminhar de novo a partir de amanhã", explicou Rio indiferentemente para todos ali. Eles mal estavam ouvindo, com seus queixos caídos em choque. Um silêncio caiu sobre a sala por um momento. Então —
"S-Sério isso...?"
"Ele o curou com magia?"
"Ei, ele pode ser mesmo um nobre?"
"Merda, isso é ruim. Tocar um nobre pode levar à pena de morte."
Instantaneamente, murmúrios de medo e agitação se espalharam pela sala. Rio, no entanto, observava as reações de quem estava na sala friamente, procurando por alguém que notasse a irregularidade em suas ações. Como resultado, ele determinou que ninguém havia notado nada estranho. Uma vez que chegou a essa conclusão, ele não tinha mais qualquer razão para permanecer no refeitório.
"Chloe", Rio chamou o nome da garota congelada atrás do balcão. Ela estava no meio de levar um balde de água para lavar o sangue da sala. No momento em que Rio a viu sobressaltar e tropeçar para trás com seu pequeno e assustado corpo —
"... Desculpa. Não é nada. A comida estava deliciosa.... Obrigado pela refeição." Rio deu um leve sorriso triste e voltou para seu quarto.
◇◇◇
Na manhã seguinte, Rio deixou a pousada antes mesmo do sol nascer.
"Muito obrigada por curar aquele hóspede ferido na noite passada. A situação foi contida por sua causa", disse Rebecca, inclinando a cabeça profundamente para Rio na recepção.
"Por favor, não se preocupe com isso. Não é algo pelo que devia estar me agradecendo, senhora". Rio balançou a cabeça com um sorriso forçado.
"Não, a culpa foi minha... Eu não intervi mais cedo."
"Aventureiros brigando em bares é uma ocorrência diária. Você não pode se dar ao luxo de separar cada um deles. Os culpados aqui são as partes envolvidas: eu, e os outros dois homens." Rio defendeu Rebecca para que ela não se sentisse tão culpada.
Ontem à noite, Rebecca foi quem levou água e um balde para o quarto de Rio. Ela já havia se desculpado inúmeras vezes nesse intervalo, fazendo Rio se sentir muito mal por ela.
"Então, por favor, não deixe que isso a incomode. Bem, eu devo partir agora", disse Rio, tentando sair o mais rápido possível.
"Hum, você gostaria de levar um bentō com você em vez do café da manhã? Por favor, espere aqui apenas um momento, eu vou embalá-lo agora! Também vou devolver suas tarifas do seu quarto." Rebecca pegou uma bolsa de moedas do balcão; ela provavelmente tinha preparado antes. Rio balançou a cabeça, um pouco agitado.
"Não há nenhuma forma que eu possa aceitar um reembolso. Eu recebi mais do que suficiente serviço desta pousada."
"Então deixe-me fazer o seu bentō, pelo menos. O café da manhã está destinado a ser incluído nas tarifas, afinal."
Sem esperar pela resposta de Rio, Rebecca colocou a bolsa de moedas no balcão e se apressou para a cozinha.
Ela é uma pessoa boa e honesta, mas ao invés de emitir uma aura sábia, ela parece ser do tipo que é enganada facilmente... Rio tomou nota de sua impressão de Rebecca. Ele olhou para a cozinha para ver Chloe e outra garota desconhecida em um avental o observando de volta. Elas se esconderam no momento em que seus olhares se encontraram com o de Rio.
Chloe... e sua irmãzinha? Ela é jovem.
Enquanto Chloe tinha cerca de 10 anos, sua irmã era claramente muito mais jovem. Ter alguém tão jovem ajudando na pousada forneceu evidências mais do que suficientes de que Rebecca estava lutando.
Este lugar está sendo administrado por três garotas? Não vejo nenhum sinal do marido. Rio não viu um proprietário desde que entrou nesta pousada. Ele tinha pensado que o homem poderia estar trabalhando na cozinha, mas a cozinha estava sendo administrada por Rebecca.
.... Bem, que seja.
Não tinha nada a ver com ele, então Rio decidiu não meter mais o nariz nos negócios delas. Foi então que Rebecca voltou com um bentō bem cuidadosamente embrulhado.
"Desculpe pela espera. Eu o embalei cheio de comidas e pães do café da manhã. Chloe acordou cedo para assá-los, então eu espero que você goste."
"Obrigado por tudo. Por favor, também diga a Chloe que—"
"Ei! Estou de volta!"
Enquanto Rio a estava agradecendo com um sorriso, um homem bêbado entrou na pousada. Ele avistou Rebecca e cambaleou até ela.
"Querido! Não me diga que você está voltando bêbado de novo!"
"Cale a boca! Eu posso beber quando eu quiser!" Com um grito, o homem de repente golpeou Rebecca.
Rio ficou surpreso, descobrindo que este era seu marido. E a julgar pela forma como ele estava voltando para casa bêbado nas primeiras horas da manhã, ele provavelmente não era um bom.
Um sentimento insuportável tomou conta de Rio, mas ele não queria agir sobre isso e complicar seus assuntos familiares mais do que já estavam.
"Ugh..."
Mas ele não pôde evitar se sentir perdido enquanto via Rebecca tocar onde ela foi golpeada com dor. Rio suspirou e se aproximou dela. Ele fingiu recitar um feitiço, e manipulou sua essência para curar a dor dela.
"Huh? Não... dói mais? O-Obrigada!" Rebecca ficou surpresa com o desaparecimento da dor, mas imediatamente entendeu o que Rio tinha feito e abaixou a cabeça em gratidão.
"O quê? O que ele fez?" Enquanto isso, o marido dela olhou para Rio duvidosamente. Ele não entendia o que Rio tinha feito, e estava de pior humor depois de ver Rebecca sendo defendida.
"Pare com isso! Esse é um dos nossos hóspedes!" Rebecca tentou ficar na frente do marido, em pânico.
Você só vai ser agredida de novo fazendo isso...
Rio estava farto. Ele sabia que ela era uma mulher com um alto senso de responsabilidade, mas isso era bastante sem sentido.
Com certeza, o temperamento de seu marido incendiou, e ele tentou bater nela mais uma vez. Com um suspiro, Rio fechou a brecha entre eles, neutralizou os movimentos do homem e tocou suavemente a cabeça dele.
"Purgo."
A mão de Rio começou a brilhar levemente enquanto ele recitava um falso feitiço mais uma vez. Vários segundos se passaram até que o marido recuperou os sentidos.
"É uma magia de desintoxicação. Você se sente melhor agora?" Rio perguntou em tom frio.
"Hein...? S-Sim. Desculpe por isso", disse o marido, perplexo com o estado de sua mente tornando-se repentinamente claro.
"Não se desculpe comigo, desculpe-se com Rebecca-san", disse Rio com uma voz cansada, olhando para a mulher. Seu marido virou-se para a proprietária com um olhar de culpa no rosto.
"Desculpe."
Embora ele era um bêbado furioso, não parecia ser irracionalmente violento quando sóbrio.
"E-Eu realmente sinto muito pelo problema!" Rebecca abaixou a cabeça para Rio em extrema gratidão.
"Não, sou eu quem deveria me desculpar. Obrigado pelo bentō. Agora, adeus." Rio optou por se despedir antes que as coisas ficassem mais complicadas, então deixou a pousada.
Bem, isso na verdade não resolve nada...
A cena que tinha acontecido na pousada bem agora, provavelmente ocorreria novamente no futuro. Suas ações foram sem sentido.... Uma solução temporária, na melhor das hipóteses. Esse pensamento deixou sua manhã um pouco mais sombria.
Hora de seguir em frente. Ele decidiu deixar a cidade e também seu mau humor para trás o mais rápido possível.
Depois de caminhar para o leste ao longo da estrada na floresta por um tempo, Rio verificou se havia alguém por perto, antes de deliberadamente desviar-se da estrada. Ainda era de manhã cedo, então a neblina da floresta tornava tudo difícil de ver. Rio calmamente começou a correr.
Pouco depois de mudar de ritmo, ele descobriu uma figura deitada no chão em seu caminho. Ele seguiu em direção da figura para ver que uma pessoa estava lá, deitada de bruços.
Mesmo um passo fora dos muros da cidade expõe você ao risco de ser atacado por monstros e animais carnívoros; esse risco aumenta exponencialmente uma vez que você entra na floresta propriamente dita. Essa pessoa poderia ter sido potencialmente o resultado desse risco — mas, também era possível que tivesse colapsado no meio de sua jornada.
Com esse pensamento em mente, Rio se aproximou do corpo.
Usava uma túnica que cobria toda a sua figura. A julgar pelo tamanho, Rio pensou que era uma criança.
Por que uma criança está aqui...?
Era um pouco inquietante, mas abandoná-lo deixaria um gosto ruim na boca de Rio, então ele relutantemente decidiu chamá-lo.
"Ei, você está bem?", perguntou ele enquanto o sacudia, mas não houve reação, embora ele pudesse sentir algum calor corporal através da túnica.
Então ainda estava vivo — Rio relaxou por um momento e tentou espiar seu rosto através da brecha em seu capuz.
De repente, a pessoa — uma menina, ele percebeu — abriu os olhos; eles emitiam uma leve intenção assassina. Rio direcionou seu olhar para a mão da menina, apenas para ver uma daga com uma longa lâmina sendo agarrada.
A garota empurrou a daga em direção ao corpo de Rio, mas ele retrocedeu rapidamente, evitando o ataque. A daga da garota cortou o espaço vazio, não o acertando por pouco. No entanto, parecia que ela esperava essa evasão, já que ela se movia perfeitamente para usar um seguinte ataque.
Depois de reunir ar em seus pulmões, a menina soprou algo em direção ao pescoço de Rio. Em sua boca havia um pequeno cachimbo semelhante a uma flauta — uma zarabatana.
Rio sentiu uma pontada de dor no pescoço, fazendo-o franzir a testa. Mas ele sabia que tinha que criar distância entre eles, antes de tudo, e empurrou reflexivamente a menina para longe, enquanto dava um passo atrás.
O capuz da garota deslizou para trás, revelando um rosto muito bonito e cabelos laranja pálidos que chegavam até seus ombros. Ela parecia ser dois ou três anos mais jovem que Rio, mas havia uma quantidade aterrorizante de intenção assassina à espreita, em seus olhos escarlates. Duas fofas orelhas de raposa surgiram de sua cabeça, exigindo fortemente atenção à presença delas.
Uma bestial?! Os olhos de Rio se arregalaram com as características da garota. De repente, toda a força em seu corpo se esvaiu enquanto ele caia sobre um joelho.
O dardo de sua zarabatana estava coberto com um veneno de ação rápida, Rio determinou. Ele tirou o dardo do pescoço com a mão trêmula. Então, antes que o veneno pudesse percorrer por todo o corpo, ele cobriu a ferida com a mão e secretamente começou a neutralizar o veneno sem que a garota percebesse.
A garota assumiu que ele não tinha nenhum antídoto e observou, esperando o veneno circular através dele.
Enquanto isso, conforme Rio administrava sua habilidade de desintoxicação, ele observava cuidadosamente o rosto da garota. Ele tinha lido sobre eles em livros antes, mas esta era a primeira vez que ele via um bestial de verdade.
Bestiais e outros semi-humanos raramente eram vistos se alguém vivesse uma vida normal na região de Strahl, justificando assim a surpresa de Rio.
Os dois se encaravam enquanto Rio continuava a remover o veneno de seu corpo. Uma vez que ele se considerou pronto — e verificou a força e firmeza de seu agarre — ele deu à garota um pequeno sorriso. A garota finalmente notou que a cor estava, por algum motivo, retornando ao rosto de Rio. Surpresa cintilou em seu rosto sem emoções.
Rio ficou de olho na garota por qualquer movimento enquanto ele tirava a mochila e a colocava no chão, tornando-o instantaneamente mais leve. Agora, ele estava pronto para uma luta.
No momento seguinte, a garota irrompeu numa corrida em direção a Rio com uma velocidade tremenda. Ela provavelmente tinha usado Augendae Corporis de antemão, mas mesmo que usasse — Ela é muito rápida!
Rio ficou surpreso com a explosão de sua velocidade; de todas as pessoas que ele conheceu, até agora, ela era definitivamente a mais rápida. Apesar de sua pouca idade, suas habilidades naturais como uma bestial provavelmente tinham despertado..., mas isso não significava que Rio ficava para trás dela. Ele podia manipular sua essência para permitir que seu corpo ultrapassasse seus limites físicos, e extrair suas habilidades também.
Rio deixou sua essência fluir para fora de seu corpo, o que o fortaleceu instantaneamente. Então, em uma velocidade que era igual à da garota, ele mergulhou para o lado. Os olhos da garota se abriram ligeiramente com a velocidade de Rio, mas ela mudou sua trajetória para combinar com a dele.
Então ela é capaz de acompanhar...
Rio rastreou seus movimentos calmamente enquanto tirava um punhal de sua túnica. Ele jogou na perna dela, mas a garota pulou para evadir. Ela agarrou um galho de tamanho moderado e puxou-se, pulando levemente de galho em galho para subir em uma árvore. Rio começou a correr — tão rápido quanto o vento, ele atacou diretamente a garota, fazendo-a vasculhar sua túnica em pânico. Ela pegou vários punhais de arremesso e os lançou em Rio.
Rio sacou sua espada longa de sua bainha no ar; embora não fosse nada chamativa, um ferreiro bastante famoso havia forjado sua afiada lâmina.
Como prova disso, a lâmina da espada brilhava nitidamente. Rio oscilou sua espada nos punhais que se aproximavam —
O som estridente de metal colidindo com metal ecoou por toda a floresta. Rio havia previsto a trajetória dos punhais da garota e os derrubou sem muitos problemas. Ele devolveu a espada à sua bainha enquanto a garota rapidamente descia da árvore. Ao mesmo tempo, Rio pulou na árvore onde ela estava até poucos instantes atrás.
A força de seu salto quebrou o galho abaixo dele, fazendo-o mover-se para outro galho próximo. Depois, ele voltou para o chão mais uma vez..., mas a garota se aproximou dele, como se tivesse antecipado o momento de sua aterrissagem. Ela empurrou a daga da mão direita em direção ao torso de Rio, mas ele calmamente moveu sua mão esquerda, desviando o ataque da daga. Ele, então, moveu a mão direita também; usando a palma da mão, ele rebateu o ataque da garota com um golpe em seu queixo. Mas a garota moveu a cabeça para o lado, evadindo a palma de sua mão. Ela girou a daga na mão, tentando outro golpe no corpo de Rio.
Provavelmente havia veneno na daga também.
Rio usou seus impecáveis movimentos defensivos e seu refinado jogo de pernas para continuar a esquivar-se habilmente dos ataques dela, mas a garota se recusou a desistir. Ela tentou acertar mais um ataque.
Seus ataques ferozes continuaram por um tempo, mas Rio observou seus movimentos meticulosamente, e evitou cada um dos ataques com simples precisão. Apenas o lamentável som da lâmina cortando através do espaço vazio ecoou pelo ar.
Eventualmente, a garota ficou ciente da diferença em suas habilidades. Seu rosto sem emoções começou a mostrar sinais de impaciência à medida que seus movimentos gradualmente se tornaram mais bruscos. Rio tinha visto através dos hábitos da garota, e neste momento, estava deliberadamente criando chances para ela atacar. A garota caiu completamente na armadilha, oscilando a daga horizontalmente em direção ao rosto dele.
Você está se concentrando demais na daga.
Rio se lançou para trás para evitar a daga. Simultaneamente, ele acertou um chute nos pés da garota no momento em que ela oscilou sua arma e a desequilibrou. Ele então agarrou os braços da garota e a desarmou, jogando fora a daga dela com vigor. Ele arremessou a garota de costas para uma árvore, mas ela girou no ar para recuperar o equilíbrio e aterrissou na árvore com os dois pés, negando seu ímpeto. Ela usou o tronco como um trampolim, e lançou-se de volta no ar, sacando uma daga reserva do bolso.
Ela a empurrou para a frente, apontando para o coração de Rio.
É como observar um animal se mover... Rio se viu admirado com os sentidos de combate da garota, mas ele lidou com isso calmadamente.
Agarrando seu braço enquanto ela se lançava em direção a ele, ele a jogou sobre seu ombro e no chão com força.
"Guh...!" Ela recebeu a violência do impacto contra as costas desta vez, soltando um gemido de dor. A força em seus membros cedeu, fazendo-a soltar a daga. Rio chutou a daga e montou no corpo da garota, contendo-a.
"Acabou. Você pode entender o que eu digo, certo?", disse ele, pressionando seu peso sobre ela. Ele não perdeu o breve lampejo de medo nos olhos sem emoções da garota.
"Uuh... Uwah! N-Não! Não! Nããão! Eu…não quero morrer...!" Ela se debateu, balançando a cabeça violentamente, como se perdesse a compostura.
"E-Ei, acalme-se!" Rio disse, tentando acalmar a garota desesperada.
"E-Eek! S-Salve-me! Mamãe! Mamãe...!"
Era difícil acreditar que essa era a mesma garota que tinha lutado tão calmamente antes. Ela não estava em condições de manter uma conversa — uma vez que determinou isso, Rio colocou a mão na cabeça da garota e imitou a magia do sono para colocá-la para dormir à força. O corpo da garota parou de se debater.
Rio retirou uma corda de sua mochila de pertences; A fim de ter certeza de que ela não tentasse nada quando acordasse, ele retiraria sua túnica e inspecionaria seu corpo antes de amarrá-la com segurança. Mas no meio do processo, ele notou uma coleira de metal em volta do pescoço dela, e franziu a testa.
"... O Colar de Submissão, huh? ” Rio murmurou com as sobrancelhas franzidas.
O Colar de Submissão era um tipo de artefato mágico usado em escravos e criminosos — um artefato que controlava o livre arbítrio do portador. Quando o usuário recebia uma ordem de um proprietário registrado, ele se sentia muito inclinado a seguir essa ordem. Além disso, se ele resistisse muito fortemente à ordem, o proprietário registrado poderia recitar um certo feitiço para lançar dor extrema no portador.
Escravos eram vistos como propriedades que podiam ser possuídas. Eles não tinham direitos humanos, e podiam ser tratados como objetos sem resistência, não importando o que realmente pensassem dentro de seus corações. Isso era o que os escravos eram, e o Colar de Submissão existia para complementar isso.
Esta garota-raposa, que tinha acabado de tentar matar Rio, estava usando tal colar, inequivocamente fazendo dela a escrava de outra pessoa. Ela provavelmente foi criada como uma assassina e ordenada a matar Rio pelo seu dono registrado. Enquanto tivesse o Colar de Submissão, ela continuaria suas tentativas de matar Rio. Se não o fizesse, teria que sofrer choques erráticos de dor por todo o corpo.
Era quase como uma maldição... tanto para a garota, quanto para Rio.
Também não havia muitas opções para escapar dessa maldição: a opção mais rápida seria matá-la, mas Rio nunca havia matado ninguém antes. O Amakawa Haruto dentro dele ainda rejeita fortemente a ideia de cruzar essa linha. Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que escolher resolver isso de outra maneira só lhe traria mais dificuldades.
Incapaz de esconder seu aborrecimento, Rio soltou um suspiro pesado.
Depois de vários momentos de hesitação, ele colocou a mão contra o pescoço da garota. Então, uma luz fraca foi emitida de suas mãos — Clack! A coleira que restringia a garota caiu. Rio havia dissipado a magia lançada sobre o artefato imitando a magia de alta classe, Dispello.
"Ei. Acorda"
Rio pegou o Colar de Submissão e sacudiu a garota para acordá-la.
"Ngh... uhh..."
Depois de algumas sacudidas, o corpo da garota se contorceu. Pouco tempo depois, ela piscou os olhos abertos. Então, vendo a figura de Rio em seu campo de visão, ela tentou se levantar em pânico, mas logo percebeu que estava contida.
Depois de um pouco de luta, ela passou a aceitar o fato de que seus movimentos tinham sido completamente restringidos, e se encolheu em resignação. Ela olhou para Rio com olhos cautelosos.
"Parece que você entende a situação agora. Se você não quer morrer, então não se mexa, ok?", Rio decidiu intimidá-la um pouco com uma ameaça, mas o medo encheu os olhos da garota.
".... Se não... mexer... você não ... matar?"
"Isso depende se você responder minhas perguntas ou não. Você foi ordenada a vir me matar, certo? Seu mestre é um membro da realeza de Beltram, ou um dos nobres?"
A garota ficou em silêncio com a pergunta de Rio. Ela provavelmente estava sob ordens estritas para nunca agir de forma prejudicial ao seu mestre. Quebrar essa ordem resultaria em uma dor extrema consumindo seu corpo, fazendo-a instintivamente querer evitar falar, mesmo que Rio já tivesse removido seu colar.
"Ei. Você sabe o que é isso?" Rio segurou o Colar de Submissão no alto para que ela visse a mesma coleira que usava momentos atrás.
"Um c-colar...?!"
A garota deu uma resposta confusa, imediatamente seguido por um sobressalto. Seus olhos se abriram. Ela desesperadamente mexeu o corpo sob suas amarras para verificar a sensação do colar. Eventualmente, ela percebeu que a sensação de algo que deveria estar lá estava faltando.
"Foi... se foi... Colar... se foi? Mas... por quê?" A garota piscou os olhos em total espanto.
Um momento depois, ela voltou em si, então se contorceu para verificar a presença do colar mais uma vez...
"Eh... W-weh... Hic... Hic... Waaaaah!" ... Em seguida, rompeu em violentas lágrimas.
"Ei..." Rio se viu perdido diante da enxurrada de lágrimas da garota. Tudo o que ele sabia era que o Colar de Submissão deve ter pesado sobre ela.
Com um suspiro, Rio decidiu deixar a garota chorar tudo o que quisesse por agora. Ele tomou esse tempo para ir recolher todas as armas que eles tinham usado em sua batalha.
"…. Você já terminou?" Rio perguntou quando seu choro finalmente começou a parar. A garota se encolheu, e olhou com preocupação para ele.
"O colar se foi agora, então você pode responder minhas perguntas, certo? Quem ordenou que você viesse me matar?"
"Ah, uh..."
A garota não respondeu imediatamente à pergunta de Rio. Ela olhou em volta de seu entorno, e cheirou o ar.
"Eu não sei por que você está tão cautelosa, mas estamos só você e eu aqui. Você pode ficar tranquila", disse Rio, fazendo o corpo da garota tremer mais uma vez. Eventualmente, ela abriu a boca.
"E-Eu... N-Não sei nome... mestre... Ele nunca... me... dizer..."
Era mais ou menos a resposta que ele esperava. Ter um escravo para o papel arriscado de um assassino significava que o mestre provavelmente não permitia que mais informações fossem passadas do que o necessário.
".... Você sabe o nome da casa?" Ele não tinha expectativas muito altas, mas, perguntou mesmo assim.
"N-Nome da casa? Não... sei." A garota inclinou a cabeça em confusão, enquanto Rio dava um suspiro decepcionado.
"M-Mas! Sei.... Nome meu irmão! Stead.... É-É Stead!", A garota juntou suas frases com pressa. Rio estreitou os olhos com a resposta.
Era um nome muito familiar para ele. O mesmo nome do garoto que tentou colocar a culpa por empurrar Flora do penhasco em Rio. Se sua família tivesse descoberto sobre Rio, faria sentido enviarem seu assassino de estimação atrás dele.
" Stead... Ele é um bestial como você?"
"... Irmão.... Não... bestial. Ele humano. Q-Quem treinou." A garota balançou a cabeça furiosamente de um lado para o outro.
"Treinar? Se ele é humano, significa que não são parentes... certo?"
Rio franziu a testa com a menção de um irmão. Era difícil acreditar que ela poderia ter um. Embora ele soubesse que era possível ela ter sido filha de outra escrava, ele não queria tirar conclusões precipitadas, então perguntou apenas para ter certeza.
"Eu não... sei..." A garota balançou a cabeça sem confiança.
".... Deixe-me mudar minha pergunta. De onde você me seguiu?"
"O.… mesmo lugar... como você."
"Então, a capital de Beltrant, huh."
"Provavelmente... T-Tinha montes... de casas bonitas."
"Entendo. Então, mais alguém além de você está tentando me matar?"
 "...E-Eu não sei. Mas... provavelmente não.... Acho." A garota respondeu debilmente.
"Ok. Aqui vai minha última pergunta... então..."
Instantaneamente, a aura de Rio escureceu perigosamente. Ele olhou profundamente nos olhos da garota. Ela não conseguia desviar o olhar, e engoliu nervosamente enquanto esperava pela pergunta dele.
".... Você ainda pretende me matar?"
"E-Eu não matar." A garota tremia, balançando a cabeça rigidamente.
Os olhos eram uma janela para a alma; não importa que tipo de expressão fosse colada no rosto, alguma forma de emoção sempre chegaria aos olhos. Rio não podia mais enxergar a calma intenção assassina que ela tinha carregado em seus olhos antes. Embora ela estivesse bastante aterrorizada no momento, não parecia ter qualquer outra intenção oculta.
".... Tudo bem, você está livre. Deixei todas as suas armas com sua túnica ali", declarou Rio quando começou a desamarrar as restrições da garota.
"Huh...?" A garota fez uma expressão de confusão.
"Estou dizendo: você pode fugir daqui. Sem um colar para controlá-la, você não precisa mais retornar ao seu mestre. Entretanto.... Acho que isso faz de você uma escrava fugitiva agora", disse Rio com um olhar sombrio. Ele entendeu que mesmo que libertasse esta garota aqui, ela não tinha muitas opções disponíveis.
Não havia assentamentos humanos na região de Strahl onde um semi-humano pudesse viver ao lado dos humanos em paz. Isso significava que seria impossível para uma bestial como ela viver com humanos. No entanto, mesmo se ela fosse viver longe dos humanos, ela tinha nascido como uma escrava — era difícil acreditar que lhe havia sido ensinada qualquer forma de autossuficiência. Ela tinha sido controlada pelo Colar de Submissão, mas isso não era a única coisa que a restringia. Se ela quisesse continuar vivendo na região de Strahl, ela teria que se tornar propriedade escrava para alguém.
Essa era a realidade dela.
A garota ainda não tinha entendido isso. Ela olhou para Rio com um olhar em branco no rosto, inclinando a cabeça um pouco, com preocupação.
".... Se você deixar este país e seguir para o leste, haverá uma vasta área chamada Região Selvagem. Deve haver uma terra lá onde semi-humanos como você vivem", disse Rio; ele tinha começado a falar antes mesmo que percebesse.
"Região... Selvagem? Leste...?"
"O Leste é a direção em que eu estou seguindo... Beltram está a oeste. Seria melhor encontrar sua própria espécie na Região Selvagem do que permanecer nestas terras."
"Própria espécie... Leste... Região Selvagem..." A garota murmurou para si mesma. Um vislumbre de esperança apareceu em seus olhos.
Ela não tinha ideia do que fazer com sua recém obtida liberdade, mas com a orientação de Rio, agora tinha uma vaga esperança para seu futuro. Rio a observou silenciosamente por um momento, antes de falar: "Estou indo embora, então. Só um aviso, mas da próxima vez que você atacar.... Eu não vou me conter."
Ele começou a se afastar, assegurou que ele tinha de fato concedido à garota sua liberdade do Colar de Submissão. No entanto, isso foi simplesmente porque a garota — não, a razão foi porque ele não queria matar ninguém. Era por isso que ele não tinha obrigação de supervisionar o que a garota faria daqui em diante. Ele repetiu este raciocínio para si mesmo em seu coração.
A garota imediatamente adotou a expressão de um filhote abandonado.
"Ah-"
Ela estendeu a mão em direção a figura indo embora de Rio e soltou um pequeno som, antes de rapidamente puxar a mão de volta. Ela andou por aquele lugar por um tempo. Uma vez que Rio tinha desaparecido completamente de vista, ela hesitantemente começou a seguir seus passos.
Passos, passos, passos. Ela seguiu à distância, certificando-se de não perder de vista Rio andando à frente.
Agora que estava livre da escravidão, ela não tinha para onde voltar. Ela não voltaria para aquele lugar onde tinha sido uma escrava nunca mais. Com isso, ela só tinha um lugar possível para onde poderia ir: a Região Selvagem que Rio lhe falou. Mas sem um mapa, nem um senso das terras, ela estava com medo de seguir em frente sem rumo. E se ela quisesse confiar em outra pessoa, então havia naturalmente apenas uma opção. Ela escolheu seguir Rio, que parecia estar indo na mesma direção.
Isso era o quão encurralada ela estava. Confiar na pessoa que ela tentou matar... embora estivesse sob ordem de outra pessoa, ela não podia deixar de se sentir culpada por isso. Havia também a possibilidade de ele rejeitá-la se ela pedisse sua ajuda diretamente. Como resultado, seus desejos egoístas a fizeram escolher seguir sorrateiramente atrás dele.
Poucos minutos de caminhada pela floresta depois, Rio de repente parou.
"Saia", ele disse em voz alta por cima do ombro.
A garota ficou surpresa. Ela tinha certeza que havia escondido sua presença, então se perguntou como ele a tinha notado..., mas ela estava mais do que bem ciente de que não poderia vencê-lo, não importa o quanto ela lutasse. Sem pensar muito nisso, ela revelou-se para ele.
"Você ainda quer algo de mim?" Rio perguntou à garota trêmula.
"U-um... Eu quero... ir... Leste... com você", respondeu a garota hesitante. Rio colocou a mão direita contra a cabeça e soltou um pesado suspiro.
"Você está falando sério?"
"E-Eu quero... ir." A garota mordeu o lábio e assentiu.
".... Você pode estar entendendo algo errado aqui. Eu não te libertei da escravidão porque queria salvá-la. Foi apenas mais conveniente para mim escolher não te matar."
Para ser franco: ele não queria carregar o peso de um assassinato. Foi por isso que ele removeu o Colar de Submissão da garota. Ele não era completamente apático à situação da garota, mas ele definitivamente não agiu apenas por intenções puras. Esse era o pensamento dele por trás de tudo isso.
"M-Mas não sei... que…fazer", a garota murmurou, abaixando a cabeça com lágrimas nos olhos. Rio coçou a cabeça dele desajeitadamente.
".... Eu sou um humano. A mesma espécie que as pessoas que te trataram como escrava. Você não está com medo?"
"Você... não... parecer mau." A garota balançou a cabeça.
Rio tinha um vago pressentimento de que isso aconteceria a partir do momento em que ele removeu o colar. Considerando as circunstâncias da garota, fazia sentido. Foi por isso que ele se certificou de se afastar, caso a garota decidisse persegui-lo. Certamente, aqui estavam eles. Mas, essa garota realmente entende o que significa se mover junto com a pessoa que ela tentou assassinar há poucos momentos atrás...?
"Você considerou como eu posso me sentir sobre você, depois que você recém tentou me matar?" Rio perguntou categoricamente. O rosto da garota ficou horrorizado.
"Ah! S-Sentir muito! O colar... doer muito, eu..." Ela começou a se desculpar em pânico, lágrimas caindo de seus olhos.
"Eu não estou realmente com raiva. Eu não sei que tipo de dor você sofreu do colar, mas sei que você só tentou me matar porque não podia desobedecê-lo. No entanto, isso não significa que eu tenha alguma prova de que você não vai me atacar de novo. Em outras palavras, não posso confiar em você. Você entende isso?" Rio explicou com um suspiro conturbado.
Era verdade que uma parte dele não se importava de levar a garota junto com ele, mas ao mesmo tempo, ele não estava exatamente à vontade com a ideia de viajar sozinho com uma antiga assassina desconhecida.
"E-Então, colar! Você pode.... Você pode colocar colar de novo! P-Por favor. Levar... com você", ela implorou freneticamente através de suas lágrimas.
"O colar... Você não odeia usar essa coisa?" Rio perguntou quase exasperado com o fracasso da garota em entender o peso de suas palavras.
"Não... Quer estar... Sozinha. Estou... Medo. Então... por favor", ela fungou e soluçou com a cabeça baixa, fazendo Rio se sentir ainda mais desconfortável. Uma expressão extremamente apreensiva caiu sobre seu rosto enquanto ele apertava as mãos em punhos. Ele suspirou pela enésima vez.
"Tudo bem. Faça o que quiser", declarou ele, cedendo. Ele fracamente raciocinou para si mesmo que era melhor mover-se juntos do que tê-la secretamente o seguindo.
"Hein...? Ah... O-ok!" A garota hesitou por um momento antes de assentir entusiasmadamente.
"Vamos voltar para a cidade primeiro. Venha." Rio veio com esse plano de ação depois de olhar sobre a figura da garota.
"U-um, você ... colocar colar de volta em mim?" A garota hesitantemente perguntou às costas de Rio quando ele começou a caminhar.
"Joguei isso fora há muito tempo. Vamos agora. Só podemos viajar por algumas horas por dia", respondeu Rio enquanto caminhava rapidamente.
"O-O que... fazer... lá?"
"Você não tem o equipamento adequado. Temos que preparar sua parte de suprimentos para a viagem."
A garota estava usando apenas uma única e fina camada de roupa sob sua túnica, o que não era apropriado para a longa viagem que eles estavam prestes a fazer. Ele também tinha que comprar mais suprimentos de comida para compensar a parte dela.
"O… Obrigada..."
".... Coloque seu capuz dentro da cidade. Caso contrário, as coisas vão ficar bagunçadas", disse Rio, olhando para a garota tropeçando para acompanhar seu ritmo.
"Ok!", ela assentiu alegremente.
"A propósito, qual é o seu nome?" Rio de repente parou para perguntar à garota o nome dela
"É... Latifa!"
"Entendo. Você pode já saber disso, mas eu sou... Rio. Prazer em conhecê-la, Latifa." Com um pequeno suspiro, Rio se apresentou com certa relutância.
◇◇◇
Depois que foram às compras, Rio e Latifa partiram de Amande mais uma vez. Embora não fosse tão grande quanto a de Rio, Latifa agora tinha uma mochila grande nas costas também.
Então, uma vez que estavam fora de Amande, Rio tentou correr pela floresta em sua velocidade habitual. Ele estava testando a resistência de Latifa. Como resultado, eles descobriram que ela não poderia durar muito tempo enquanto carregava uma mochila pesada. Uma vez que ele conhecia os limites de Latifa, Rio diminuiu sua velocidade de movimento para um ritmo que ela poderia acompanhar. Eles faziam pausas com mais frequência do que o habitual, também.
Enquanto se sentavam em algumas pedras ao lado de uma nascente na floresta, o estômago de Latifa rugiu alto. Rio olhou para ela com os olhos arregalados.
"Não, nada! Eu não.... Não ter fome!" Latifa balançou a cabeça furiosamente, corando em um vermelho brilhante.
"Você não precisa se conter. Afinal, já passou da hora do café da manhã." Rio disse divertido, pegando em sua mochila o sanduíche que Rebecca fez. Ele o cortou ao meio com uma faca de cozinha e ofereceu a Latifa.
Mas Latifa apenas olhou para o sanduíche em confusão. Seus olhos se moviam entre o sanduíche e o rosto de Rio várias vezes.
"O que há de errado?"
"P-Poder... comer isso?" Latifa perguntou a Rio, hesitante, avaliando a reação dele.
.... Acho que ela nunca foi permitida comer sem autorização antes. Rio arriscou um palpite sobre o motivo da pergunta de Latifa.
Esse era exatamente o caso: Latifa tinha sido criada para fazer apenas o que lhe havia sido ordenado. Se ela se movesse por vontade própria, teria sido disciplinada. Assim, ela tinha pego o hábito de pedir permissão antes de fazer qualquer coisa por ela mesma. Sua existência dependia inteiramente dos outros. Libertá-la da escravidão não resolveria esses hábitos imediatamente.
Ao se envolver com ela, Rio foi lentamente capaz de analisar as questões relativas à sua personalidade e estado mental.... Mas mudar o estado mental dela não seria fácil.
Ele faria apenas o que pudesse, ajudando-a pouco a pouco durante o tempo que passariam juntos.
"Não há necessidade de se segurar — sinta-se livre para comê-lo. O que você quer fazer, Latifa?" Rio perguntou.
".... Eu que-quero... comer." Depois de um momento de pausa, Latifa expressou seus próprios pensamentos.
"Ok, então coma." Com um sorriso gentil, Rio lhe entregou o sanduíche.
Latifa olhou para o sanduíche em suas mãos atentamente. Para fazê-la se sentir mais à vontade, Rio começou a comer seu sanduíche primeiro, levando Latifa a lentamente colocar o sanduíche dela na boca.
"D-Delicioso."
Uma vez que ela tinha confirmado o gosto, sua seguinte mordida foi uma mais apressada.
"Om, nom nom.…! Mmhgh... Nom... Nnn... uguu..." Latifa furiosamente encheu suas bochechas com o pão, mas começou a chorar a meio caminho.
Tendo nascido escrava, este sanduíche foi a maior iguaria que ela já provou em toda a sua vida.
"Eu não vou tomá-lo de você, então coma devagar. Não é bom para você comer assim." Rio sentou-se ao lado de Latifa e deu suavemente leves palmadinhas nas costas dela.
"Wah... hic... Todo dia, irmão... hic... quando dar comida... waah..." Latifa engasgou com suas lágrimas ao recordar suas refeições até agora.
Quão horrivelmente ela foi tratada durante as refeições? Rio nem quis pensar nisso. Ele continuou a afagar as costas dela suavemente, até que ela se acalmou.
Rio encheu o frasco com água usando sua essência, em seguida ofereceu a Latifa, depois que ela parou de chorar.
"Aqui está um pouco de água."
"O-Obrigada..." Latifa acenou com a cabeça e começou a engolir, enquanto Rio bebia de seu frasco cheio, também. Ele não conseguia encontrar as palavras certas para dizer.
".... Vamos partir a pouco. Quero cruzar a fronteira do país e entrar na Região Selvagem depois de amanhã. Hoje, iremos o mais longe que pudermos.... Na pior das hipóteses, podemos acampar na floresta, se for necessário."
"O-Ok." Latifa esfregou os olhos com a manga de sua túnica e assentiu.
◇◇◇
Como haviam discutido, Rio e Latifa dedicaram o máximo de tempo possível para avançar, rumo ao extremo oriente do Reino de Galark.
Antes do sol começar a se pôr, Rio descobriu uma área baixa de terra adequada para acampar e apresentou uma sugestão ao seu companheiro de viagem.
"Vamos montar acampamento por hoje. Eu vou arrumar um lugar para dormirmos, então espera aí."
"Lugar... dormir?" Latifa inclinou a cabeça, surpreendida. Ela parecia estar questionando se eles tinham algum material para criar tal coisa, já que suas mochilas estavam, em sua maioria, cheias com suprimentos de comida.
"Eu mesmo vou fazer um. Afaste-se um pouco." Rio deu um pequeno sorriso enquanto sacava a espada em sua cintura.
Ele marchou em direção a uma árvore de tamanho moderado e saltou nela, oscilando sua espada em volta numa velocidade mais rápida do que os olhos poderiam seguir. No momento seguinte, galhos grossos da árvore choveram lá de cima.
"Uau..." Latifa disse com os olhos bem abertos.
Rio pegou um galho especialmente grosso da seleção espalhada. Ele o atravessou no solo à beira da fenda baixa, fixando-o no lugar. Serviria como o pilar principal de apoio para o abrigo que ele estava prestes a construir.
Em seguida, ele prendeu galhos em ambos os lados do pilar, diagonalmente no chão, posicionando-os como um triângulo e usando corda para reforçar a estrutura. Neste ponto, tomou a forma de uma barraca alta.
Então, ele a cobriu com vegetação para fazê-la se misturar naturalmente com o seu entorno. As folhas também ajudaram a cobrir quaisquer brechas para bloquear o vento e a chuva. Tudo o que restou era fazer uma porta e camuflá-la antes que a simples barraca estivesse completa. Como a floresta à noite era fria e o tempo imprevisível, valia a pena o trabalho de construir tal abrigo.
Vendo quão rápido ele construiu um abrigo tão maravilhoso fez Latifa olhar para Rio com olhos brilhantes de admiração. Com um sorriso forçado, Rio iniciou um pequeno fogo perto da entrada da barraca.
"Ok, hora de fazer nossa refeição. Você pode abanar a fumaça para lá?"
"Abanar... fumaça?"
"Basta fazer a fumaça seguir para dentro da tenda. Ela atua como um repelente de insetos."
"O-Ok. Deixar... para mim!" Latifa assentiu seriamente.
Rio pegou sua mochila e caminhou um pouco longe do acampamento, para evitar deixar o cheiro da comida perto da barraca no caso de feras vagando à noite. Ele escolheu um lugar apropriado para começar a cozinhar; o cardápio de hoje seria sopa de macarrão.
Primeiro, ele construiu uma base simples para colocar a panela e a encheu de água, acendendo um fogo por baixo para aquecê-la. Depois, ele fez o mesmo com uma frigideira funda, untando ela com óleo vegetal. Colocou pedaços de carne seca e gramíneas selvagens, que ele pegou em seu caminho até aqui, na panela, acrescentou tempero e especiarias antes de começar a fritá-los. Ocasionalmente, ele usava sua essência para criar uma rajada de vento, casualmente soprando o cheiro da comida diretamente para cima.
Enquanto isso, a água na panela tinha começado a se agitar, então ele adicionou um pouco de sal e deixou ferver. Depois, ele deixou cair a massa do macarrão na panela, dispersando-a para fora do centro. Ele reduziu o calor e mexeu a massa levemente; fervia enquanto ele ajustava a temperatura da água borbulhando.
Assim que estava pronto, ele transferiu a massa para a frigideira, cozinhando tudo em fogo baixo. Em seguida, ele derramou o caldo e ajustou o sabor para completar a sopa de macarrão. Rio preferia sua comida picante, mas ele se conteve para que uma criança como Latifa pudesse facilmente comê-la.
Hm? Ele de repente sentiu uma presença atrás dele, fazendo-o virar.
Era Latifa, atraída pelo cheiro da comida.
Seu nariz se contorceu de um jeito fofo enquanto ela cheirava o ar. Ver o comportamento típico de uma raposa fez Rio soltar um pequeno sorriso. Latifa o notou rindo dela, e corou em resposta.
"Vamos lá, a comida está pronta. Vamos jantar", disse Rio, pegando a frigideira. Ele serviu a sopa de macarrão em recipientes e os levou para uma mesa improvisada que ele tinha montado anteriormente.
"Spaghetti? Isso spaghetti?!" Latifa olhou dentro do recipiente e gritou com espanto.
".... Você sabe que comida é essa?" Rio fez sua pergunta atordoado, embora no início, ele estivesse sem palavras por um momento.
"Eu... Sei! Eu... conhecê-lo! Poder... comê-lo?" Latifa assentiu com a cabeça furiosamente, olhando para Rio com os olhos esperançosos.
"Com certeza. Coma antes que esfrie."
"O-Obrigada!"
Uma vez que recebeu permissão de Rio, Latifa sorriu, um sorriso despreocupado, olhos brilhando quando começou a comer a massa. Rio a observava em contemplação. A comida semelhante ao macarrão chamada "massa" só apareceu nesta região de Strahl recentemente. Além disso, ela só foi vendida em um número limitado de áreas no momento. Rio tinha certeza de que nunca havia visto macarrão no reino de Beltram, pelo menos.
Além do mais, Liselotte — a inventora da massa — nunca a tinha chamado spaghetti. E ainda assim, Latifa havia dado uma olhada na massa e apenas a chamou assim. Ela até estava usando o garfo e a colher com habilidade, movendo a massa em sua boca com familiaridade.
O que exatamente isso poderia significar? Os pensamentos de Rio fizeram uma pausa.
"Omf, om nom nom." Latifa estava absorta em devorar a massa quente e fumegante.
".... Você vai queimar sua língua assim. Desacelere um pouco", alertou Rio gentilmente, temendo que ela se machucasse.
"Om — hah, quente!" Certamente, Latifa queimou a língua. Rio sorriu amargamente.
"Aqui, água."
"Ah, obrigada." Latifa aceitou o frasco de Rio e o levou para a boca com pressa.
"Aparentemente, essa comida é chamada de ‘massa’. Você já provou isso antes?" Rio perguntou uma vez que Latifa bebeu a água e se acalmou.
"Fweh? Massa? Ah.... Ah, sim. Costumar... comê-lo." A expressão de Latifa de repente endureceu, temendo que ela tivesse feito algo ruim. Mas depois de um momento, ela fixou um sorriso desconfortável em seu rosto e assentiu com um entusiasmo fingido.
"Compreendo. Não é à toa que você parece familiarizada em comê-lo. Isso é ótimo", disse Rio, como se estivesse impressionado. Mas por dentro...
Ela nunca recebeu uma educação adequada, mas sabe usar talheres e comer comida de alta classe... há muitos fatores que não podem mais ser descartados. Essa massa nem está em circulação nos mercados de Beltram ainda...
Rio calmamente deduziu que Latifa estava mentindo ou escondendo algo dele. E havia uma teoria que ele tinha quase certeza, de que estava próxima da verdade — que Latifa também tinha memórias de uma vida anterior.
No entanto, as habilidades linguísticas de Latifa pareciam um pouco subdesenvolvidas demais para que esse fosse o caso, pensou Rio. De suas interações com ela até este ponto, ele podia dizer que não havia muita diferença entre sua idade mental e sua aparência. Pelo contrário, elas combinavam perfeitamente.
Talvez tenha sido por causa de sua repreensão como escrava, mas sua instabilidade mental a fez parecer ainda mais infantil. No mínimo, ela não parecia ter qualquer experiência com a sociedade em sua vida anterior. Claro, era possível que fosse tudo um ato, mas Rio não podia imaginar uma necessidade para ela fazer isso.
O que significava que ela não era muito diferente na idade — uma criança em idade escolar primária — em sua vida anterior.
No entanto, se esse fosse o caso, então isso significaria que Latifa tinha sofrido uma segunda vida muito mais trágica do que a de Rio. Uma criança vivendo no próspero Japão moderno tinha sido subitamente despojada de seus direitos humanos e transformada em escrava de estimação, afinal. Se ela tivesse nascido e crescido como escrava, ela nunca teria conhecimento de nada melhor, mas tudo mudou quando ela recuperou as memórias de sua vida anterior. Ela teria vivido sua vida ansiando por estar livre da escravidão, para voltar ao seu antigo mundo. Sua dor e medo teriam superado qualquer coisa que Rio pudesse imaginar. Não lhe sendo permitida a liberdade de viver.
Nem mesmo sendo permitida a liberdade de morrer.
Só de imaginar as circunstâncias em que Latifa havia sido colocada o fez sentir-se mal.
Ela deve ter menos de dez anos de idade, no momento; ele não sabia quantos anos ela tinha quando suas memórias voltaram, mas se fosse à mesma idade que Rio, então ela teria seis anos. Mesmo que Latifa fosse uma aluna do ensino fundamental em sua vida anterior, ela não teria mais de dez anos de experiência de vida. Simplesmente fundir essas duas jovens vidas não significa que sua experiência de vida tinha avançado mais. Rio tinha a sensação de que sabia por que Latifa parecia e se comportava assim. E ao mesmo tempo, ele sabia por que ela parecia um pouco instável, também.
"Fuu, fuu."
No momento, Latifa estava comendo de todo o coração a comida preparado por Rio. Em algum momento, seus olhos até se encheram de lágrimas, mas sua expressão era de felicidade. Uma vez que ela terminou a última mordida, ela lambeu a tigela vazia com arrependimento.
"Ainda há um pouco sobrando para repetir. Você pode comer mais.... Aqui." Rio pegou a tigela de Latifa e serviu-lhe outra porção de comida.
"O-Obrigada!" Latifa sorriu alegremente e abaixou a cabeça.
Rio havia perdido completamente o apetite, então ele forçadamente comeu sua própria porção e deixou o restante para Latifa.

Comentários

Wesley disse…
Que fofa
Amakawa Haruto X ( ͠° ͟ʖ ͡°)
Rio ✓ ( ͡💥 ͜ʖ ͡💥)